• Nenhum resultado encontrado

Nos títulos desta edição percebemos a ênfase conferida à palavra “grande” duas vezes, a primeira no título da capa “O grande valor da Amazônia para o mundo” (Figura 8) e a segunda no título da matéria principal “Amazônia que te quero grande” (AMAZÔNIA..., 2012, p. 24). Essa edição apresenta uma fotografia de capa com estética espetacularizada, na qual se vê um beija-flor de asas abertas em primeiro plano, em pleno voo, em tamanho maior, com predomínio das cores verde e azul, que também são escolhidas respectivamente para a palavra “mundo” e para a expressão “grande valor”. A narrativa (AMAZÔNIA..., 2012, p. 24-35) é configurada nos moldes enumerativos, com dez motivos pelos quais a Amazônia é importante para o planeta e para a manutenção da vida na Terra, a maior parte dos motivos está ligada a dois elementos representados pelas cores destacadas na capa, a água e a floresta. Alguns dos motivos, como manutenção da temperatura do globo e o abrigo à maior reserva de água doce do planeta, exercem efeitos dramáticos, pois envolvem toda a população mundial, inclusive o leitor, de modo a provocar identificação.

Figura 8 - Capa da Revista Amazônia Viva, n. 11, jul. 2012

Fonte: O LIBERAL, 2012c

Percebemos a utilização frequente de hipérboles e superlativos na lista, como recurso de linguagem utilizado pelo narrador no primeiro movimento de análise (MOTTA, 2013), assim como a apropriação de muitos elementos do imaginário da região na configuração da trama. Entre eles, a escolha do narrador pela utilização do “tu”, logo no título, personificando a floresta e retratando o modo de falar do amazônida paraense, que utiliza na oralidade o pronome “tu” em vez do “você”.

Por ser uma narrativa enumerativa, na qual cada item é um pequeno texto fechado, optamos pela divisão em frame, que se constituem em quadros narrativos de sentidos completos. Pela introdução, no plano da narrativa principal, fica claro, desde o início, que a personagem protagonista desta história é a Amazônia, convertida pelo narrador em persona, sobre ela construíram-se conceitos, foram apresentados dados, números e foram feitos comparativos com outros biomas do mundo.

A lista de adjetivos cujo sentido tende para o superlativo é vasta e inclui, para falar da Amazônia ou de seus predicados, os seguintes termos: grande, maior (utilizado mais de 24 vezes no texto), inestimável, rica, vasta, muito importante, gigante, complexa, imensa, grandiosa, exuberante e deslumbrante (AMAZÔNIA..., 2012, p. 25). Todos esses termos remetem aos

estereótipos relatados desde o período da colonização pelos primeiros viajantes europeus que vieram para a Amazônia (GONDIM, 2007) e se reproduziram até os dias atuais, reforçados pelo discurso ufanista e integracionista dos governos militares e insistentemente repetidos pela mídia hegemônica (DUTRA, 2009). Um número enorme de dados também acompanha esses adjetivos, ou seja, quando o narrador fala na “maior biodiversidade do mundo”, ele busca produzir um efeito estético de sentido no leitor, e também busca produzir uma reação de admiração, espanto ou emoção. Porém, ao colocar junto desse superlativo o dado numérico, dizendo que a Amazônia sozinha concentra “60% de todas as formas de vida do planeta”, ele produz também efeitos do real.

Toda narrativa é um permanente jogo entre os efeitos de real (veracidade) e outros efeitos de sentido [...], mais ou menos exacerbados pela linguagem dramática. As narrativas utilizam uma linguagem referencial para vincular sempre os fatos ao mundo físico, mas criam incessantemente efeitos catárticos, como na ficção. A retórica dessas narrativas estimula um permanente jogo entre intenções do narrador e as interpretações do receptor. (MOTTA, 2013, p. 196-197).

