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Na edição de número 6 da revista Amazônia Viva, a partir da aplicação do primeiro movimento de análise, a narrativa apresenta-se dividida em sete partes. Para efeito desta pesquisa, a dividimos em seis, pois após a verificação da conexão entre os eventos e o agenciamento dos episódios, percebemos que duas partes discorrem sobre o mesmo assunto e do mesmo modo, com narrativa bem similar. Fica evidente nesta um conteúdo mais pedagógico do que nas demais, constituindo-se a educação para a sustentabilidade o tema principal, tanto da capa (Figura 6) quanto na narrativa principal da seção “assunto do mês” (LIÇÃO..., 2012, p. 36).

Assim como nas outras edições, é possível perceber, com base no quarto movimento de análise (MOTTA, 2013, p. 204), que a narrativa principal é construída com a configuração de várias narrativas menores ou vários frames cognitivos, que se constituem em dramas independentes e que poderiam ser perfeitamente matérias individuais. Porém, eles são unidos pela metanarrativa, que se explicita na comunhão de mesma escolha temática e de finais similares.

A capa da revista apresenta duas crianças plantando uma muda, sob a supervisão de um adulto, juntamente a uma chamada de capa que diz “Por que é preciso educar para o meio- ambiente?”, introduzindo o cunho pedagógico trabalhado na narrativa já no título e subtítulo, ao utilizar palavras como “aprendizado”, “conhecimento”, conscientização” e “escola” Esse cunho pedagógico revela a essência do objeto (Ibidem., 207), desejos e aspirações no narrador,

que culminam no melhoramento de uma situação que é exposta e trabalhada na composição da intriga.

Figura 6 - Capa da Revista Amazônia Viva, n. 6, fev. 2012

Fonte: O LIBERAL, 2012a

O primeiro frame (LIÇÃO..., 2012, p. 37) introduz a importância da educação ambiental e trabalha a narrativa de corresponsabilidade entre Estado e sociedade civil pela educação de crianças e jovens em relação a esse assunto. A sociedade civil vem apresentada pelo narrador na imagem da família, e o Estado vem projetado na escola e nas instituições de ensino. Os personagens desse primeiro quadro são todos do ambiente educacional, pesquisadores, uma professora de Biologia e uma pesquisadora da área de educação ambiental.

O narrador se apoia no discurso direto dos personagens. Tece uma narrativa leve, contudo, com poucas marcas discursivas pessoais, apenas se utilizando de algumas metáforas como recurso de linguagem, a exemplo das expressões “sala de aula da vida” e “lição de casa”. Ele não utiliza palavras de sentido negativo, a exceção de “catástrofe”, utilizada apenas uma vez, o que denota a busca por uma “curva ascendente no transcurso narrativo” (MOTTA, 2013, p.207), que culmina na produção de sentidos e desfecho positivo para a intriga. O uso de vocabulário do grupo semântico ligado à sustentabilidade é recorrente e vai se repetir ao longo dos outros frames, portanto palavras e expressões como “meio ambiente”, “educação

ambiental”, “biodiversidade”, ecologia”, “desenvolvimento sustentável” e a própria “sustentabilidade” permeiam a trama toda e passam por todos os frames secundários até a conclusão do texto.

O segundo quadro mostra-se ainda mais pedagógico que o início do texto, pois ele constitui-se em um infográfico separado, que apresenta a evolução do pensamento ecológico no mundo, e tem por título “Tempo de preservar” (LIÇÃO..., 2012, p. 38-39). A defesa, preservação e proteção do meio ambiente atravessam toda a configuração textual, que vem ilustrada por imagens de expoentes do pensamento ecológico na humanidade, de Aristóteles a Emílio Goeldi, e por eventos que marcaram a história desse conceito no mundo, como a Eco- 92 e a Rio +20.

