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O corporativismo em Espanha durante o primeiro terço do século

Como já foi referido, as ideias corporativas estiveram presentes em Espa- nha durante todo o século XIXe foram um elemento fundamental da ideo-

logia carlista a partir dos anos 30; isto é, desde que o liberalismo se tornou a base da organização política, económica e social do país. O carlismo de- fendia a sobrevivência do Antigo Regime, o que provocou três guerras civis ao longo de Oitocentos e manteve essas ideias na sua base doutrinal.

O corporativismo do ideário carlista fortaleceu-se com o contacto de outras tendências ideológicas de carácter organicista, como o roman- tismo, e de outras de tipo harmonicista, como o krausismo, que embora partindo de princípios diferentes, incluíam nas suas elaborações teóricas procedimentos daquele tipo.2Mas, sem dúvida alguma, a corrente que

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1Glicerio Sánchez Recio, «Naturaleza y crisis del franquismo», in Claves de la España del Siglo XX. El difícil camino a la democracia, coord. Antonio Morales Moya (Madrid: So- ciedad Estatal España Nuevo Milenio, 2001), 187-202.

2Miguel Ángel Perfecto, «Los orígenes del corporativismo español. Reformismo social,

intervencionismo y organicismo», in Les expériences corporatives dans l’aire latine, coord. Di- dier Musiedlak (Berna: Peter Lang, 2010), 33-63; «El corporativismo en España: desde los orígenes a la década de 1930», Pasado y Memoria. Revista de Historia Contemporánea, n.º 5 (2006): 185-218.

mais influenciou o corporativismo dos carlistas foi a procedente da dou- trina política e social exposta pelos papas a partir dos anos 80 do século

XIX.3O enunciado dos capítulos dessa doutrina é em si mesmo muito

expressivo; porém, é inevitável fazer uma certa análise ao seu significado e dos condicionamentos a que se encontraram submetidos. Em primeiro lugar, deve-se ter em conta que a Igreja era concebida como uma socie- dade perfeitamente hierarquizada,4cujo fundamento último se encontra

em Deus criador e redentor, isto é, que se justificava por motivações prio- ritariamente religiosas ou teológicas. A participação ativa dos cidadãos na vida política era outro dos princípios firmemente assentes na doutrina pontifícia desde os tempos de Leão XIII e que havia sido reforçado por Pio XI, mas a aplicação deste princípio estava também condicionada pelas conceções da sociedade e do Estado: o organicismo social e o fun- cionalismo que explica a posição de cada um dos membros e instituições do corpo social,5de maneira que a função do Estado nos organismos so-

ciais, culturais, políticos, religiosos seja a de coordenar, impulsionar e su- prir, quando os ditos organismos e instituições sejam incapazes de alcan- çar os objetivos a que se haviam proposto. Devido a essa concepção corporativa e hierarquizada da sociedade e do Estado, os políticos cató- licos aceitariam de bom grado a representação corporativa. Nestes mes- mos princípios baseava-se Monsenhor Enrique Pla y Deniel, quando nos

3Ver a respeito das encíclicas do papa Leão XIII: Diuturnum illud de 1883, Inmortale Dei de 1885 e Libertas de 1888 sobre a participação dos católicos na política, e Rerum No- varum de 1891, sobre a doutrina social da Igreja; alguns anos mais tarde, o papa Pio XI daria um novo impulso a esta actividade pontifícia: Quadragesimo Anno e Divini illius Ma- gistri. Ver também: Alberto Martin Artajo, e Máximo Cuervo, Doctrina Social Católica de León XIII y Pío XI. Prefácio de A. Herrera, 2.ª ed. (Barcelona: Editorial Labor, 1939). Monsenhor Herrera Oria expunha o seu pensamento sobre estas mesmas questões de forma mais elaborada em «Relações entre o trabalho e a empresa», discurso pronunciado a 30 de abril de 1949 na IX Semana Social de Espanha, em Madrid, no qual aproximava a doutrina pontifícia aos textos fundamentais do regime franquista [Fuero del Trabajo]. Ángel Herrera Oria, Obras Completas (Madrid: BAC), 27-54.

