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A terceira edição da revista apresenta na capa a fotografia do interior de uma floresta, com quatro homens ao centro da imagem, de costas, com destaque perceptível para as árvores, suas folhas e troncos (Figura 5). O texto principal versa sobre projetos de sustentabilidade e parcerias entre o setor público e privado, como uma forma de preservar a floresta. Ainda na capa, em outra chamada, vemos a expressão “economia verde”, essa expressão será retomada várias vezes na construção narrativa da seção principal da revista.

Figura 5 - Capa da Revista Amazônia Viva, n. 3, nov. 2011

Fonte: O LIBERAL, 2011c

O verde é termo que evoca um sentido recorrente na narrativa de vínculo com a floresta e, nas narrativas pós-Segunda Guerra, vinculado com a própria sustentabilidade. Ele está ligado ao padrão das imagens de representação da Amazônia segundo Amaral Filho (2011), remontando às narrativas dos primeiros cronistas europeus que a denominavam tanto de paraíso, quanto de inferno verde.

A seção da capa, denominada “assunto do mês” (APRENDENDO..., 2011, p. 31), também utiliza a palavra parceria, e esta pode ser considerada o tema central da narrativa ou

frame cognitivo. A narrativa pode ser dividida em seis partes, que se comunicam por episódios,

com alguns frames cognitivos que são narrativas independentes. Juntas, elas configuram o drama completo e contêm um fundo moral que se desvela no sétimo movimento de análise da narrativa, por meio da temática da cooperação. Logo no quadro introdutório, o narrador evoca a temática da importância da cooperação e parceria, assim como introduz o conceito de “economia verde” para facilitar a compreensão do leitor.

O autor faz uso de expressões metafóricas para se referir à Amazônia, como “a menina dos olhos do mundo”, dessa forma produzindo efeitos estéticos de sentido no leitor e gerando efeitos simbólicos, que visam “promover a identificação do leitor com o narrado” (MOTTA, 2013, p.203). É possível perceber a abundância de palavras cuja semântica dialoga com a sustentabilidade, tais como: desenvolvimento, equilíbrio, conservação, corresponsabilidade,

recursos naturais e biodiversidade. Porém o autor faz contrapontos, arbitrando o entendimento do leitor ao oferecer dados de fontes distintas; menciona também “impactos” e “destruição”, como forma de suscitar diversos estados de espírito, como o medo, diante da iminência de uma tragédia ou efeito negativo (Ibidem., 203). O único personagem que é apresentado ao leitor nesse episódio é coordenador de uma ONG, que é apenas citado, sem apresentar nenhuma fala retratada em discurso direto dentro do texto; por isso assume posição secundária e figurativa.

O segundo episódio reporta sugestões para o Estado e trabalha novas perspectivas para políticas públicas ambientais. O narrador, apesar de não se colocar na narrativa, utiliza recursos numéricos para criar efeitos do real e de correspondência da informação narrativa com o mundo da vida (APRENDENDO..., 2011, p. 32-33). “O abundante uso de números e estatísticas nas narrativas jornalísticas confere também precisão ao relato [...] São, igualmente, estratégias de linguagem cujo objetivo é repassar uma ideia de rigor, veracidade” (MOTTA, 2013, p. 202). O narrador menciona exemplos que existem fora do mundo do texto e o relaciona com a Vale, fazendo a ponte de ligação para o terceiro episódio.

A terceira parte da construção narrativa constitui-se, ela mesma, em uma pequena narrativa fechada, um frame secundário (APRENDENDO..., 2011, p. 34). Ela se apresenta com um design trabalhado, na forma de um infográfico, com dados, datas, tabelas, números e projeções para o futuro, com construção textual característica do “jornalismo estetizado” conceituado por Marshall (2003, p. 143). O narrador opta por uma linguagem pedagógica, deixando isto claro no título “entenda como funciona o mercado de compra e venda de créditos de carbono”, e, por meio do infográfico, demonstra o processo e direciona a compreensão do leitor.

