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CONTROLE DO RUÍDO PELA ATUAÇÃO NO RECEPTOR

SUMÁRIO 1 Introdução

6 CONTROLE DO RUÍDO NA PAISAGEM SONORA

6.3 CONTROLE DO RUÍDO PELA ATUAÇÃO NO RECEPTOR

Quando o tratamento do ruído na fonte para redução da emissão ou atuação na sua trajetória de propagação não for eficaz para atenuá-lo, então será necessário atuar na proteção do receptor, por meio do isolamento acústico, objetivando impedir, evitar, ou diminuir a penetração do ruído do meio ambiente para o espaço interno das edificações.

Essa atuação tem por característica uma atuação mais individualizada e particular de cada espaço, envolvendo, na maior parte das vezes, procedimentos de caráter interno aos edifícios, e de responsabilidade de seus proprietários, tornando a ação pública e conjunta mais difícil. Essas medidas normalmente são levadas a efeito pelo estabelecimento de normas para fachadas, janelas e portas, de acordo com o posicionamento das edificações em relação às vias. (NIEMEYAR; SLAMA, 1998) (NIEMEYAR, 1998) (MARCELO, 2006) (SILENCE, s/d) (CEDR, 2010) (CNOSSOS- EU, 2012) (NBR 15575-4, 2013).

O papel do arquiteto nos projetos dos edifícios para a autoproteção de seus interiores é fundamental. Um bom projeto arquitetônico proporciona um ambiente interno com conforto termoacústico e com características adequadas de ventilação e iluminação, mesmo quando as condições do entorno não sejam totalmente favoráveis. O aproveitamento das características de transmissão e absorção sonora pela edificação e seus pontos de contato externo, bem como do posicionamento adequado das áreas internas, melhora substancialmente as condições do ruído interno.

A aplicação do isolamento acústico requer critérios bem definidos nos projetos e em sua execução, para não comprometer a qualidade e a eficiência do isolamento ao ruído. A norma NBR 15575 Edificações Habitacionais – Desempenho apresenta parâmetros para a transmissão acústica, na parte 4: Sistemas de Vedações Verticais Internas e Externas (NBR 15575-4), que será abordada no capítulo 7 desta dissertação. A norma NBR 10821-4 Níveis de Desempenho Acústico das Esquadrias define um selo de qualidade (Ilustração 63) que deve ser afixado nas esquadrias, para orientação do comprador.

Ilustração 63 - Etiqueta com indicação de desempenho acústico de esquadria. Fonte: ARCOWEB, s/d apud NBR 10821-4 (2011).

O isolamento acústico é principalmente considerado nas paredes, nos telhados, nas esquadrias em geral (janelas e portas) e na arquitetura da fachada voltada para a via emissora do ruído, sendo essenciais as propriedades físicas dos materiais e os sistemas construtivos desses elementos, para a obtenção de uma drástica redução do ruído no interior da edificação, oriundo do ambiente externo. (SILENCE, s/d) (NIEMEYER; SLAMA, 1998) Em concordância com a explanação, no capítulo quatro, a forma e a orientação dos edifícios desempenham um papel fundamental em relação ao ruído, e a autoproteção é uma das medidas utilizadas na redução do ruído interior das edificações. (SILENCE, s/d) (ARIZMENDI, 1980) (NIEMEYER; SLAMA, 1998) (MARCELO, 2006) (KANG, 2007). (WANG; KANG, 2011).

O isolamento acústico de paredes exteriores e sistemas de telhado pode reduzir a penetração do ruído externo para o ambiente interno da edificação (ADELAIDE CITY COUNCIL, s/d). O isolamento de ruído pelas paredes é uma forma comum de atenuar a transmissão de energia sonora de um ambiente para outro, pois há uma redução (ou perda na transmissão) de intensidade sonora quando o som é transmitido através dos materiais que compõem as paredes (DE MARCO, 1982) (BERANEK; VÉR, 1992) (GERGES, 2000) (BISTAFA, 2011). A quantidade de isolamento depende do espectro de frequências da onda sonora e do sistema

construtivo da parede. De acordo com DE MARCO (1982), dependendo das características construtivas, a parede pode reduzir de 55 a 20 dB e as janelas e portas, de 45 a 15 dB.

Conforme explicação anterior, quando uma onda sonora atinge a parede de uma fachada de alvenaria, uma parte da onda é refletida, voltando para o ambiente, e a outra parte é transmitida ao outro lado da parede. A parede, de certa forma, desempenha o papel de uma barreira acústica, atenuando o ruído do exterior para o interior. De acordo com a lei da massa, quanto mais densa, melhor será o desempenho no isolamento acústico (DE MARCO, 1982) (NIEMEYAR; SLAMA, 1998) (AMORIM; LICARIÃO, 2005) (BARROSO-KRAUSE, et al, 2005).

