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capítu lo

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A ordem e a disciplina, caracterísicas tradicionais da gente bandeirante, permaneceram inalteradas. O povo paulista coninuou, como sempre, iel aos seus princípios de trabalho e patrioismo, orientados no senido do engrandecimento de nossa Pátria. Assim sendo, posso asseverar a vossa excelência que marcharam com regularidade perfeita os negócios estaduais, caminhando para desejável solução os mais importantes problemas da Administração Pública, enquanto coninua a ser de prosperidade a situação geral do Estado de São Paulo. (SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, p.I)

� com tamanho oimismo e vigor que Fernando Costa apresenta em maio de 1945 o relatório endereçado a Getúlio Vargas relaivo à sua gestão na Interventoria do Estado de São Paulo no ano anterior. O relatório - cumprimento de uma exigência imposta por lei, segundo o próprio documento descreve 187- seria o úlimo elaborado integralmente por

Fernando Costa que se exonera do cargo em outubro de 1945, pouco antes da deposição de Getúlio Vargas. Apesar de ponderar que o cenário internacional de guerra havia gerado grandes diiculdades para o Estado, principalmente do ponto de vista econômico, o aspecto geral do relatório é de grande oimismo e alinhamento perfeito às perspecivas da políica estado-novista. As referências feitas por Fernando Costa à marcha, à ordem e à disciplina, associadas à igura da “gente bandeirante” em sua cooperação ao engrandecimento da nação não são apenas iguras de retórica, mas elementos de grande interesse para se adentrar os objeivos de formação do novo trabalhador brasileiro, plasmados nas Escolas Práicas de Agricultura do Estado de São Paulo.

Em seu texto, Fernando Costa, embora sem citar diretamente, referenciava-se nas relexões elaboradas por Cassiano Ricardo 188- intelectual e literato modernista que assumiu diversos

cargos políicos durante os anos do Estado Novo 189- que, a parir de uma leitura míica das

187 A determinação de apresentação de relatórios anuais de aividades por parte dos interventores estaduais ao execui- vo federal teria sido imposta pelo Decreto-Lei n.1202, de 8 de abril de 1939 (SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, p.I). 188 Cabe destacar que menções à igura do bandeirante como referência ao papel que São Paulo, e especiicamente o trabalhador paulista, deveria desempenhar no Estado Novo não são exceções nos discursos de Fernando Costa, mas elemento constante. Outro exemplo disso encontra-se no trecho de discurso proferido em Ribeirão Preto em 19 de junho de 1943: “E eu, como Interventor Federal desta terra bendita, sinto-me verdadeiramente feliz por ver que esse esforço construivo dos bandeirantes de outrora, ainda perdura em vós, bandeirantes da atualidade.” (COSTA, F., 1944, p.309). Cf. ainda outros discursos publicados no mesmo volume.

189 Cassiano Ricardo (1895-1974) foi historiador, jornalista, advogado, críi co, ensaísta e poeta no movimento moder- Cassiano Ricardo (1895-1974) foi historiador, jornalista, advogado, críico, ensaísta e poeta no movimento moder- nista paulista, integrando a vertente conservadora dos verde-amarelos, ao lado de Meno� del Picchia, Plínio Salgado e Cândido Mota Filho. Defendeu a revolução consitucionalista de 1932 e em agosto de 1936 - ao lado de Meno� del Picchia,

bandeiras do século XVI, procurava jusiicar, nesse momento histórico, as origens tanto da organização insitucional do Estado Novo, quanto da índole intrínseca do ‘povo brasileiro’ que esse governo deveria fazer alorar. Para Ricardo, assim como para outros ideólogos do Estado Novo, a organização insitucional, então imposta pela ditadura, signiicava uma correção de rumos na história do Brasil 190, ou “o reencontro do Brasil consigo mesmo”, ao

conjugar a posição do país “em face do mundo moderno [em suas palavras, “em horas de deformação e de luta”] e o retorno do Brasil às suas fontes históricas, étnicas, econômicas e políicas” (RICARDO, 1941, p.111) 191. Defendia assim o princípio de um governo “forte e

disciplinador”, em que a centralização do poder e hierarquização do trabalho assumiriam importância central e, em seu entender, remeteriam a aspectos da organização das bandeiras, que haviam possibilitado o caráter sempre em marcha e dado origem à “trama moral de cada bandeira: comando, obediência, movimento” (RICARDO, 1941, p.116) 192.

