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A edição de março de 2015 da revista apresenta na capa cores fortes de estética espetacularizada, forma usual de retratar a floresta amazônica por parte dos meios de comunicação tradicionais, porém com algumas peculiaridades que sugerem sentidos importantes de se observar (Figura 16). O primeiro deles encontra-se no animal que figura em primeiro plano e em destaque na capa da revista, uma arara-vermelha; na verdade, duas, porém a primeira, em destaque, parece encarar o leitor. Atrás dela, o verde predomina e, caso o leitor não esteja atento aos detalhes, as grades da gaiola podem passar despercebidas na imagem, visto que se confundem com o verde intenso das árvores desfocadas em segundo plano. O título da matéria de capa é sugestivo, nele o narrador afirma “Bem natural”, uma construção que remete tanto a um bem natural, no sentido de patrimônio, quanto a algo bem natural, no sentido de

bastante natural (BEM..., 2015, p. 38). A narrativa versa sobre o aniversário de 30 anos do Parque Zoobotânico Vale (PZV), localizado na região de Carajás.

Figura 16 - Capa da Revista Amazônia Viva, n. 43, mar. 2015

Fonte: O LIBERAL, 2015b

Nesta matéria, não há negação da narração, e o autor não busca anular sua própria participação da narrativa. Ao contrário, assim como em outras edições com textos de cunho mais literário, ele se inclui na história, descreve suas impressões na visita ao parque, utiliza marcações temporais como “é começo de tarde” e “na chegada ao parque” (BEM..., 2015, p. 39), e coloca a narrativa no tempo presente, transportando o leitor para o tempo em que a história se passa.

Percebemos a descrição do parque não apenas narrativamente, mas em números, em extensão, quantidade de espécies, descrição dos nomes científicos, o que produz status de verdade e efeito de real e verossímil na narrativa. A ameaça, ou conflito, que se apresenta frequentemente, assenta-se no risco de extinção de algumas espécies existentes no parque, sendo retomada pelo narrador em vários momentos da tessitura da história.

A narrativa completa pode ser dividida em três frames cognitivos, o primeiro deles descreve a experiência de conhecer o parque, as sensações que o narrador experimenta ao entrar em seu território, a visão da fauna e da flora assim como a percepção de funcionários e visitantes

do local (BEM..., 2015, p. 39-43). Neste primeiro quadro, o autor menciona uma grande variedade de nomes de animais e também se utiliza de várias expressões que descrevem impressões positivas do ambiente, tanto em suas próprias falas quanto na dos entrevistados, tais como: “sensação de ambiente natural”, “o mais próximo possível da floresta”, “bem-estar dos visitantes”, “tão próximo da natureza”, “tão bonito”, “bem organizado”, “mais vivo” e “muito didático”.

No segundo frame, percebemos um corte brusco na temática da matéria principal, como se ele se constituísse em uma matéria dentro da matéria (prática corrente na revista Amazônia

Viva), cujo título é “A mina de Carajás” (BEM..., 2015, p. 44). O único ponto de convergência

entre o parque retratado no primeiro frame e a mina desse segundo é a referencialidade geográfica marcada pelo narrador. Nas imagens da mina, não predominam o verde e nem paisagens naturais, mas o cinza e imagens do maquinário. O texto também não possui teor e nem conteúdo literário, mas sim um tom mais formal e uma quantidade grande de dados e números. O uso de superlativos também é percebido com frequência, a exemplo de “riqueza mineral incalculável”, “maior mina do mundo a céu aberto”, “mais eficiente do Brasil”, “considerado um dos melhores minérios do mundo”, “maior da história da Vale” e “maior da indústria de minério de ferro em todo o mundo”. Portanto podemos perceber novamente que o narrador joga com os dois efeitos, de real e de sentido, na busca por produzir uma retórica estimulante, que incentiva “um permanente jogo entre as intenções do narrador e as interpretações do receptor” (MOTTA, 2013, p.196-197), cujo objetivo constitui-se em provocar ao mesmo tempo credulidade e surpresa.

Os projetos da Vale são exaltados no quadro que fala sobre Carajás. A narrativa não apresenta nenhum sentido negativo e nem expressão que faça contraponto aos superlativos citados. A narrativa de ganho é configurada para que o leitor se sinta parte desse ganho e a mensagem positiva ultrapasse as fronteiras da instituição. Isso pode ser percebido em excertos como “Carajás fez de Parauapebas a cidade que mais cresceu no Brasil”, “Parauapebas é hoje a cidade com os melhores indicadores de desenvolvimento econômico do país” e “A mina e a estrada de ferro de Carajás movimentam a economia no Estado do Pará” (BEM..., 2015, p. 44). O terceiro frame retoma a narrativa sobre o Parque Zoobotânico Vale (PZV), porém com foco nos funcionários e na relação de afeto deles para com o PZV, como nos sentidos revelados pela frase “Tirando minha família e meus filhos, o parque é a coisa mais importante da minha vida” (OLIVEIRA, Jeovanis apud BEM..., 2015, p. 43). Também coloca em evidência os projetos que envolvem educação ambiental, desenvolvidos no PZV, evidenciando que o foco principal é a comunidade e a população local. Os animais também aparecem em papel de

destaque, com pequenos textos didáticos com informações sobre cada espécie e arte gráfica com representação de imagem aérea da extensão territorial do PZV (BEM..., 2015, p. 43).

Percebemos, a partir das ideias configuradas pela narrativa dessa edição, que tem o parque como tema central, que este recebe mais destaque do que a mina de Carajás, em espaço de texto e de imagem. Porém, mesmo ao trabalhar a construção textual da mina, nenhum sentido negativo é sugerido pelo narrador. As críticas presentes no mundo intertextual são invisibilizadas por ele e, diferentemente da narrativa de edições anteriores, não se busca justificar ou amenizar diretamente os impactos causados pela atividade de exploração mineral. Ao contrário, o discurso compensatório é evidenciado na narrativa sobre o parque, ao mesmo tempo em que a mina de Carajás é abordada como positiva para a Vale e, como consequência, para o Estado do Pará e para a sociedade.