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CONTROLE DO RUÍDO PELA ATUAÇÃO NA FONTE

SUMÁRIO 1 Introdução

6 CONTROLE DO RUÍDO NA PAISAGEM SONORA

6.1 CONTROLE DO RUÍDO PELA ATUAÇÃO NA FONTE

A fonte é a origem do problema de ruído, consequentemente, seria mais econômico, eficaz e coerente conter a emissão sonora onde é gerada, eliminando-a ou mantendo-a abaixo de um determinado nível desejado. (SILVA, 1971) (DE MARCO, 1982).

O objetivo desta pesquisa é amenizar o ruído rodoviário, especificamente o ruído de tráfego urbano gerado pelo grande fluxo de veículos na cidade. Para tanto, as fontes de ruído ligadas a esse contexto, das quais fazem parte os veículos, a infraestrutura viária, o gerenciamento do fluxo de tráfego e o comportamento das pessoas, serão privilegiadas neste trabalho.

Os elementos que geram ruído nos veículos são, principalmente, os motores, os escapamentos e os pneus. Assim sendo, tais fatores devem ser estudados e projetados de forma a serem mais silenciosos. Por outro lado, cabe aos gestores a definição de normas voltadas para o controle da emissão de ruído pelos veículos, assim como a fiscalização do devido cumprimento de tais regulações. (SILENCE, s/d) (CNOSSOS-EU, 2012).

O investimento em pesquisa e desenvolvimento, por parte dos fabricantes, é fator fundamental para a concepção de veículos leves, pesados e motocicletas capazes de produzir menores níveis de ruído. Os fabricantes de pneus também têm papel primordial quanto ao tema em questão, já que uma parte importante do ruído é gerada pela interação do pneu com o pavimento, de acordo com o já mencionado no capítulo quatro desta dissertação. (FREITAS e PEREIRA, 2013).

Pode-se inferir, também, que a substituição do transporte público convencional, provido de ônibus movidos a motor de combustão, por ônibus elétricos ou VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) produz grande efeito na redução do nível sonoro, já que os veículos elétricos apresentam um nível de emissão sonora muito inferior aos veículos com motor a combustão. Essa solução tem sido adotada em vários países europeus, sendo que o mesmo ocorre em relação os automóveis, sem que se entre no mérito do benefício alcançado pela redução de CO2, de outros gases e de materiais particulados. (SILENCE, s/d).

Em julho de 2014, na cidade de Campinas, foi divulgada uma notícia, segundo a qual, serão realizados testes com ônibus elétricos e instalada uma fábrica na cidade, com tecnologia chinesa, para atender à demanda nacional. (PREFITURA DE CAMPINAS, 2014) .

Estudos realizados pela CETESB embasaram as primeiras normas nacionais de controle do ruído veicular, conforme a seguinte citação:

Ruído: emissão de ruído por veículos – automóveis, motocicletas, caminhões e ônibus – foi objeto de estudos por parte da CETESB, que acabaram por estabelecer as bases do Programa Nacional de Controle de Ruído Veicular. Tal programa, lançado a partir das Resoluções CONAMA 01 e 02 de 1993 e atualizado pelas Resoluções CONAMA 08 de 1993, 17 de 1995, 20 de 1996, 242 de 1998, 268 e 272 de 2000, estabelece limites máximos de ruído para veículos novos comercializados no Brasil. Prevê ainda critérios para serem utilizados em futuros programas de inspeção e fiscalização de veículos em circulação, conforme as Resoluções CONAMA 07 de 1993, 227 de 1997, 252 e 256 de 1999.

O controle dos veículos novos é realizado a partir da análise dos relatórios dos testes de ruído executados conforme a norma “NBR ISO 362 – Acústica – Medição de ruído emitido por veículos rodoviários automotores em aceleração – Método de engenharia”. Os resultados são analisados pelo IBAMA, agência ambiental do governo brasileiro que é responsável pelo licenciamento de veículos. Estando abaixo dos limites estabelecidos, o órgão autoriza a comercialização. (CETESB, s/d).

A Tabela 10 apresenta os limites de emissão de ruído para os veículos automotores, de acordo com o tipo de motor, a capacidade de carga e a potência do veículo. Observa-se que os valores variam na faixa de 74 a 80 dB(A).

Tabela 10 - Tabela de limites de ruído para veículos novos, em vigor em 01 de Agosto de 2014. Fonte: (CETESB, s/d).