Ao referenciar-se em tais elaborações e na “ordem e disciplina” caracterísicas da “gente bandeirante” que “marcha com regularidade perfeita” 193, veriica-se mais uma vez a

crença estado-novista de Fernando Costa em, por meio da disciplina e da educação, forjar trabalhadores mais preparados e conscientes de seu papel nas engrenagens produivas para o crescimento da nação 194; ou, a parir novamente dos princípios teóricos elaborados

por Cassiano Ricardo, de fazer alorar as caracterísicas intrínsecas do que denomina o “ipo social bandeirante”: “nenhuma preocupação de classes e posições” associada ao “senimento de solidariedade social”; o “feiio operário” evidente na dedicação obsinada ao trabalho; a “vocação de comando e obediência”; e, inalmente, a “blindagem moral de sua disciplina” (RICARDO, 1941, p.113 et seq.).

� sem distanciar-se de tais prerrogaivas que Fernando Costa - em meio às ‘inúmeras conquistas’ e ‘brilhantes números’ destacados no relatório endereçado a Getúlio Vargas, relaivo à sua gestão na Interventoria do Estado de São Paulo no ano de 1944 - anuncia o início das aulas nas primeiras Escolas Práicas de Agricultura a icarem prontas, bem como a previsão da inalização das obras nas demais para o ano seguinte.

Ainda em 1944 foi possível à Diretoria do Ensino Agrícola publicar os editais de matrículas para as duas primeiras Escolas Práicas de Agricultura que deveriam iniciar o seu funcionamento: a Escola Getúlio Vargas, em Ribeirão Preto, e a de

Paulo Setúbal, Guilherme de Almeida, Valdomiro Siqueira, Monteiro Lobato, Paulo Prado e Mário de Andrade - fundou o grupo Bandeira. Foi eleito em 1937 para a Academia Brasileira de Letras. Durante o Estado Novo ocupou diversos postos importantes, dirigindo o Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda de São Paulo, o departamento cultural da Rádio Nacional e o jornal A Manhã, na época, porta-voz governamental. Data deste período a publicação Marcha para o Oeste (1940), estudo sobre as bandeiras do século XVI em que estabelece relações entre essas e a organização governamental do Estado Novo (ABREU, A., 2001).

190 Ver a esse respeito o item “Arquitetura, Estado, ideni dade nacional e políi ca de massas” da presente dissertação, Ver a esse respeito o item “Arquitetura, Estado, idenidade nacional e políica de massas” da presente dissertação, ou ainda em Gomes (1982b).

191 “Não haverá mesmo surpresa em se dizer que o Estado Novo é várias vezes bandeirantes. Bandeirante no apelo às “Não haverá mesmo surpresa em se dizer que o Estado Novo é várias vezes bandeirantes. Bandeirante no apelo às origens brasileiras; na defesa de nossas fronteiras espirituais contra quaisquer ideologias exóicas e dissolventes da naciona- lidade; no espírito unitário, um tanto ani-federalista; na soma de autoridade conferida ao chefe nacional; na ‘marcha para o oeste’ que é também sinônimo de nosso imperialismo interno e no seu próprio conceito […].” (RICARDO, 1941, p.132) 192 O autor airma ainda que “Está em moda o chefe de Estado ‘sistema fascista’, mas já o bandeirante encarnava o nosso fascismo caboclo e caracterísico. Com a diferença da originalidade que dispensa, para nós, a cópia do igurino romano” (RICARDO, 1941, p.131).

193 Destaca-se sobre esse aspecto a análise de Lenharo sobre as construções discursivas estado-novistas: “A face soi si - Destaca-se sobre esse aspecto a análise de Lenharo sobre as construções discursivas estado-novistas: “A face soisi- cada da elaboração do lema, seja no aspecto técnico, seja no conteúdo simbólico enrusido, aparece na escolha seleiva da palavra marcha. […] A marcha compreende um movimento orientado, cadenciado, disciplinado. Ela exige fé, solidariedade, entusiasmo, tenacidade, mas acima de tudo disciplina” (1986, p.74)

194 Cf. item “A idealização das Escolas Prái cas de Agricultura e a criação de um espaço pedagógico” da presente disserta- Cf. item “A idealização das Escolas Práicas de Agricultura e a criação de um espaço pedagógico” da presente disserta- ção.