4Ver a respeito das cartas pastorais de Mons. Pla y Deniel, fiel intérprete do pensamento

pontificio: El Legítimo Obrerismo y la Herejía Socialista (1924) e La realeza de Cristo y los Errores del Laicismo (1926), em Mons. Pla y Deniel, Escritos Pastorales, vol. 1 (Madrid: Ac- ción Católica Española, 1946), 181-230 e 238-249 respetivamente. Ver também: Glicerio Sanchez Recio, De las dos ciudades a la resurrección de España. Magisterio Pastoral y Pensamiento político de Enrique Pla y Deniel (Valhadolid: Ámbito, 1994), 50-59.

5Sobre os conteúdos da doutrina social ver A. Martin Artajo e M. Cuervo, Doctrina Social Católica de León XIII y Pío XI, 137-141 e 186-187. Ver também as entradas Corpora- tivismo, in N. Bobbio, Diccionario de Política (Madrid: Siglo XXI, 1982), 431-438; e Análisis Funcional, in Enciclopedia Internacional de las ciencias sociales, D. L. Sills, vol. 1 (Madrid: Aguilar, 1975), 303-304.

anos 20 expunha «o regime político ideal», na perspetiva eclesiástica, no que adquiria uma grande relevância a organização de uma sociedade hie- rarquizada e corporativa.6

Outras das razões da sobrevivência do carlismo e, portanto, do ideário corporativista, foi a debilidade do liberalismo, que penetrou tão tenua- mente na sociedade e na política espanholas que no último quarto do século XIXalterou o procedimento para a sucessão dos partidos políticos

no governo (el turno) e manipulou os processos eleitorais para manter o regime político (a Restauração). Francisco Silvela7dizia num discurso

pronunciado em janeiro de 1894, quando já estava em vigor a lei do su- frágio universal masculino: «Com o sufrágio universal governa-se, mas com o sufrágio universal não se administra», e noutro discurso, a 30 de novembro de 1895 sobre «A organização municipal nas grandes cidades», desenvolvendo a ideia anterior, dizia:

Utilizar para a construção desses municípios, dentro do sistema eleitoral, o elemento coletivo, os grémios, os grandes círculos e representações, as as- sociações científicas e literárias, a concorrência das classes médias organizadas para problemas sanitários, o concurso das classes de arquitetos e de enge- nheiros, organizadas também para os problemas da viabilidade da constru- ção; porque o elemento coletivo é o único que pode organizar o sufrágio universal, do qual já não é possível prescindir nas condições políticas em que nos encontramos, e o elemento coletivo é o que pode levar às munici- palidades das grandes cidades os meios de instrução, de honradez e respon- sabilidade. [...] O cidadão tende a não valorizar o seu direito ao voto e com facilidade o vende por nada. Já um mandato de um círculo, corporação ou centro supõe para o mandatário uma maior obrigação, um seguro contra a fraude, pois confronta-se com os seus colegas de círculo.8

Assim, pois, recém-aplicado o sufrágio universal masculino, o Partido Conservador propunha a alteração do seu significado, mudando-o para uma base de votação corporativa. Mas, o corporativismo tinha implícita uma importante componente de antiparlamentarismo, no sentido liberal

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6Glicerio Sanchez Recio, De las dos ciudades a la resurrección de España..., 66-71. 7Sucessor de Cánovas del Castillo na liderança do Partido Conservador e no governo

quando morreu num atentado terrorista, em 1897.

8Florentino Portero, «El regeneracionismo conservador: el ideario político de Fran-

cisco Silvela», in Las derechas en la España contemporánea, eds. Javier Tusell, Feliciano Mon- tero e José María Marín (Barcelona: Anthropos Editorial, 1997), 45-58. Textos citados, 54-55.

do termo. Alguns dos membros de um sector do maurismo,9que defen-

dia uma política autoritária, sob a influência da doutrina política e social da hierarquia eclesiástica autoritária, criaram o Partido Popular em 1922. Mas, os grupos políticos que assumiram a dita doutrina política e so- cial, os que viram as suas posições reforçadas com ela, não configuravam um grupo uniforme. Nos começos do século XX, diferenciavam-se três

grupos: os carlistas, que lutavam pelo regresso da monarquia absoluta e a aliança do trono e do altar; os integristas, que se separaram dos ante- riores, em 1888, e que defendiam uma conceção estritamente confessio- nal da política e do poder; e a União Católica, como partido católico, que aceitava o regime liberal. Estes grupos católicos pediam ao Estado que interviesse para resolver a questão social, reduzindo-a ao estabeleci- mento da harmonia entre as classes sociais, o que propunham como ins- trumento de recuperação dos grémios e da organização corporativa. Ele- mentos que se encontravam na órbita do pensamento de alguns grupos conservadores como se viu, e que em boa medida se adequam à prática política dos conservadores e liberais do governo.10

