• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III APRESENTAÇÃO, DISCUSSÃO E ANÁLISE

3.1 O QUE DIZEM OS PARTICIPANTES

3.1.3 O que diz o professor do curso

Como foi explicitado anteriormente (p. 90), para atender ao quinto objetivo deste estudo foi realizada uma entrevista com o professor da turma buscando identificar estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas por ele em sala de aula.

O professor da turma mostrou-se motivado para ensinar inglês para os alunos idosos. Ele esclareceu que era a primeira vez que ensinava para uma turma exclusiva da terceira idade. Revelou satisfação em seu trabalho e revelou, ainda, que todos eram muito interessados em aprender. Ressaltou a importância de estabelecer critérios diferenciados para melhor atender às diferenças individuais dos alunos com idade a partir de 55 anos. Observou ainda que os alunos procuravam entender todos os detalhes e desejavam aprender para se comunicar e não para conseguir uma promoção no trabalho como acontece com alguns alunos adultos que buscam aprender um novo idioma.

Com relação a ações e/ou atividades promovidas em sala para desenvolver a interação, o professor entrevistado afirmou que a interação entre os alunos torna-se fácil de ser promovida pelo fato do curso utilizar a Abordagem Comunicativa. Segundo o professor, para desenvolver a interação são realizadas atividades em pares ou em pequenos grupos, que incluem atividades de listening comprehhension, produção de diálogos, produção de frases e alguns jogos para fixar vocabulário.

A variedade de atividades é benéfica para que a aprendizagem ocorra de forma mais profícua, uma vez que as diferenças individuais devem ser respeitadas, principalmente considerando as atitudes dos alunos diante de determinadas atividades. Bonfim e Alvarez (2008) são enfáticas ao afirmarem que o professor tem a responsabilidade de estabelecer um ambiente favorável à aprendizagem no qual as relações entre aluno/professor, aluno/colegas, aluno consigo mesmo, aluno com o método pedagógico e aluno com o material são relevantes.

O professor da turma ressaltou, ainda, que percebe a importância que os alunos dão à socialização destacando que muitos estão na sala de aula para fazer amigos. A fala abaixo transcrita confirma a posição do professor:

“Os alunos não chegam só para fazer aula e também não vão embora quando a aula termina. Eles estão ali para socializar. As vezes até mais para socializar do que para aprender inglês”.

Em relação às estratégias utilizadas no processo de ensino e aprendizagem de línguas o professor destacou o uso do recurso visual, ou seja, escreve no quadro de forma clara e organizada e exemplifica de forma contextualizada procurando utilizar informações que fazem parte do universo dos próprios alunos: suas atividades, suas rotinas, família, gostos, preferências, dentre outros. No que diz respeito às adequações das atividades didático-pedagógicas desenvolvidas para obter melhores resultados na aprendizagem, o professor ressaltou que explica e repete a matéria. Procura explicar somente um assunto por aula e oferece várias atividades práticas. Nas palavras do professor:

“Acho que tem que quebrar mais as coisas em partes menores, Ensino uma parte num dia, ofereço muita prática e considero que aquilo tá bom para aquela aula. No outro dia reviso e faço mais coisas. Penso que os alunos da terceira idade não agüentam muito assunto numa só aula. Você tem que praticar mais vezes a mesma coisa e só depois introduzir uma outra coisa nova”.

Ressalta-se, mais uma vez, a importância do conteúdo e das atividades serem significativas para os alunos, uma vez que perpassam pelos três tipos de memória (sensória, curto prazo e longo prazo). Segundo Boianoski e Fernandez (2006), há necessidade que o conteúdo seja relevante para os alunos, caso contrário, se não for significativo passará da memória curta para a memória longa, podendo acontecer o insucesso da aprendizagem devido ao fato de não ter sido vivenciado pela memória sensória.

A memória é considerada pelo professor da turma como um aspecto diferenciado. O professor afirma que os alunos esquecem com mais facilidade vocabulário, regras gramaticais e a pronúncia das palavras. Segundo o professor, o processo de aprendizagem torna-se mais lento. No que diz respeito a essas dificuldades, o professor solicita exercícios para casa tanto do workbook quanto os indicados pelo material didático os quais podem ser feitos através da internet. Solicita também produção escrita: criação de frases com o vocabulário e as estruturas gramaticais ensinadas em sala. Comentou que solicitava este tipo de atividade como tarefa de casa porque não podia “sair” muito do programa, uma vez que as aulas tinham que cumprir o prazo estabelecido pela programação do curso.

No que tange às dificuldades para ensinar inglês para os alunos idosos, o professor revelou que duas habilidades são mais difíceis de serem desenvolvidas com os alunos: Listening (audição) e speaking (fala). Considera o listening como barreira devido à própria perda auditiva que ocorre com a idade e ressaltou que a acústica da sala de aula não ajuda na compreensão das atividades de áudio. Seus alunos costumavam comentar que, quando realizavam atividades de listening comprehension em suas casas, sentiam mais facilidade.

O fato de terem pouca facilidade para compreender as atividades de listening, consequentemente, compromete a pronúncia das palavras e dessa forma, o professor percebe que algumas adequações na metodologia da Abordagem Comunicativa devem ser feitas. Uma dessas adequações é o uso de repetition drills (exercícios orais que ajudam os alunos a desenvolver respostas automáticas e rápidas usando uma expressão formulaica ou uma estrutura gramatical).

O professor ressalta que não se pode afirmar que a barreira da compreensão prejudique o desenvolvimento da habilidade da fala, mesmo levando em consideração a dificuldade para pronunciar determinadas palavras. Ele acredita que, assim como em turmas de adolescentes e adultos jovens, sempre há alunos com mais facilidade para falar, enquanto que a facilidade de outros é para ler ou escrever. Acredita, também, que cada um tem uma habilidade mais desenvolvida do que a outra e que as diferenças individuais devem ser consideradas.

Em relação aos benefícios que o curso de inglês proporciona para os idosos, o professor considera que mais importante do que aprender a falar um idioma, é a sensação de segurança por parte de seus alunos, promovendo uma autoestima positiva. Significa que eles estão cumprindo a meta, que eles estão se mantendo ativos, fazendo novos amigos, aprendendo e exercitando a mente.

“Acho que tem todo um benefício. Uma coisa que eu admiro é esse novo jeito de se viver a terceira idade que é estar ativo, não se tem interesse de ficar em casa assistindo TV ou dormindo e envelhecendo mais ainda do que o necessário. É muito bom dar aulas e ver que mesmo com algumas barreiras, os idosos conseguem aprender,estão, na medida do possível, se comunicando, se expressando em uma nova língua e isso já é um grande benefício”.

O professor manifestou, ainda, vontade de continuar ensinando para pessoas da terceira idade, considerando como um estímulo, para ele próprio, a força de vontade e o desejo de aprender de cada aluno.

Bonfim e Alvarez (2008) ressaltam a importância do papel do professor para essa faixa etária. As autoras afirmam que as atitudes do professor têm um forte poder de influência, favorável ou desfavorável, no que se refere à motivação dos alunos para a aula e para a aprendizagem. Segundo as autoras, o professor precisa estar ciente das necessidades e interesses do aluno adulto, a fim de tomar atitudes adequadas que possam influenciar a motivação desses alunos em sala de aula.

3.1.4 As ações do professor e dos alunos reveladas nas observações em sala