Pirassununga. Os candidatos inscritos, em número de 260 para a de Ribeirão Preto e de 240 para a de Pirassununga, foram submeidos a um inquérito vocacional. […] O inquérito realizado teve em vista tomar, tanto quanto possível, conhecimento das vocações dos candidatos para que se pudesse acautelar, desde o início, contra prováveis abandonos dos cursos, durante seu decorrer

195. Das vagas, 5% foram reservados aos alunos do Reformatório Modelo,

oriundos do meio rural, que as Escolas Práicas de Agricultura procurarão nele reintegrá-los. (SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, p.58)

Destaca-se, portanto, nesse contexto, o objeivo maior das escolas: a transformação do homem do campo em um trabalhador apto e eiciente a serviço da nação. Ou ainda, nas palavras de Riter 196, as Escolas Práicas de Agricultura pretendiam consituir-se como

“estabelecimentos preparatórios e reformatórios de sucessivas gerações de camponeses” (RITTER, [194-], p.60) ao visar “uma renovação de processos e conceitos em favor do melhoramento do homem rural como agente de trabalho e como cidadão”, associando a “competência proissional” à “formação moral” (RITTER, [194-], p.61). O caráter de tal formação pode ser mais bem entendido ao se observar o retrato do “homem rural” que tal proposta adota como pressuposto:

Quem no meio rural observasse o ipo de vida e o grau de instrução dos nossos campônios, incultos, desnutridos e desorganizados, se possuiria do mais tenebroso pessimismo e pronunciaria com escárnio as palavras ‘progresso’ e ‘civilização’. Juraria que nem num século chegariam as populações campesinas ao nível de vida civilizada e próspera. (RITTER, [194-], p.59)

O tom adotado em todas as publicações oiciais desse momento acerca das Escolas Práicas de Agricultura é, portanto, de ‘grande obra civilizatória’, de consequências políico-econômicas destacadas ao tornar os “camponeses brasileiros […] homens de bela decência ísica e moral, robustecidos na sua técnica, adaptados e apegados ao seu pedaço de terra, que hão de amar” (RITTER, [194-], p.65). Note-se que, se por um lado tal discurso evidência o caráter propagandeador dessas publicações 197, por outro indica,

em linhas muito claras, objeivos presentes nessa perspeciva de formação que estarão plasmados nos aspectos arquitetônicos e composiivos dos conjuntos.

O mesmo tom encontra-se presente no referido relatório das aividades da interventoria paulista em 1944 que segue apontando com certa minúcia e retratando com amplo conjunto de fotos (se comparado ao destaque conferido nesse documento às demais obras do período) o estado das obras no inal de 1944: já em fase de inalização em Ribeirão Preto e Pirassununga; bastante adiantadas em Bauru e Guarainguetá; e em seu início em Itapeininga e São José do Rio Preto. Cabe lembrar que enquanto as cinco primeiras 195 A existência de tal teste vocacional coni gura também indício da inserção do ensino na perspeci va da medicina social A existência de tal teste vocacional conigura também indício da inserção do ensino na perspeciva da medicina social presente no Estado Novo, conforme se abordará mais adiante. Nas palavras de Gomes: “O trabalhador passara a ser assisido pelo Estado que se preocupava não só com sua saúde ísica como também com sua adaptação psíquica ao trabalho que reali- zava. O homem que exercesse proissão compaível com o seu temperamento e habilidade produziria mais” (1982a, p.157). 196 Marcelino Rit er assume, ao que parece, o papel de relator oi cial da interventoria de Fernando Costa, conforme Marcelino Riter assume, ao que parece, o papel de relator oicial da interventoria de Fernando Costa, conforme já mencionado no primeiro capítulo, sendo responsável pela elaboração de duas obras a esse respeito: RITTER, 1943; RITTER, [194-].

Figuras 4.1 e 4.2 - Dois aspectos do ediício principal já inalizado da E.P.A. Getúlio Vargas, em Ribeirão Preto, apresentados no

4.1

4.2

relatório da interventoria referente ao ano de 1944. Fonte: SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, [s.p.]

escolas foram inalizadas e inauguradas até meados de 1945, a escola de São José do Rio Preto não chegou a ser inalizada na gestão Fernando Costa, tendo permanecido inacabada por diversos anos. O relatório destaca assim que, na maior parte dos casos, procede-se naquele momento “a instalação das oicinas necessárias às escolas, mal grado as diiculdades existentes para a aquisição de material necessário, dada a situação anormal que atravessamos” (SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, p.61). Alguns pontos são ainda ressaltados: o início das aividades de culturas agrícolas nas diversas escolas sem que, no entanto, houvesse um descuido da proposta paisagísica previstas

Figura 4.3 - Montagem fotográica que apresenta o estado das obras na E.P.A. Gustavo Capanema, em Bauru, apresentada também no relatório referente ao ano de

4.3

1944: pavilhão de administração; conjunto de enfermaria, internato e pavilhão de indústrias; e enfermaria. Fonte: SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, [s.p.]

para os conjuntos 198; bem como o cuidado na instalação dos “gabinetes de saúde” das

diversas escolas (SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, p.58 et seq.).

