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Arquitetura, Estado, identidade nacional e política de massas

2008; ANDERSON, 2008) 140 assumem nas manifestações do nacionalismo - a tal ponto

que Anderson chega a propor o seu entendimento “alinhando-o não a ideologias políicas conscientemente adotadas, mas aos grandes sistemas culturais que o precederam, e a parir dos quais ele surgiu, inclusive para combatê-los” (ANDERSON, 2008, p.39) 141.

Abordado como sistema de signiicação cultural manifesto na representação social coidiana, e não apenas na esfera da políica (BHABHA, 2006), e associado à ideia de idenidade - relacionada à condição moderna de indivíduos ou sujeitos -, o nacionalismo assume sua vertente narraiva de construção de tradições, distantes da ideia de costume e entendidas como “um conjunto de práicas - rituais e simbólicas -, normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas” que “visam inculcar certos valores e normas através da repeição, o que implica, automaicamente, uma coninuidade em relação com [...] um passado histórico apropriado” (HOBSBAWM, 2008, p.9). A invenção, ou imaginação, de narraivas de origem, símbolos reconhecíveis e signiicados apropriáveis, coniguram assim parte do arcabouço que faz do nacionalismo não uma ideologia ixa ou doutrina coerente, mas um cenário instável, ambivalente e de limites incertos (BHABHA, 2006). Ou ainda, como destaca Verdery deve-se:

tratar a nação como um símbolo e qualquer nacionalismo como tendo sentidos múltiplos oferecidos como alternativas e disputados por diferentes grupos que manobram para se apoderar da definição do símbolo e de seus efeitos legitimadores. Isso significa que não devemos tratar o nacionalismo em si como um agente social e perguntar se ele é bom ou ruim, liberal ou radical, ou conducente a uma política democrática. Antes devemos indagar: qual é o contexto global, societário e institucional em que os diferentes grupos competem pelo controle desse símbolo e de seus sentidos? (VERDERY, 2000, p.241)

Nesse campo de disputas onde as retóricas nacionais são encaradas como plurais e a nação é entendida como símbolo, a autora aponta que entre os elementos de conlito se encontram “ideias contrastantes sobre autenicidade, a verdadeira missão da nação, o patrimônio ou heranças culturais, o caráter nacional e assim por diante” (VERDERY, 2000, p.243). Essa perspeciva nos parece de grande interesse quando transposta para o campo da arquitetura e das relações que esta estabelece com a consituição de idenidades nacionais.

De vocação eminentemente ‘exibicionista’ por seu caráter de fruição coleiva, a arquitetura se relaciona com a invenção ou imaginação da idenidade nacional em seu duplo e dialéico senido, de criação de um passado legiimador relacionado paricularmente à esfera da cultura, bem como de símbolos contemporâneos socialmente reconhecíveis e apropriáveis. 140 Ao longo do presente item trabalharemos essencialmente com uma tentai va de conjunção das ideias propostas Ao longo do presente item trabalharemos essencialmente com uma tentaiva de conjunção das ideias propostas por esses dois autores, procurando fugir tanto do ‘aspecto ariicial’ e por vezes ‘manipulaivo’ que surge da concepção de ‘invenção’ uilizada por Hobsbawn, mas também do caráter de ‘ideologia espontânea’ que emerge quando a concepção de ‘comunidade imaginada’ de Anderson é levada às úlimas consequências (BALAKRISHNAN, 2000a). Cabe ressaltar ainda, que o foco reside, sobretudo em desnaturalizar os conceitos de nacionalismos , indicando-os como construções sociais; ou em outras palavras, conforme aponta Hobsbawm a parir das colocações de Gellner: “As nações, postas como modos naturais ou divinos de classiicar os homens como desino políico […] inerente, são um mito; o nacionalismo, que às vezes toma culturas pré-existentes e as transforma em nações, algumas vezes as inventa e frequentemente oblitera as culturas pré-existentes: isto é uma realidade” (GELLNER apud HOBSBAWM, 1998, p.19).

Por um lado coloca-se o aspecto da arquitetura enquanto herança do passado em sua dimensão documento-monumento 142, e por outro seu caráter de construção simbólica

no presente onde seu aspecto visual se referencia e propõe novas construções para o imaginário coleivo. Dessa maneira, tanto se levarmos em conta o caráter intrínseco de escolha - portanto instrumento de poder de construção de memórias sociais - e não de mero vesígio do conjunto daquilo que exisiu no passado manifesto na dimensão documento-monumento, quanto se ressaltarmos o caráter de reprodução de ideologias que reverbera do aspecto de construção simbólica na arquitetura do presente, o cenário das disputas se recoloca inequivocamente na relação da arquitetura com a consituição de idenidades nacionais.

