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Foto 4 Sintese dos desafios apresentados pelos professores oficina 2

3.7 NTICE como meio para o desenvolvimento da educação empreendedora

A educação empreendedora pressupõe um conjunto de fatores diferenciados em relação à educação tradicional, como a formação dos professores e estudantes para o uso das NTICE de forma a criar um ambiente favorável ao empreendedorismo em seu sentido mais amplo, como também à comunicação interativa. Tal pressuposto implica o uso intenso das NTICE e de estratégicas de ensino e aprendizagem coerentes com a nova realidade.

A este tipo de contexto Jonassen (1996) denomina de ambiente de aprendizagem interativa, que consiste de plataformas tecnológicas, as quais nesta pesquisa serão conceituadas como NTICE, adaptadas ou desenvolvidas especificamente para que o estudante possa aprender, a partir da pesquisa, da realização de analise e compreensão crítica de um dado problema ou espaço de projeto (incluindo problema de contexto, problema de representação/simulação e problema de manipulação de espaços econômico, político e cultural), casos interrelacionados, fontes de informação, ferramentas cognitivas, conversação e ferramentas de colaboração, apoio contextual e social.

A capacidade de comunicação e expressão talvez seja a mais demandada habilidade de toda a história. Mas, para isto, o empreendedor precisa estar capacitado para utilizar as diferentes mídias sociais e ferramentas. O Youtube, Google+, Quora, Facebook e outras podem ser bastante úteis como ferramentas para capacitações específicas, especialmente para os jovens que normalmente permanecem conectados a estes aplicativos, de 20 a 30 horas por semana35. Quando bem utilizadas as NTICE são poderosas ferramentas no processo de desenvolvimento de novos conteúdos, de ensino e de aprendizagem com alto valor agregado, visando estimular as competências sociais requeridas.

Nesse sentido, o uso de ferramentas e de plataformas tecnológicas tais como dashboards, smartboards, softwares de cálculo, redação e de elaboração de apresentações (Word, Excel, Power Point e Prezi), softwares de gestão eletrônica de documentos (GED) e de gestão do conhecimento (GC), facebook, youtube, google, dropbox, twitter e outras ferramentas ou aplicativos que já deveriam fazer parte do cotidiano do estudante36.

Demo (2009) caracteriza o conceito de NTICE e tece discussão sobre como elas favorecem à ‘educação empreendedora’, por meio da criação do ambiente propicio a uma nova prática pedagógica requerida no novo contexto social. Ele analisa as mudanças necessárias nos processos pedagógicos frente aos desafios impostos pela Web 2.0 ou como ele denomina “Sala de Aula 2.0”. Para ele a mudança mais profunda talvez seja a demolição do professor como argumento de autoridade, sustentada pela aula disciplinar, em geral instrucionista e autoritária, sugerindo-se defini-lo pela aprendizagem (não pelo ensino) fincada na autoridade do argumento.

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A Internet no Brasil segue a tendência de crescimento mundial no número de usuários e já é utilizada por 46,1% da população brasileira. Os internautas brasileiros navegam em média 16,4 horas semanais. Entre os chamados internautas residenciais (aqueles que possuem acesso a Internet em sua própria residência), a média semanal de navegação é 20,9 horas. Contudo, o tempo de navegação médio apresenta relação direta com a renda e com a escolaridade. Internautas com escolaridade em nível superior navegam em média 21,0 horas/semana. Essa média eleva-se para 23,4 horas entre os internautas de famílias com renda superior a 10 salários mínimos. A Internet se constitui no principal meio concorrente à televisão em determinados segmentos. Apesar de esse último ser o veículo de maior abrangência nacional, e possuir acesso a todos os segmentos da sociedade, perde espaço à Internet junto ao público de escolaridade e renda mais alta, e principalmente junto aos públicos de classe C e mais jovem. Entre a população de idade entre 16 e 24 anos, de classe C, o percentual da população com acesso à Internet chega a 73,9%. Ver relatório consolidado da pesquisa de opinião: Hábitos de informação e formação de opinião da população brasileira, realizado pelo governo federal (terceirizado à empresa Meta Consultoria de Opinião), março de 2010. Disponível em http://www.fenapro.org.br/relatoriodepesquisa.pdf, acesso em 07.08.2013.

36 Ou que deveriam fazer parte do cotidiano do aluno já que para a maioria dos autores que retratam o perfil da geração digital é comum a afirmação a respeito do domínio que estes possuem sobre as diferentes plataformas de informação, comunicação e expressão. Neste sentido afirma-se que na verdade os nativos digitais dominam apenas pequena parte destas tecnologias. Tal assertiva decorre da convivência que a autora desta tese usufrui com jovens e egressos do ensino superior, para os quais a maioria das novas tecnologias de informação e gestão precisa a eles ser ensinada, como o Office, o Google Docs, o Dropbox, o software para elaboração de mapas mentais e para tabulação de dados e outras relevantes para diferentes perfis de atividades institucionais.

