• Nenhum resultado encontrado

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

2.2. Artesania

Artesania é uma palavra que significa, nessa tese, o processo de construção dos dados, informações, reflexões, análises teóricas, leituras realizadas, as compreensões construídas, as técnicas e tecnologias que foram empregadas para construção dos dados e informações, ao longo dessa jornada-pesquisa, trilhada por mim. Ou seja, Artesania é uma tatuagem que evidencia o desenho do caminho percorrido durante a jornada-pesquisa com todos os elementos constitutivos desse

50

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

Como pesquisa e pesquisador se relacionam profundamente na abordagem Sertânica, nessa construção, um dos primeiros procedimentos que realizei foi buscar dessoterrar as minhas memórias.

No Grupo de Pesquisa Sertania e Educação, compreendemos que o objeto de estudo de um pesquisador também surge de seus interesses pessoais. É dessa necessidade ou desejo pessoal que geralmente emerge o interesse de estudar determinado assunto ou tema.

Na nossa abordagem, o pesquisador constroi o interesse de estudar um fenômeno humano, a partir de diversos fatores, dentre os quais a sua própria existência humana no tempo histórico. Sejam elas de ordem política, social, econômica, cultural, que influenciaram na definição do que ele é. Pois, é com isso tudo que ele terá inspiração para pensar sobre os temas que farão parte da sua vontade de estudar, pesquisar. Como diz Ardoino (2012)

(...)o homem, não é indiferente às produções de saberes que o concernem, há reação por parte dele, ele interfere constantemente com os dispositivos de análise e de estudo que lhe serão aplicados, perturbando-lhes o funcionamento. (ARDOINO, 2012, Paginação irregular)

Quem pesquisa tende a incluir sua individualidade dentro do processo dos seus estudos no coletivo social. Existirá uma interconexão entre o seu percurso histórico, enquanto individuo, com o coletivo da sociedade em que viveu, vive ou viverá. Na conexão entre esses dois percursos é que o ser se constroi como ser humano, num determinado tempo e espaço impermanentes, que ajudam a definir a sua condição humana, além do seu perfil de pesquisador.

Nesse sentido, a sua individualidade, ou seja, o seu imprinting social e cultural, se manifestará através da sua vontade, mas as determinações históricas que caracterizam o seu tempo histórico, irão interferir no que ele busca construir na sua vida de pesquisador. Isso será complementado pelos acontecimentos incertos que emergem ao longo desta existência, na impermanência da vida humana. Daí a necessidade de se pensar a pesquisa como uma itinerância.

Entendemos que a busca da compreensão de um pesquisador sobre a origem do seu interesse em estudar determinado objeto, numa pesquisa acadêmica, também passa pelo entendimento de como esse objeto surgiu, na sua própria vida, como ser humano que pensa o mundo em que vive.

51

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

É nas ocorrências do que se experimentou, ao longo do seu tempo histórico, da sua itinerância histórica, que as suas pesquisas começam. É aí que deve estar o início, a ponta do iceberg, para se compreender como o objeto de estudo foi se constituindo dentro dele.

Portanto, compreendemos, que é sobre suas memórias que o pesquisador deve se debruçar, inicialmente. E, esse processo inicial de construir a consciência do objeto de estudo em si mesmo, a partir de suas memórias, é o significado maior da palavra dessoterrar.

Ao me tomar como fonte, recorro às minhas memórias. Memória, para nós, será aquilo que Le Goff (2013) afirma ser o que faz crescer a história, que por sua vez a alimenta, procurando salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Busquei trabalhar de uma forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens.

O fato de buscar nas minhas memórias o início do interesse pelo objeto de pesquisa, não significa que estou assumindo uma perspectiva teórica da história de vida, na produção dessa pesquisa. Logo, é importante atentar que não estamos aqui nos referendando na perspectiva teórica subsidiada pela Teoria dos Sistemas de Bertalanfy e nem pela antropologia de Gregory Bateson, entre outros (JOSSO, 1999). Os debates que empreendemos dentro da linha de Educação, Política e Práxis Educativas foram muito importantes para a clareza sobre este aspecto teórico da nossa tese. E para registrar esse debate construtivo, é que explicitamos aqui esse esclarecimento, em forma de agradecimento.