Ganha destaque assim a centralidade que assume progressivamente, ao longo do século XIX na Europa, tanto o conceito de monumento histórico levando à insitucionalização gradual de conjuntos initulados como Patrimônio Nacional (CHOAY, 2001) em diversos países, quanto a estéica românica e seu fator nacionalista que ganha cada vez mais força ao caminharmos para a segunda metade do século 143. Especialmente, se levarmos

em conta que é ao longo do século XIX que o mapa da Europa é redesenhado em grande parte pelo “princípio da nacionalidade”, e pelas novas conjugações que a equação Estado - Nação - Povo - Território passam a assumir (HOBSBAWM, 1998, p.33 et seq). Ao longo do século XIX - com variações temporais em grande parte impostas pelas diversidades de processos políicos e sociais de diferentes nações e territórios - são elaboradas as grandes narraivas das histórias nacionais européias que procuram recriar mitologicamente recortes do passado como legiimadores de um tempo presente. Essa perspeciva certamente confere novas questões para o que Curis (2008, p.131 et

seq) denomina como o “heterogêneo conjunto de prédios” que entre inais do século

XIX e início do século XX resultam de “importantes alusões às tradições nacionais” (CURTIS, 2008, p.132) 144 - quer seja do ponto de vista climáico ou da vegetação ou de

referências culturais diversas, e até mesmo clássicas, ideniicadas como portadoras de caráter nacional -, que em geral são explicadas como “uma reação ao desarraigamento e homogeneidade trazidos pela industrialização e à imposição de formas cosmopolitas derivadas da Beaux-Arts clássicas” (CURTIS, 2008, p.131) 145.

Assim, embora sem abandonar a perspeciva de Anderson do senido do nacionalismo como um sistema cultural, nos é paricularmente interessante a caracterísica eminentemente

142 Ver a esse respeito Le Gof (2003). Ver a esse respeito Le Gof (2003).

143 Ani guedad; Aznar ai rmam nesse seni do que “[…] es importante tener en cuenta que el romani cismo no es un Aniguedad; Aznar airmam nesse senido que “[…] es importante tener en cuenta que el romanicismo no es un esilo ni un lenguaje […], sino más bien un fenómeno estéico y civilizatorio que empieza siendo una nueva sensibilidad para acabar apareciendo como una concepción de la vida cuyo eco se escucha a lo largo de todo el siglo XIX. […] De hecho, el romanicismo temprano, el fantasmal prerromanicismo o el mal llamado clasicismo románico no radicalizaran tanto la oposición entre lo clásico y lo románico como lo iba a hacer posteriormente el romanicismo tardío, más popular y nacio- nalista” (1998, p.92).

144 Entre os exemplos tratados pelo autor chamam atenção além dos casos mais conhecidos das abordagens ‘neo- Entre os exemplos tratados pelo autor chamam atenção além dos casos mais conhecidos das abordagens ‘neo- góicas’ francesas e inglesas de Viollet-le-Duc, Ruskin e Pugin, também as curiosas experiências catalãs e alguns casos dinamarqueses, inlandeses e até americanos, entre outros. Destaca-se nesse conjunto a enorme variedade de linguagens e abordagens propostas.

145 Embora destacando a inl uência dos movimentos políi cos no desenvolvimento dessas experiências e destacando, Embora destacando a inluência dos movimentos políicos no desenvolvimento dessas experiências e destacando, inclusive, que muitas vezes evidenciam as incongruências entre tradições culturais pariculares e o território nacional, Curis insiste na explicação dessas manifestações como respostas às questões trazidas pela Revolução Industrial sugerindo que “não é mera casualidade que tal obsessão com a terra tenha emergido justamente no período em que a industrialização exercia efeitos devastadores sobre as tradições rurais” (CUSTIS, 2008, p.132).

