CAPÍTULO III APRESENTAÇÃO, DISCUSSÃO E ANÁLISE
3.1 O QUE DIZEM OS PARTICIPANTES
3.1.4 As ações do professor e dos alunos reveladas nas observações
Neste item são apresentadas as informações obtidas em decorrência das ações do professor e dos alunos em sala de aula, atendendo aos objetivos propostos no roteiro previamente elaborado.
Após cumprimentar os alunos em inglês, o professor inicia a aula fazendo a correção do homework (tarefa para casa) no quadro, enquanto a maioria dos alunos, visivelmente, demonstra ter dificuldades para acompanhar essa atividade. As aulas seguem, então, de acordo com as atividades propostas pelo material didático, este compreendido por: livro do aluno (student‟s book); livro de exercícios (workbook); e CD de áudio.
Tanto na primeira quanto na segunda aula observadas, o professor, após a correção do homework, realizou a atividade de listening comprehhension, aplicando, corretamente, as três etapas dessa atividade, que são: pre-listening, while-listening e post-listening. (Estas etapas estão descritas no item Dificuldades – p. 92-93).
Embora o professor tenha aplicado corretamente as três etapas da atividade de listening, observou-se que os alunos, de modo geral, apresentaram grandes dificuldades para compreender os diálogos. Mesmo ouvindo mais de três vezes a atividade de listening apresentada em cada aula, permaneciam com dúvidas e mostravam-se hesitantes para responder as atividades propostas pelo while- listening. Em relação às atividades de post-listening desenvolvidas, ficou evidente
que os alunos apresentaram maior dificuldade para falar e maior facilidade para escrever.
A terceira aula observada consistiu, tão somente, de uma revisão em forma de exercício escrito, visando melhor preparar os alunos para a realização da primeira avaliação escrita que aconteceria na aula subseqüente.
Nas três aulas observadas o professor não utilizou nenhum recurso multimídia, nenhum jogo e nenhuma música.
No que diz respeito às relações interpessoais em sala de aula, foi observado que, durante as atividades de diálogos em duplas, os alunos mostraram- se desenvoltos e sem quaisquer constrangimentos para realizá-las. Esse clima de descontração em sala de aula, de acordo com o que se verificou, contribuía para que os alunos realizassem mais facilmente os diálogos propostos.
Em relação ao entrosamento aluno-professor, observou-se que, apesar da abertura existente para esclarecimento de dúvidas, os alunos mostravam-se inibidos quando se dirigiam ao professor e, quase sempre, utilizavam a língua materna para obter algum esclarecimento. Observou-se, também, que havia respeito mútuo entre aluno e professor sem que houvesse, contudo, um clima de afetividade. Assim sendo, as relações interpessoais existentes entre os alunos eram muito mais fortes do que as existentes entre os alunos e o professor.
A falta de entrosamento entre alunos e professor pode tornar a aprendizagem mais lenta e menos eficiente, uma vez que a interação entre eles está intimamente relacionada à forma e ao uso da língua pelo aluno, bem como a sua projeção de atenção, suas escolhas, suas relações e sua prática. (LEFFA, 2001)
Quanto às estratégias utilizadas pelos alunos, observou-se que as mais utilizadas eram: 1) as estratégias diretas de memória - Anotar todo o vocabulário exposto no quadro, Anotar o significado das palavras e Anotar a pronúncia das palavras; 2) a estratégia direta cognitiva - Tradução de frases e enunciados do livro; 3) a estratégia direta de compensação – Recorrer à língua materna e Usar mímicas e gestos(embora a estratégia de compensação não tenha sido detectada nas entrevistas, verificou-se nas observações das 3 aulas que a LM se faz muito presente na sala de aula) e 4) a estratégia indireta metacognitiva - Focar Atenção. Esta última era utilizada, principalmente, quando praticavam atividades de diálogos, uma vez que para realizar esta atividade, os alunos devem prestar atenção ao que está sendo dito e ao que irão falar. Contudo, a estratégia direta cognitiva Praticar a
língua era pouco utilizada pelos alunos. Percebeu-se, por exemplo, que a troca de cumprimentos e as conversas entre eles eram realizadas na língua materna.