Não é a teoria e nem o pesquisador a priori que definem o objeto de estudo, mas sim as exigências do objeto de estudo, que se interconectando com a compreensão do pesquisador e teorias existentes, vão traduzindo e fazendo emergir com clareza o objeto de estudo.

Quanto ao uso de teorias no plural, nos cabe esclarecer que ao utilizarmos procedimentos como técnicas e instrumentos de outras ciências humanas, para nos aproximarmos, ao máximo, da compreensão histórica do nosso objeto de estudo, não significa que estamos assumindo o referencial teórico dessa ciência ou que estamos promovendo um ecletismo teórico-metodológico que desqualifica a sua produção.

52

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

Nesse sentido Guy Berger17 (2012) dirá que

A multirreferencialidade (...) não é a mobilização de certo número de campos de conhecimentos, de campos de competências que, num momento dado, seriam mobilizados, de forma encantatória, no auxílio da análise de uma situação plural e heterogênea, termos caros a Jacques Ardoino. Ela está muito mais longe, e seria em vão aproximá-la de formas como a pluri, a multi, a interdisciplinaridade e mais ainda a transdisciplinaridade. Ele jamais solicitaria a um jovem pesquisador, em trabalho de tese, ser ao mesmo tempo, psicólogo e sociólogo, etnólogo e economista, mas, segundo uma bela fórmula de Ardoino, seria-lhe solicitada a manifestação de uma certa poliglossia, condição de acesso à perspectiva do outro. Falar sua língua não implica, bem ao contrário, o interdito da língua do outro.

(...) É o estudo desse campo, a análise das situações, a mobilização de uma paixão da razão que determinam uma exigência de saber, imperiosa, desde que duas condições sejam preenchidas. Primeiro, que essa exigência de saber seja sempre inacabada, sempre insatisfeita, e, aqui, reencontremos esse diálogo entre a falta e a perda; e segundo, que na resposta a essa falta, é necessário saber, mas não saber tudo, quer dizer na reparação da falta, haja a aceitação da falta e não a sua negação. (BERGER, 2012, Paginação irregular)

A multirreferencialidade desenvolvida por Ardoino18(2012), nos convida a

enfrentar o inacabamento do conhecimento humano, não negar essa característica dele.

Karl Marx também construiu sua teoria do Materialismo Histórico Dialético, a partir da obra clássica de O Capital, afirmando no prefácio à edição francesa dessa obra, em Londres, no dia 18 de março de 1872, que não existe uma estrada já aberta à ciência, e só aqueles que não temem a fadiga de galgar suas escarpas abruptas é que têm a chance de chegar a seus cimos luminosos (MARX, 1996).

Assim, Marx (1996) vai evidenciar uma compreensão de que, na pesquisa dos fenômenos humanos, é necessário conviver com o desconhecido, o desafio, respeitando uma construção que o objeto de estudo irá exigir do pesquisador e ele decidirá a partir dessa exigência do objeto de estudo. Essa maneira de agir, em busca da concretude histórica de um objeto em estudo, é que o pensar Sertânico busca alcançar.

Marx (1996) se apropriou de alguns aspectos do método da Economia Política, da Sociologia, da Historiografia, da Demografia, da Geografia Econômica, da

17 Professor emérito da Universidade de Paris Vincennes à Saint-Denis. 18 Professor emérito da Universidade de Paris Vincennes à Saint-Denis.

53

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

Antropologia. Mas em momento algum ele assumiu as perspectivas teóricas existentes nessas diversas áreas, hoje também denominadas de ciências humanas.

De forma diversa, na nossa compreensão, ele vivenciou, na sua pesquisa, uma possibilidade de se nutrir das contribuições dessas ciências, sem se aprisionar nelas. Trilhando procedimentos metodológicos diversos, no estudo do seu objeto de pesquisa, ele criou o seu método para estudar o capitalismo no seu tempo histórico. Criou uma teoria sui generis, por meio de uma atitude antropofágica-intelectual profícua.

