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Foto 4 Sintese dos desafios apresentados pelos professores oficina 2

3.5 As competências sociais dos professores em sala de aula

Lacombe et al. (2007, p.1)34 realizou estudo sobre as competências dos professores do curso de graduação em Administração e relata os resultados de uma pesquisa exploratória cujo objetivo de identificar as competências necessárias a este professor, a partir da perspectiva dos alunos e professores.

Na avaliação dos autores citados a educação “seria um ciclo apoiado em ação- problema-ideologia-ação. Dessa maneira, a ação sempre trará novos problemas e, a partir da reflexão, a ideologia pode ser mudada”. Lacombe et al. (2007, p.2) enfatiza que a educação como praxis “emerge de uma atividade mais abrangente, comum ao educador e ao educando... [como uma] prática social”.

Como resultado das diversas correntes pedagógicas e dado o turbulento contexto no âmbito da educação, a competência do professor vem sendo definida como ‘a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações’ (LACOMBE et al., 2007). Assim, as referidas competências estariam ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais (PERRENOUD, 1999 p. 65). Na opinião de Charlier (2001, p. 90) citado por Lacombe et al. (2007) as competências profissionais do professor, seriam

a articulação de três registros: saberes, esquemas de ação, e um repertório de

condutas e de rotinas disponíveis. Segundo a autora, os saberes são construídos (i)

pelo professor, a partir de sua vivência, e (ii) pelos outros, para o professor; “os esquemas de ação são esquemas de percepção, de avaliação e de decisão, que permitem mobilizar e efetivar saberes e que os transformam em competências...filtros que tornam as situações compreensíveis e direcionam a ação...” (CHARLIER, 2001, p. 91); o repertório de condutas disponíveis são condutas automatizadas que o professor mobiliza por meio dos esquemas de ação.

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Artigo intitulado “Competências dos Professores de Graduação em Administração: a Perspectiva de Alunos e

Professores” se encontra disponível

em:<http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnEPQ/enepq_2007/ENEPQ220.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2013.

Lacombe et al. (2007, p. 3) enfatiza a necessidade do desenvolvimento de “metacompetências, como o saber-analisar, refletir na ação, justificar através da razão pedagógica e tomar consciência de seu habitus, o que remete à corrente da educação como práxis”. Assim sendo as competências dos professores profissionais parecem consistir não somente de conhecimentos, mas também do saber fazer (savoir-faire) e de posturas, como também “nas ações e atitudes necessárias ao desempenho da profissão, que são competências de ordem cognitiva, afetiva, conativa (convencer o aluno) e prática”.

Os dados do estudo de Lacombe et al. (2007) foram obtidos por meio de entrevistas e grupos de foco. Nele foram investigados alunos e professores de uma Escola de Administração localizada em São Paulo. Os resultados indicam alguns pontos de convergência nos relatos, tais como: (i) a necessidade de atualização do conhecimento da disciplina, de contextualização desta, tanto no âmbito da gestão, como na relação com as demais disciplinas; (ii) a necessidade de utilização de diversos tipos de recursos pedagógicos que sejam adequados ao conteúdo e ao público, de forma mais específica; (iii) há divergência entre alunos e professores, quanto à construção da relação professor-aluno e à forma de avaliação do aprendizado.

Os principais temas identificados nas entrevistas são apresentados no quadro 7 que se segue.

Quadro 6 – Competências sociais dos professores em sala de aula

Categoria Visão dos Alunos Visão dos Professores

Conteúdo da disciplina

 Aplicabilidade dos conceitos na prática

 Atualidade do assunto; Relação com fatos do cotidiano;

 Ligação entre as disciplinas

 Conhecimento do conteúdo

 Estar atualizado e fazer pesquisas; Relacionar conteúdos com a prática;

 Relacionar conceitos com interesses dos alunos;

 Domínio do conteúdo para desenvolver relação com turmas

 Recurso didático-pedagógico

 Exercícios e jogos ligados com a prática, amarrando com a teoria;

 Estímulo aos alunos para trabalhar com os conceitos

Técnicas de ensino

 Inovação e adequação dos métodos;

 Usar também métodos tradicionais, mesclando com exercícios e novos métodos;

 Materiais didáticos disponíveis para reprodução.

 Exercícios e jogos ligados com a prática, para motivar os alunos;

 Inovação e adequação dos métodos, de acordo com a turma;

 Clareza e objetividade na exposição;

 Uso da preleção, quando necessário;

 Sequência de métodos e atividades para fixar os conceitos;

Trabalhos e avaliações

 Dosar carga de leituras com o período do curso;

 Transparência, justiça e ética na avaliação;

 Coerência das avaliações com os conteúdos e com o nível de desenvolvimento da turma;

Feedback de exercícios e

trabalhos.