Um dos veículos com maior emissão de ruído é a motocicleta que, devido aos motores de dois tempos que emitem um nível sonoro muito alto, sendo que a tabela correspondente à emissão de ruídos por essa classe de veículos aponta valores que variam de 75 a 80 dB(A), de acordo com a cilindrada do motor, de 80 cm3 a acima de 350 cm3, respectivamente (CETESB, s/d).

De acordo com as informações presentes no capítulo 4, o atrito entre os pneus e o pavimento é uma fonte de ruído significativa e, em determinadas condições de velocidade e composição do tráfego, pode apresentar um volume de ruído maior do que o emitido pelos motores. Portanto, ações direcionadas à pavimentação das vias e à equipagem dos pneus da frota de veículos de uma cidade são formas de reduzir a emissão, atuando diretamente na fonte.

O capítulo quatro também traz materiais e formas de pavimentação, com a finalidade de se reduzir o ruído rodoviário. Essas técnicas e materiais dependem também do clima, das condições de tráfego do local e de outros fatores locais. (DRI-DK, 2008) (BERNUCCI, et, al., 2010). Portanto, no que concerne a esse item, o papel do gestor público é fundamental, pois dele depende a definição e o gerenciamento do processo de construção, conservação e manutenção das vias. (SILENCE, s/d) (ESTEVES, 2003) (CDER, 2010). Uma administração consciente permite a aplicação dos materiais e técnicas adequados, dentro de um orçamento viável, melhorando a paisagem sonora nas ações rotineiras de manutenção e intervenção nas vias, como o recapeamento regular, visando à redução do ruído.

No caso da atuação sobre a produção do ruído pelos pneus dos veículos, percebe- se que essa ação depende fundamentalmente do estabelecimento de normas e da legislação, e que estas sejam atendidas pelos fabricantes e fornecedores de pneus, visto que a adoção de pneus com baixa emissão de ruído depende de preço e de outras condições determinadas pelo mercado, pouco sensível à influência dos gestores das cidades. Nessa área são necessárias ações reguladoras de órgão federais ou entidades padronizadoras de maior abrangência.

No final de 2012, foi lançada a etiqueta europeia de pneus, regulamentada pela União Europeia, contendo informações sobre três itens de avaliação: eficiência energética, segurança e ruído ambiental. A Ilustração 52 traz o layout da etiqueta

que é semelhante às usadas nos eletrodomésticos, como o selo da Procel. A etiqueta afixada nos pneus indica o seu desempenho nos quesitos: eficiência no consumo de combustível, segurança e ruído externo. (EU, 2012).

Ilustração 52 - Etiqueta de pneu EU. Fonte: (EUROPEAN COMMISSION, 2012).

O gerenciamento de tráfego urbano, cuja função é disciplinar e manter o fluxo contínuo das vias, também contribui muito para a redução do ruído urbano. Essa área do conhecimento e de atuação no planejamento e gerenciamento urbano inclui múltiplas disciplinas da engenharia e do urbanismo, tais como medição e predição de volumes, condições de vazão e retenção, estabelecimento de rotas e disciplinas viárias (hierarquia e sentido de direção nas vias), controle de sinalização (semáforos inteligentes e painéis de informação sobre o trânsito), desenho da malha viária, criação de rotas de contingência, normatização e regras de circulação. (ESTEVES, 2003) (CEDR, 2010).

Além dos benefícios para a mobilidade urbana, o fluxo contínuo dos veículos em áreas urbanas com baixa variação de velocidade produz um nível de ruído menor do que em vias onde há grande variação de velocidade, com paradas e arrancadas que exigem variações de rotação do motor, trocas de marcha e frenagem, ações que produzem um nível de ruído muito maior do que o regime estacionário e contínuo do tráfego fluido.

A sincronização de semáforos e a eliminação de cruzamentos em nível, então, permitem maior fluidez do trânsito e produzem uma melhora na paisagem sonora de grandes avenidas.

Em vias com circulação de ônibus e outras formas de transporte coletivo automotor, os pontos de parada exercem bastante influência no perfil de ruído ao longo da via, devido à frenagem de aproximação e à aceleração na saída.

Outro fator de grande relevância, principalmente no estabelecimento de uma nova malha viária, é o projeto de vias utilizando a topografia, de forma a minimizar as inclinações nas vias de maior movimento, valendo-se também de pequenos vales ou encostas, destinando-os a cruzamentos em diferentes níveis. A subida de ruas íngremes exige maior potência dos motores, o que normalmente resulta em maior volume de ruído emitido (JOSSE, 1975) (NIEMEYAR; SLAMA, 1998) e, no sentido contrário, na descida, aciona-se o freio, que é emissor de ruído, e o freio motor (JOSSE, 1975).