O referencial teórico, na abordagem multirreferencial, não vem antes da pesquisa. Pois, segundo Guy Berger (2012), Jacques Ardoino (2012), afirma que, ao estudarmos os fenômenos humanos, não devemos nunca proceder do conhecido ao desconhecido. Ele afirma que para Ardoino é necessário se deixar

(...) invadir pelo desconhecido e o refletir em seguida. Não temos aí um processo de “sedimentação” pela construção de posicionamentos de base aos quais acrescentaríamos novos conhecimentos através de deduções e de verificações. Trata-se, finalmente, e isso pode parecer paradoxal, de introduzir no trabalho da razão a função da surpresa, a função do imprevisto, a qual nos reenvia ao lugar central em Ardoino, o da noção de criação (...) (BERGER, 2012, p. 25).

Nesse sentido, na abordagem Sertânica, a teoria e o método vêm após o início da pesquisa, quando as informações e os dados são construídos e problematizados para gerar o conhecimento, enquanto resultado de um estudo. Ela será sempre o resultado da itinerância da pesquisa e do pesquisador, orientado pelas necessidades do objeto de estudo, para engendrar a sua produção científica como teoria(s) e método.

A minha busca começou por informações, como eu já me referi anteriormente nesse texto no Item 2.1 (p. 40), e eu precisava encontrar fontes históricas que me remetessem às informações desse movimento de profissionais da Educação e estudantes, ao longo da década de 198019.

Diante desse desafio, fui procurar os jornais que circulavam na cidade nesse momento histórico. Eles poderiam me apresentar informações sobre esse fenômeno sócio-histórico. Diante das dificuldades de recursos financeiros e de tempo para realizar essa imersão, resolvi buscar o acervo dos jornais Diário de Natal, O Poti e a

54

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

Tribuna do Norte, como as primeiras ações para mergulhar no campo da pesquisa

em busca de fontes que me informassem de aspectos dessa Mobilização Social. Essa decisão se justificou pela falta de documentos no acervo da própria Secretaria Municipal de Ensino de Natal (SME/NATAL), sobre essa Mobilização Social específica. O que descobrimos é que não existia cópia da Lei, nem registros mais consistentes do período, na sede da própria instituição. Aqui já fui identificando o tamanho do desafio que existe quando não se tem uma política bem estruturada e vivenciada de manutenção da memória histórica de uma instituição pública.

Estudei a referida Lei n. 3.586 e senti a necessidade de complementar as informações sobre essa Mobilização Social, buscando detalhes do seu cotidiano. Foi aí que decidi pesquisar nas fontes dos jornais da época, fui construir dados e informações nas seguintes fontes históricas: Diário de Natal, O Poti e a Tribuna do

Norte.

Seguindo nessa direção, após uma pesquisa rápida no Google, descobri que parte do acervo dos jornais Diário de Natal e O Poti estavam disponíveis, gratuitamente, na Fundação Biblioteca Nacional. E que os da Tribuna do Norte só seriam acessados mediante pagamento. Então escolhi iniciar a pesquisa pelo acervo público e, se necessário, depois complementar as informações com o da Tribuna do

Norte.

Após Identificar que o acervo dos jornais Diário de Natal e O Poti, estavam disponíveis na Hemeroteca Digital Brasileira da Fundação Biblioteca Nacional, fomos então a procura das edições do ano de 1987 para poder construir novos dados que pudessem me levar a compreender a dinâmica dos acontecimentos que envolveram o cotidiano daquela Mobilização Social.

Nesse momento da pesquisa, identifiquei e utilizei a ferramenta de pesquisa da própria hemeroteca, com base em algumas palavras-chaves e em todas as edições no período entre os anos de 1980 e 1989. As palavras-chaves que usei foram as seguintes: professor, professores, estudante, estudantes, escola, Conselho, Conselho Escolar, Conselho de Escola, pais, APRN, ASSOERN, ASSERN, ANPAE e UMES20.

20 Essas siglas significam, respectivamente, à época: Associação de Professores do RN, Associação de Orientadores Educacionais do RN, Associação de Supervisores Educacionais do RN, Associação Nacional de Profissionais de Administração da Educação do RN e União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas de Natal.

