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AUGUSTO DE CASTRO E O FIM DO CONFLITO

No documento Para uma história do jornalismo em Portugal (páginas 125-136)

DIÁRIO DE NOTÍCIAS

AUGUSTO DE CASTRO E O FIM DO CONFLITO

A situação dos redactores do Diário de Notícias viria a resolver-se com o regresso de Augusto de Castro a Lisboa, finda a sua missão em Londres. Castro sucedera a Alfredo da Cunha22 como director do Diário de

Notícias em 1 de Junho de 1919. Em Fevereiro de 1924, foi nomeado

Ministro Plenipotenciário em Londres, pelo que, em 29 de Março seguinte, abandonou a direcção daquele matutino, embora só partisse

20 Os título e subtítulo do artigo são os seguintes: «Eis o Perigo! Eis o Perigo! – Como se faz do Diário de Notícias, jornal do povo e da liberdade, um instrumento traiçoeiro da reacção política que nos ameaça.» 21 «Apanhada em flagrante delito de conspiração reaccionária, a gente da Moagem ousa querer dar lições ao jornalismo livre e independente.»

22 Alfredo Carneiro da Cunha (1863-1942), advogado, gestor de empresas e historiador de jornalismo, foi proprietário, administrador e director do Diário de Notícias, cuja direcção abandonou em 1919, na sequência de um escândalo que envolveu a sua Mulher, Maria Adelaide, filha primogénita de Eduardo Coelho, co-fundador daquele jornal. Vendeu nessa altura a sua posição no jornal à Portugal e Colónias que depois adquiriu outras acções que se encontravam na posse da Sociedade Estoril e do Banco Português e Brasileiro.

para Londres no dia 14 de Abril. Manteve, no entanto, toda a sua influência. Por contrato, Augusto de Castro tinha o direito de indicar quem o substituísse nas funções directivas, quando necessitasse de se ausentar, o que mesmo antes de 1924 aconteceu frequentemente, tendo sido nessas várias vezes substituído ora por Acúrcio Pereira, ora por Rocha Júnior. A sua própria saída para Londres não provocou imediatamente a substituição do seu nome no cabeçalho do jornal, o que só viria a verificar-se no fim da crise. Num artigo publicado a 17 de Junho, Acúrcio Pereira afirmava que à frente do Diário de Notícias Augusto de Castro nunca permitiria que o jornal servisse «interesses reaccionários» nem alguma vez «alentaria propósitos subversivos», tal como «nunca desceria da lealdade de uma informação conscienciosa e séria a repositório de boatos tendenciosos e alarmantes», Aliás, durante toda campanha de O Mundo, Castro foi sempre elogiado e não só como director do Diário de Notícias ou como diplomata mas também pelas suas posições republicanas.

Augusto de Castro manteve sempre um estreito contacto com o que se ia passando. Já de Londres, enviou para a redacção do Mundo aos «antigos redactores do Diário de Notícias» uma carta datada de 6 de Maio23:

Só agora pelos jornais conheço os factos sucedidos. Embora na minha nova situação em que procuro servir o país deseje e deva permanecer estranho a incidentes de jornalismo, de que estou totalmente afastado, quero esclarecer que, com a minha situação de licença no jornal (à qual foi juridicamente necessário estabelecer um prazo) apenas procurei impedir a imediata substituição do director, desejando justamente acautelar a defesa da obra política que realizara e a posição dos meus colegas. O meu esforço foi inútil, mas nem por isso perde a sua significação. Abraço afectuosamente os meus queridos e dignos colaboradores da obra jornalística de cinco anos de independência moral e nacional.

No dia seguinte, O Mundo publicou o telegrama que Castro mandara ao director, Urbano Rodrigues, saudando-o e saudando o jornal, e comentou elogiosamente a posição do director do Diário de Notícias, salientando que «enquanto naquele jornal mandou o sr. dr. Augusto de Castro, a Moagem não conseguiu fazer a sua vontade, atirando de pernas

ao ar ministros e ministérios como agora, na primeira oportunidade, é capaz de fazer».