A primeira tentativa de implantar um regime corporativo em Espanha foi levada a cabo durante a ditadura do general Primo de Rivera (1923- -1930), a partir de 1926, com a publicação do decreto-lei de 26 de no- vembro sobre a organização corporativa do trabalho, obra do ministro do Trabalho, Eduardo Aunós. Três anos mais tarde incluiu-se a representação corporativa no anteprojeto de Constituição da Monarquia Espanhola,11

que não chegou a ser aprovada pela queda do regime em finais de janeiro de 1930.

9O maurismo, como grupo diferenciado dentro do Partido Conservador, surgiu em 1913

pela intransigência do seu referente político, Antonio Maura, contra o dirigente do partido e presidente do governo Eduardo Dato, chefe do grupo chamado «os idóneos», por ser par- tidário de manter «o turno» no governo com o Partido Liberal. Ver Juan Avilés Farré, «El lugar del maurismo en la Historia del conservadurismo español», in Las derechas en la España contemporánea, eds. Javier Tusell, Feliciano Montero e José María Marín..., 115-128.

10Miguel Ángel Perfecto, «Los orígenes del corporativismo español..., 51-52.

11No artigo 58.º dizia-se: «As Cortes do Reino constituir-se-ão do seguinte modo:

1. Uma metade dos deputados será eleita por sufrágio universal direto na forma como a lei determinará, por províncias e em colégio nacional único. O número dos eleitos por cada província será um por cem mil almas. 2. Trinta deputados serão designados por no- meação real e terão carácter vitalício. 3. Os demais serão eleitos em colégios especiais de profissionais ou classes, segundo a forma que determinará a lei. Serão eleitores de sufrágio direto todos os espanhóis de ambos os sexos, que tenham cumprido a idade legal, com as únicas exceções que a lei taxativamente estabeleça. Serão eleitores nos colégios especiais os espanhóis de ambos os sexos, que se tenham inscrito no respetivo censo profissional ou de classe, por reunir as condições que para cada caso fixará a lei.»

Eduardo Aunós foi o mais genuíno representante do corporativismo em Espanha, nos anos 20 e 30.12Este político e pensador conhecia os

princípios da filosofia krausista, tinha estudado as correntes organicistas e intervencionistas difundidas na Europa no começo dos anos 20, foi se- cretário político de Cambó quando este foi ministro do Fomento, com uma influência marcante do pensamento católico tradicional13e das

obras do marquês de La Tour du Pin (1834-1924).14

Eduardo Aunós sintetizava o seu pensamento, em 1935, da seguinte forma, na sua obra A Reforma Corporativa do Estado: «O Estado corpora- tivo repousa sobre o povo organizado em entidades autárquicas. Assim como o Estado liberal proclama o ‘direito’ dos indivíduos, a base essen- cial do Estado Corporativo é a função dos mesmos, do que se infere que a sua exigência primária é o ‘dever social do trabalho’. Cada indivíduo é obrigado a desempenhar a função para qual esteja apto em benefício da coletividade e por esse motivo forma parte obrigatória da organização corporativa correspondente. Este princípio exclui a fictícia liberdade do Estado democrático; [...] estabelece a disciplina social e o respeito às hie- rarquias que derivam da preeminência nas tarefas produtivas e supõe, por conseguinte, um Estado forte, com suficiente autoridade para cum- prir os seus amplíssimos fins.»15

Mas o principal contributo de Eduardo Aunós para o corporativismo durante a ditadura de Primo de Rivera, como se disse, foi a elaboração do decreto-lei sobre a organização corporativa nacional. No preâmbulo do dito decerto-lei expôs os objectivos que se perseguiam com a organi- zação corporativa e os instrumentos mediante os quais se pretendia a sua configuração.16

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12Miguel Ángel Perfecto García, «Corporativismo y catolicismo social en la Dictadura

de Primo de Rivera». Studia Historica. Historia Contemporánea, vol. 2, Universidade de Sa- lamanca (1984): 123-147.

