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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 O FENÔMENO DAS BORN GLOBALS

2.3.4 As born globals e a necessidade de programas de apoio

O crescimento das empresas, born globals ou não, no mercado externo, muitas vezes é restringido por fatores como credibilidade, informação de mercado, tecnologia, acesso a financiamentos e, principalmente, pela falta de visão inovadora e internacional. Em virtude disso, ao elaborar políticas futuras, os governantes devem se preocupar mais com a criação de um ambiente que pudesse auxiliar indivíduos capacitados a construir empresas internacionais pequenas, dinâmicas e adaptáveis, do que com o aprimoramento e proteção do desempenho de firmas individuais nos mercados globais (MOEN, 2002; RENNIE, 1993).

Contudo, há um claro sentimento de que os programas tradicionais, desenhados para empresas de manufatura e de lenta internacionalização, não parecem estar adequados para as demandas de pequenos e novos empreendimentos internacionais de rápido crescimento (CRICK e JONES, 2000; FREEMAN et al., 2006; KNIGHT e CAVUSGIL, 2005; MOEN, 2002).

Para Freeman et al. (2006), pouca atenção ainda tem sido dispensada aos aspectos que restringem a atuação das BG no mercado internacional. Dos fatores que impulsionaram o surgimento do fenômeno das empresas BG, alguns ainda representam obstáculos, principalmente para as pequenas empresas BG. A falta de expertise para identificar oportunidades e executivos especializados em operações internacionais são algumas das limitações para as pequenas BG (JOHNSON, 2004).

Assim, os governos nacionais poderiam fornecer meios e incentivos a fim de aumentar a experiência em trabalho internacional dos líderes de negócios, bem como ajustar leis fiscais para aquelas firmas que precisam de quadro profissional no exterior, em períodos determinados. Além disso, a criação de um fundo de apoio a atividades de desenvolvimento e pesquisa poderia criar melhores condições para as empresas elevarem a variedade e quantidade de produtos com apelo internacional (BLOODGOOD et al., 1995).

Aliado às conclusões de um estudo realizado por McDougall e Oviatt (1996), que destacavam que as agências governamentais deveriam atentar aos incentivos à internacionalização das empresas de um país, uma vez que, na opinião dos autores, os investimentos deveriam ser dirigidos a setores com maior possibilidade de sucesso, Bell, McNaughton e Young (2001) apresentaram algumas preocupações com relação às políticas públicas dirigidas a pequenas empresas. O seu estudo concluiu que existiam grandes diferenças no comportamento do processo de internacionalização entre empresas tradicionais e born globals: estas últimas, intensivas em conhecimento ou serviços, apresentavam grandes

diferenças em relação àquelas empresas que seguiam um processo de internacionalização tradicional, no sentido de objetivos da internacionalização, padrões e velocidade da internacionalização, estratégias internacionais entre outras.

Para exemplificar estes desafios de formulação de programas adequados às empresas de rápida internacionalização, Oviatt e McDougall (1995), em um estudo com executivos americanos e europeus de novas empresas globais, perceberam que o financiamento era um

driver importante para estimular a internacionalização de seus negócios. Nesse estudo, os

executivos norte-americanos destacaram que a oferta de financiamento internacional estimulou o crescimento de empreendimentos globais. Por outro lado, executivos europeus reclamavam da falta de fontes de financiamento em seus países de origem para promover suas estratégias internacionais.

No estudo que Knight e Cavusgill (2005) realizaram com empresas born globals (BG) norte-americanas, ficou evidenciado que as empresas mais jovens e menores, de um grupo de 365 organizações pesquisadas, sofrem com a escassez de recursos financeiros, humanos e tangíveis que reduzem sua competitividade internacional. Os autores destacam que, mesmo com os avanços tecnológicos e a possibilidade de alianças internacionais, há uma chamada clara para as políticas públicas de apoio a este tipo de empresa. Contudo, trata-se de outra forma de apoio, desvinculada dos tradicionais mecanismos desenvolvidos para empresas exportadoras tradicionais. Para Knight e Cavusgill (2005), o apoio às empresas BG requer um novo tipo de conjunto de programas de apoio à exportação, focado mais em treinamentos sobre estratégias de internacionalização.

