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3 PAULO FREIRE: EDUCAR É LIBERTAR O EDUCANDO

3.2 EDUCAÇÃO LIBERTADORA: PELO BEM DO POVO E PARA O POVO, DEIXO

DEIXO DE SER O OPRIMIDO QUANDO APRENDO UMA SEGUNDA LÍNGUA PARA EMPREGABILIDADE NO MUNDO DO TRABALHO

Aula de inglês! Que entre o professor: Good morning everybody!!! Ele diz. Respondem os alunos, uns com veemência, outros com descaso, uns apáticos, outros agitados: Good morning, teacher! Resposta esta já naturalmente

automatizada pela repetição do cotidiano. Open your books! Ele acrescenta: alguns abrem seus livros rapidamente, outros não, alguns os esqueceram, outros vão procura-los em meio a um emaranhado de objetos perdidos dentro da mochila. Começa então a aula... O professor mais uma vez pergunta à turma: - Is this an

elephant? E assim continua a crônica nos deleitando com uma interessante visão

áudio-lingual de uma aula de inglês. Visão esta que, apesar de décadas terem se passado do lançamento desta crônica a metodologia tradicional de ensino de línguas ainda é a que é abordada, mesmo considerando que os PCNs13 (Parâmetros Curriculares Nacionais) devem fazer parte da prática cotidiana do docente para este, o professor deverá possibilitar ao aluno o conhecimento sobre sua língua materna, por meio de comparações com a língua estrangeira em seus vários níveis (PCN, 2015).

Esta expressão imediatamente me lembra o grande cronista brasileiro, Rubem Braga14, que com sua crônica, “Aula de Inglês” nos mostra através de diálogos surrealistas a figura de objetos como cinzeiro, livro e lenço a realidade marcante das aulas de inglês na maioria das escolas e repetida pelos professores de inglês de geração em geração. A zona de conforto da repetição e cercar-se de vocabulário curto e sem correlação com a realidade do aluno ainda é o que impera em nossas aulas.

Mas, voltando a mais uma parte da aula de inglês de Rubem Braga, com sua crônica “Aula de Inglês”, extraída do livro "Um pé de milho"15 (1964, p. 33):

- Is this an elephant? Minha tendência imediata foi responder que não; mas a gente não deve se deixar levar pelo primeiro impulso. Um rápido olhar que lancei à professora bastou para ver que ela falava com seriedade, e tinha o ar de quem propõe um grave problema. Em vista disso, examinei com a maior atenção o objeto que ela me apresentava.

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No Brasil, os PCNs são diretrizes elaboradas pelo Governo Federal com o objetivo principal de orientar os

educadores por meio da normatização de alguns fatores fundamentais concernentes a cada disciplina. Esses

parâmetros abrangem tanto a rede pública, como a rede privada de ensino, conforme o nível de escolaridade dos alunos. http://www.cpt.com.br/pcn/pcn-parametros-curriculares-nacionais.

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Rubem Braga (1913 – 1990). Textos com extrema simplicidade literária, que o torna o maior expoente do seu gênero e uma das grandes influências da literatura brasileira. http://revistaescola.abril.com.br/fundamental- 2/rubem-braga-maior-cronista-brasileiro-seculo-20-730755.shtml

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Rubem Braga com seu humor inteligente, demonstra como as habilidades orais, se equivocam quando ao fazer com que o aluno pratique frases com foco exclusivo na forma e sem nenhuma correspondência com a vida real, utilize vocabulário que não faz parte de sua realidade, que não faz parte do mundo do trabalho.

Por fim, no final da crônica, Rubem Braga (1964, p. 33) escreve:

Retirei-me imensamente satisfeito daquela primeira aula; andei na rua com passo firme e ao ver, na vitrine de uma loja, alguns belos cachimbos ingleses, tive mesmo a tentação de comprar um. Certamente teria entabulado uma longa conversação com o embaixador britânico, se o encontrasse naquele momento. Eu tiraria o cachimbo da boca e lhe diria: ─ It’s not an ashtray! E ele na certa ficaria muito satisfeito por ver que eu sabia falar inglês, pois deve ser sempre agradável a um embaixador ver que sua língua natal começa a ser versada pelas pessoas de boa-fé do país junto a cujo governo é acreditado.

Rubem Braga nos põe a refletir sobre o verdadeiro sentido da aprendizagem de um idioma, e Freire, com seu discurso libertador de formas e ideologias pré- estabelecidas poderá nos nortear na construção de um Manual Didático que não seja pautado na mera repetição de vocabulário e expressões que não sejam autênticas e utilizadas no cotidiano do aprendiz.

