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Indícios na Rede Municipal de Ensino de Natal

3. DESSOTERRANDO-ME: ARQUEOLOGIA DO MEU SER TÃO, NO

3.4. Indícios na Rede Municipal de Ensino de Natal

Na profissão de professor, objetivei colaborar na Educação política das novas gerações de brasileiros, que convivessem comigo. Esse é um ideal que construí a partir de vivências como a que tive com a prof.ª Haydée Nóbrega Simões, na ETFRN. Foi precisamente no mês de fevereiro de 2003, quando fui admitido na Rede Municipal de Ensino do Natal (RMEN), após ser aprovado no concurso para professor substituto dela, que tudo foi ficando mais claro, na minha trajetória de vida. Fui encaminhado para a Escola Municipal Juvenal Lamartine, no bairro do Alecrim.

Chegando nesse espaço identifiquei que a Unidade de Ensino funcionava, no turno matutino, vespertino e noturno. Nessa época com o Ensino Fundamental I e II, e na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA). O espaço escolar disponível para o funcionamento da escola estava inadequado para o trabalho com os processos de ensino e aprendizagem. Enfrentando uma reforma no seu prédio, a escola estava funcionando precariamente num galpão insalubre para estudantes, professores, funcionários, gestores.

No ano de 2004, eu consegui aprovação no concurso que foi realizado para professores efetivos para a RMEN. Com os vínculos que já tinha construído na Unidade de Ensino, no período de professor substituto, consegui a permanência na escola e na EJA. Dessa forma fui aprofundando a minha participação nos desafios da Unidade de Ensino (UE).

O interesse pelo enfrentamento dos desafios dessa UE iria crescer tanto dentro de mim, que aceitei concorrer a eleição de representante do segmento escolar de professores, no Conselho Escolar, no ano de 2005. A coordenadora da escola me convenceu a concorrer nesse pleito pelo interesse que eu estava demonstrando em ajudar, de alguma forma, à comunidade escolar.

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A minha disposição de buscar ajudar na superação do desafio do velho “Galpão”, e de outros desafios que existiam na escola, foi me aproximando de algumas pessoas que também tinham o mesmo interesse. Não éramos a maioria, mas a conexão que foi sendo construída nesse pequeno grupo foi me contagiando ainda mais e mais. A minha mobilização individual era a de unir pessoas entorno do bem comum, logo, estava num contexto que favorecia a minha inclusão nas atividades do Conselho Escolar.

Consegui ser eleito como um dos representantes titulares do segmento de professores. E na primeira reunião do Conselho Escolar fui conduzido, por unanimidade dos conselheiros titulares presentes, nessa reunião, à posição de presidente dessa instância da UE. Aceitei a proposta sob a condição de que o trabalho fosse realizado pelo coletivo do colegiado, essa proposta foi aceita pelos presentes à reunião e trabalhamos muito bem nessa perspectiva.

No momento em que me apareceu essa situação, fiquei preocupado porque não sabia muito o que era o Conselho Escolar, como ele funcionava e quais as obrigações que ficavam sob a responsabilidade do presidente desse colegiado escolar. Os conselheiros mais antigos, que tinham sido reconduzidos nesse pleito, me explicaram detalhadamente o que era para eles o Conselho Escolar.

Pensei um pouco e aceitei assumir a presidência, mas apenas, se e somente se, esse grupo de conselheiros eleitos construísse uma perspectiva de trabalho cooperativo e participativo. Em que todos nós eleitos fôssemos responsáveis pelo funcionamento desse colegiado da UE. E assim foi decidido e selado o compromisso mútuo e cooperativo.

Não foi fácil cumprir o acordo supracitado, no cotidiano da vida. Mas fomos avançando paulatinamente, conseguindo enfrentar os desafios existentes com muito esforço dos integrantes do Conselho Escolar. Os vínculos foram se enraizando na escola e as decisões dos conselheiros escolares, em equipe, foram ajudando a conseguirmos melhorias, pari passu.

O meu enraizamento à Unidade de Ensino se ampliou no ano de 2008. Concorri a um novo concurso e fui novamente aprovado. Mais uma vez fui encaminhado para a escola e isso provocou um fortalecimento do meu vínculo com essa instituição de ensino. Agora eu tinha quarenta horas de dedicação aos desafios que existiam para serem enfrentados por todos.