De regresso a Lisboa24, Augusto de Castro é procurado por representantes da Moagem que lhe pedem, como passo para resolver o conflito, a nomeação de um director. A notícia é avançada pela própria CIPC numa curta nota:

A empresa proprietária do Diário de Notícias, por intermédio de três delegados seus, procurou ontem25 o sr. dr. Augusto de Castro, a quem deu explicações sobre os incidentes que durante a sua ausência se deram no Diário de Notícias e confirmou plenamente os seus poderes como director deste jornal. O sr. dr. Augusto de Castro, em virtude de estar actualmente impedido de exercer essas funções vai delegar nos termos do seu contrato os seus poderes em pessoa da sua escolha.26

Ao mesmo tempo, mas separadamente, anunciava-se: «O Conselho de Administração da Companhia Industrial Portugal e Colónias resolveu no seu conselho de ontem alienar as suas posições nas empresas jornalísticas em que é actualmente interessado.»27

Naturalmente, O Mundo embandeirou em arco, considerando que a Moagem fora «vencida pela opinião pública» graças, claro, à campanha que desencadeara. É esse aliás, o sentido do antetítulo e do título do artigo de fundo do dia seguinte, 22 de Junho: «O sucesso de uma campanha – O

Mundo saúda entusiasticamente o velho órgão das liberdades populares,

o Diário de Notícias, pelo seu regresso ao campo das honrosas lutas pelo bem da Pátria e o futuro da liberdade.»

Todavia, nem tudo ficara devidamente esclarecido: no dia 22 de Junho, o Diário de Notícias publicava na primeira página uma «Explicação Necessária» que dava uma versão diferente dos acontecimentos. Segundo essa «explicação». Augusto de Castro dirigira-se ao jornal às 3 horas e meia

24 Augusto de Castro regressou a Lisboa no dia 19 de Junho. À saída do comboio, proveniente de Paris, aguardavam-no diversas personalidades, designadamente Raul Monteiro Guimarães.

25 20 de Junho.

26 O escolhido foi Eduardo Schwalbach, de seu nome completo Eduardo Schwalbach Lucci (1860- 1946), jornalista e autor teatral. Outros nomes devem ter sido falados. Segundo o Correio da Manhã, um desses nomes seria o de António Ferro.

27 A CIPC viria, efectivamente, a alienar O Século em 1925 mas manteria a propriedade do Diário de Notícias durante muitos mais anos.

da madrugada acompanhado por dois antigos colaboradores28 tendo-se avistado com o chefe de redacção, José Sarmento, a quem entregou as duas notas que anunciavam o seu encontro com os representantes da Moagem e a intenção desta empresa de alienar O Século e o próprio

Diário de Notícias. Prossegue então a «explicação».

A redacção deste jornal, solidária com o seu chefe29, que assume neste momento todas as responsabilidades, sejam elas quais forem, declara bem alto que o gesto impensado do sr. dr. Augusto de Castro, a surpreendeu e magoou. Mas o sr. dr. Augusto de Castro apresentou aos srs. drs. Caetano Beirão da Veiga30, director delegado da empresa, e José Sarmento, chefe da redacção, todas as desculpas pelo acto involuntário que praticara, prometendo sob a sua solene palavra de honra que nenhum dos antigos redactores do Diário de Notícias voltaria a trabalhar nesta casa sem o consentimento daqueles dois senhores. A redacção do Diário de Notícias regista esta promessa, certa de que o actual ministro de Portugal junta da Santa Sé é pessoa incapaz de faltar aos seus compromissos de honra.

Claro que esta nota provocou uma reacção de Augusto de Castro que – segundo O Mundo – se reuniu, no dia 24 de Junho, «com todos os antigos redactores do Diário de Notícias aos quais expôs os termos em que se desenrolara o seu encontro com os representantes e delegados da Moagem. Todos os cooperadores do eminente jornalista reconheceram que as afirmações por ele feitas no seu gabinete da Direcção do Diário

de Notícias, não autorizavam a interpretação que lhes foi dada e estavam

perfeitamente em harmonia com o propósito de conciliação em que previamente se tinham encontrado o director do Diário de Notícias e delegados da empresa daquele jornal».

