• Nenhum resultado encontrado

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 O FENÔMENO DAS BORN GLOBALS

2.3.1 Elementos identificados entre EI e BG

Um ponto comum que permeia a análise das duas correntes teóricas (empreendedorismo internacional e born globals) é o fato de que se está falando de campos ainda não exaustivamente definidos ou demarcados. Alguns pesquisadores defendem a ideia de que a conceitualização do EI deve ser ampliada para não restringir e fechar a área (ACS et

al., 2003). Outros argumentam que a maior deficiência do empreendedorismo internacional é

a falta de uma sólida estrutura teórica que possa ser monitorada para se evitar uma exagerada fragmentação nesta área (MCDOUGALL e OVIATT, 2000). Contudo, há o risco de estreitar o campo do EI e conduzir a trabalhos meramente descritivos sem a construção de um corpo teórico de suporte (YOUNG et al., 2003). Jones e Coviello (2005) e Oviatt e McDougall (2005) percebem claramente a necessidade de integrar a literatura de internacionalização de empresas e o empreendedorismo para explicar teoricamente o fenômeno das empresas BG.

Por mais que as correntes teóricas do empreendedorismo internacional e o fenômeno das born globals pareçam interligados, há elementos que são centrais na construção destes campos de investigação que os distinguem entre si. No caso do empreendedorismo internacional, os antecedentes deste termo situam-se no comportamento empreendedor do

fundador da empresa ou principal gestor, sua capacidade de criar valor e assumir riscos em negócios novos estabelecidos longe das fronteiras domésticas (OVIATT e MCDOUGALL, 2005; ZAHRA, 2005). A cultura empreendedora da organização também desempenha papel central nesta teoria da internacionalização, destacando-se a capacidade de estabelecer alianças e levar as vantagens competitivas do domínio de ativos únicos da empresa para outros mercados.

De acordo com Oviatt e McDougall (2005), a rapidez ou a lentidão do comportamento internacional de um empreendimento não pode ser explicada apenas por medidas objetivas de tecnologia e competição. A velocidade neste empreendimento internacional, elemento chave nas empresas BG, só pode ser explicada ou mediada quando se coloca a figura do empreendedor do negócio. Assim, segundo estes autores, é por meio das lentes das características pessoais do empreendedor que uma oportunidade de negócio no exterior é descoberta e explorada. A figura 1 a seguir integra estas perspectivas.

Figura 1 – Um modelo de forças influenciando a velocidade de internacionalização Fonte: Oviatt e McDougall (2005, p.541)

Este ponto de convergência entre a corrente teórica do empreendedorismo internacional e do fenômeno das born globals não é amplamente discutido na literatura sobre os dois temas. O comportamento empreendedor observado em grandes empresas pode ser

Disponível Tecnologia Oportunidade empreendedora Motivação Competição Mediação Percepções empreendedoras do ator Moderador Conhecimento *Mercado externo *Intensidade Velocidade de internacionalização *Entrada inicial *Escopo do país *Comprometimento Moderador Relacionamento em rede *Força do vínculo *Tamanho da rede *Densidade da rede

idêntico ao comportamento empreendedor de executivos das pequenas e novas empresas internacionais; porém, ambas correntes não dão conta suficientemente de entender este fenômeno. Isso leva a crer que são teorias complementares entre si, mas não excludentes (MTIGWE, 2006).

Os desenvolvimentos na literatura sobre o empreendedorismo internacional apontam para o fato de que seu foco de estudo é muito similar à literatura sobre born global. Os empreendimentos com acelerada internacionalização são tidos como um novo tipo de empresa, porém, a perspectiva do empreendedorismo internacional se detém mais profundamente na pessoa do empreendedor, suas características pessoais e formas de atuação no mundo globalizado (SIMÕES e DOMINGUINHOS, 2005).