À medida que o Conselho Escolar do Juvenal Lamartine seguia a sua jornada, tive o conhecimento no ano de 2007, que os Conselhos Escolares do município de Fortaleza, no Ceará, conseguiram realizar um trabalho de união e cooperação entre os Conselhos Escolares da sua rede municipal. Essa conquista se realizou através da criação do Fórum dos Conselhos Escolares de Fortaleza. Essa ação foi, inclusive,

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inspirada numa experiência que foi realizada na Rede Estadual de Educação do RN, em Natal. Surgiu da ideia do senhor Valério Bezerra Souza, representante do segmento de pais do Conselho Escolar da Escola Estadual Winston Churchill.

A experiência de Fortaleza deixou marcas importantes em mim. Tive inclusive a oportunidade de conhecer um pouco da experiência quando nós nos aproximamos, pela primeira vez, do Prof. Walter Pinheiro Barbosa Júnior. Isso aconteceria em 2008, precisamente.

O professor Walter narrava as oportunidades que teve de participar, como consultor do Ministério da Educação (MEC), dos encontros, em Fortaleza, com um número de mais ou menos 430 conselheiros escolares que estavam envolvidos em encontros de formação e troca de experiência. Tudo acontecia pela mobilização que tinha o apoio da Secretaria de Educação de Fortaleza.

Fui impulsionado e estimulado, pela feliz experiência de Fortaleza, e começamos a mobilizar os conselheiros da Rede Municipal de Ensino de Natal (RMEN) a tentarmos criar o Fórum dos Conselhos Escolares na nossa rede. A cada momento, mais e mais eu me envolvia no trabalho com os Conselhos Escolares.

Em uma tarde do dia 28 de maio de 2008, no auditório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do RN (EMATER/RN), reunimos o primeiro grupo de conselheiros escolares para iniciarmos a mobilização para a construção do Fórum dos Conselhos Escolares da RMEN. Nesse dia foi o começo das discussões para a construção do fórum e decidimos que continuaríamos essa construção numa nova reunião, no dia 13 de junho de 2008, no mesmo auditório e horário, para se continuar construindo a mobilização para concretização desse espaço de fortalecimento dos Conselhos Escolares na nossa rede.

Na segunda reunião, já referida acima, foi discutido pelos conselheiros presentes à reunião, um texto que fora enviado pelo professor Walter Júnior e foi decidido avançar na mobilização dos conselheiros escolares, que ainda não estavam participando dos encontros. Assim, Walter Júnior esclareceu que com base na experiência de Fortaleza, seria possível seguir-se os seguintes passos para a construção do Fórum:

1) Sensibilização;

2) Mobilização e constituição do grupo coordenador;

3) Representação dos segmentos da escola como membros do fórum; 4) Plenárias por segmentos;

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6) Assembleia Geral do Fórum.

Ficou decidido também o modus operandi que iria ser trilhado na busca de se criar o Fórum em Natal, bem como a terceira reunião para a continuidade dessa construção cooperativa, que foi marcada para o dia 15 de julho de 2008, das 8h às 11h, no Centro Municipal de Referência em Educação (CEMURE) com a pauta: como mobilizar as escolas da RMEN para se integrarem ao Fórum de Conselhos da rede? Na terceira reunião, as discussões sobre a pergunta de pauta foram muito produtivas. Após as reflexões iniciais, ficou decidido que se criaria uma comissão de mobilização na próxima reunião, que se deu no dia 12 de março de 2009. Na referida reunião, foram tomadas as seguintes decisões:

1) A Comissão Coordenadora da Mobilização (CCM) do Fórum contemplaria participantes de todos os segmentos do Conselho Escolar e de todos os pólos da rede;

3) Construção de um cronograma de atividades para mobilização dos segmentos da comunidade escolar, por escola e por Zona;

4) Seria indicado e divulgado, nas escolas da Rede o dia, local e horário para a realização das suas reuniões;

5) Foram definidos locais de referência para o Fórum: o Departamento de Gestão Escolar (DGE) da Secretaria Municipal de Educação de Natal (SME/Natal), as Escolas que seriam referências em cada zona da cidade.