Finda a sua exposição, Augusto de Castro

«manifestou a intenção de rescindir o seu contrato com a empresa, intenção contrariada por unanimidade pelos seus antigos colaboradores que lhe manifestaram não só a sua inteira confiança como a certeza de que a escolha de

28 Eram João Paulo Freire (Mário) e Pereira Coelho

29 Não se especifica quem era o «chefe» referido: José Sarmento, o redactor-principal, que era, desde 1914 (e se manteve até Novembro de 1924), José Rangel de Lima, ou algum dos administradores da CIPC? 30 Caetano Maria Beirão da Veiga (1884-1962). Era administrador da Empresa do Diário de Notícias desde 1921, levado por Gabriel Ramires dos Reis.

Eduardo Schwalbach constituiria garantia suficiente para que a situação no jornal se normalizasse.

No dia 30, O Mundo ainda publicou uma nota acusando Beirão de Veiga de continuar a querer mandar no Diário de Notícias, o que só seria possível, acrescentava a mesma nota, se a Moagem quisesse faltar aos seus compromissos ou se Beirão da Veiga tivesse assumido poderes ditatoriais e se impusesse à Moagem31.

Nesse mesmo dia, Eduardo Schwalbach32 tomou posse como director do Diário de Notícias e pareciam estar criadas as condições para que todos os quase trinta jornalistas reocupassem os seus lugares. Todavia, ainda se verificaram sobressaltos. No dia 1 de Julho, O Mundo escrevia: A actual direção do Diário de Notícias fornece-nos a garantia de que os antigos redactores desse jornal nele virão a ocupar, novamente, os lugares e as posições a que têm direito.» Sempre segundo O Mundo, não foi assim:

Beirão da Veiga, ditador do Diário de Notícias, intimou os redactores que tinham entrado para o Diário de Notícias ainda não havia vinte e quatro horas, a virem a O

Mundo rectificar esta frase, sob pena de serem novamente despedidos. É claro que

esses jornalistas deliberaram não tornar a pôr os pés no Diário de Notícias onde, daí em diante, só poderiam esperar uma emborcadela de óleo de rícino.

Não é possível confirmar quais os redactores que saíram ou ficaram depois de toda a tempestade, pois o Diário de Notícias só mantém registos a partir de 1927. Assim, apenas um trabalho de pesquisa nos jornais que então se publicavam poderia permitir encontrar um ou outro nome mas isso já seria outra história e pouco relevante para o caso que nos ocupa.

31 Em 31 de Janeiro de 1933, a propósito dos seus doze anos como administrador-delegado do Diário de Notícias, Beirão da Veiga foi homenageado pelo pessoal do jornal, com um banquete que reuniu cerca de 300 trabalhadores.

Impedir que o DN seja um jornal monárquico

Todavia, para além da situação dos redactores do Diário de Notícias,

O Mundo mostrava-se cada vez mais preocupado com o que entendia

serem as posições monárquicas daquele jornal.

No dia 20, escrevia o jornal que a situação no Diário de Notícias constituía «um perigo para a república e para o país»; no dia 23 denunciava-se a tentativa de se formar uma empresa monárquica para a compra do Diário de Notícias e num artigo publicado no dia 24, desenvolvia-se essa ideia:

Tornar o Diário de Notícias o grande órgão da causa monárquica, eis o pensamento da conhecida firma Eduardo Reis, Alves de Sousa, Caetano Beirão da Veiga e Cª. Agora nem já são moageiros ou empregados da Moagem; são monárquicos, e monárquicos da espécie mais truculenta, mais fanática, mais inimiga da República e dos seus homens. Extremaram-se os campos e neste incidente, cuja importância dia a dia aumenta, o que nós vemos de um lado é a monarquia, e do outro é a república […]. Ninguém exige que o Diário de Notícias se torne um jornal jacobino mas também ninguém tolerará que o Diário de Notícias se converta num órgão monárquico, apregoando e defendendo todas as reacções. Isso nunca!

No já referido artigo de 1 de Julho, Beirão da Veiga é de novo violentamente atacado33:

Quem tudo ali manda (no Diário de Notícias) é o vereador monárquico, de marca integralista, o sr. Caetano Beirão da Veiga, adversário intransigente e rancoroso da República. Está feita a monarquia dentro do Diário de Notícias e a monarquia mais autoritária, mais despótica, a monarquia à Mussolini, à Primo de Rivera, à D. Miguel. É bom que se vão conhecendo os moldes, em ponto necessariamente restrito, do regime de arbítrio e de opressão que essa monarquia, caso dominasse no país, com tanta facilidade como está dominando no Diário de Notícias, viria impor à nação inteira.»