Nos países mais desenvolvidos é crescente o emprego das técnicas denominadas Moderação de Tráfego (Traffic Calming). Cada local apresenta soluções de projeto com estratégias distintas, porém, todas com o mesmo objetivo de redução de velocidade, aumento de segurança e redução do ruído em zonas residenciais e vias locais, incluindo normalmente educação e conscientização, sinalização, dispositivos de redução (Ilustração 53), controle de volume e controle de velocidade, incentivando e disciplinando uma convivência moderada, tranquila e segura entre os veículos que transitam e os moradores do local (JUNIOR; DE ANGELIS, 2005) (ESTEVES, 2003) (Surrey County Council, 2014) (Victoria Transport Policy Institute, 2014).

“Traffic Calming pode ser assim definida como uma técnica (ou um conjunto de técnicas) para reduzir os efeitos negativos do trânsito, ao mesmo tempo em que cria um ambiente seguro, calmo, agradável e atraente.” (ESTEVES, 2003, p. 51).

A Moderação de tráfego está se tornando cada vez mais aceita pelos profissionais de transporte e urbanistas (VICTORIA TRANSPORT POLICY INSTITUTE, 2014). Projetos de moderação de Tráfego podem variar, abrangendo desde pequenas modificações em ruas isoladas até uma vasta remodelação da malha viária. A

implantação de rotatórias, por exemplo, obedece a um design moderno, que segue três princípios básicos: normalmente apresenta apenas uma faixa de circulação; com as entradas de forma inclinada, permitindo o acesso e a entrada na rotatória acompanhando o fluxo; e uma ilha de deflexão, protegendo o tráfego entrante. Essas medidas permitem que o tráfego flua nas rotatórias, reduzindo as paradas e criando uma intersecção segura e contínua (VICTORIA TRANSPORT POLICY INSTITUTE, 2014).

As referências (FHWA, 2006) (SURREY COUNTY COUNCIL, 2014) (VICTORIA TRANSPORT POLICY INSTITUTE, 2014) mostram, de forma detalhada e consistente, guias de recomendação e projetos implantados nos EUA, no Reino Unido e no Canadá, entre outros, com estratégias e dispositivos bem definidos.

Ilustração 53 - Dispositivos de moderação de tráfego. Fonte: ESTEVES, 2003, apud ESTEVES, 1996.

A tese de doutorado de Ricardo Esteves, intitulada “Cenários Urbanos e Traffic

dispositivos aplicados por esse sistema de redução de ruído denominado Moderação de Tráfego (Traffic Calming).

“Entre os outros elementos que atuam sobre o tráfego de veículos motorizados, gerenciando ou direcionando seus fluxos, moderando-o e ajudando a reduzir seus impactos negativos, contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental, podem ainda ser citados:

 Uso de rotatórias de várias dimensões, visando disciplinar o conflito entre tráfegos cujos fluxos se cruzam;

 Redução do raio nas junções de vias, com o objetivo de provocar redução na velocidade de conversão dos veículos;

 Chicanas e estabelecimento de prioridades de passagem, permanentes ou provisórias, com o propósito de reter eventualmente, de tempos em tempos, um dos fluxos, que deverá esperar uma oportunidade para avançar (I4 e 5 da Ilustração 53);  Instalação de portais e/ou sinalização específica,

estabelecendo limites para área objeto de tratamento e para locais em que o comportamento dos atores do trânsito, principalmente motoristas, deve ser adequado;  Fechamentos totais ou parciais de vias. Embora não

estejam totalmente adequadas à filosofia da técnica, que é desencorajar, e não impedir, o fluxo de veículos motorizados, mesmo de passagem, essas medidas de caráter mais radical podem ser adotadas pontualmente em alguns casos específicos, em função de um objetivo mais estratégico, de um tratamento proposto para um ambiente mais amplo.” (ESTEVES, 2003. p. 59 a 60).

Em todos esses projetos de redução de ruído e redução de velocidade nas vias, utilizando-se as técnicas de Moderação de Tráfego, a conscientização e a educação da população e dos motoristas são imprescindíveis para o sucesso e a compreensão de que a redução de velocidade e a disciplina no trânsito promovem a melhor convivência, com maior segurança e menor perturbação sonora.