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AS ÁRVORES, A VEGETAÇÃO E A PRAÇA

SUMÁRIO 1 Introdução

4 MORFOLOGIA URBANA E A PAISAGEM SONORA

4.3 AS ÁRVORES, A VEGETAÇÃO E A PRAÇA

Percebe-se facilmente que as áreas verdes em espaços urbanos tornam os ambientes agradáveis, pois atuam em vários aspectos desses ambientes. Do ponto de vista sonoro, os espaços abertos criam condições de dissipação da energia, e a configuração irregular da vegetação e sua textura criam melhores condições para absorção de energia e baixa reflexão, diferentemente do que acontece nas fachadas dos edifícios e pavimentos.

A vegetação aplicada como revestimento nas fachadas atenua os sons agudos, modificando o espectro do ruído e, dessa forma, criando, para o receptor humano, a percepção de um ambiente sonoro menos ruidoso.

A massa arbórea apresenta diferentes propriedades acústicas. A folhagem esparsa, pequenos ramos e arbustos absorvem os sons de alta frequência, ou seja, os sons agudos. Os troncos e a folhagem densa detêm a propriedade da difusão do som nas médias frequências. As baixas frequências são atenuadas pelo solo, no entorno das raízes e na vegetação rasteira. (NIEMEYER, 1998) (GUEDES, 2005) (KANG, 2007) (PATHAK; TRIPATHI; MISHRA, 2007) (SILENCE, 2008) (BISTAFA, 2011).

Embora a absorção e a porosidade da vegetação não sejam suficientes para criar uma barreira para o som, os vários aspectos ligados às áreas verdes contribuem para uma percepção psicológica do ambiente, inclusive com relação ao aspecto sonoro. Esse fenômeno é conhecido como psicoacústica. Como a vegetação cria uma barreira visual, o fato de não se visualizar a fonte de ruído e de se desfrutar de uma paisagem agradável, pela existência do ambiente natural, ameniza psicologicamente a perturbação sonora (NIEMEYER, 1998) (GUEDES, 2005) (KANG, 2007) (SILENCE, 2008) (BISTAFA, 2011).

O projeto SILENCE (2008) recomenda a implantação de parques e áreas verdes dentro da área urbana, para amenizar a exposição das habitações ao ruído e aumentar a dissipação sonora.

“Para ser realmente eficiente como barreira, a vegetação deve ser muito alta, densa e larga (redução de aproximadamente 1 dB(A) em cada 10 m de plantação densa). Seu impacto é mais psicológico e estético; se as pessoas não visualizam a fonte de ruído (e.g. rodovia), isso reduz a sua percepção do nível sonoro e portanto a sua perturbação” (SILENCE, 2008 p.85, apud WG 5, 2002, p. 28 – tradução da autora).

Para se obter o efeito de isolamento acústico, a superfície da barreira não pode apresentar aberturas, fissuras ou espaços vazios que permitam a passagem do ar e, consequentemente, a propagação das ondas sonoras. Dependendo das dimensões do obstáculo, pode ocorrer o fenômeno de difração, conteúdo presente no item 3.1.3.4 desta dissertação. Consequentemente, a implantação de uma vegetação

naturalmente distribuída, como se vê nos parques e praças, não oferece um efeito significativo como barreira acústica.

BISTAFA (2011) comenta em seu livro que, para a criação de uma área de insonorização24 com vegetação, é fundamental que se observem quatro características essenciais, visando à obtenção da eficácia do isolamento acústico, quais sejam: largura, localização, altura do cinturão e configuração do plantio. A barreira acústica utilizando-se a vegetação só tem efeito de atenuação de ruído com a escolha de uma vegetação densa, com extensão superior de 15 m e altura, no mínimo 5 m acima da linha de visão, além de uma combinação de plantio intercalando sub-bosque denso com plantio de vegetação perenifólia25, entre a fonte emissora e o receptor.

“as árvores e arbustos apresentam pouco efeito na propagação sonora ao ar livre. Segundo eles, uma faixa de 30m de vegetação densa representa apenas uma atenuação sonora de 3 dB(A), ou seja, uma redução, aproximadamente, de 1 dB(A) para cada 10 m de vegetação.” (GUEDES, 2005 apud IRVINE e RICHARDS,1998).

Tanto para BISTAFA (2011) quanto para NIEMEYER (1998), o plantio de arbustos, vegetação rasteira ou árvores sobre os taludes, ao longo das vias de tráfego, tem um efeito de redução do ruído mais por atuação dos taludes do que pela vegetação, tratando-se de um método mais aceito pelos habitantes do que as barreiras artificiais, pois a vegetação proporciona um ambiente psicologicamente mais tranquilo.

Pequenos parques em áreas verticalizadas de grandes metrópoles criam refúgios de convivência mais silenciosa. Pode-se citar como exemplos o Paley Park (Figura 42 e Figura 43) e o GreenAcre Park (Ilustração 46), ambos inseridos no centro de Nova

24 Insonorização

– é um meio para reduzir a pressão sonora em relação a uma fonte de som e do receptor.