A construção de paredes duplas com uma camada de ar entre elas melhora muito o desempenho do isolamento acústico (DE MARCO, 1982) (AMORIM; LICARIÃO, 2005) (BARROSO-KRAUSE, et al, 2005). As paredes duplas podem produzir uma redução de 5 a 10 dB, resultado superior ao de uma parede simples de mesmas características (DE MARCO, 1982).

As aberturas, consequentemente as portas e janelas, permitem a passagem do som do exterior para o interior da edificação e, portanto, devem ser bem vedadas no momento da instalação, evitando possíveis frestas que possam comprometer a qualidade e o desempenho quanto ao isolamento acústico. Janelas e portas sólidas, no entanto, são eficientes apenas quando fechadas. Para resolver essa questão, outras soluções foram desenvolvidas, incluindo-se janelas de vidros duplos com sistema de ventilação e fachadas com vidros adicionais, condicionando a circulação do ar de forma que a ventilação não seja captada mediante exposição à fonte de ruído. O isolamento acústico deve ser considerado sempre que o ruído externo ultrapasse a 55 dB, durante o dia, e 45 dB, à noite (SILENCE, 2008).

As janelas modernas, de vidros duplos, podem alcançar uma redução no nível de ruído (perda de transmissão) de 30 dB. Há janelas especiais disponíveis no mercado que atingem uma redução do som de até 40 dB, particularmente úteis para hospitais, bibliotecas e ou outros ambientes com requisitos de baixo ruído interno.

A capacidade de uma janela para reduzir o ruído depende dos seguintes elementos (ADELAIDE CITY COUNCIL, s/d):

 Projeto da esquadria;  Vidros;

 Composição do painel de vidro;  Distância entre os painéis de vidro;  Vedação.

Podem-se tecer algumas considerações a respeito de janelas de vidro, listadas abaixo:

 Para janelas de único vidro, normalmente, quanto maior a espessura melhor o isolamento acústico. A maior dificuldade, nesse caso, é quanto aos ruídos de baixa frequência.

 O vidro laminado tem desempenho um pouco melhor do que os outros tipos de vidro, no entanto, apresenta baixo isolamento quanto ao ruído de alta frequência. Uma camada de PVB (Polivinil Butiral, resina utilizada em para- brisas de veículos, empregada quando se requer forte adesão, transparência e flexibilidade), aplicada entre os vidros, melhora a capacidade de isolamento para o ruído de alta frequência (Ilustração 64).

 Há janelas com vidros duplos, triplos e quádruplos. O espaço entre os vidros é denominado câmara de ar, cujo preenchimento é efetuado com gases inertes, como nitrogênio, argônio ou criptônio. Para se obter uma boa redução acústica, a distância entre os painéis de vidro deve ser de 50 mm a 150 mm. (ADELAIDE CITY COUNCIL, s/d).

 Uma boa vedação, nos perímetros externo e interno da esquadria, garante um bom desempenho da janela acústica.

A redução dos ruídos de baixa frequência depende fundamentalmente da espessura do vidro e da distância entre os painéis.

Ilustração 64 - Janela de vidro interna, com PVB para proteção antirruído. Fonte: Soundproof, 2014.

Outra forma adotada para atenuar o ruído proveniente do ambiente externo, presente em SILENCE (2008), se faz adicionando uma pele de vidro em frente à fachada do edifício, a uma distância que permita a abertura das janelas por trás desse vidro. O ar que circula entre o edifício e a fachada de vidro deve ser captado em uma área menos ruidosa (tipicamente em um jardim próximo, longe da via fonte da poluição sonora e do ar). Dessa forma, garante-se a entrada de ar pelas janelas, sem a captação do ruído e da poluição do ar provenientes da via para a qual a fachada se volta. Esse sistema, ilustrado pela Ilustração 65, foi instalado em Fredensgade, na cidade de Copenhague, na Dinamarca.

Ilustração 65 - pele de vidro na fachada. Fonte: SILENCE, 2008 apud Green Noise, 2005, p.7.

Se o ar fresco deve ser tomado a partir do lado ruidoso do edifício, outra solução possível é a instalação de persianas de som em frente às janelas. Tais persianas atuam para o som como os brises para a insolação, permitindo que o ar entre no ambiente, porém criando uma chicana para o percurso do ar, que atenua o nível sonoro, reduzindo o nível do ruído, comparando-se a uma janela aberta na mesma situação. (SILENCE, 2008, apud Rasmussen, 2008).