55

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

O número de ocorrências foi muito alto, chegando a 54.745 (cinquenta e quatro mil e setecentas e quarenta e cinco). Seria o número de páginas desse jornal que eu deveria consultar, para encontrar os registros sobre o meu objeto de estudo. Diante de tamanho desafio, o que fazer? Nem poderia perder informações e nem tinha tanto tempo para me debruçar sobre todos esses registros.

Decidi usar os seguintes procedimentos e critérios para superar esse desafio: 1) Começar a ler primeiro as edições do ano de 1987, depois ir para as do ano 1986 e 1988. E assim, sucessivamente até ler os dois anos (1980 e 1989) que eram os extremos da década de 1980;

2) Realizar, na primeira leitura, uma dinâmica de classificação que identificasse se a matéria dizia respeito ao meu objeto de estudo, procurando ver se as palavras- chaves apareciam na manchete da notícia identificada;

3) Compreender o significado da palavra-chave no parágrafo da página do jornal, em que estava;

4) Classificar cada informação pertinente com um código específico para leituras posteriores;

5) Ler cada uma das ocorrências, classificadas no item anterior, e fazer os seus registros gerais numa planilha do Microsoft Excel 2013 e os específicos num mapa conceitual do Simple Mind Pro.

Os procedimentos acima nos ajudaram a vencer os desafios de identificar, classificar e escolher, dentro das numerosas fontes históricas encontradas nos jornais, quais delas estavam efetivamente ligadas ao meu objeto de estudo e ao cotidiano da Mobilização Social estudada.

A Mobilização Social é uma noção que integra o grupo das noções fundantes da nossa pesquisa. Ela emergiu da nossa pesquisa, à medida que foram identificadas e estudadas as fontes históricas, observando as características da mobilização construída por educadores e estudantes de Natal, entre aqueles anos de 1982 e 1987. Foi a necessidade de definir o melhor significado para esse fenômeno humano, no interior da então denominada Rede Escolar do Município de Natal, que decidimos por este conceito de Mobilização Social (TORO; WERNECK, 2004).

À medida que fui identificando essas fontes históricas, que registraram inúmeros momentos do cotidiano dessa Mobilização Social, verifiquei que ela se

56

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

aproximava ainda mais, e significativamente, do conceito que Toro e Werneck (2004) apresentam nos seus estudos sobre o fenômeno humano das mobilizações sociais.

Aprofundando na compreensão dessa noção, a mobilização é uma palavra que vem do Latim: mobilis. Significa o que pode mudar de lugar, de movere, mudar de lugar, mover, deslocar. Sempre limitada ao universo do ser humano e a sua possibilidade de se movimentar com o objetivo de produzir e compreender mudanças. A mobilização para a participação social precisa ser problematizada na sociedade humana contemporânea, na qual a valorização do individualismo heterônomo é uma das estratégias do sistema capitalista no mercado globalizado. Principalmente quando nos debruçamos sobre as atitudes do ser humano que buscam criar e viver numa sociedade democrática, em que os benefícios construídos pelas pessoas que a integram sejam direcionados para o crescimento de todos os seus integrantes, na perspectiva do bem comum.

A Mobilização Social, nesse trabalho, como já foi afirmado, será compreendida a partir das contribuições de Toro e Werneck (2004). Eles afirmam, nesse sentido, que mobilizar socialmente significa promover uma convocação de vontades (grifo nosso) para agirem, atuarem, em busca de um propósito comum. Além do que esse objetivo comum deve ter uma interpretação e um sentido compartilhados. Que também seja uma busca quotidiana resultante das decisões e dos desejos dos participantes dessa mobilização.

Ela não deve ser confundida com algumas manifestações públicas. Nas quais pessoas se reúnem, em um espaço público, como numa praça, realizando uma concentração de pessoas, ou mesmo realizando alguma passeata. Só isso não é suficiente para garantir que um grupo de pessoas está realizando uma Mobilização Social. Para esses autores se faz necessário que a mobilização atenda aos requisitos já apontados e que conquiste uma organização sistemática de planejamento, ação, reflexão, replanejamento, numa espiral contínua de aperfeiçoamento.