Em sua opinião ser “professor é cuidar que o aluno aprenda. Aluno aprende bem com professor que aprende bem” (DEMO, 2004). Ou seja, é possível a inferência de que há necessidade de se formar melhor o professor, principalmente nas habilidades de uso das NTICE. Além disso, torna-se necessário que se desenvolva nele atitudes empreendedoras, criativas e inovadoras para que possa estar em igualdade ou em condições superiores em termos de confiança e de CHA frente aos seus alunos. Por outro lado, ele afirma que “tendemos a ver a literatura eletrônica com olhos tradicionais, marcados pelo texto impresso enquanto a nova geração assume a textualidade digital como condição natural e definitiva” (DEMO, 2004, p.11).

Demo (2009, p. 8) afirma ainda que no ambiente da web 2.0, tornou-se mais claro o que seria a pedagogia centrada no estudante, tendo o professor como figura central.

[...] Cenários autopoiéticos e maiêuticos37 requerem um professor autor, pesquisador, construtor de conhecimento, capaz de teorização autônoma flexível e sempre aberta, mobilizado para práticas que garantam a aprendizagem dos estudantes. Sua função básica não é unicamente a de transmissão de conteúdos, mas a de adornar ambientes adequados de aprendizagem, nos quais a autoria dos estudantes floresça naturalmente.

Nessa mesma direção, Rodrigues (2002) postula a adoção de uma proposta didático- pedagógica que estimule o estudante a investigar e a interpretar eventos, a partir de uma prática problematizadora da realidade e do conhecimento formal disponível, pois permitirá que o estudante passe a ser autor e sujeito do processo de ensino, apto a construir para si uma ponte entre o mundo das idéias e a realidade.

Entretanto, a adoção de tal princípio educativo pressupõe liberdade e autonomia para o aprendiz em seus processos de apropriação de conhecimentos e de construção de significados, e não apenas um exercício de sistematização, via orientação sobre o que e o como fazer. A prática de ensino, portanto, deve incentivá-lo ao desenvolvimento da criatividade necessária para analisar e decidir quais informações do seu repertório de conhecimentos e daqueles disponíveis em seu ambiente utilizará para solucionar os problemas do cotidiano individual e profissional.

37Autopoiese quer dizer autoprodução. Poiesis é um termo grego que significa produção. A palavra surgiu pela primeira vez na literatura internacional em 1974, num artigo publicado por Varela, Maturana e Uribe, para definir os seres vivos como sistemas que produzem continuamente a si mesmos. Esses sistemas são autopoiéticos por definição, porque recompõem, de maneira incessante, os seus componentes desgastados. Marrioti (1999) afirma que um sistema autopoiético é, ao mesmo tempo, produtor e produto. E Maiêutica é um processo dialético e pedagógico socrático, em que se multiplicam as perguntas a fim de se obter um conceito geral do objeto em questão, por indução dos casos particulares e concretos(FERREIRA , 2004).

Para a obtenção desse tipo de resultado, Paiva (2003) afirma que apesar de se ter um longo caminho a percorrer nesse sentido, a única forma é a integração transversal das NTICE nas diferentes disciplinas e currículos. E mais, que ela deve ser feita de forma sistemática e planejada, em vez de pontual e espontânea. O mesmo autor defende que uma escola que não recorra, ou melhor, que não integre os novos meios informáticos, corre o risco de se tornar obsoleta. Vê-se, portanto, o sistema educacional brasileiro esgotado, entre outras razões, por falta de atualização ou inovação das praticas pedagógicas. Neste sentido é recomendável que se adote novas práticas pedagógicas em sala de aula, isto é, que o paradigma instrucionista just-in-case (modelo 1) seja substituído pelo paradigma construcionista just-in-time (modelo 2), como propõe Meira (2011).

Meira (2011) afirma que no modelo 1 o processo de ensino-aprendizagem está baseado nos pilares da estrutura física e curricular rígida – do professor para os estudantes, na restrição e na medição do aprendizado de forma linear. Os conteúdos são repassados aos estudantes que usam a lógica da memorização de conceitos e os utilizam se deles necessitarem algum dia, despertando nele a sensação de certa ‘inutilidade’ em relação ao conhecimento recebido.

No modelo 2, as competências desenvolvidas pelos estudantes em seu processo de aprendizagem devem ser suficientes para que eles possam estabelecer processos e métodos próprios de aprendizagem do tipo quando eu precisar saberei ‘onde’, ‘como’ e ‘com quem’ buscar o conhecimento necessário. Observa-se que o modelo 2 apresenta como essência a conectividade, a interação e o protagonismo do estudante. Em outras palavras, o processo é não linear, comunicação multidirecional e executado com o apoio das NTICE, resultando em cooperação, conhecimento e confiança entre os estudantes e o professor. Isto remete à discussão sobre a importância das interações educativas no âmbito da Educação.