Verificou-se que as dificuldades de aprendizagem dos alunos idosos eram diversificadas. Para alguns, memorizar o vocabulário novo ou escrever palavras de formas diferentes de suas respectivas pronúncias é uma grande barreira. Para outros, o grande desafio era o de desenvolver atividades de speaking (fala).
Embora o desenvolvimento da habilidade da fala de uma LE envolva questões relativas à personalidade e à autoconfiança, a maioria dos alunos ainda se sentia inibida e pouco confiante para se expressar na língua que estava aprendendo. Alguns até tentavam fazer perguntas ou iniciar uma conversa em inglês, mas, ao sentirem a primeira barreira, logo recorriam à língua materna.
Em relação à compreensão das regras gramaticais, percebeu-se que esta não era a maior dificuldade para os alunos, sendo largamente superada pela dificuldade relacionada à compreensão das atividades de áudio.
Outro aspecto percebido, durante a observação, foi a excessiva falta de confiança da maioria dos alunos para fazer as avaliações, tanto a escrita quanto a oral. Observou-se que, de modo geral, os alunos não se sentiam preparados ou à vontade para serem avaliados, principalmente no aspecto da fala. Neste ponto, o professor tentou tranquilizá-los, explicando que a avaliação era muito similar às atividades realizadas em sala de aula e aos exercícios do workbook.
Quanto às estratégias utilizadas pelo professor, observou-se que as estratégias diretas de memória - Fazer frases com palavras novas, Relacionar informação nova com outras já existentes e Usar imagens eram as mais recorrentes, objetivando induzir os alunos a lembrarem do vocabulário ou das regras gramaticais já estudados. A estratégia direta cognitiva - Praticar a língua, também foi utilizada em sala de aula por meio das atividades de diálogos em pares.
Os quadros 5 e 6, que seguem, apresentam, respectivamente, de forma resumida, a percepção dos alunos idosos quanto aos aspectos positivos e negativos do curso de inglês, bem como os aspectos positivos e negativos do curso identificados por meio das observações de aulas realizadas.
Quadro 5 - Aspectos positivos e negativos do curso, identificados pelos alunos Aspectos positivos do
curso Quantidade de alunos e porcentagem
Aspectos negativos do
curso Quantidade de alunos e porcentagem Alunos com idade a partir
de 55 anos. (78,6%) 11 afetividade na relação Pouca proximidade e interpessoal entre alunos/
professor.
8 (57,1%)
Alunos com dificuldades
comuns entre si. (35,7%) 5 Pouca atenção por parte do professor às dificuldades individuais
dos alunos
8 (57,1%)
Contribuição para que os alunos formem novas
amizades.
6 (42,8%)
Ritmo acelerado do curso 14 (100%) Contribuição para ativar
a memória (78,6%) 11 Mesmo calendário dos cursos oferecidos para outras faixas etárias
14 (100%) Facilita a superação das
barreiras de aprendizagem decorrentes da idade. 8 (57,1%) .
Contribuição para elevar os níveis de autoestima, autoconfiança e autovalorização. 7 (50%) Estimula a vontade de continuar aprendendo (42,8%) 6 Professor com bom
conhecimento da língua inglesa
14 (100%) Utilização de material
didático com recurso multimídia.
7 (50%) Fonte: dados obtidos por meio das entrevistas
Quadro 6 – Aspectos positivos e negativos do curso identificados pela pesquisadora por meio das observações em sala de aula.
Aspectos positivos Aspectos negativos
Os alunos apresentam quase as mesmas dificuldades de aprendizagem relacionadas à compreensão oral, ao acompanhamento da correção dos exercícios e à pronúncia.
Os alunos demonstram possuir muitas dificuldades para acompanhar a correção das tarefas de casa.
Boa relação interpessoal entre os alunos. Pouca afetividade entre o professor e os alunos.
Existência de motivação, por parte dos alunos, para participarem das atividades em pares ou em grupos.
Pouca atenção, por parte do professor, com as dificuldades e o progresso de cada aluno.
Satisfação, por parte dos alunos, com o recurso multimídia que o material didático oferece.
Insatisfação dos alunos com relação ao ritmo do curso.
Satisfação, por parte dos alunos, com o conhecimento da língua inglesa
demonstrado pelo professor.
Pouco uso, por parte do professor, de recursos audiovisuais ou de recursos que permitem a interação dos alunos.