Mobilizar, dentro dessa perspectiva, exige a conquista de algumas características. Se faz necessário uma organização mais sistematizada do movimento inicial de participação das pessoas sensibilizadas por alguma causa social. Se faz necessário:

• A criação de uma pauta reivindicatória das pessoas que integram o movimento, a partir daí se definindo um objetivo comum.

57

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

• Que seja elaborado um cronograma de ações, que busque traçar uma organização, uma logística que viabilize o desdobramento do movimento inicial.

Como se depreende dessas duas características, na criação de uma Mobilização Social, ela poderá iniciar até de um momento espontâneo de ações de um grupo de seres humanos, mas depois terá que se organizar sistematicamente. Foi nessa perspectiva de compreensão que identificamos as características da Mobilização Social que estava estudando. As reflexões, análises, sínteses, que fiz estavam vinculadas a essas duas características.

O indivíduo existe. Ele se movimenta na vida com necessidades e desejos, com vontade, e o sistema capitalista busca se apropriar desses elementos para produzir a sua sustentabilidade, via a desumanização do sujeito. Isso se estabelece a partir de uma concepção de Educação que apaga da sua vida, a sua relação com os demais seres da vida.

O indivíduo auto-eco-organizado é desconectado da própria vida e se desumaniza. Acontece que a ausência de sentido do que se estuda na escola tem

como dimensão mais profunda a produção do esquecimento do sujeito de si mesmo

(BARBOSA JUNIOR, 2017, p. 425).

A Mobilização Social de algumas categorias de trabalhadores brasileiros e de estudantes seriam ativados pelas necessidades desse momento histórico, com seus desafios econômicos, políticos, sociais, culturais, de aspectos individuais e coletivos desses agentes, numa profunda interconexão dialética.

Irei agora ressaltar a concepção que usei como referência para o trabalho das entrevistas, nessa tese. Elas foram concebidas através da entrevista livre conversacional, na qual surgem perguntas sobre o tema, uma interação livre, sem previsão de perguntas preconcebidas durante a sua realização. Já as transcrições e retextualizações foram realizadas conforme a perspectiva Marcuschi (2007).

A gravação dos áudios das entrevistas foi realizada com o equipamento DR- 05 da TASCAM, que grava no formato de mp3. Este dispositivo capta o som com qualidade admirável, não chama muito a atenção dos entrevistados porque são discretos e tem níveis de regulagem de captação de áudio, o que possibilita o equipamento ser colocado a uma certa distância do entrevistado. Esse aspecto é importante porque não observamos durante todas as gravações uma mudança

58

2. CAMINHOS PERCORRIDOS

significativa no comportamento dos entrevistados, por causa da presença do gravador de voz.

Outro aspecto importante na utilização do mp3 é que este formato ocupa menos espaço no disco rígido do computador, e a qualidade das gravações é superior à maioria dos outros formatos de som digitalizados e são reproduzidos nos computadores. Os formatos digitalizados de som, como o de mp3, têm uma ótima sensibilidade para captar o som ambiente, não exigindo uma mudança da disposição dos ambientes. Além do mais, essas gravações são reproduzidas nos mais variados sistemas operacionais que foram usados para o processo de transcrição e retextualização das gravações das entrevistas.

Os registros em áudio das entrevistas foram transcritos através do uso do “software” MAXQDA 12, possibilitando a retextualização no Microsoft Word 2013. Apesar de ser possível ouvir as gravações diretamente no DR-05 da TASCAM, os recursos do MAXQDA 12 são extremamente significativos. A segurança e a facilidade que estes dois softwares oferecem, na execução eficiente dessas transcrições e retextualizações, são excelentes.

O módulo do MAXQDA 12 que permite a transcrição das entrevistas é muito prático. Primeiro porque ele permite que as transcrições sejam realizadas com os áudios das entrevistas fragmentados. O pesquisador define em quantas partes cada entrevista deverá ser dividida. Com esse recurso, você não precisa revisar o texto transcrito, ouvindo a gravação completa, mas sim em cada fragmento de áudio que tenha definido. Isso facilita muito a tarefa da transcrição. O segundo aspecto é que o MAXQDA 12 já exporta o texto transcrito em formato do Word 2013, da Microsoft, permitindo uma retextualização da transcrição de uma forma mais efetiva dentro do ambiente desse programa.