 Estimular a leitura e o envolvimento com os trabalhos;

 Adequar grau de dificuldade à turma;

 Atribuição de notas às atividades para estimular envolvimento;

 Realizar provas em diversas fases do curso, para avaliar a progressão;

 Usar a prova como exercício de aprendizagem;

Relacionamento com alunos

 Exercer o controle com respeito e não autoritária;

 Relacionamento igual entre professor e aluno;

 Abertura para discussão;

 Disponibilidade para dúvidas fora de sala.

 Exercer o controle com respeito e não autoritarismo;

 Estabelecer um contrato com os alunos;

 Comunicação entre professor e aluno;

 Mostrar acessibilidade

Perfil e Motivação

 Paixão pela atividade de professor;

 Preparação das aulas;

 Linguagem acessível para os alunos;

 Organização e planejamento

 Paixão pela matéria;

 Preparação das aulas;

 Necessidade pessoal de transmitir algo;

 Interesse no aperfeiçoamento

Fonte: Lacombe et al. (2007, p. 5).

A análise de Labombe et al. (2007, p. 5) indica que alguns dos

(...) subtemas estão mais relacionados aos aspectos técnicos da aula – conteúdo da disciplina, técnicas de ensino, material didático, trabalhos e avaliações – enquanto outros, dizem respeito ao relacionamento do professor com seus alunos; perfil e motivação do professor estão mais relacionados à personalidade e à atitude em relação aos alunos e ao ensino, ou seja, ao aspecto relacional apontado por Altet (2001) e Lowman (2004).

Ela constata ainda nos relatos dos alunos e dos professores que um dos aspectos mais importantes vêm sendo apontados pela literatura acadêmica sobre o tema, diz respeito ao fato de que não basta mais o professor ter um excelente domínio do conteúdo e ter a mais alta qualificação em termos formais; é preciso saber contextualizar o teor da disciplina. A importância de se entender como o conteúdo está inserido na realidade atual, tanto na prática, como na teoria. O quadro que se segue descreve as competências sociais requeridas aos professores em sala de aula.

Quadro 7 – Competências professores de graduação geral e em Administração

COMPETÊNCIA CURSOS DE GRADUAÇÃO CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO Contextualizar o conteúdo  Contextualizar o conteúdo da disciplina em relação à prática, ao conhecimento do aluno, ao curso como um todo, e em relação a outras disciplinas do programa.

 Contextualizar o conteúdo da disciplina em relação à prática, à formação humanística, ao curso como um todo e à capacitação para tomada de decisões.

Utilizar recursos didático- pedagógicos de forma contextualizada  Utilizar conscientemente os recursos e adequá-los ao conteúdo, ao aluno e na sequência dos demais recursos utilizados.

 Estimular os alunos a se envolverem com os trabalhos e leituras.

 Utilizar conscientemente os recursos e adequá-los, provocando a experiência do aluno na prática, sem de fato estar (o aluno) atuando em situação de mercado.  Estimular os alunos a se envolverem com os trabalhos e leituras. Avaliar adequadamente  Avaliar o aprendizado visando os níveis de análise e síntese de Bloom (1972) ou a avaliação formativa de Perrenoud (2000), envolvendo os alunos nas aprendizagens e analisando a condição do aluno em relação à capacidade, tempo e bagagem, a fim de dosar a carga de trabalho e as avaliações.

 Avaliar o aprendizado visando os níveis de análise e síntese de Bloom (1972) ou a avaliação formativa de Perrenoud (2000), envolvendo os alunos nas aprendizagens e entendendo as demandas específicas do aluno de Administração (pressão do mercado de trabalho, competitividade). Relacionar-se com os alunos  Estabelecer relação de respeito e abertura, permitindo a discussão, mas mantendo a liderança legitimada do processo de aprendizagem.  Relacionar-se com liderança e respeito mostrando-se como exemplo quanto ao domínio de competências valorizadas no mercado de trabalho. Identificas os papéis e responsabilidades de alunos e professores no processo por meio de um contrato.

Avaliar-se continuamente

 Monitorar o processo de aprendizagem com base no desenvolvimento dos alunos; Conscientizar-se em relação ao seu papel social e econômico com postura adequada.  Avaliar-se e atualizar-se continuamente, tendo em vista as necessidades do mercado de trabalho e o contexto econômico pós- industrial Ser professor  Envolver-se pessoalmente com a atividade de docência, tanto em relação com o conteúdo, quanto em relação

 Envolver-se pessoalmente com a atividade de docência, tanto em relação com o conteúdo, quanto em

com a atuação de interlocutor entre o conteúdo e os alunos.

relação com a atuação de interlocutor entre o conteúdo e os alunos.