políica que Hobsbawm (1998) 146 lhe atribui concentrando-se especialmente nas ligações

que estabelece mutuamente com nações e Estados. Nessa perspeciva - e fazendo uso da divisão proposta por Hroch (apud HOBSBAWM, 1998) - o autor aponta seu signiicaivo interesse nas manifestações nacionalistas localizadas entre 1870 e 1950: entre os anos de 1970 e 1914, quando o nacionalismo assume dimensão de “programa políico”, e atrela-se deiniivamente à ideia de nação-Estado 147, tornando legíimo que um “corpo de

pessoas que se considera uma nação” demandasse o “direito a um Estado independente soberano separado para seu território” (HOBSBAWM, 1998, p.126); e entre os anos de 1914 e 1950, “quando os programas nacionalistas adquirem sustentação de massa - e não antes - ou, ao menos, alguma das sustentações de massa que os nacionalistas sempre dizem representar” (HOBSBAWM, 1998, p.21), quadro esse que se altera depois do inal da Segunda Guerra Mundial com as diversas questões que o novo cenário políico traz. Sobre o primeiro período o autor indica que consitui o momento no qual o nacionalismo torna-se efeivamente um fenômeno global, tornando-se “uma questão importante da políica de quase todos os Estados europeus” e se muliplicando em regiões as mais diversas inclusive do mundo oriental (HOBSBAWM, 1998, p.128 et seq.) 148. Embora sem

incorrer em explicações que se baseiam na mera transposição de conceitos recebidos passivamente - ideias e modelos ‘fora de lugar’ - em uma suposta relação de centro- periferia, cabe destacar que é nesse mesmo cenário de inais do século XIX que o nacionalismo ganha corpo na América Laina, com todas as contradições e impasses especíicos que o forjar simbolicamente nações provenientes de relações coloniais implica. Entre essas paricularidades Schwarcz aponta que na América Laina, a parir desse momento e principalmente ao longo de toda a primeira metade do século XX, o nacional passaria a revesir-se de um caráter de progresso incontestável: “de atrasados passaríamos a adiantados, de desvio a paradigma, de inferiores a superiores” (SCHWARCZ, 1987, p.35) 149 à medida que se subtraísse aquilo que de importado e de

cópia exisia em nossas culturas.

Já com relação ao segundo período, de 1914 a 1950, Hobsbawm aponta que “se houve um momento em que o ‘princípio de nacionalidade’ do século XIX triunfou, esse momento foi o inal da Primeira Guerra Mundial” (HOBSBAWM, 1998, p.159), como resultado em grande medida do “colapso dos grandes impérios mulinacionais da Europa central e oriental” e da Revolução Russa. Com o Tratado de Paz de Versalhes e demais tratados 146 Embora ponderando que “não é possível reduzir […] a nacionalidade a uma dimensão única, seja políi ca, cultural, ou Embora ponderando que “não é possível reduzir […] a nacionalidade a uma dimensão única, seja políica, cultural, ou qualquer outra” (HOBSBAWM, 1998, p.17), ica evidente pelos recortes, abordagens e conceituações adotados por Hobsbawm o destaque que confere à dimensão políica.

147 Verdery destaca que “nos nacionalismos modernos, as nações […] têm apresentado pelo menos dois grandes seni - Verdery destaca que “nos nacionalismos modernos, as nações […] têm apresentado pelo menos dois grandes seni- dos. […] a) uma relação conhecida como cidadania, na qual a nação consiste na soberania coleiva, baseada na paricipação políica comum, e b) uma relação conhecida como etnia, na qual a nação abrange todos os que são supostamente dotados de língua e história comuns, ou de uma idenidade cultural ainda mais ampla” (2000, p.240).

148 Hobsbawm aponta nesse seni do que: “Não é surpreendente que o nacionalismo tenha conseguido espaço tão rapi- Hobsbawm aponta nesse senido que: “Não é surpreendente que o nacionalismo tenha conseguido espaço tão rapi- damente nos anos que vão de 1870 a 1914. […] Socialmente, três fatos deram um alcance crescente para o desenvolvimento de novas formas de invenção de comunidades - reais ou ‘imaginárias’ - como nacionalidades: a resistência de grupos tradi- cionais ameaçados pelo rápido progresso da modernidade, as novas classes e estratos, não tradicionais, que rapidamente cresciam nas sociedades urbanizadas […] e as migrações sem precedentes que distribuíram uma diáspora múlipla de povos através do planeta, cada um estranho, tanto aos naivos quanto aos outros grupos migrantes e nenhum, ainda, com os hábitos e convenções da coexistência.” (1998, p.132-133)

149 Schwarcz reforça o seu argumento sinalizando que enquanto colônia e mesmo após a independência em grande Schwarcz reforça o seu argumento sinalizando que enquanto colônia e mesmo após a independência em grande parte do século XIX a imitação aparecia como valor posiivo: “[…] o culivo do padrão metropolitano e o afastamento cultu- ral em relação ao meio não aparecem como deiciência, até pelo contrário.” (1987, p.42). Ver ainda a esse respeito, entre outros, Canclini (2003).

que deiniram a divisão políica da Europa após a guerra “o coninente tornou-se um quebra cabeça de Estados, deinidos […] como Estados-nações” (HOBSBAWM, 1998, p.159), onde passou a imperar igualmente o princípio da nação como uma ‘economia nacional’. O autor ideniica assim o período entre-guerras como a “[…] época na qual o mapa da Europa estava sendo pela primeira - e única - vez redesenhado de acordo com o princípio da nacionalidade e quando o vocabulário do nacionalismo europeu veio a ser adotado pelos novos movimentos de liberação colonial ou airmação terceiro-mundista […]”(HOBSBAWM, 1998, p.12).