33 O título era: «O Caso do Diário de Notícias Agrava-se - Nas mãos de um monárquico integralista o Diário de Notícias torna-se uma aringa da realeza proscrita»,

O inquérito e as respostas de Acúrcio Pereira

Perante o relato, que acima fica, do incidente entre a Redacção do

Diário de Notícias e a administração do jornal percebe-se que o que

começou por ser uma revolta de jornalistas contra imposições que punham em causa a sua honorabilidade e o seu trabalho, transformou- se a certa altura num ataque às posições monárquicas da empresa e em particular de um dos administradores do jornal.

O CASO DE 1927

Ora, quando, em Fevereiro de 1927, o Diário de Notícias publicou um suplemento colocando-se abertamente a favor dos revoltosos34 que pretendiam derrubar a Ditadura Militar instituída menos de um ano antes, a reacção governamental foi duríssima. O jornal foi imediatamente suspenso e quando regressou, quatro dias mais tarde, desaparecera do cabeçalho o nome de Eduardo Schwalbach, substituído pelo de um oficial, o então tenente-coronel Pestana de Vasconcelos35, que além de director era também delegado do Governo, funções que desempenhou entre 11 de Fevereiro e 30 de Março de 1927.

O Ministério do Interior nomeia então uma Comissão de Inquérito constituída pelos dois oficiais referidos

Com data de 2 de Março de 1927, o Major Veiga Ventura enviou a Acúrcio Pereira oito perguntas, das quais cinco referiam-se ao conflito de 1924.

A formulação dessas cinco primeiras questões parece indicar que o objectivo do oficial inquiridor era determinar quais os motivos que haviam levado Acúrcio Pereira e os demais redactores a abandonarem o «Diário de Notícias» em Abril de 1924, designadamente se eram do seu conhecimento «quaisquer factos que demonstrem existir da parte da S. I. P. C. uma acção jornalística sobre o Diário de Notícias tendente a

34 O primeiro título, em grandes parangonas, dizia: «Viva a República» e mais adiante escrevia-se: «O povo português não aceita passivamente o regime das ditaduras».

35 João António Pestana de Vasconcelos Júnior (1877-1954) era director do Portugal, órgão do Governo que apoiantes civis dos revoltosos haviam assaltado e vandalizado na revolta de Fevereiro e que não voltou a ser publicado.

servir interesses próprios e lesivos do interesse público?».

As últimas três perguntas incidiam sobre os acontecimentos de Fevereiro: a primeira se o jornalista tivera «conhecimento da publicação dos Suplementos do «Diário de Notícias» e da «Batalha»36 nas oficinas do primeiro na tarde de 7 de Fevereiro37»; a segunda se conhecera «sobre essas publicações quaisquer factos ou circunstâncias das quais se possa inferir a responsabilidade ou irresponsabilidade da Empresa do «Diário de Notícias» a esse respeito?» e a última pedindo-lhe que relatasse «quaisquer factos que directa ou indirectamente possam interessar ao aprofundamento da verdade, bem como indicar testemunhas ou fornecer elementos que digam respeito à acção do Diário de Notícias antes, durante e depois dos últimos acontecimentos revolucionários».

Em resposta, Acúrcio Pereira refere exaustivamente os acontecimentos que levaram à sua saída – e à da redacção – dando alguns pormenores que não constavam dos artigos publicados por O Mundo mas quanto às três perguntas respeitantes aos acontecimentos de 1927 nada adianta, o que também é natural pois já há quase três anos que saíra do Diário de

Notícias.

Acúrcio Pereira começa por garantir que o seu depoimento assenta não só no conhecimento que teve dos factos como também em documentos e num diário que escreveu e que põe à disposição do inquiridor, certamente como garantia de que os factos que ia relatar não se apoiavam apenas na memória, sempre falível.