Fonte: Lacombe et al. (2007, p. 8).

Os resultados analisados por Lacombe et al. (2007) apontam para o fato de que embora os professores compreendam “não ser suficiente a transmissão de conhecimento”, não obstante “parecem não praticar a aprendizagem com base nos níveis mais avançados de domínio cognitivo propostos por Bloom et al.(1972)”. Os resultados apontam ainda que os professores não praticam “o processo de avaliação formativa defendido por Perrenoud (2000), promovendo em maior grau o conhecimento do que efetivamente as competências dos alunos”.

Por fim, a análise de Lacombe et al. (2007, p.9) enfatiza que a “utilização do conceito de competências para a análise da atuação do professor universitário em Administração parece sofrer das mesmas limitações que o conceito de competências tem nas suas outras aplicações”. Isto se deve ao fato de toda a responsabilidade pelo processo é depositada no professor, assim como é depositada nos profissionais do mercado.

Como recomendação os autores sugerem que alguns aspectos poderiam ser aprimorados com a formação do professor e com a própria avaliação de seu papel no processo. Especificamente ao professor aconselham que “busque conhecimentos acerca dos recursos didático-pedagógicos, a fim de aplicá-los de forma adequada e consciente”. Outra recomendação importante diz respeito ao relacionamento, por meio de “papéis definidos, sendo que o professor, como gestor do processo, deve atuar como exemplo, cumprindo as condições acordadas, a fim de que o aluno também o faça”. Por último, os autores apontam para a necessidade da avaliação, enquanto principal desafio, que na avaliação deles consistiria em se “definir os objetivos de aprendizagem e configurar os trabalhos e avaliações a fim de alcançá-los, privilegiando a formação de competências em detrimento da mera assimilação de conhecimento”.

As análises de Lacombe são corroboradas pelas contribuições de Bain (2004) no que diz respeito à necessidade do professor buscar a excelência no desempenho de sua função. Bain (2004) sugere como boa prática para professores de cursos presenciais ou EAD que devem considerar sempre as ferramentas, técnicas, estratégicas e os caminhos que levam ao processo natural de aprendizagem e ao desenvolvimento esperado individualmente pelos estudantes.

O quadro 8 sintentiza o processo indicado para que os professores estejam aptos a estimular os estudantes no engajamento, no desenvolvimento intelectual e nas conexões pessoais e de conhecimento visando à obtenção de aprendizagens duradouras.

Quadro 8 – Estratégias para obtenção de excelência pelo professor

Promoção do engajamento/comprometimento do aluno Estimule o desenvolvimento intelectual

Construa boa relação com os estudantes

Criação de comunidades de aprendizagem

Crie ambientes para a aprendizagem critica e natural Compreenda cada um dos estudantes e determine suas necessidades de aprendizagem

Favoreça a interação do aluno com a faculdade e aluno-aluno

Faça ações, questões e declarações provocativas

Estabeleça bom nível de conhecimento pessoal com os estudantes de forma que eles o conheçam bem e se sintam conhecidos pelo professor.

Use o humor como estratégia Proponha aos alunos preconcepções ou modelos mentais apropriados para cada contexto que estimule o pensamento reflexivo

Use vídeos introdutórios e outros recursos para que eles te conheçam melhor

Use de forma integrada e criativa vídeos, chats, podcasts, wikis e fóruns de discussões

Use tecnologias para criar o engajamento deles com um conteúdo significativo para eles

Use gravadores ou outros meios de comunicação

que possuam

informações relevantes sobre os estudantes Tenha flexibilidade com datas e cronogramas Providencie feedback

positivo para as atividades desenvolvidas pelos alunos

Fonte: a autora, a partir de Bain (2004).

Como se vê, na maioria das boas práticas recomendadas para a obtenção de excelência pelo professor, ele necessitará do apoio das tecnologias. Sobretudo, ele precisa ter o domínio no manuseio destas tecnologias e fazer a integração entre o conteúdo e os resultados de aprendizagem desejados. O professor como um empreendedor vai planejar e reunir todas as condições necessárias à inovação de sua prática pedagógica capaz de motivar o estudante para a aprendizagem efetiva e o desenvolvimento das competências.

3.6 Empreendedorismo, intraempreendedorismo, empreendedor da educação e