25 Perenifólias - são vegetais que não perdem as folhas durante o período de estio. Vegetação desse tipo é encontrada de forma contínua desde o município de Pirambu até a divisa com a Bahia. Entre as associações estão os manguezais localizados na foz dos rios São Francisco, Japaratuba, Sergipe e afluentes, com diversas espécies de mangues (gêneros Rhyzophora, Laguncularia e Conocarpus). Fonte: Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural. http://www.sagri.se.gov.br/modules/tinyd0/index.php?id=32/ Acesso em: 02 abr. 2014.

York, que ocupam espaços extremamente pequenos, decorrentes de áreas residuais localizadas em vias movimentadas.

Figura 42 - Paley Park, em Nova York, vista para a cascata. Fonte: PPS, 2003.

Figura 43 - Paley Park, em Nova York, vista do interior para a Rua 53. Fonte: PPS, 2003.

O Paley Park foi projetado pelo arquiteto Robert Zion, do escritório Zion and Breene Associates, para William S. Paley, da Fundação S. Paley, em 1967 e reformado em 1999. Trata-se de uma área de propriedade particular para o uso público, localizada

na Rua 53, entre a 5ª Avenida e a Avenida Madison, no centro de Manhattan (Ilustração 44).

Ilustração 44 - Imagem aérea do Paley Park. Fonte: TATE, 2001.

O GreenAcre Park, por sua vez, foi projetado pelos arquitetos do escritório Sasaki, Dawson, DeMay Associates, liderados pelos arquitetos Masao Kinhoshita e Hideo Sasaki, com participação de Tom Wirth. Foi aberto em 1971, em um pequeno terreno de 20m de largura por 40m de comprimento, localizado na Rua 51, entre a 2ª e 3ª Avenidas, igualmente no Centro de Manhattan, sendo também uma área particular de uso público, pertencente à fundação Greenacre Foundation, fundada e mantida por Abby Rockefeller Mauze (TCLF, 2014).

Ilustração 45 - Vista por cima da fonte do GreenAcre Park. Fonte: SASAKI, 1975.

Mesmo incrustados em áreas ruidosas de uma megametrópole, os dois exemplos produzem uma sensação de calma e tranquilidade para os seus usuários. Os dois parques têm o mesmo conceito: aproveita-se um espaço vazio inserido entre dois edifícios altos, criando uma zona de silêncio convidativa, proporcionada pela massa arbórea interna, e dotada de uma cascata ao fundo, atuando no mascaramento sonoro. Além da própria qualidade da vegetação, do solo e do piso utilizados, a liberdade de mudar o mobiliário cria um ambiente acolhedor. As quedas d’água, com altura aproximada de 6 metros, no Paley Park, e 7 metros, no Greenacre (Ilustração 45), têm vazão de mais de 6,5 mil litros de água por minuto e produzem um ruído branco (conteúdo presente no capítulo três) de volume suficiente para promover o mascaramento do ruído de baixa frequência emitido pelos motores dos veículos que trafegam na via próxima (PPS, 2003; TATE, 2001).

Ilustração 46 - GreenAcre Park, em Nova York. Fonte: SASAKI, 1975.

As duas paredes laterais do Paley Park têm função de atenuação da reflexão do som, pois são cobertas de vegetação espessa de hera-inglesa, sendo que a combinação entre a vegetação, o substrato (vão entre o suporte e a parede) e o próprio material que constitui o suporte apresenta características de alta absorção e baixa reflexão do som que entra no vão entre os edifícios, impedindo a reverberação. Dezessete árvores da espécie Mel Locust são distribuídas dentro do parque, sem bloquear a iluminação natural e a brisa, proporcionando uma sombra agradável (PPS, 2003).

O Paley Park, ilustrado pela Ilustração 47, foi planejado em quatro zonas distintas:

 a primeira funciona como área de acesso da rua ao parque;

 a segunda, como zona de transição, onde há a mudança de nível e de textura do revestimento do piso, criando a conscientização da mudança de ambiente. Essa é uma área fundamental para a quebra de comportamento do usuário, que percebe a diferença em relação ao ambiente externo à praça, deixando para trás o barulho e a agitação da megametrópole;

 a terceira zona é uma área funcional, onde são distribuídas as mesas e cadeiras para a convivência dos usuários, tratando-se de uma área de refúgio convidativa, bastante utilizada para refeições, leitura e outras atividades que requerem a calma de um ambiente acolhedor;

 a quarta zona é a área de interação com a cascata, sendo dotada de uma atmosfera totalmente diferenciada em relação à rua, proporcionada pelo som da água corrente, que normalmente transmite um sentimento de calma ao usuário, além de favorecer o conforto térmico do local. (TATE, 2001)

Ilustração 47 - Análise da organização dos ambientes no Paley Park. Fonte: TATE, 2001.