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2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

2.1 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO

Com suas potencialidades e fragilidades, a educação de adultos tem uma história feita de muitas histórias, no Brasil, na América Latina e nos demais continentes e,

cada uma com suas peculiaridades, nas quais o esforço por construir uma identidade própria é uma constante.

A partir de 1947 tivemos no Brasil, as primeiras políticas públicas nacionais destinadas à instrução dos jovens e adultos. Esta aconteceu a partir do estruturamento do Serviço de Educação de Adultos do Ministério da Educação e teve início a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA). Em 1952 tivemos a Campanha Nacional de Educação Rural, em 1952, e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo, em 1958.

A realidade é que, apesar da implantação, críticas contumazes lhes eram dirigidas devido ao caráter superficial do aprendizado que se efetivava num curto período de tempo e a inadequação dos programas, modelos e materiais pedagógicos, que não consideravam as especificidades do adulto e a diversidade regional (GALVÃO e SOARES, 2004).

Durante a ditadura militar (décadas de 60 e 70, até meado de 80) a educação de jovens e adultos, promovida pelo governo, promovia a manutenção da coesão social e a legitimação do regime autoritário. A visão que se passava aos brasileiros e a do mito de uma sociedade democrática em um regime de exceção (DI PIERRO, 2001). Em 1971 a escolarização de jovens e adultos ganhou a feição de ensino supletivo. Nes ano também foi criado o Mobral - Movimento Brasileiro de Alfabetização que foi extinto em 1985 e substituído pela Fundação Educar9.

Essa política teve curta duração, pois em 1990 o governo Collor extinguiu a Fundação Educar, não criando nenhuma outra que assumisse suas funções. Tem- se, a partir de então, a ausência do Governo federal como articulador nacional e indutor de uma política de alfabetização de jovens e adultos no Brasil (SOARES, 2003).

9 O MOBRAL surgiu durante o período militar com a finalidade única de desenvolver açõe de alfabetização. Logo após a queda do regime militar este foi substituído pela Fundação EDUCAR que por sua vez foi extinta em 1990 pelo governo Collor. A Fundação Educar exercia a supervisão e o acompanhamento junto às instituições e secretarias que recebiam os recursos transferidos para execução de seus programas.

Ainda no período militar, um movimento de rearticulação da sociedade civil e de resistência ao regime militar, organizou-se fora do controle governamental. Comunidades eclesiais de base, associações de moradores, organizações de trabalhadores urbanos e rurais, entre outros. Estes movimentos, orientados por valores como justiça e eqüidade, e com o sonho de reconstruir a democracia preocupavam-se com ações educativas voltadas para jovens e adultos. Esta corrente, conhecida como educação popular, filiada às concepções freireanas foi uma grande impulsionadora da democracia (HADDAD e DI PIERRO, 2000).

Nas décadas de 70 e 80 a ideia de educação de jovens e adultos como prática política para que estes engajem como grupos populares na luta política para transformação das estruturas sociais produtoras da desigualdade ganhou força. Isto aconteceu através do reconhecimento dos jovens e adultos como membros das classes populares, excluídos não só do sistema escolar regular, mas de outros módulos de educação (GALVÃO e SOARES, 2004).

Houve então a interação não apenas a partir das teorias sociológicas sobre o papel da educação na reprodução, ou na superação das desigualdades sociais, mas também de experiências diversas, entre as quais se incluíam não só a alfabetização e o Ensino Fundamental, mas também iniciativas de educação popular realizadas em parceria com movimentos populares, grupos comunitários, igrejas e sindicatos. Temos aqui a importância da educação libertadora, da educação para a vida, que Freire (1963, p. 27) usou nos primórdios da década de 60, ao utilizar as palavras “Casa, Tijolo e Trabalho” para a alfabetização de 300 adultos. Estas não são mais meras palavras do cotidiano da maioria dos brasileiros, mas cada uma delas é uma palavra base que contém a força transformadora do verdadeiro aprendizado semântico envolto nestas. Nessa tradição da educação popular, deu-se especial atenção à transformação de valores e atitudes dos aprendizes e à tomada de posturas críticas e participativas diante da realidade social do país e do mundo. Vemos então a tomada de um enfoque às necessidades de aprendizagem dos jovens e adultos, principalmente aquelas relacionadas à sua inserção no mundo do trabalho, para o exercício da cidadania, para a promoção da qualidade de vida e do convívio na comunidade e na família, ou seja, os saberes necessários para a

educação do futuro (MORIN, 2007). A educação de jovens e adultos obriga os educadores a focalizar sua ação pedagógica no presente, enfrentando de forma mais radical a problemática envolvida na combinação entre formação geral e profissional, entre teoria e prática, universalismo e contextualização.