13Antes de se incorporar no debate político a questão do corporativismo já existia no am-

biente católico sindical, como se pode ver no ponto VIIdo Programa Doutrinal e de Acção da Confederação Nacional de Sindicatos Católicos de Operários (1919): «Somos corpora- tivistas porque só a corporação pode dar aos patrões e aos operários de cada profissão cons- ciência da unidade da sua função social e de interesses comuns, e só ela, portanto, pode abrir caminho à paz e fazer possível na sua integridade o serviço que ambas as classes juntas devem prestar à sociedade.» Texto citado em Enrique Guerrero Salom, «La dictadura de Primo de Rivera y el corporativismo», Cuadernos Económicos de ICE, n.º 10 (1979): 128.

14Eduardo Aunós, em 1936, escreveu o prefácio à edição da obra do marquês de

La Tour du Pin, Hacia un Orden Social Cristiano, publicada em Madrid por Cultura Española.

15Texto citado por Enrique Guerrero Salom, artigo citado, 115-116.

16 Fonte: <http://www.historiacontemporanea.com/pages/bloque6/la-dictadura-de-

primo-de-rivera-19231930/documentos_historicos/organizacion-corporativa-del-trabajo- 26-noviembre-1924>.

Relativamente aos objetivos, e tendo em conta o problema fundamen- tal da sociedade espanhola dos anos 20, como disse Ángel Ossorio, que era o social,17procurava-se alcançar a ordem, entendida como harmonia

social: «A ordem a que nos referimos começa, na realidade, quando não se trata já de que os distintos elementos sociais não lutem nem conten- dam, senão de que se articulem e colaborem, e não de evitar a sua desa- gregação atomística, mas antes conseguir a sua concentração e conver- gência num esforço geral para o progresso, para a justiça e para o bem.»

Quanto aos instrumentos para construir o referido plano orgânico, Eduardo Aunós recupera os grémios, de origem medieval, que estiveram em vigor em Espanha até à implantação do liberalismo, e que no citado preâmbulo se denominam «como entidades profissionais e hierárquicas, benéficas e religiosas». Seguindo o modelo da organização gremial, o autor deste decreto-lei situa na base da organização corporativa os comi- tés paritários, organizações que já haviam sido experimentadas, parti - cularmente em Barcelona, e as que reconhecia como eixo da sua atuação «a ponderação de interesses e o espírito de concórdia».

Seguindo o texto do preâmbulo, pode ler-se: «O sistema corporativo [...] repousa no Comité paritário de ofício e na Comissão mista do tra- balho, organismo último de ligação de Comités paritários, cujos elemen- tos profissionais vertem a sua atividade na mesma área de produção. Um e outro elaboram normas obrigatórias nos ofícios da sua competência, normas que têm o seu vértice comum no contrato de trabalho, e que al- cançam, com um carácter tutelar, até a realização de obras de assistência social, consagradas em instituições de tão relevante utilidade como as Bolsas de Trabalho.»

Assim, a organização corporativa nacional constrói-se mediante a cria- ção de comités paritários (de patrões e trabalhadores) e comissões mistas (or- ganismos de enlace e coordenação) por ofício. Atribuição muito impor- tante destes organismos é a sua capacidade normativa em assuntos do seu âmbito, das quais a mais importante é referente ao contrato de tra- balho, e estende-se também a funções de carácter tutelar e assistencial.

A organização corporativa por ofício completa-se e remata com a cor-

poração, na qual estão representados os comités paritários (patrões e tra-

balhadores) do ofício respetivo e deve estender-se a todos os ramos de produção nacional (ofícios), o que pressupõe a obrigatoriedade dos co- mités paritários, que se unirão no vértice, segundo o art. 8, 5.º do de-

creto-lei, a Comissão Delegada dos Conselhos de Corporação, configu- rando desta forma uma organização de tipo piramidal.

O resultado previsto da organização corporativa nacional era ante- cipado no final do preâmbulo com estas palavras: «O sentido de res- ponsabilidade profissional fundir-se-á com o sentido de solidariedade nacional.»

Os efeitos desta organização corporativa ultrapassam os sociais e eco- nómicos. O estabelecimento desta harmonia social mediante a colabo- ração de patrões e trabalhadores em comités paritários, e a organização do trabalho que o sistema continha implícito deveriam criar o ambiente de solidariedade nacional que, por sua vez, se converteria na base de uma nova estrutura do Estado.

