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A oitava edição da revista traz como fundo moral a narrativa da reciclagem, o que fica claro na imagem da capa, inteiramente verde, com o símbolo da reciclagem destacado em branco, e logo abaixo o título “Arte e cultura reciclam atitudes” (Figura 7). A abordagem é similar às utilizadas em outras edições, com pequenos frames cognitivos secundários dentro da grande história, que se configura na narrativa completa (RECICLE..., 2012, p. 26-33). Essa

história completa está dividida em cinco frames independentes, com temáticas complementares, que explicitam a lógica do paradigma narrativo, por meio do encadeamento escolhido pelo narrador, sendo o primeiro deles uma introdução à temática da educação ambiental (RECICLE..., 2012, p. 27). Essa, além de ser tema corrente, já abordado em outras edições, também é retomada várias vezes dentro desta edição, sob a forma de um novo termo, “arte- educação”.

Figura 7 - Capa da Revista Amazônia Viva, n. 8, abr. 2012

Fonte: O LIBERAL, 2012b

Se na edição anterior a temática de fundo moral era a sustentabilidade nas escolas, com incentivo ao cultivo de hortas e de espécies vegetais, nesta o foco é a transformação de produtos que seriam descartados em arte; por isso a escolha do termo, repetido sete vezes a longo desse primeiro quadro. Percebemos, por meio da análise a curva narrativa, que vai de descendente para ascendente (MOTTA, 2013, p.207), elevando o sentimento da narração por meio da lógica degradação-melhoramento, do sentido negativo de descarte do produto ao positivo que culmina na reciclagem. Porém, a escolha dos tipos de personagens permanece a mesma: neste quadro os dois, que são citados em discurso direto, são professores pesquisadores que possuem autoridade científica no tema (RECICLE..., 2012, p. 27-28).

No segundo frame encontramos um conteúdo mais pedagógico, pois além do tema ser oficinas sustentáveis, metade do conteúdo narrativo apresenta-se para o leitor na forma de infográfico (RECICLE..., 2012, p. 29). O narrador constrói conteúdo informativo sobre conceitos relacionados aos assuntos abordados nas oficinas sobre reciclagem e fornece muitos dados numéricos sobre reaproveitamento de lixo, produzindo efeitos do real e também efeito dramático no leitor, para o qual a dimensão da importância da reciclagem é apresentada na forma de dados exatos, que torna o conteúdo verossímil e, portanto, persuasivo, conforme indica Ricoeur (2010), com base na Poética aristotélica.

Além do infográfico, um texto explicando o contexto e as ações do projeto é apresentado ao leitor. Nele, o vocabulário tende para a construção de sentidos positivos sobre a atitude de se engajar no projeto das oficinas retratadas na composição da intriga. Este recurso visa promover uma identificação do leitor com o narrado e o engajamento na história (MOTTA, 2013, p.203). Percebemos, no encadeamento dos fatos narrativos relacionados à reciclagem, a construção de uma curva ascendente de sentidos, com efeitos de melhoramento dentro da narrativa. Esta é construída no encadeamento dos fatos, ao colocar o leitor em contato com os verbos “respeitar”, “transformar”, “contribuir” e “colaborar” (RECICLE..., 2012, p. 29).

O frame seguinte apresenta outro projeto, dessa vez de designers que trabalham criando produtos a partir de materiais que seriam descartados (RECICLE..., 2012, p. 30). Os personagens da narrativa são os próprios designers, sendo dois deles apenas citados, e um colocado na narrativa em discurso direto. Os mesmos verbos do quadro anterior são retomados, porém acrescidos de sentidos ligados às ideias que geralmente possuem conexão semântica com o design, como “inovador”, “criatividade”, “diferente” e “charmosas”.

O quarto quadro narrativo insere a Vale na tessitura da trama, o nome da mineradora está intitula o projeto “Vale Música” e por isso é citado com frequência na composição da intriga (RECICLE..., 2012, p. 31). Este frame aborda um outro tipo de reciclagem que, segundo o narrador, trata-se da “renovação de ideias”. Percebemos nesse quadro uma narrativa mais pessoal, com utilização de marcas discursivas que buscam envolver a emoção do leitor e despertar uma identificação com o personagem. Isto se percebe quando o autor evoca “o sonho” do personagem, os “encantos” da música, a “coleção” de conquistas do projeto, o fato de o projeto “valorizar a pessoa e a vida” e de desenvolver a “autoestima” de seus membros.

Por meio desta composição narrativa, percebemos a tessitura da tragédia, no agenciamento de incidentes discordantes em relação à vida do personagem, que “a intriga torna necessário e verossímil” (RICOEUR, 2010, p. 79). O personagem, representado pela figura do aluno, sofre uma mudança de fortuna, permitida pela assistência e incentivo fornecidos pela

empresa. Outros personagens importantes para essa reviravolta na vida das pessoas contempladas pelo projeto, representadas na figura do aluno, são o maestro e a coordenadora do programa de música da Vale, a Orquestra Jovem Vale Música. Apesar de não ser mostrado nenhum dado numérico, o narrador traz conteúdo informativo para o texto, ao explicar como funciona e quais as etapas de participação do processo de seleção, quais os critérios, bem como todas as informações, para o caso de o leitor se identificar com o personagem e aceitar a verossimilhança da narrativa como possível no mundo da vida, a ponto de ter suscitado dentro de si o interesse em participar, assim como o personagem, do projeto musical.

O quinto frame revela outros dois projetos, um ligado a arte e espaço urbano, ao abordar poluição visual nas cidades e o trabalho de grafiteiros para mudar essa lógica (RECICLE..., 2012, p. 32-33). O outro – em um box separado –, retrata esculturas feitas com sacolas plásticas (RECICLE..., 2012, p. 33). Os personagens retratados pelo narrador são os grafiteiros, o escultor, e a comunidade; porém, apenas o grafiteiro e o escultor são colocados em discurso direto dentro da narrativa. O narrador constrói uma abordagem que produz menos efeitos estéticos de sentido do que a do quadro anterior, porém o discurso é carregado de palavras que remetem a sentidos positivos, em uma configuração narrativa ascendente, ligados à sustentabilidade, como “equilíbrio”, “conscientização”, “combate à poluição”, “pensamento verde”, “contribuir”, entre outros.