É necessário considerar mais um aspecto fundamental para a formação de educadores capazes de promover uma educação de jovens e adultos, mais eficaz e acessível ao público que a ela tem direito: trata-se da necessidade de desenvolver competências para atuar com novas formas de organização do espaço-tempo escolar, buscando alternativas ao ensino tradicional baseado exclusivamente na exposição de conteúdos por parte do professor e avaliação somativa do educando (MANFREDI, 1998).

Os professores de jovens e adultos devem estar aptos a repensar a organização disciplinar e de séries. Os jovens e adultos merecem experimentar novos meios de aprendizagem e progressão nos estudos, que não aqueles que provavelmente os impediram de levar a termo sua escolarização anteriormente. A educação deve ser libertadora tendo como proposta a busca pela igualdade apostando numa educação que tem como pressuposto o diálogo, em que todos têm direitos e deveres a cumprir, a voz de todos deve ser ouvida, a educação deve ser mútua (FREIRE, 1996).

Além disso, vemos que, em diversos estudos sobre a educação de jovens e adultos, as aprendizagens mais valorizadas pelos educandos que concluem seus estudos encontram-se no terreno das atitudes. Sabendo que os conteúdos atitudinais dependem de experiências sociais carregadas de afetividade (KRASHEN, 1988) é inevitável ponderar também os limites de propostas de ensino que não promovem interações sociais (SARABÍA, 1992).

Criar novas formas de promover aprendizagens fora dos limites da organização escolar tradicional é, portanto, uma tarefa que impõe antes de mais nada um enorme desafio para os educadores. Romper o modelo de instrução tradicional implica um alto grau de competência pedagógica, pois para isso o professor precisará decidir, em cada situação, quais formas de agrupamento, sequenciação, meios didáticos e interações propiciarão o maior progresso possível dos educandos, considerando a

diversidade (GUIDELLI, 1996) que inevitavelmente caracteriza o público da educação de jovens e adultos.

Perrenoud (1999), em sua Pedagogia diferenciada, nos diz que os mecanismos sociais que geram desigualdades e exclusão são complexos e difíceis de transformar, pois a promoção de uma distribuição mais igualitária do conhecimento por meio da educação é uma tarefa desafiadora tanto para os educadores como para os pesquisadores e teóricos. E, no processo de democratização da educação é preciso que educandos, professores, acadêmicos e representantes da sociedade possam opinar e compartilhar conhecimentos (FREIRE, 1967, 1970, 1979, 1983) em busca da verdadeira construção para a formação de jovens e adultos.

Vivemos num contexto marcado por profundas e rápidas mudanças sociais, culturais e econômicas, por isto temos que reconhecer o papel primordial da iniciativa de todos na promoção da educação de jovens e adultos que respondam as suas verdadeiras necessidades educativas.

Como o filósofo grego Sócrates disse: “só sei que nada sei”, ele chegou à conclusão que a sabedoria ultrapassa nossos limites e não temos como percebê-la na sua totalidade. O verdadeiro sábio é aquele que se coloca na posição de eterno aprendiz.

É necessário que estejamos sempre a pensar e repensar esta construção para a formação de adultos, pois no mundo globalizado em que vivemos, aquele que detém o conhecimento tem a fórmula da sobrevivência no mundo corporativo. As habilidades para o século XXI, para este novo milênio que começou vão além do saber como mero depositório de conhecimento.

É o saber comunitário, é o saber ambiental, é o saber cooperativo, é o saber globalizado, formando cidadãos do mundo, pois o saber compartilhado transcende idades, quem ensina e quem é ensinado. É troca e compartilhamento de saberes em todos os espaços, como vemos na Fotografia 1 a seguir;

Fotografia 1 - Aprendizagem de jovens: compartilhamento de saberes

Fonte: Dia Nacional do Livro no Campus São Mateus do Ifes, 2014.

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2.2 ENSINO TÉCNICO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL: A TVET E A EDUCAÇÃO