Em espaço separado, mas ainda dentro da mesma temática de cronologia da ecologia, encontramos uma narrativa da história do conceito na Amazônia (LIÇÃO..., 2012, p. 39). O conteúdo continua pedagógico, porém, além do vocabulário ligado à ecologia e sustentabilidade, é possível notar um aumento no número de termos que evocam o sentido de catástrofe, tais como “desmatamento”, “degradação” e “desequilíbrio”. O narrador utiliza-se ainda do discurso direto de personagem considerado ativista da questão ambiental na Amazônia, para demonstrar as raízes do ativismo ambiental e como ele surge.

O terceiro frame, com um número maior de personagens e de discursos diretos, se pudesse ser resumido em uma palavra-chave seria “ecoescola” (LIÇÃO..., 2012, p. 40-42). Os personagens dessa parte da narrativa são atuantes justamente nesse universo: como estudantes de uma ecoescola, professores e a diretora, assim como chefes de instituições que gerenciam ou são responsáveis administrativamente pelos projetos praticados nessas escolas. Neste frame, o narrador se utiliza de maior quantidade de dados, de tabela, de um texto mais impessoal, com uma grande quantidade de vocabulário ligado às ações realizadas nas escolas, além dos utilizados nos demais frames, como “reciclagem”, “reutilizáveis”, “gestão”, “educação”, “consciência ambiental” e “hortas escolares”.

O quarto frame utiliza um recurso de interação e uma abordagem diferente. Ele apresenta um questionário que “mede” o engajamento do leitor nas causas ambientais e cuja proposta é que este descubra o quanto está praticando ações em prol da causa ambiental (LIÇÃO..., 2012, p. 43). Percebemos nesse quadro a retomada da ideia do primeiro, de corresponsabilidade da sociedade civil. O questionário “fala” diretamente para o leitor, pois utiliza tanto no título, quanto no resultado, o pronome de tratamento “você”; porém nas questões objetivas de marcar, as ações são conjugadas em primeira pessoa, “penso bem”, “uso”, “tento”,

“aproveito”, “evito”, “utilizo”, com uma narrativa mais pessoal e próxima, em que o narrador aproxima o leitor da realidade do tema, ao engajá-lo nas suas ações no mundo da vida.

Já o quadro número seis, retoma o mesmo tipo de narrativa dos quadros dois e três, pois aborda novamente a temática do projeto de educação para a ecologia e sustentabilidade, porém dessa vez para a área da pesquisa, com instituição pública de pesquisa gerenciando o projeto (LIÇÃO..., 2012, p. 44). Por conta da mudança no foco, percebemos um aumento nos vocabulários ligados ao mundo acadêmico, tais como: descoberta, zoologia, botânica, ciências humanas, ciências da terra, pesquisa e pesquisador. Seguindo a mesma estrutura dos demais

frames, notamos a utilização de discurso direto de personagem responsável pelo projeto, neste

caso um professor pesquisador, cuja fala dentro da narrativa tem conteúdo explicativo para o leitor.

O último frame, dentro da análise da lógica do paradigma narrativo, que compõe o segundo movimento de análise da narrativa (MOTTA, 2013, p.146), mantém um vínculo com os demais frames por meio da temática, que também possui enfoque na educação, porém a abordagem narrativa mostra-se completamente diferente. O título “Parque Zoobotânico oferece visita educativa” introduz um bloco de texto em quadro separado, com a imagem em perfil e de corpo inteiro de uma onça pintada na parte superior (LIÇÃO..., 2012, p. 45). A narrativa configurada neste quadro apresenta maior abundância de números e de dados, como a quantidade de visitantes, de espécies de animais, plantas, assim como a quantidade de visitas em relação ao contingente populacional da cidade, 153 mil pessoas para 97 mil visitas ao ano, segundo informações do Censo.

Ao analisar os verbos que indicam ação e circundam o nome do parque, encontramos “desenvolver”, “preservar”, “disseminar”, e adjetivos como “ferramenta afetiva e divertida”. Portanto, identificamos que a linguagem se torna mais pessoal nesse frame que nos demais. O nome da Vale é mencionado associado ao nome do parque completo “Parque Zoobotânico Vale” e o parque assume a centralidade da narrativa.