A utilização de dados concretos e numéricos produz efeitos de convencimento, pois trabalha no terreno do possível, do verossímil que se comunica com o mundo da vida. Outra estratégia do narrador para a produção desse efeito encontra-se no equilíbrio da linguagem entre técnica e didática. De posse dos dados, ele se posiciona com autoridade sobre o tema abordado. O quarto episódio dá continuidade à temática do carbono, porém, com uma abordagem diferenciada, apesar de ainda se utilizar de gráficos, com valores, datas e projeções, a personagem principal da narrativa passa a ser a Vale (APRENDENDO..., 2011, p. 35). O narrador utiliza estratégias de aproximação com o leitor, como o uso de metáforas, a começar pelo título destacado na parte superior do texto “O exemplo começa dentro de casa”. Neste caso, a palavra “casa” está para a “Amazônia”, como a palavra “exemplo” está para a “Vale”. Percebemos, na análise deste quinto movimento dentro da proposta de análise de Motta (2013) a metamorfose da empresa, de ente despersonalizado a persona, “com traços antropomórficos

replica na representação dramática qualidades, atitudes e comportamentos próprios do ser humano” (MOTTA, 2013, p. 172).

Por meio desse recurso da personificação, o autor conta com a identificação leitor/personagem, para que o leitor se aproprie do termo “casa” e assuma que a narrativa se refere a sua própria casa. A partir daí ele introduz as empresas privadas no cenário, evidencia a importância delas por meio da expressão “têm papel fundamental” e, após isso, introduz especificamente a Vale, por meio de um exemplo de ação da empresa em prol de uma economia baseada no “baixo carbono”, que aparece seguido de vários dados numéricos, porcentagens e dados específicos, bem como um gráfico ilustrando os exemplos. É possível identificar um personagem em discurso direto, ligado ao exemplo citado, porém a personagem principal, que aparece como protagonista da narrativa, é a empresa.

Os dois últimos frames cognitivos também seguem a mesma linha dos anteriores e se configuram como narrativas com sentidos completos e independentes, porém se mantendo a mesma temática das anteriores. No quinto quadro, novamente identificamos as palavras “cooperação” em destaque no título e também “parcerias”, desde a introdução do texto (APRENDENDO..., 2011, p. 36). Neste, o número de personagens é mais abundante, porém eles não são especificados, são trabalhados no plural pelo narrador, de acordo com suas categorias. Ele se refere aos personagens como “estudantes”, “pesquisadores”, “representantes do poder público”. Porém, dentre o todo, um discurso é retratado diretamente pelo narrador: o de uma professora, responsável pelo evento descrito na matéria. Percebemos então a escolha do narrador pela despersonificação de alguns personagens, abordados por categorias profissionais, e não individualmente, juntamente à evidência a outros, colocados na narrativa de maneira ativa, em discurso direto.

A palavra “Amazônia” é bastante recorrente na construção textual, visto que a floresta funciona nesse frame secundário tanto como cenário, quanto como personagem central, elevada à condição de persona, tornando-se “o eixo do conflito em torno do qual gira toda a intriga” (MOTTA, 2013, p. 174). O narrador não se preocupa em apagar suas marcas discursivas e aumenta a quantidade de adjetivos em relação às outras partes do texto, utilizando expressões como “beleza ímpar” e “produção imensa”.

A última narrativa secundária dessa seção principal da revista apresenta-se ao lado da foto de um homem, que ocupa metade da página (APRENDENDO..., 2011, p. 37). O personagem retratado na imagem é também central na trama escrita, por ser chefe da ONG retratada como um dos exemplos de parceria, configurados na narrativa completa. Ele não aparece em discurso direto, mas suas ações e sua pessoa são retratadas na matéria associadas a

termos com valoração positiva, que explicitam seu esforço em prol do meio ambiente; construção similar à da tipificação do herói. As expressões utilizadas para marcar essa condição do personagem são “consciência verde” e “ambientalista”. Estas, contrapostas discursivamente pelo narrador a outras expressões de sentidos semanticamente negativos, demarcam a contraditória dualidade que produz a intriga e gera os conflitos na narratologia moderna (MOTTA, 2013, p.175), como “degradação”, “trabalho escravo”, “sistema predatório”, “abertura de pastagens” e “gado pirata”.

As palavras “Amazônia” e “floresta” aparecem com grande frequência no espaço de uma coluna de texto. Portanto, ocupam papel de centralidade na construção discursiva. O narrador configura o fundo moral da narrativa ao versar sobre preservação e as vantagens financeiras que a preservação representa no panorama desenhado e agenciado pelo narrador.