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3 PAULO FREIRE: EDUCAR É LIBERTAR O EDUCANDO

3.1 AS BASES DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DE ACORDO COM A

Em sua obra “Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa” (FREIRE, 1993), ele nos traz a ideia da construção do conhecimento através da dialética entre o saber trazido pelo estudante e o conhecimento a ser produzido, que pode ser aplicado desde um contexto científico até um contexto sociopolítico. No ensino vigente de língua inglesa no Brasil a metodologia usada para o ensino desta é totalmente contrário ao freireano, pois tem uma concepção onde não há diálogo e nem construção de conhecimento, apenas mera repetição de estruturas semifixas que não fazem parte do cotidiano do aluno, sendo assim, este fica exposto a uma verdadeira educação "bancária", que se baseia na memorização através da repetição, o que segundo Paulo Freire, é desestimulante, nada desafiador e

desestimula a vontade de aprender do aluno, não aguçando sua curiosidade para solucionar os problemas e desafios que o cercam.

Em sua obra livro “Extensão ou Comunicação?” (FREIRE, 1983) nos faz refletir sobre extensão feita de forma não comunicativa, pois o fato de uma cultura assimilar completamente a outra, sem respeitá-la em sua essência, seu saber agir e saber fazer, em um intraculturismo total, sem haver dialética de saberes, sem haver uma verdadeira prática de uma pedagogia libertadora que respeite as diversas culturas e saberes, principalmente entre campo e cidade. Para ele a comunicação tem de ser instrumento de transformação social, que serve não só para os bacharéis em agronomia como para todos os outros.

Em se tratando de idiomas, a educação extremamente tecnicista e sem oferecer ao educando o desenvolvimento da autonomia e da construção do indivíduo como agente de transformação social e a educação e como libertação para a produção de conhecimento que vai além do conhecimento técnico, vemos que esta educação de banca vigentes em nossas escolas hoje é extremamente falha, ultrapassada e desconectada com o mundo atual, pois a produção de conhecimento não passa de uma mera reprodução do conhecimento.

Através da visão de Freire, devemos promover uma reflexão sobre a formação do professor que ensina para jovens e adultos, nesta sociedade tecnológica que vivemos e também devemos promover discussões sobre a função da escola na atualidade. Sabendo-se que ao longo da história, a organização da sociedade teve características específicas de cada época, e que a educação escolar surgiu da necessidade de consolidar o que a sociedade capitalista (de cada época) necessitava para fortalecer seu poder econômico e ao mesmo tempo atender as reivindicações dos movimentos sociais, temos que formular um modelo de educação que ensine a verdadeira noção de cidadania aliada à aprendizagem para a vida, para o mundo do trabalho.

No estágio atual de desenvolvimento tecnológico e econômico em que nos encontramos, emergem os novos paradigmas educacionais que contemplam a inserção de tecnologias de informação e comunicação em ambientes educacionais. O uso das TIC, no processo educacional tem de ser aliado à educação para a vida

(FREIRE 1983, 1997, 1997). Estas tecnologias precisam ser incorporadas no processo de ensino e de aprendizagem e é papel da escola acompanhar estas transformações.

Em um diálogo com Seymour Papert, criador da linguagem computacional Logo, que foi utilizada em várias escolas, Paulo Freire enfatiza que sua intenção não é acabar com a escola, mas mudá-la completamente, fazendo com que esta aprenda a nascer novamente, criando um novo ser tão atual quanto a tecnologia, com que aprenda também a estar à altura do seu tempo, refazer-se (FREIRE, 1997).

Desde os primórdios de seus ensinamentos no início dos anos 60, Paulo Freire já defendia a atuação docente em ambientes interativos, com a utilização de recursosaudiovisuais como o vídeo, a televisão e a informática no processo de ensino e de aprendizagem. Então, se o tivéssemos aqui conosco hoje, seria o primeiro a defender o uso das TIC com todos os seus gadgets no ambiente escolar, ensinado o aprendiz a ser um cidadão do mundo.

Interessante a fala de Freire ao referenciar o uso das tecnologias na prática pedagógica. “[...] nunca fui ingênuo apreciador da tecnologia: não a divinizo, de um lado, nem a diabolizo, de outro. Por isso, sempre estive em paz para lidar com ela” (FREIRE, 1996, p. 97). Sua prática reflexiva e transformadora busca contribuir no processo de transformação social (FREIRE, 1993), pois ser professor de jovens e adultos implica em um compromisso constante com as práticas sociais (FREIRE, 1998).

A internet, o uso das TIC em geral, são ferramentas que fazem parte da sociedade atual e para a utilização desta no processo educacional, requerem uma pedagogia crítica e reflexiva, pois na maioria das vezes os conteúdos veiculados neste meio de comunicação necessitam de uma verificação quanto à veracidade das informações e real aproveitamento no “saber ser” e “saber conhecer” (MORIN, 2007). Muitas vezes o conteúdo midiático caracteriza-se pela superficialidade e fragilidade.

Então, propor uma pedagogia crítica é não acreditar cegamente na informação apresentada e aprender a buscar fontes virtuais consistentes com uma base técnica e científica. Essa postura é fundamental, para que os professores possam avaliar

suas ações metodológicas e desenvolver projetos com uma metodologia virtual colaborativa.

A competência para utilizar as novas tecnologias pressupõe novas formas de se relacionar com o conhecimento, com os outros e com o mundo, em uma perspectiva colaborativa. O professor deve ir além de cursos de formação, o professor deve construir reflexões práticas para realmente utilizar a tecnologia na educação escolar, criar situações que façam sentido ao educando, assim, gerando produções escolares significativas.

Para Freire (1988, p. 96):

A educação constitui-se em um ato coletivo, solidário, uma troca de experiências, em que cada envolvido discute suas ideias e concepções. A dialogicidade constitui-se no princípio da relação entre educador e educando. O que importa é que os professores e os alunos se assumam epistemologicamente curiosos.

Parafraseando Freire (1997) ao se fazer uma analogia em relação ao cozinheiro que para ser um bom profissional precisa conhecer as modernas técnicas da arte de cozinhar, saber para quem, por que, como, contra quem e a favor de quem cozinho podemos dizer então que o professor deve saber usar os gadgets para saber com qual finalidade estas ferramentas serão incorporadas ao processo ensino aprendizagem, pois se assim não fizermos, estaremos lutando contra estas novas tecnologias, aplicando um sistema tradicional em sala de aula num paradigma tradicional de ensino, não tornando nossos alunos seres pensantes e críticos (FREIRE, 2001).