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As Comemorações e os Tempos Livres

No documento A vivência em internato (páginas 75-78)

Capítulo III: Os Modelos de Acolhimento de Crianças e Jovens em Regime de Internato

2. Os Modelos de Acolhimento em Portugal

2.3 O Acompanhamento e a Gestão dos Educandos

2.3.1 As Comemorações e os Tempos Livres

Sendo um dos objectivos do lar a satisfação de todas as necessidades básicas das crianças/jovens que acolhem no sentido de contribuir para a sua valorização integral, tornou-se relevante analisar o modo como os tempos livres destas crianças são ocupados pelas instituições.

Em primeiro lugar, e no sentido da promoção do bem-estar das crianças/jovens que acolhiam, constatou-se que a quase totalidade destes lares organizavam festas comemorativas.

As ocasiões mais frequentemente comemoradas por estas instituições de acolhimento tinham origens religiosas: o Natal era celebrado na quase totalidade dos lares e a Páscoa por um número elevado destas instituições. A esta constatação não será alheio o facto de uma fatia significativa dos lares de crianças/jovens no contexto português serem instituições canonicamente aprumadas. O Carnaval (também de origem religiosa) surgiu como a terceira festividade mais comemorada: larga maioria destes lares promoviam festas de Carnaval para as crianças acolhidas. A entrada no Ano Novo e o encerramento do ano escolar eram, igualmente, momentos comemorados por grande parte destas instituições, o primeiro celebrado em metade dos lares e o último em menos de metade. Existiam ainda outras festas comemoradas pelos lares que foi possível agrupar em Festas Religiosas Diversas (Dia da Sagrada Família, Dia da Imaculada Conceição, Festa da Gratidão, Eucaristia, Dia de Reis, Dia do(a) Padroeiro(a)/Fundador(a) da Instituição), Festas da Família (Dia da Criança, Dia da Mãe, Dia do Pai), Festas do Ciclo Anual (Festa da Primavera, do Verão, do Outono, da Espiga, da Árvore, Dia das Bruxas, Dia de S. Martinho, Festas dos Santos Populares), Comemorações das Etapas de Vida das Crianças/Jovens (Baptizados, Comunhões, Profissões de Fé, Crismas, Casamentos, Festa do Caloiro, Fins de Curso, Maioridade15), Aniversário das Instituições, Aniversário das Crianças/Jovens Acolhidos, entre outras.

Os aniversários das crianças que vivem em lar serão, possivelmente, as comemorações que mais implicação têm para cada um dos acolhidos (aqueles para quem, no dever ser da instituição, deve estar votada a sua existência), na medida em que, tornando-os o motivo da comemoração, contribuirão para a constituição, reforço e valorização positiva das suas identidades individuais.

A maioria dos lares celebrava os aniversários das crianças acolhidas mensalmente e em grupo, ou seja, promoviam, todos os meses, uma festa para comemorar a data do nascimento de todas as crianças que, naquele mês, registam o seu aniversário. Esta era a forma de celebração natalícia adoptada em mais de metade das instituições, que decorreria da tentativa de fazer rentabilizar os seus recursos. Outros lares celebravam os aniversários das crianças/jovens acolhidas individualmente, nas respectivas datas de nascimento, menos de metade do total destas instituições. Existiam, também, lares nos quais não se celebravam os aniversários dos acolhidos.

Na maioria dos lares de crianças/jovens era organizada uma festa de aniversário por iniciativa do lar; num número bastante elevado destas instituições, em simultâneo ou não com a referida festa de aniversário, era oferecido um presente ao(s) aniversariante(s)16; nalguns lares a iniciativa de comemoração dos aniversários partia das próprias crianças/jovens acolhidas. Estas festas, quer de aniversário quer as restantes (ao menos nalgumas situações) eram, num número significativo de lares, abertas à comunidade envolvente. Esta participação da comunidade nos momentos comemorativos da instituição indicou alguma abertura dos lares ao exterior.

Os tempos livres semanais atingiam o culminar ao fim-de-semana. Na maior parte das situações, as crianças/jovens que viviam nos lares passavam os fins-de-semana nas instituições com actividades por estas proporcionadas17 ou com as suas famílias de ori- gem18. Outras crianças acolhidas institucionalmente passavam os fins-de-semana fora do lar, com outras pessoas que não os seus familiares directos. Outras instituições pro- porcionavam fins-de-semana passados com familiares de colegas que com eles residiam no lar. Existiam também lares onde as crianças/jovens neles acolhidos passavam os fins-de- semana no lar sem actividades organizadas. Esta diversidade de formas de passar o fim-de-

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De salientar que a totalidade dos lares das regiões do Alentejo e da Madeira ofereciam um presente às crianças que neles vivem pelo seu aniversário. Registou-se que nesta última região era prática generalizada também a realização de festas de aniversários.

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Refira-se que nas regiões do Algarve e da Madeira a organização de actividades no lar para ocupar os fins- de-semana das crianças e dos jovens que lá viviam era uma realidade em todos os lares.

semana pelas crianças/jovens que viviam em lar podiam coincidir e alternar na mesma instituição. Para ocupar estes períodos de lazer que são o fim-de-semana, a maioria dos lares de crianças/jovens organizavam saídas. Existiam, todavia, lares que não promoviam estas actividades. A organização destas saídas ao fim-de-semana competia aos técnicos dos lares ou aos seus Directores.

Como indicador do envolvimento das crianças acolhidas nos processos pedagógicos e nas decisões da vida da sua casa, verificou-se que algumas instituições organizavam as saídas de fins-de-semana em colaboração com um grupo de crianças e/ou jovens que lá viviam. Existiam instituições que em colaboração com a comunidade elaboravam as saídas das crianças aos fins-de-semana e outros que recorriam a animadores externos na organização das saídas de fins-de-semana.

Da ocupação dos tempos livres de crianças/jovens pode também fazer parte a participação nas tarefas domésticas diárias. Na larga maioria dos lares, os acolhidos participavam, efectivamente, nas tarefas diárias do lar onde viviam.

No documento A vivência em internato (páginas 75-78)