Esse aspecto do ensino nas Escolas Práicas de Agricultura encontra ressonância na orientação de outras aividades também descritas no relatório das aividades da interventoria paulista de 1944. Exemplo disso pode ser veriicado nas aividades de “saúde escolar” realizadas na capital e interior pela Secretaria de Educação e Saúde que incluíam a “inspeção” do aluno nas escolas, bem como aividades de “educação sanitária” que visavam “formação da consciência sanitária de cada aluno” e incluíam visitas às suas residências com vistas a “não só convencer os pais da necessidade em obedecer às prescrições médicas, quanto para observar e modiicar quanto possível, pelos seus conselhos, as condições higiênico- sanitárias das habitações, prejudiciais à saúde, bem como às condições econômicas da família” (SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, p.110).

Pode-se dizer assim, que os ensinamentos de cuidados com a saúde passavam não apenas pela dimensão de formação moral, mas também se relacionavam de forma inequívoca com certa dimensão econômica da questão, ou, de forma mais especíica, com a capacidade produiva do trabalhador. Formar trabalhadores mais conscientes dos cuidados necessários 198 Além dos diversos serviços de terraplanagem executados para a instalação dos edií cios o relatório aponta ainda que: Além dos diversos serviços de terraplanagem executados para a instalação dos ediícios o relatório aponta ainda que: “Em todas as Escolas cuidou-se da preparação dos parques, tendo sido feita a arborização de avenidas e plantadas cercas vivas” (SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, p.61).

Figuras 4.4, 4.5, 4.6, 4.7 e 4.8 - Aspectos diversos do ediício principal da E.P.A. Paulo de Lima Corrêa, em Guarainguetá apresentados no mesmo relatório: vista geral; auditório;

4.4

4.6 4.5

dormitório; cozinha; e páio interno. Fonte: SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, [s.p.]

4.7

4.8

4.11

4.12 4.10

Figuras 4.9, 4.10. e 4.11 - Destaque conferido no relatório da interventoria referente ao ano de 1944 ao início das aividades na E.P.A. Fernando Costa, em Pirassununga: trabalhos na horta; e alunos em frente ao ediício principal e no refeitório. Fonte: SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, [s.p.]

Figuras 4.12 - Perspeciva arísica do ediício principal da E.P.A. de São José do rio Preto apresentada no referido relatório. Fonte: SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, [s.p.]

com a sua saúde e seu corpo, bem como o de seus ilhos, signiicava, nessa perspeciva, formar trabalhadores sãos, fortalecidos e, portanto, mais aptos ao trabalho, por meio do qual poderiam contribuir para o crescimento da nação. A esse respeito Gomes (1982a) destaca não apenas a centralidade que a ideia do trabalho como estratégia de progresso - quer seja da nação, quer seja do indivíduo - assume nos discursos estado-novistas, mas também as conexões da esfera do trabalho com a medicina social, cujas origens remetem ao século XIX. Nesse contexto, segundo a autora, o papel da medicina social - ariculando aspectos do sanitarismo, da sociologia da pedagogia e da psicopatologia - passaria a ser especiicamente o de “preservar, recuperar e aumentar a capacidade de produzir do trabalhador”; (GOMES, 1982a, p.157) e a saúde ísica e mental passaria a ser encarada como o “capital com o qual [o operário] concorre para o desenvolvimento nacional consituindo-se assim em preciosa propriedade a ser manida em uma sociedade de mercado” (GOMES, 1982a, p.157). Tais aspectos encontram-se claramente expressos em arigo da revista Cultura Políica 199 publicado em 1943:

E de fato a nova políica social não se limitou a indenizar a perda de saúde, que equivale, para a grande maioria da população, à perda da capacidade de trabalho, e, por consequência, da capacidade de ganho. Orientou-se ela em favor de um programa proiláico que repercute em quase todos os setores do direito social, e que se divide em dois grupos disintos. Em linguagem econômica poder-se-ia caracterizar o primeiro como o que abrange as medidas que tentam impedir o extravio de valores produivos - em terminologia sanitária falar-se-ia em evitar o enfraquecimento, o gasto ou a diminuição de forças orgânicas. Ao segundo grupo pertencem as providências que visam enriquecer a economia nacional, ou, o que vale o mesmo, fomentar a robustez, ísica e mental dos que a compõem e criam. Aquelas são essencialmente defensivas, enquanto estas atacam os fenômenos nocivos. (M�TALL, 1943, p.13)

Inseridas em tal perspeciva pedagógica e levando em conta as questões referentes ao ‘fomento à robustez ísica e mental’ do trabalhador rural, as Escolas Práicas de Agricultura possuíam ainda cuidadoso programa de ensino de educação ísica e esportes que, segundo ressalta o referido relatório das aividades da interventoria paulista de 1944, estaria a cargo do Departamento de Educação Física - órgão da Secretaria de Educação e Saúde Pública. O relatório indica ainda, que esteve sob a coordenação desse órgão a elaboração dos “planos de construção dos campos de esportes, de ginásica, cestobol, voleibol, piscina e ginásio coberto já em construção” (SÃO PAULO (Estado). Interventoria, 1945, p.123) nas escolas de Pirassununga, Ribeirão Preto, Guarainguetá, Itapeininga e Bauru, bem como os estudos iniciais para as respecivas construções na escola de São José do Rio Preto 200.

Cabe destacar, dessa maneira, que tanto nas Escolas Práicas de Agricultura, quanto em outras ações estado-novistas direcionadas à formação proissional do trabalhador, paria-se de uma concepção integral da educação que, operando de maneira difusa nas mais diversas 199 Conforme já apontado, a Revista Cultura políi ca, editada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda entre março Conforme já apontado, a Revista Cultura políica, editada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda entre março de 1941 e maio de 1945, conigurava instrumento oicial de divulgação da ideologia e dos feitos estado-novistas.

200 Apesar da centralidade que as prái cas espori vas assumiram nos programas de ensino das referidas escolas, a cons- Apesar da centralidade que as práicas esporivas assumiram nos programas de ensino das referidas escolas, a cons- trução de ginásio coberto parece só ter acontecido em Pirassununga e Ribeirão Preto.

esferas do coidiano, teria a capacidade de moldar novos hábitos e comportamentos. Tal concepção educaiva, voltada para a lógica do trabalho e da produção, inha entre seus focos prioritários de ação: a ordem, a hierarquia e a disciplina; a higiene e os cuidados com o corpo; e o aspecto moral e patrióico. No entanto, para que tais propósitos fossem alcançados, não só a educação assumia papel central, mas também o efeito do meio e do espaço sobre a mentalidade e a saúde dos corpos é igualmente encarado como medida de grande importância. Se espaços miseráveis e pouco higiênicos podiam originar problemas de saúde e até mesmo degradação moral, espaços higienicamente concebidos e assim orientados podiam propiciar a boa saúde e o fortalecimento moral dos novos trabalhadores 201. Tratando-se, portanto, dos espaços escolares, a questão ganhava ainda

maior relevância: deveriam esses funcionar como espaços modelares e disciplinadores, ensinando e difundindo novos hábitos e comportamentos 202.

Tal argumento apresenta-se como ideia de fundo a orientar diversas das concepções espaciais e detalhes construivos adotados nas Escolas Práicas de Agricultura. Exemplo disso encontra-se nas argumentações apresentadas por Riter como resposta a supostas críicas que os projetos das escolas teriam sofrido por sua dimensão e caráter monumental

203: para além da complementaridade apontada entre a industrialização e o aprimoramento

das condições de produção agrícola, colocava-se o caráter “reformatório” que as escolas deveriam assumir, e que explicaria sua “importância não apenas didáica, de especialização técnica, mas também social […], pelo inluxo que trará à renovação e ‘elevamento’ do esilo de vida das massas camponesas” (RITTER, [194-], p.60).

Note-se que o aspecto de grande relevância social das Escolas Práicas de Agricultura encontrava-se, sobretudo, no disciplinamento e formação de trabalhadores mais aptos ao trabalho. Tal perspeciva certamente não é exclusiva das referidas escolas e aparece novamente jusiicada em considerações acerca do papel do serviço social no ‘desenvolvimento’ do Estado e da nação, também apresentados no relatório das aividades da interventoria paulista de 1944.

Não há dúvida que o serviço social é improduivo, do ponto de vista estritamente