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3. DESSOTERRANDO-ME: ARQUEOLOGIA DO MEU SER TÃO, NO

3.3. Indícios na ETFRN e UFRN

Nos idos de 1982, eu estava entrando oficialmente como candidato a estudante da então Escola Técnica Federal do RN – ETFRN – através do antigo pró-técnico e, no ano de 1983 iniciei o curso de técnico em mecânica na instituição. Nessa instituição também tive muitos aprendizados inesquecíveis sobre trabalhar o espírito de cooperação no coletivo.

Um dos primeiros aprendizados importantes, foi integrar a equipe de handebol da instituição e ter um técnico como o professor Oliveira Gomes da Silva. Um homem que sempre soube retirar das pessoas o que elas tinham de melhor e de incentivar a todos a superarem, com uma atitude de confiança e cooperação, as suas dificuldades, com esforço, trabalho e dedicação.

Sempre afirmando que uma equipe é constituída de todos e que basta um vencer para fortalecer a todos e basta um perder para enfraquecer a todos. Nossa equipe sempre era treinada para que todos resolvessem as partidas que iríamos enfrentar, sem depender de um só atleta. Ele me ensinou muitas outras coisas, mas essa de trabalharmos todos como uma só corrente, sem esquecer de nenhum elo dela, foi a maior de todas as lições que aprendi.

Avançando no tempo de convivência na ETFRN, eu iria viver outra oportunidade, no primeiro semestre de 1985, que eu também não irei esquecer. Eu conheceria a professora Haydée Nóbrega Simões, na disciplina de Organização Social e Política Brasileira – OSPB – em que pude ter contato pela primeira vez com Gramsci (1891-1937) e Marx. Foi aí onde pude conhecer melhor uma perspectiva do pensamento político mundial e brasileiro, que até os 18 anos não conhecia.

A partir das aulas da professora Haydée foi que comecei a adentrar nesse novo Brasil, novo mundo que eu não sabia que existia. Minha infância e primeira fase da juventude não existia a dimensão da luta dos trabalhadores, dos oprimidos pelo capitalismo, pela ditadura civil-militar do Brasil. Meu pai, como um militar dedicado à família e à aeronáutica, não nos apresentou esta perspectiva da existência humana.

Na convivência da ETFRN pude também integrar o grupo de canto coral de estudantes da instituição. Nesse momento aprendi a conviver numa atividade em que todos tinham a sua importância e que o melhor era o conjunto de todas as vozes, cantando na maior sintonia. Tudo bem conduzido pelo nosso maestro querido, padre Pedro. Foi mais um momento onde aprendi a valorizar o coletivo, se um componente desafinasse, mesmo que todos os demais estivéssemos afinadíssimos, a harmonia era quebrada e todo o trabalho para o canto não teria o êxito aguardado.

Ao contrário de alguns estudantes que percorrem sua jornada de escolarização isolados, eu carrego comigo as experiências vivenciadas na família ampliada e

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aprofundei essa noção de coletivo na ETFRN. Mas o tempo passou e, como muitos estudantes dessa Instituição Federal de Ensino, eu segui minha formação ao nível superior. Iniciei uma nova experiência, agora na Universidade Federal do RN (UFRN).

A minha história de aprendizagens continuou na UFRN. Meu primeiro momento foi em 1986, quando fui aprovado para o curso de engenharia mecânica, que não cheguei a concluir. Decidindo por me casar, e observando as condições de empregabilidade para um engenheiro mecânico nos anos 1980, decidi me envolver com o comércio de produtos alimentícios. Me tornei micro-empresário e criei uma loja de produtos sertanejos: O Sabor da Terra.

Depois, o meu segundo momento na UFRN foi quando fiz a reopção para o curso de Zootecnia, iniciado no ano de 1992 e não concluído. O meu objetivo, com este curso, era colocar em prática um projeto de criação da tilápia Saint Peter, em tanques redes, para exportar para os Estados Unidos da América do Norte (EUA), em conjunto com o meu cunhado e um amigo de curso. Como não conseguimos financiamento que viabilizasse esse projeto, fui aos poucos me desvinculando do projeto e do curso.

Posteriormente, fiz vestibular para o curso de História, licenciatura e bacharelado, sendo aprovado e ingressando nele, no ano de 1998. O único que foi concluído, no ano de 2002. Ainda realizei a minha especialização em Educação de Jovens e Adultos (EJA), entre os anos de 2006 e 2007, o mestrado em Ensino de História, entre os anos de 2007 a 2009 e, atualmente, estou cursando, desde 2017, o doutorado. Todas as minhas pós-graduações foram na área de Educação e no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN - PPGEd/UFRN - Campus Central.

Todo o meu período de contato com o ambiente da UFRN foi de uma diversidade significativa. Os aprendizados foram numerosos e importantes para que eu reforçasse muitos dos valores que eu já tinha conquistado antes. Se na ETFRN comecei a despertar para uma realidade da vida que não conhecia, na UFRN ampliei a consciência política, social, histórica e educacional.

As greves da instituição, desde os idos de 1986, em plena luta pela redemocratização do país, nos fizeram conhecer o Diretório Central dos Estudantes da UFRN (DCE) e o Centro Acadêmico de História (CA/História), passando a perceber como se davam as lutas políticas pelos direitos dos estudantes na UFRN, bem como as greves gerais que marcaram o Brasil ao longo da década de 1980.

Nesse sentido, comecei a compreender que a cooperação entre os trabalhadores do Brasil era uma estratégia valorosa de conseguir garantia de direitos que o período da ditadura civil-militar, desde 1964, havia retirado dos trabalhadores. Nessa aprendizagem, o meu processo de Educação política foi avançando, e minha

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consciência das lutas políticas, sociais e econômicas dos trabalhadores brasileiros foi se ampliando, dentro de mim mesmo. Esse momento foi o de maiores conflitos com o meu pai, já que para ele a Revolução tinha acontecido em 1964.

Cursar história foi uma experiência que me fez compreender mais e melhor a história do Brasil. Uma construção de várias exclusões e desrespeitos aos menos favorecidos da sociedade brasileira, principalmente os descendentes dos negros e indígenas, além dos menos favorecidos economicamente. Na UFRN cheguei ao processo de aprofundamento da minha consciência social e política, que até hoje ainda está crescendo e avançando.

Após a formação de professor de História, na UFRN, prestei três concursos públicos e fui aprovado em todos eles. Primeiro para professor substituto e os dois últimos, para efetivo, na Rede Municipal de Ensino de Natal.