O autor destaca, no entanto, a “completa impraicabilidade […] de fazer as fronteiras de Estado coincidirem com as fronteiras da nacionalidade e da língua” (HOBSBAWM, 1998, p.161) 150, bem como os desencontros entre a “‘ideia nacional’, enquanto formulada por

seus pregadores oiciais”, e a “real ideniicação do povo em questão” (HOBSBAWM, 1998, p.162). Questões estas, em grande parte tributárias do fato de que os critérios normalmente uilizados para deinição de nação (língua, etnicidade, história, cultura...) são em si mesmos “ambíguos, mutáveis e opacos”, o que se por um lado diicultou formulações abrangentes e unívocas, por outro “[…] os tornou excepcionalmente convenientes para propósitos propagandísicos e programáicos […]”(HOBSBAWM, 1998, p.15). Aspecto esse que ganhou contornos especiais no período em questão:

A identificação nacional nessa era adquiriu novos meios de se expressar nas sociedades modernas, urbanizadas, e de alta tecnologia. Dois deles muito importantes merecem destaque. O primeiro, que requer poucos comentários, foi o surgimento da moderna comunicação de massa […] 151.

Por esses meios as ideologias populistas podiam ser tanto padronizadas, homogeneizadas e transformadas quanto, obviamente, podiam ser exploradas com propósitos deliberados de propaganda por Estados ou interesses privados. […] Mas a propaganda deliberada quase certamente era menos significativa do que a habilidade da comunicação de massa transformar o que, de fato, eram símbolos nacionais, em parte da vida de qualquer indivíduo e, a partir daí, romper as divisões entre as esferas privada e local, nas quais a maioria dos cidadãos normalmente vivia, para as esferas pública e nacional. (HOBSBAWM, 1998, p.170)

Trata-se assim de período intenso de formulação de ‘símbolos de ideniicação nacional’ e de expressões rituais engrandecedoras da pátria e do civismo, que dominam estados e políicas dos mais diversos espectros 152, e que passam por complexas e diversas estratégias

150 O autor pondera ainda que: “A implicação lógica de tentar criar um coni nente corretamente dividido em Estados O autor pondera ainda que: “A implicação lógica de tentar criar um coninente corretamente dividido em Estados territoriais coerentes, cada um habitado por uma população homogênea, separada étnica e linquisicamente, era a expul- são maciça ou a exterminação das minorias. Isso foi, e é o criminoso reducio ad absurdum do nacionalismo na sua versão territorial […]” (HOBSBAWM, 1998, p.161).

151 Sobre os contornos e críi cas do universo da cultura de massa cf. especialmente Lima, L. (1990). Sobre os contornos e críicas do universo da cultura de massa cf. especialmente Lima, L. (1990).

152 Como destaca Hobsbawm: “� importante disi nguir entre o nacionalismo exclusivo dos Estados, ou movimentos polí- Como destaca Hobsbawm: “� importante disinguir entre o nacionalismo exclusivo dos Estados, ou movimentos polí- icos direiistas que se subsituem por todas as outras formas de ideniicação políica e social, e o conglomerado nacional� cidadão, a consciência social que, nos Estados modernos, consitui o solo no qual todos os outros senimentos políicos lorescem. Nesse senido ‘nação’ e ‘classe’ não se disinguem prontamente. Se aceitarmos que a consciência de classe, na práica, inha uma dimensão cívico-nacional, e que a consciência cívico-nacional ou éica inha dimensões sociais, então é possível que a radicalização das classes trabalhadoras na Europa do primeiro pós-guerra tenha reforçado sua potencial cons- ciência nacional. De que outra forma se poderia explicar o sucesso extraordinário das esquerdas nos países não-fascistas em resgatarem os senimentos nacionais e patrióicos durante o período ani-fascista?” (HOBSBAWM, 1998, p.173).

uma vez que não podem ser simplesmente inventadas ou impostas, mas devem passar por um processo gradual de ‘imaginação’ e convencimento a parir de seu apelo inerente. Entre as estratégias uilizadas pela propaganda políica para (re)produzir imagens e símbolos encontra-se a arquitetura:

A nueva políica, nueva arquitectura. En realidad éste era un viejo lema que se había invocado constantemente a lo largo de la historia. Los precedentes más inmediatos eran los de las revoluciones soviéicas en Rusia, fascista en Italia y nazi en Alemania. De hecho este lema no es más que un caso paricular del que dice que a toda políica le corresponde una arquitectura. Una arquitectura que no se contenta solamente con saisfacer unas determinadas necesidades funcionales, pues actúa también como un medio efecivo de propaganda. (SUST, 1975, p.7) 153

Assim, se a arquitetura conigura elemento de interesse para o estudo da produção cultural do período entre-guerras, principalmente no que diz respeito às conexões estabelecidas entre esta e a formulação de discursos nacionalistas e entre ambas e a ação do Estado; olhar a arquitetura do período entre-guerras a parir da temáica nacionalista nos termos políicos até aqui apresentados e das relações entre Estado e produção cultural - também se coloca como perspeciva de grande interesse para a história da arquitetura. � interessante, entretanto, notar que, no campo da historiograia da arquitetura relaiva ao século XX, a temáica do nacionalismo parece ganhar maior destaque apenas a parir da década de 1980. � verdade que a referida temáica já se encontrava presente nos chamados ‘manuais de história da arquitetura moderna’ 154

elaborados logo após o término da Segunda Guerra Mundial - sobretudo no que diz respeito às intervenções no campo arquitetônico dos governos nazistas, fascistas e comunistas ocorridas na Alemanha, Itália e Rússia no período entre-guerras -, e que passou, com o tempo, a ser episódio obrigatório entre os trabalhos que procuraram abordar de maneira abrangente as dinâmicas ocorridas principalmente ao longo do século XX. No entanto, embora tais abordagens das relações entre Estado, idenidade nacional e arquitetura no período entre-guerras passem por enfoques que variam paricularmente, em função dos conceitos e deinições uilizados, o papel simbólico da arquitetura em suas linguagens diversas como instrumento das políicas de massa, tão caro para o entendimento desse período, é na maior parte das vezes simpliicado, entendido em uma perspeciva maniqueísta ou simplesmente deixado de lado 155.

153 Também nesse seni do Waisman defende a importância do estudo do ‘compromisso’ na concepção e produção ar- Também nesse senido Waisman defende a importância do estudo do ‘compromisso’ na concepção e produção ar- quitetônica apontando que todo ato de construir é por deinição um ato moral e políico (1985, p.19).

154 Entende-se aqui, de forma genérica, como ‘manuais de história da arquitetura moderna’, os livros de diversas ge- Entende-se aqui, de forma genérica, como ‘manuais de história da arquitetura moderna’, os livros de diversas ge- rações de autores que ao longo do século XX consolidaram com seus textos, a parir de abordagens bastante amplas, a existência de um certo ‘movimento moderno’, procurando deini-lo e explicá-lo como fato histórico. A maior parte desses textos teve ampla difusão tendo sido traduzidos para diversas línguas e sendo uilizados, alguns até os dias atuais, nas escolas de arquitetura de todo o mundo. Como destaca Tournikiois: “[…] estos escritos ejercieron una poderosa inluencia en el devenir de la arquitectura; en realidad aún lo hacen […]. Estas historias desempeñaron un importante papel en la formación de muchas generaciones de arquitectos, pues proponían una interpretación general del movimiento moderno como un fenómeno históricamente deinido, y por tanto, irrevocable” (TOURNIKIOTIS, 2001, p.22). Ainda a esse respeito, cf. Cohen (1999) e Solá Morales (1999).

155 Pari cularmente notável desse aspecto são as obras elaboradas por Zevi (1954) e Benevolo (1994b). O Primeiro ma- Paricularmente notável desse aspecto são as obras elaboradas por Zevi (1954) e Benevolo (1994b). O Primeiro ma- nual de história da arquitetura moderna a abordar a temáica das relações entre Estado, idenidade nacional e arquitetura no período entre-guerras foi o livro Storia dell’architetura moderna de autoria de Bruno Zevi, lançado pela primeira vez em 1950. Zevi pertenceu à primeira geração de arquitetos italianos formados na perspeciva modernista e que via, no momento do segundo pós-guerra, a necessidade eminente tanto de reavaliação como de defesa da arquitetura modernista, sendo a produção historiográica uma ferramenta central para a execução de tal tarefa. O autor aborda em sua obra respeciva-

Pode-se dizer, portanto, que é a parir da década de 1980 que os estudos acerca das