6) Ficou decidido a criação de dispositivos de comunicação dos resultados de cada reunião para o conjunto das escolas da rede e a própria SME/Natal, tais como: correio eletrônico, sítio eletrônico, jornal impresso, eventos socioculturais e pedagógicos das escolas.

7) Conseguir ônibus para pais e estudantes se deslocarem e

8) A mobilização ficou definida para ocorrer dos meses de abril a dezembro de 2009.

A referida mobilização seria conduzida através de reflexões nos diversos segmentos da comunidade escolar, no interior das escolas da Rede. Ela seguiria um roteiro que serviria de referência para todos os mobilizadores nas unidades de ensino, por segmento, a partir das seguintes questões:

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1) O que está bem na escola? 2) O que precisamos melhorar?

3) Como melhorar e a quem compete?

4) Como o segmento atua no cotidiano da escola?

Concluídas as reflexões no interior das escolas e após serem registrados os seus resultados, seriam indicados, pelos Conselhos Escolares de cada escola, um representante de cada segmento para participarem das Assembleias dos Segmentos do Fórum, que apresentariam e defenderiam as ideias do seu segmento, construídas nos debates realizados na escola.

No final das Assembleias por Segmento do Fórum, ocorreria a eleição de dez representantes de cada segmento para a realização da Assembleia Geral do Fórum. Nela todos os representantes eleitos iriam debater as ideias originadas pelos diversos segmentos do Conselho Escolar e construir um documento final, com todas as reivindicações aprovadas. Esse documento, semelhante ao de Fortaleza, seria denominado de Carta de Natal.

A Carta de Natal seria o documento, que depois de redigido, conteria a visão de todos os segmentos dos Conselhos Escolares da Rede Municipal de Natal para a melhoria da Educação em nosso município. A qual balizaria as lutas das redes de estudantes, pais, funcionários, professores e gestores por uma Educação de qualidade socialmente referenciada, para todos em nossa rede.

A Comissão Coordenadora da Mobilização (CCM) do Fórum foram: Alberto Alexandre Lima de Almeida, Alzenir Araújo Santos, Cristiane Sales da Costa, Dilma Elizabete Costa, Eden Ernesto da Silva Lemos, Felipe Miguel, Francisca Eugênia de Oliveira, Francisco Felipe de Oliveira, Hilton Andrade, Jalmafá Dantas, Jaqueline Alves Pacheco, Jeana Magalhães Oliveira, Linélia Maria de Albuquerque, Linélia Maria de Albuquerque, Luciana Monteiro, M.ª Alves de Araújo Medeiros, M.ª Conceição Grilo, M.ª José Borges, M.ª Lúcia Gomes Assunção, Maria Elizabete de Medeiros, Simone Rodrigo, Walter Pinheiro B. Junior e Zuilma Selma Fonseca Simplício.

As Escolas de referência por Zona e os respectivos responsáveis da CCM do Fórum foram:

1) Zona Leste – E. M. Santos Reis, E. M. Henrique Castriciano (Linélia/Zuilma/Alzenir);

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2) Zona Oeste – E. M. Juvenal Lamartine, E. M. Mário Lira, E. M. Francisco Varela Cavalcante (Eden Lemos/Jeana Magalhães/Mª Alves);

3) Zona Norte – E. M. Terezinha Paulino, E. M. Irmã Arcângela, E. M. M.ª Alexandrina (Jaqueline Alves/Alberto/Hilton/Mª José Borges) e

4) Zona Sul – E. M. Arnaldo Monteiro, E. M. Josefa Botelho (Mª Lúcia/Simone Rodrigo/Jalmafá Dantas/Walter Pinheiro Jr/Mª Conceição Grilo).

A estratégia de organização do Fórum de Conselhos da RMEM não conseguiu ir adiante e se concretizar. O nosso contexto não foi favorável para viabilizar a implantação do Fórum. Após conseguir organizar os primeiros passos, a CCM não avançou.

Após a vivência dessa construção, o meu envolvimento com estes colegiados foi crescendo exponencialmente. A necessidade de estudar este tema foi se fortalecendo, ainda mais.

