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SUMÁRIO 1 Introdução

8.3 HONG KONG

Hong Kong é desde 1997 uma cidade-estado constituindo uma Região Administrativa Especial da Republica Popular da China. Foi colônia do Império Britânico de 1842 a 1997. Devido a sua localização privilegiada no leste da Ásia próxima ao Japão, Coreia do Sul e Singapura, Hong Kong é hoje o maior porto da China e uma plataforma global de negócios internacionais, comércio e centro financeiro. É também uma das cidades mais adensadas do mundo, com aproximadamente 7 milhões de pessoas em um território de apenas 1.104 km2.

Junto ao crescimento econômico explosivo, especialmente durante as décadas de 1980 e 1990, vieram também os problemas decorrentes do crescimento rápido, desordenado e falta de planejamento adequado. O ruído de tráfego, construção civil, fontes comerciais e industriais aumentou, sendo agravado por Hong Kong ser uma cidade compacta e densamente povoada. Como resultado, mais de um milhão de pessoas foram afetados por excesso de ruído de tráfego em Hong Kong (Tabela 15).

Tabela 15- População exposta à níveis de ruído de tráfego rodoviário em Hong Kong superiores a 70dB(A). Fonte: EPD, 2006.

Conscientizado com a dimensão dos aspectos nocivos da poluição sonora para a sociedade e meio ambiente, o governo de Hong Kong iniciou um processo de combate à poluição sonora com a confecção do mapa acústico para toda cidade (Ilustração 81). É importante ressaltar que o governo estava ciente que a prevenção dos efeitos nocivos do ruído deveria ser resultado de uma política e planejamento adequados.

A partir desse levantamento, o governo de Hong Kong estruturou a política de gerenciamento de ruído (Ilustração 82) montando estratégias de curto, médio e de longo prazo, com políticas e planos estratégicos baseados em ações proativas em 4 vertentes:

 prevenção de problemas através de planejamento e avaliação de impacto ambiental;

 diminuição de ruído em estradas existentes;

 conscientização e educação da população através dos programas e parcerias. (EPD, 2006).

Esta política previu não só a execução de medidas e intervenções como o acompanhamento sistemático e a atualização dos dados da carta acústica, como também ações para atuar na redução do ruído nas fontes, trajetória de propagação e recepção.

Em paralelo, atividades de conscientização e educação da população foram implementadas fornecendo informações on-line sobre a situação do ruído e de seus impactos.

Como parte das ações, programas de incentivo à implantação de medidas inovadoras para mitigação dos efeitos do ruído com auxilio de novas tecnologias foram criados para obter um melhor desempenho acústico com elementos construtivos e arquitetônicos (tais como janelas, portas, proteções e varandas) para a proteção dos habitantes nas edificações. (EPD, 2006).

Ilustração 82 - Estrutura da politica de gerenciamento de ruído em Hong Kong. Fonte: EPD, 2006.

O Environmental Protection Department – EPD (departamento de proteção ambiental) também usou de um instrumento legal estatutário para obter sucesso na redução do nível de ruído no meio ambiente. Este instrumento regulamentou o nível de ruído das atividades de construção, comerciais, industriais e da vizinhança, além de exigir que os veículos atendam as exigências dos padrões de emissão de ruído de Hong Kong. Desta forma, o estatuto serviu para manter o ruído controlado.

Porém, é importante notar que os limites para os níveis de ruído devem ser revisados periodicamente para evitar uma exposição excessiva ao ruído

futuramente. Por exemplo, o crescimento de tráfego urbano exigirá uma necessidade de reajuste das medidas de mitigação de ruído em 2016. (EPD, 2006).

Controle na Fonte

Com o crescimento econômico, a indústria da construção civil tornou-se muito ativa. Isto elevou o nível de ruído para mais de 85 dB(A) (Ilustração 15), visto a operação de equipamentos de construção civil ruidosos tais como bate-estaca por mais de 12 horas por dia.

O ruído oriundo da construção é um problema sério para o EPD. Por meio da Noise Control Ordinance NCO (Portaria de Controle de Ruído) de 1989, o governo de Hong Kong tentou gerenciar o ruído de construção na fonte através de um código de conduta. Este código de conduta fornece orientações gerais e boas práticas de gestão para evitar a violação desta portaria, fornecendo orientações, tais como, horários permitidos para emissão de ruídos e recomendações para o uso de equipamentos mais silenciosos.

Mesmo com as medidas aplicadas em 1989, o ruído da construção ainda constituía um problema considerável (Ilustração 15). Para garantir o cumprimento dos níveis de ruído, além dos diversos incentivos que a EDP forneceu aos construtores para colaborarem na redução dos níveis de ruídos, o órgão estabeleceu a aplicação de multas para violações dos limites.