A intensa intervenção do Estado na organização corporativa supunha uma efetiva limitação do pluralismo político e sindical. Durante a dita- dura de Primo de Rivera os partidos políticos e os sindicatos estiveram praticamente ilegalizados; o governo dispensou maior tolerância ao PSOE e à UGT e, inclusivamente, requereu a sua participação nos con- selhos de Estado e nos comités paritários. O general Primo de Rivera, como todos os ditadores com ambição de prolongar a sua permanência no poder, criou o seu próprio partido, a União Patriótica (UP), que num certo momento definiu de forma simplista como «associação de homens de boa-fé» e em outra ocasião se referiu a ele de modo muito genérico, dizendo: «Somos um partido monárquico de centro, moderado e sere- namente democrático, progressivo enquanto representante do bem pá- trio, limitador de audácias contra o poder público e de ataques à moral e aos bons costumes.»

Os militantes e simpatizantes da UP eram ideologicamente de direita tradicionalista, membros da Associação Católica de Propagandistas (ACNP) e contavam com o apoio dos sindicatos católicos. Primo de Ri- vera escolheu os seus colaboradores mais próximos destes militantes, de escassas convicções liberais.18

A atitude de Primo de Rivera perante o PSOE e a UGT, segundo Julio Aróstegui, citando Amaro del Rosal, deveu-se «tanto à sua orientação so- cial-democrata, de atitude violenta contra o comunismo, a CNT e a União Soviética, como à sua posição colaboracionista.19Nos debates no

Comité Nacional da UGT sobre a colaboração com a ditadura impôs-se

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18Rosa Martínez Segarra, «La Unión Patriótica», in Las derechas en la España contempo- ránea, eds. Javier Tusell, Feliciano Montero e José María Marín, 169-170.

19Julio Aróstegui, Largo Caballero. El tesón y la quimera (Barcelona: Debate, 2013), 175.

a posição reformista e pragmática de Francisco Largo Caballero, apoiado por Julián Besteiro, com o objectivo de proteger o sindicato e o partido, adquirir cotas de poder e melhorias para os trabalhadores. Em consequên- cia, Largo Caballero passou a formar parte, primeiro, do Conselho de Tra- balho e, depois, do Conselho de Estado, como representante trabalhador do anterior; e os ugetistas integraram-se nos comités paritários.20O pro-

cedimento seguido para sua designação foi a votação prévia no sindicato. Esta era uma das escassas faculdades que o governo da ditadura reconhecia à UGT, que havia sido privada da sua capacidade reivindicativa.

Utilizando as palavras de Julio Aróstegui, «o princípio do fim da con- vivência, que não convivia» entre socialistas e a ditadura de Primo de Ri- vera produziu-se a partir do fim dos finais de 1927, a propósito do debate na UGT e no PSOE sobre a atitude perante a convocatória da Assem- bleia Nacional e o posterior projeto de Constituição. Tanto o sindicato como o partido se opuseram a que os dirigentes, filiados e militantes, que foram designados, integrassem a dita Assembleia, ainda que esta de- cisão tenha resultado de intensos e incisivos debates entre o sector refor- mista e o que se tinha oposto sempre à ditadura sem nenhum tipo de re- serva, encabeçado por Indalecio Prieto.21

Voltando à questão do corporativismo, Eduardo Aunós expunha, em 1930, as diferenças entre a doutrina do Estado corporativo (entidades au- tárquicas e Estado forte) e a conceção fascista, de influência mussoliniana (partido único e Estado totalitário): 22«A nossa época é essencialmente

orgânica e intervencionista. A aspiração dos Estados é que nada do que tenha transcendência na vida social e afete o interesse coletivo [...] per- maneça na penumbra de uma mais ou menos direta ação do Estado. Tal- vez destes dois fatores, organicismo e intervencionismo, o primeiro seja permanente e o segundo transitório, se bem que não menos necessário até que os órgãos de formação cidadã se vão capacitando para exercer por si mesmos as funções que lhes são próprias.» Mas, o próprio Aunós, uns anos mais tarde, construía uma ponte entre o corporativismo e o fas- cismo italiano e, portanto, com a Falange Espanhola (FE) das Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalista (JONS), apresentando o fascismo como