Alguns traços do comportamento empreendedor em negócios internacionais, aqui entendidos como cultura organizacional, estão presentes no campo do EI e nas recentes pesquisas sobre o fenômeno das BG. Estes traços seriam a motivação internacional ou a posse de uma visão internacional dos executivos e empregados de uma empresa e, de maneira complementar, a capacidade de estabelecer alianças formais e informais (DIMITRATOS e PLAKOYIANNAKI, 2003, MADSEN e SERVAIS, 1997; OVIATT e MCDOUGALL, 1995).

Por outro lado, as borns globals situam-se como um fenômeno contemporâneo e seus antecedentes fundamentam-se nos fatores do ambiente externo da organização, como os avanços tecnológicos em transporte, comunicação, computação, internet e a globalização financeira, associados ao comportamento empreendedor do principal executivo. Assim, a maneira acelerada com que a empresa internacionaliza suas atividades é reflexo do contexto competitivo externo à organização, combinado com a dimensão atitudinal do empreendedor (ANDERSSON e WICTOR, 2003; RIALP et al., 2005).

Os elementos de convergência dessas duas correntes teóricas parecem situarem-se no tamanho da empresa, ou seja, são correntes que explicam a internacionalização de pequenas e médias empresas, no domínio de ativos únicos ou especializados e no comportamento empreendedor da organização. Entretanto, o empreendedorismo internacional não é exclusivo de pequenas e médias empresas, o que já não ocorre no fenômeno das empresas born globals (OVIATT e MCDOUGALL, 2005; RUZZIER et al, 2006).

De maneira precária e resumida, pode-se dizer que há duas palavras-chave para cada uma das abordagens teóricas. Para o empreendedorismo internacional: comportamento e cultura organizacional. Para o fenômeno das born globals: contexto e velocidade. Como elementos centrais na análise das duas correntes, destacam-se no empreendedorismo

internacional a figura do empreendedor e o comportamento empreendedor na organização e, no fenômeno das born globals, o tamanho da organização, as condições do ambiente externo, a velocidade, o ritmo e o modo de internacionalização.

O quadro 4 a seguir, de maneira resumida, destaca a origem ou marco teórico que constituiu os dois campos de investigação, as palavras-chaves e os elementos que análise que distinguem as correntes teóricas do EI e das empresas BG.

Correntes teóricas Origem Palavras-chaves Elementos de Análise

Empreendedorismo Internacional

Empreendedorismo Comportamento e cultura Organizacional

Empreendedor e o comportamento empreendedor da

organização

Born global Contraposição aos modelos U e I de internacionalização de

PME’s

Contexto e velocidade Tamanho da organização, as condições do ambiente externo, a velocidade, o ritmo e o modo de internacionalização Quadro 4 – Características distintivas entre o EI e as BG

Fonte: elaborado pelo autor da pesquisa

O quadro 5 a seguir apresenta, sinteticamente, os elementos que são comuns e identificados nas duas correntes teóricas do processo de internacionalização de empresas, porém, fazendo uma distinção quanto à prevalência dos elementos em cada uma destas correntes.

Elementos identificados Born Global Empreendedorismo

Internacional

Orientação internacional XX XX

Comportamento empreendedor X XX

Relacionamento em redes XX XX

Tamanho da empresa (pequeno e médio porte) XX X

Domínio de ativos específicos XX X

Idade da empresa XX X

Velocidade de internacionalização XX XX

Mudança no ambiente competitivo (contexto) XX X

Quadro 5 – elementos identificados com BG e EI X – elemento identificado com a corrente teórico

XX – elemento fortemente identificado com a corrente teórica Fonte: elaborado pelo autor da pesquisa

O que se depreende da análise das duas correntes teóricas analisadas (EI e BG) é o fato de que estão no estado-da-arte no campo dos negócios internacionais e que muitos elementos do empreendedorismo internacional, como motivação internacional, as redes formais e

informais, estão presentes no fenômeno das empresas born globals, sendo que este último trata-se de um fenômeno mais recente (DIMITRATOS e PLAKOYIANNAKI, 2003; MTIGWE, 2006; OVIATT e MCDOUGALL, 2005).