Muitos programas, metodologias e abordagens diferentes foram introduzidas no sistema de ensino para expandir e melhorar a qualidade da formação continuada de professores e instrutores de jovens e adultos, não só em relação ao ensino da língua inglesa, que é o objeto da questão desta tese, mas relacionadas a todos os seguimentos do mundo do trabalho.

Esses novos programas baseados em metodologias e abordagens que valorizem o conhecimento dos jovens e adultos podem tornar-se cursos de curta, média ou longa duração, dependendo da urgência de adaptação às necessidades do mundo do trabalho. Eles em sua essência devem agora ser criados e planejados para concentrar-se nos aprendizes, apoiá-los ao longo da vida, ajudando a fazer escolhas de vida e de carreira.

Consideremos também o que nos orienta o PCN (2015) de Língua Estrangeira, que enfatiza que ao ensinarmos uma língua estrangeira, devemos considerar a sua natureza sociointeracional, pois quem a usa considera aquele a quem se dirige ou quem produziu um enunciado.

De acordo com o relato de Marope, Chakroun e Holmes (2015, p. 128):

Diversas ações no período analisado buscaram empoderar os aprendentes. Primeiro, esse processo envolveu a produção de conhecimento e habilidades úteis de que aprendentes mais jovens ou mais velhos precisam. Segundo, exigiu a criação de uma gama mais ampla de oportunidades de TVET para um número maior de cidadãos no papel de aprendentes, por meio do desenvolvimento de políticas para promover oportunidades iguais e da atenção a grupo cujas necessidades sociais podem ser claramente estabelecidas e combatidas por meio da TVET. Terceiro, o empoderamento de aprendentes centrou-se em uma TVET inovador, sustentável e contínua como forma de apoiar sociedade e culturas nas quais os cidadãos se veem como aprendentes ao longo de toda a vida. A aprendizagem tem sido considerada cada vez mais parte integral do desenvolvimento e da inovação pessoais, além de ser vista como elemento essencial para a adaptação a circunstâncias em constante mudança e o bem-estar em geral.

A UNESCO (2004) nos diz:

Uma vez que a educação é considerada a chave para estratégias eficazes de desenvolvimento, a educação e formação técnica e profissional (TVET) deve ser a chave-mestra para aliviar a pobreza, promover a paz, preservar o meio ambiente, melhorar a qualidade de vida para todos e ajudar a alcançar o desenvolvimento sustentável.

Na educação brasileira, Freire (1963, 1989) ressaltou e defendeu a importância dos saberes, técnicos e científicos, defendeu também como usá-los na educação, pois esta não se reduz a técnicas e mais técnicas de ensino aprendizagem a que são submetidos nossos aprendizes e nós mesmos, professores, que estamos sempre a aprender e aprendendo a aprender.

Para Freire (1963, 1968), a educação só acontece realmente quando, ao final do processo educativo, onde o aluno não tem mais acesso aos processos formais de aprendizagem, este lembra-se de utilizar o que aprendeu em seu benefício e em prol de sua comunidade, exercendo sua cidadania plena, se tornando livre da opressão do saber tecnicista e de banca e sabendo fazer escolhas na vida que o levem à realização pessoal, se não plena, pelo menos, consciente de seus direitos e deveres como ser que pensa e, utilizar da tecnologia na educação, em lugar de reduzir, e diminuir conceitos pode expandir a capacidade crítica e criativa de nossos aprendentes. Dependendo de quem o usa, a favor de que e de quem e para quê. A verdadeira educação popular e libertadora se constrói a partir de uma educação problematizadora, alicerçada no diálogo crítico, libertador, na tomada de consciência da condição existencial. A preparação para a vida pressupõe saber comunicar com significado, saber expressar-se e dar voz ao pensamento (FREIRE, 1983).

Freire (1983, p.45) pontua que:

Comunicar é comunicar-se em torno do significado significante. Desta forma na comunicação não há sujeitos passivos. Os sujeitos co-intencionados ao objeto de seu pensar se comunicam seu conteúdo. O que caracteriza a comunicação enquanto este comunicar-se comunicando, é que ela é diálogo, assim como o diálogo é comunicativo.

Sendo assim, “o homem concreto deve se instrumentar com o recurso da ciência e da tecnologia para melhor lutar pela causa de sua humanização e de sua libertação” (FREIRE, 2001a, p.98). É simples assim, pois […] “a democratização da cultura tem de partir do que somos e do que fazemos como povo e não do que pensam e queiram alguns para nós” (FREIRE,1976, p.41).

4 IMPORTÂNCIA DO ENSINO DO VOCABULÁRIO NA EDUCAÇÃO DE