NA DITADURA MILITAR (1926-1927) JOAQUIM CARDOSO GOMES
RESULTADOS E DISCUSSÃO
40 Arquivo Histórico Militar, cx 3256 Major de Artilharia Luís Carlos de Faria Leal (1887-1956) 41 Arquivo Histórico Militar, cx 1748 Major de Artilharia Daniel Pinto da Silva (1881-1968).
sua surpresa com a imposição da censura no Porto, em 13 de julho de 1926, com as diferenças entre o Porto e a capital: não só o ambiente social é diferente, por não estar no epicentro da ação política, como existe uma boa colaboração com os militares, aspeto que, na grande imprensa, só O Primeiro de Janeiro igualmente releva.
De acordo neste ponto com O Primeiro de Janeiro, o republicano porta-voz do Partido Democrático, A Montanha, é bastante crítico de toda a grande imprensa – em particular d’O Primeiro de Janeiro por ter apoiado o golpe do 28 de maio – mas também por essa imprensa plutocrata, vinculada aos interesses económicos, não assumir uma posição frontal contra a ameaça à liberdade de imprensa. No Porto, ao contrário de Lisboa, não existe uma tomada de posição firme por parte da associação de imprensa para quem a defesa dos direitos fundamentais aparece associada com veemência ao temor pelos prejuízos materiais decorrentes da censura.
Já no plano doutrinário opõem-se claramente o Primeiro de Janeiro, fiel aos princípios liberais, que dá a palavra a um deputado do PRP para verberar a censura, e o Jornal de Notícias, empenhado em defender os princípios do autoritarismo, no modelo mussoliniano, pela pena de João Ameal, o futuro autor do Decálogo salazarista.
No campo republicano será A Montanha a levar mais longe a afronta à censura com a publicação diária da nota ministerial até a mesma ser suprimida pelos militares, não por coincidência, no dia em que é noticiada a primeira substituição à frente da comissão de censura do Porto. O Primeiro de Janeiro depois de 9 de agosto conseguirá publicar ainda uma caricatura de crítica à censura mas será a única, marcando os limites concedidos à imprensa pelo ministério da Guerra. Ao Diário do Porto apenas será permitida a publicação, no número de Natal de 1926, de uma gravura de um ardina com a palavra “censura” já bastante diluída na capa do jornal.
Na falta de outra documentação oficial é a análise dos jornais que permite esclarecer a relação da hierarquia militar do Porto com a imprensa, de facto o único local do país onde a aplicação tardia da censura, a 13 de julho, sofre quase de imediato uma reversão até 8 de agosto, período durante o qual os jornais se entregam à autocensura.
O fracasso da revolta de fevereiro no Porto saldou-se pelo reforço da corrente autoritária dentro da Ditadura Militar e, na imprensa, pela
eliminação do campo republicano, onde apenas subsistiu a grande imprensa, e nela, O Primeiro de Janeiro, porventura salvaguardado pelo peso institucional do jornal.
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