Outro trabalho de controle e mitigação de ruído na fonte envolveu um esforço conjunto com outros departamentos. Este foi o caso do ruído aéreo, jurisdição do Departamento de Aviação Civil. Um exemplo era o aeroporto Kai Tak, localizado numa área residencial densamente povoada. O ruído decorrente da decolagem de aeronaves perturbava em torno de 380.000 pessoas residentes na região. Para mitigar o ruído, o aeroporto internacional Kai Tak foi desativado em 1998, e o novo aeroporto internacional Chek Lap Kok foi inaugurado, reduzindo o problema de ruído aéreo na zona metropolitana de Hong Kong sensivelmente. (EPD, 2006).

Controle na Trajetória

Segundo a EPD (2006), existem duas maneiras de minimizar o impacto e a exposição da população ao ruído do tráfego. A primeira consiste na construção de novas estruturas, e a segunda é a alteração e gerenciamento das estruturas existentes.

A vertente de construção sugere que novas estradas sejam construídas usando superfícies mais silenciosas para diminuir a emissão de ruído, que barreiras acústicas sejam construídas ao longo das vias e, em última instância, o isolamento acústico seja providenciado. Esta via também prevê aconselhamento de outros órgãos na concepção de novas estradas e no desenho arquitetônico dos edifícios para reduzir a retransmissão do ruído.

A outra vertente visa adequar e gerenciar estruturas já existentes. Este objetivo é atingido pela instalação de sistemas corretivos, quando possível, implantação de limites de horário de circulação em bairros, e novas proposições de gerenciamento de tráfego. Esta vertente trata de problemas de resolução consideravelmente mais difícil pelas restrições do desenho urbano. Para ter uma dimensão dos problemas tratados por esta corrente, a EDP reportava que na data do estudo mais de 600 estradas em Hong Kong geravam ruído superior a 70 dB(A). Destas, porém, em apenas 40 rodovias seria viável a construção de uma barreira acústica ou de um invólucro para mitigação de ruído sem comprometer a segurança do sistema viário e dos pedestres.

Para obter a redução de 20 dB(A) em todas estas estradas, fato que beneficiaria mais de 30 mil habitações, outras saídas tiveram de ser adotadas. Uma destas foi a substituição do pavimento por uma superfície mais silenciosa, que reduziu o ruído em cerca de 3 dB (A). O Governo tem feito esforços contínuos para minimizar o ruído do tráfego existente mediante a instalação de barreiras acústicas nas estrada e no recapeamento de estradas existentes com materiais de baixo ruído. Já em áreas residenciais, foram implantados restrições de circulação de tipos de veículos e horários de trafego. (EPD, 2006).

Controle no Receptor por Meio do Isolamento Acústico

Outras ações de combate ao ruído do tráfego envolveram um programa para fornecer instalações de insonorização para mais de 10.000 salas de aula perto das principais estradas.

Com a restrição territorial e alta densidade populacional, a implantação dos conjuntos habitacionais nas margens das vias de alto fluxo de tráfego nem sempre pode ser evitado, expondo os moradores ao alto nível sonoro. Para prevenir a perturbação dos habitantes, projetos inovadores de mitigação de ruído e medidas para atenuar o seu impacto nos ambientes internos foram adotadas, sendo acrescentados elementos arquitetônicos de autoproteção no edifícios habitacionais como exibe a Ilustração 83. (EPD, 2006).

Ilustração 83 - Edifícios com autoproteção: a) brise vertical, b) pódio e c) empena cega. Fonte: EPD, 2006.

A sacada é projetada de forma a não deixar as ondas sonoras entrarem no interior do ambiente, um painel de vidro de segurança inclinado no guarda-corpo cria uma zona de sombra acústica protegendo a parte inferior da sacada, tendo sua ação complementada pela instalação de um painel horizontal com 50 cm de distância do teto que bloqueia as ondas sonoras refletidas no teto da sacada, portanto constituem

uma geometria bem elaborada não permitindo que as ondas incidentes e refletidas adentrem ao interior da habitação. As laterais da sacada são revestidas com painel acústico de fibra de vidro com desenho e construção apropriados para a absorção do som (Ilustração 84).

Ilustração 84 - Desenho de sacada com proteção acústica. Fonte: EPD, 2006.

Mesmo tendo começado seus esforços em 1989, Hong Kong continua em sua trajetória de implantação de medidas de contenção do ruído urbano, é um processo contínuo de melhoria, visto que seu sucesso econômico continua a atrair mais pessoas para esta cidade já altamente adensada.