Avançando no tempo, fui convidado para atuar como assessor pedagógico de unidades de ensino, no Departamento de Gestão Escolar – DGE – da Secretaria Municipal de Educação do Município de Natal (SME), a partir de 2009. Foi então que fui convidado a assumir a responsabilidade de realizar acompanhamento dos processos da gestão democrática em algumas escolas da rede, com foco nos Conselhos Escolares. Saí da Escola Municipal Juvenal Lamartine para me integrar na equipe do Setor de Planejamento e Avaliação de Gestão Escolar (SPAGE/DGE), que trabalha com a gestão democrática na Rede.

Ao me integrar a equipe do SPAGE/DGE, ainda em 2009, tive uma grande oportunidade de compor uma dupla de integrantes da equipe, que participariam em Brasília do I Encontro Nacional de Fortalecimento do Conselho Escolar, que aconteceria em junho desse ano.

Após a escolha por sorteio, fui contemplado para ser um dos representantes da Secretaria de Educação do Município de Natal. Nesse encontro conheci toda a equipe de consultores do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (PNFCE/SEB/MEC). Posteriormente, consegui ir a todos seis encontros nacionais.

Em 2010, soma-se ao acima exposto, o convite do coordenador nacional do PNFCE/SEB/MEC, para que assumisse a função de consultor do referido programa. Aceitei de pronto o convite e já pude participar do 1º Encontro Interestadual de Fortalecimento do Conselho Escolar, que aconteceu em novembro do mesmo ano na

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cidade de Juazeiro da Bahia, e que envolveu conselheiros e assessores de secretarias de Educação dos estados da Bahia, Pernambuco e Piauí.

Todos esses acontecimentos, que foram se desenrolando em minha vida, foram enraizando o interesse pelo tema central dos Conselhos Escolares, em minha profissionalização na área de Educação. O tema que pesquisei no mestrado, no Programa de Pós-graduação do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), à época, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGEd/UFRN), era na área de Ensino de História. Mas após todas essas mudanças na minha vida profissional, comecei a migrar para a área da Gestão Democrática. A tecnologia de Educação Política que os Conselhos Escolares representam começou a me interessar mais e mais.

Posso afirmar hoje, 2019, que o ano de 2005 foi um momento em que a minha vida profissional mudou completamente na direção desses colegiados.

Após conhecer o professor Walter Júnior, conheci também o promotor da 58ª Promotoria de Justiça da Educação de Natal (PJEN) do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte (MPRN). O promotor Raimundo Sílvio, um doutor formado pelo mesmo PPGEd/UFRN, que estudando o princípio da gestão democrática no âmbito das escolas do município de Natal, é um entusiasta do fortalecimento dos Conselhos Escolares na nossa cidade.

A parceria do DGE/SME de Natal foi se aprofundando e propiciando o surgimento de novas ações de formação dos conselheiros escolares da Rede através da cooperação dessa promotoria e com as ações do professor Walter Júnior.

Posso afirmar que o estudo do processo de criação dos Conselhos Escolares na Rede Municipal de Ensino de Natal (RMEN), a partir de 1987, nasceu das reflexões que foram construídas ao longo dessa jornada que se iniciou com a nossa participação, como conselheiro, no Conselho Escolar da Escola Municipal Juvenal Lamartine, no ano de 2005.

E foram por acontecimentos como os anteriormente apresentados, que ficamos pensando cada vez mais sobre a necessidade de buscar as múltiplas determinações históricas que geraram os Conselhos Escolares na RMEN, no ano de 1987. Hoje começo a compreender o quanto toda essa trajetória vivida foi capaz de me conduzir ao interesse de realizar esse trabalho de tese.

Esse objeto de estudo se enraizou em mim por todos os motivos expostos nesse capítulo. A minha existência, marcada pelas experiências descritas acima favoreceram, em muitos aspectos, a minha vinculação a esse colegiado escolar. À medida que o tempo foi passando e sendo vivido os conselhos escolares me seduziam e me envolviam. Sempre ouvi dizer que precisamos definir e delimitar o objeto de estudo, mas refletindo sobre minha jornada-pesquisa, começo a pensar que às vezes é o objeto de estudo que nos escolhe e, esse parece ter sido meu caso.

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4. SOBRE A CRIAÇÃO DO CONSELHO ESCOLAR NA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE NATAL

4. TRILHAS DA CRIAÇÃO DO CONSELHO ESCOLAR NA REDE