Por outro lado, Gabrielsson et al. (2004) apontaram em seu estudo que empresas BG, pelas suas restrições de recursos e pelas necessidades impostas pela rápida internacionalização, necessitam de fontes de financiamento para o seu desempenho no exterior. Estas fontes de financiamento podem tanto ser públicas ou privadas como internas (domésticas) ou externas. Da mesma forma, Oviatt e McDougall (1995) argumentam que novas empresas globais necessitam de fontes de financiamentos para estimular a internacionalização de seus negócios. Freeman et al. (2006), em um estudo com pequenas empresas australianas, descobriram que a falta de recursos financeiros é uma restrição à rápida internacionalização. Moini (1998) destaca, também, que a falta de incentivos financeiros limita a atividade exportadora de pequenas empresas.

Moen (2002), em um estudo transnacional com 335 empresas norueguesas e 70 empresas francesas, buscou identificar características distintivas entre empresas BG e NBG. O pesquisador apontou que as empresas BG necessitam de programas de assistência voltados

para gerar inovação e para empresas que ainda não têm uma posição consolidada no mercado doméstico, mas que competem internacionalmente. Moen (2002) salienta que muitos programas oficiais de apoio à exportação são dedicados a empresas que estão iniciando suas exportações, mas que já têm uma posição sólida no mercado doméstico, em que atuam há muito tempo.

Crick e Jones (2000) já alertaram em seu estudo, que procurou investigar a internacionalização de pequenas empresas de alta tecnologia, para o fato de que os programas de apoio não estão adequados para a realidade destas empresas que se envolvem com estratégias mais complexas de internacionalização. A busca por alianças de pesquisa e desenvolvimento (P&D), por exemplo, deveria ser apoiada por um conjunto de mecanismos oficiais de suporte. Da mesma forma, os autores apontam que pequenas empresas de alta tecnologia precisam, muitas vezes, da consultoria de especialistas em negócios internacionais. Esse aspecto indica claramente um exemplo de intervenção oficial no incremento de negócios internacionais (CRICK e JONES, 2000).

Seringhaus (1989) sugere que as missões empresarias são uma grande oportunidade para empresas menores e pouco experientes em mercados externos ganharem em conhecimento sobre mercados e parceiros comerciais. Dessa forma, pode-se depreender que empresas BG podem se beneficiar das missões de negócios no exterior, identificando potenciais parceiros para futuras alianças. Nesse sentido, organismos oficiais de apoio podem identificar parceiros mais adequados e confiáveis no exterior.

Czinkota (2002, p.318) coloca uma questão: “os programas de apoio às exportações estão em uma encruzilhada ou em um beco sem saída?” O próprio autor parece responder a esta pergunta, principalmente para as empresas BG e empresas engajadas em estratégias de maior envolvimento no exterior que não apenas pelo modo de exportação. Ele (2002) argumenta que os governos devem prestar mais atenção à natureza colaborativa da internacionalização das empresas e dos avanços em tecnologias de informação, que mudaram o envolvimento das empresas com o mercado externo.

Ainda, como as empresas de serviços e as born globals adotam estratégias mais complexas do que a simples exportação de produtos, Gourlay et al. (2005) recomendam que as políticas de apoio formuladas para empresas de serviços e àquelas de alto envolvimento com exterior, devem ser distintas das políticas destinadas a empresas de manufatura que se internacionalizam com estratégias de menor envolvimento.

Dessa forma, a velocidade maior da internacionalização das born globals poderia representar um importante desafio para os formuladores de políticas de apoio à

internacionalização de empresas, tanto em relação a prover assistência de modo oportuno quanto em relação à natureza do apoio fornecido, de modo que as políticas para a internacionalização de pequenas empresas requisitariam reconsiderações fundamentais para melhor atenderem às reais necessidades de apoio às born globals.