Recorda depois que

a assistência junto da direcção do Diário de Notícias por parte da sociedade accionista foi prestada ora pelo sr. Carlos Ramires dos Reis, ora pelo sr. José de Abreu Reis, ora, ainda, pelo sr. Raul Monteiro Guimarães, mas na generalidade tão limitada que mal se sentia» e acrescenta que «o sr. dr. Augusto de Castro conservava a sua absoluta independência em matéria de orientação do jornal para o qual conquistara um prestígio que V. Exa. não ignora e os delegados da Portugal e Colónias não se

36 Não encontrei o suplemento de A Batalha nos arquivos que consultei. O único exemplar conhecido está no espólio do jornalista Carlos Ferrão, depositado no Museu da República e Resistência, agora desmantelado. Aí o achou o jornalista Gonçalo Pereira Rosa, que me facultou uma cópia, o que lhe agradeço.

37 Em 7 de Fevereiro, A Batalha estava suspensa há dois dias e só voltaria a publicar-se no dia 1 de Abril. Pelo que se diz, parece que A Batalha também lançou um suplemento no dia 7 idêntico ao do Diário de Notícias mas de que não encontrei qualquer exemplar.

atreviam a tentar manejá-lo em proveito de interesses que não fossem legítimos. A prova encontra-a V. Exa. percorrendo os artigos de fundo do Diário de Notícias desde 1921 a Abril de 1924. Não encontrará aí a defesa da Moagem ou dos seus interesses.

Prosseguindo o seu depoimento, Acúrcio Pereira afirma que quando substituía Augusto de Castro nas suas ausências «as instruções que tinha eram, sobretudo, estas: satisfazer os desejos honestos dos administradores da Portugal e Colónias mas não escrever qualquer artigo de fundo ou outro que constituísse a defesa da Moagem» e cita palavras do director: «Nunca fale no pão, nem na farinha. Não quero que o jornal perca o seu prestígio e a confiança do público. Resista. Diga que são instruções minhas.»

Acúrcio Pereira relata as dificuldades que passou a ter com a administração do jornal, acusando concretamente um dos administradores:

Pelo lado da Portugal e Colónias adensavam-se, porém, as nuvens. O Eduardo Ramires dos Reis assumira a presidência do conselho de administração. Homem voluntarioso, brutal, não olhando a meios para conseguir os fins, […], foi ele que rompeu com o equilíbrio mais ou menos estável do Diário de Notícias para se servir dele para fins reservados. Acolitou-o o sr. Caetano Beirão da Veiga cujas qualidades não ficam muito distantes do seu copain e que não podia suportar estar reduzido a insignificantes funções de administrador do jornal.

Noutro passo refere as alusões de Eduardo dos Reis:

ao facto de o jornal não ter atacado o Ministério da Agricultura38 (vim a saber mais tarde que o dr. Augusto de Castro se recusara a fazê-lo); a ter na Companhia antigos ministros (os srs. Pina Lopes39 e Lima Bastos40) que faziam o que eles queriam, etc...A isto contestei estar com muito prazer à disposição deles (moageiros) e que trabalharia em todas as questões de natureza nacional, enquanto não sentisse o

38 Entre 17 de Dezembro de 1923 e 6 de Julho de 1924, a pasta da Agricultura estava incluída no Ministério do Comércio e Comunicações, de que foram titulares, primeiro o advogado António Joaquim Ferreira da Fonseca (1887-1937), até Fevereiro de 1924, e, depois, o dr. Nuno Simões (v. nota 30), até ao fim desse Gabinete, em Novembro de 1924.

39 Francisco de Pina Esteves Lopes (1874-1962). Oficial do Exército, foi Ministro das Finanças entre Março e Junho de 1920.

40 Trata-se do engº. agrónomo Eduardo Alberto Lima Basto (1875-1942), várias vezes Ministro (Fomento, Trabalho, Comércio e Comunicações e Finanças, neste último caso entre 1 de Julho e 1 de Agosto de 1925).

afastamento de objectivos que o meu brio profissional não suportaria).

Passa, em seguida, a transcrever o que escrevera no seu diário.

O primeiro artigo do Alves Diniz indignou os republicanos que clamam que o está fazendo em defesa da especulação cambial. Daí por diante, aumentou a tentativa de interferência da Moagem no Diário de Notícias, descendo a pormenores ridículos. O Beirão da Veiga, ansioso por assumir as funções de director, colaborava na ofensiva contra mim que era um obstáculo à realização de objectivos menos honestos,

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