Nesse sentido, a narrativa desta edição, híbrida e polissêmica, joga com os dois efeitos, ao compor a lista com todas as categorias pelos quais a Amazônia lidera em todos os quesitos os demais ecossistemas do planeta, buscando despertar no leitor uma impressão de emoção e credulidade ao mesmo tempo. Segundo Motta (2013, p.197), é papel do analista da narrativa “captar as sutilezas desse jogo de contrários” estabelecido pelo narrador.

Porém, não é só por meio de adjetivos que retratam a grandeza da região que o narrador configura a sua narrativa. Os termos que designam os sentidos negativos, vinculados aos problemas ambientais, também são largamente utilizados como contraponto, a exemplo de: mudanças climáticas, desmatamento, risco, colapso, queimadas, preocupações, elevação de temperatura, aquecimento, consequências graves, elevação do nível dos oceanos, derretimento de gelo, submersão de partes das cidades costeiras, contaminação, processos poluentes, apropriação de recursos, destruição, extinção, áreas exploradas economicamente, povos extintos e conflitos (AMAZÔNIA..., 2012, p. 25-35). Percebemos, portanto uma construção baseada na dialética do concordante/discordante, característica determinante da narrativa dramática, na qual há a fusão entre “o paradoxal e o encadeamento causal” (MOTTA, 2013, p.149), proporcionando efeitos ou ameaça de virada na narrativa, buscando, dessa forma, despertar o interesse do leitor por meio da adição da verossimilhança à composição da intriga, incluindo o componente “comovente e inteligível” (Ibidem., p.149) à trama.

O Estado aparece na narrativa na forma de instituições públicas de pesquisa que fornecem dados e, muito timidamente (em apenas um item dos dez da lista), como gestor, protetor e regulador do território geográfico no qual está localizada a Amazônia, ou seja, ele torna-se personagem secundário. A Vale aparece no último item da lista, cujo título é “A maior reserva mineral de ferro do mundo” (AMAZÔNIA..., 2012, p. 34), arrematando os sentidos configurados na conclusão da intriga principal. O foco da construção narrativa é a potencialidade e riqueza da mina, bem como a destinação do minério, com exemplos práticos de sua utilização no mundo do leitor. Neste item, nenhum problema ambiental é retratado e não há correspondência entre os conflitos provenientes da atividade predatória da empresa e o agenciamento dos fatos na narrativa.

Pinto (2012) revela que a mina de Carajás tinha a pretensão de aumentar sua meta de produtividade a partir do ano de 2016. De acordo com o autor, os números eram tão espantosos que as jazidas poderiam durar até 800 anos, se as metas de produção previstas no início do projeto fossem mantidas. Porém, com base no cálculo dessa nova meta, ela durará, segundo ele, cerca de apenas mais um século.

Aquele fantástico pacote de hematita compacta, com 600 metros de altura, espalhando-se por mais de 400 mil hectares de área, inteiramente lavrável a céu aberto (sem precisar, portanto, de dispendiosa mina subterrânea), que parecia infinito, inesgotável, não será mais do que história para nossos bisnetos. (PINTO, 2012a, p. 131).

Portanto, a partir da invisibilização dos aspectos conflituosos da narrativa, da não correspondência da dimensão de agenciamento da intriga com os fatos do plano da ação, percebemos o conflito na narrativa jornalística, na qual se confunde constantemente com a realidade em si mesma, que apesar de ser produto de uma narrativa fática (MOTTA, 2013, p.193), também contém o elemento ficcional da representação.

O narrador evidencia a parceria da empresa com órgãos públicos responsáveis pela conservação da floresta e destaca ações para recuperação das áreas afetadas pelas atividades da Vale. Assim, confere à empresa características positivas de persona. Alguns termos são importantes da perspectiva da construção de sentidos, para que se compreenda a abordagem narrativa escolhida para compor um sentido de compensação por parte da empresa que realiza a atividade de extração de minério, como: compromisso, parceria, conservação, recuperação, recomposição, estrutura de monitoramento, vigilância, combate a incêndios florestais.

5.7 Com um plano de manejo sustentável em mãos, comunidade pretende regularizar o