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Foto 4 Sintese dos desafios apresentados pelos professores oficina 2

4.2 O World Café em execução: a ecologia da conversação

Neste tópico será explicado como funciona, na prática, uma seção de um World Café. O primeiro princípio que embasa o World Café se refere ao fato de que o seu propósito transcende o ato de criticar um dado conceito, política ou situação-problema para a criação de ambiente no qual haja forte imersão dos participantes que por meio da dialógica passam a contribuir significativamente para a criação de soluções de valor individual e coletivo, conforme mencionado anteriormente. Caracteriza-se, portanto, na criação de contextos nos quais a liberdade de expressão se torna um poderoso fermento à criatividade, à inovação e ao desenvolvimento individual, coletivo e organizacional.

As formas de expressão utilizadas nas oficinas do World Café são variadas podendo ser as linguagens oral, escrita, visual e cênica. Ou seja, os indivíduos com maior facilidade de oratória podem estimular reflexões críticas mais substanciosas em cada mesa e aqueles mais

41Jonh Holland e Doyne Farmer são pesquisadores do Instituto Santa Fé (Califórnia-EUA), cujas pesquisas se voltam para a análise dos processos fundamentais de aprendizagem e de adaptação das células aos sistemas sociais.

introvertidos ou com maior habilidade de expressão por meio visual podem desenhar esquemas, mapas mentais, tópicos ou desenhos ilustrativos sobre os pensamentos individuais e comuns do grupo para apresentá-los em outras mesas ou para o grupo em plenárias. Portanto, se trata de um método extremamente democrático e colaborativo.

Durante as oficinas o sentimento prevalecente é o do bem comum, de coletividade, destituído de qualquer comportamento ou expressão de propriedade privativa, individual ou organizacional.

Os participantes que podem se constituir numa amostra homogênea ou heterogênea quanto ao nível cultural, socioeconômico, político ou religioso, são convidados ao diálogo de proposições positivas e construtivas de muitos para muitos, conforme apregoam Tapscott (2010) e Margain (2007 apud BROWN, 2007, p. 63).

A metodologia se propõe à disseminação de uma cultura na qual há a crença em todos, à valorização da diversidade, ao sentimento de pertencimento àquela comunidade, ao saber ouvir, ao aprendizado em assumir e em desenvolver diferentes papéis. Em cada papel desempenhado deixar e levar diferentes e significativas contribuições (polifonia de vozes construindo novas teorias e consciências).

Para que tudo isto aconteça é essencial a habilidade dos organizadores na elaboração de “perguntas inteligentes que instiguem à doação e à colaboração coletiva, ao convite à exploração, à ousadia, a arriscar-se, a ouvir, a abandonar posições radicalizadas”, de acordo com o contexto e com o objetivo da Oficina World Café. Brown (2007, p.16) recomenda que “perguntas boas ajudam a nos tornarmos tanto curiosos quanto inseguros e esta é a estrada que nos abre para a surpresa de uma nova percepção”. Ou seja, é um método que por si só já promove mudanças e rupturas, a partir da mediação sistematizada por objetivos claros, utilizando-se da dialógica e do antagonismo para a emergência de novas culturas, valores e atitudes agregadoras do ponto de vista individual e coletivo. O processo de auto-organização das divergências, dos interesses e dos resultados esperados nesta técnica é garantido por meio da qualidade e do comprometimento dos organizadores com o método e com o grupo, principalmente com a elaboração de perguntas desafiadoras. Para isso, perguntas do tipo sim ou não devem ser evitadas.

A metodologia permite, ainda, a criação de um ambiente lúdico, informal e não hierarquizado, com muita movimentação das pessoas em diferentes direções e discussões. Assim sendo, quando conduzida com o rigor metodológico necessário para uma pesquisa científica ou aplicada, ela é capaz de levar energia, inspiração, entusiasmo e criatividade

coletiva, ao contrário de metodologias tradicionais de discussões em grupo, que, muitas vezes, estimulam a polarização, causando o desinteresse coletivo e uma construção, no máximo, individualizada, autoritária e de interesses hegemônicos e paradoxais.

É importante ressaltar que embora o World Café seja utilizado também para diálogos coletivos nos quais se busquem o consenso (meio empresarial ou comunidades, por exemplo), na aplicação proposta nesta pesquisa, o maior foco de observação, coleta e análise de dados será para as divergências que ocorrerão durante as ‘polinizações’ de idéias e visões dos participantes sobre o uso das NTICE e sua relação com o desenvolvimento das competências empreendedoras e seu impacto nas praticas pedagógicas dos professores.

De forma ilustrada podem ser sintetizadas as etapas do World Café:

Figura 7 – Etapas e atividades de uma oficina World Café

Fonte: a autora

Outros aspectos relevantes sobre o World Café, que mereceram avaliação prévia quanto à sua aplicabilidade enquanto técnica para coleta de dados são as características essenciais que se apresentam no Quadro 12 que se segue.

Quadro 12 – Características essenciais do método World Café

Categorias Variáveis

Fluxo do conhecimento  Multidirecional de muitos para muitos

Planejamento

Definir o objetivo

Definir o perfil do publico alvo Definir o local, horario, o tempo de duração para cada atividade e a lojistica necessaria para a realização da oficina (recursos para fotos, gravações, material para registro das ideias e proposições, tamanho e perfil da equipe de apoio, etc.)

Elaborar as questões orientadoras das discussões

Definir os resultados a serem alcançados

Organização da Oficina

Organização da sala com a colocação sob as mesas do material a ser utilizado pelos participantes, principalmente as perguntas atratoras.

Apresentação dos objetivos da oficina, metodologia e resultados esperados Esclarecer duvidas dos participantes sobre a metodologia ou outras

Conduzir o processo com leveza e isenção sobre as opiniões expressas pelos participantes Controlar o tempo de duração de cada etapa da oficina

Agradecer a colaboração de todos

Recolher e organizar o material produzido e gravado

Realização da Oficina

Organizar os dados coletados de acordo com as questões da pesquisa

Fazer a codificação dos dados segundo as categorias e/ou variáveis de analise pre-definidas de acordo com o objetivo da pesquisa ou projeto Fazer a analise dos dados coletados a partir da escuta do video gravado, das anotações da equipe organizadora da oficina, dos registros feitos nas toalhas das mesas e das apresentações dos anfitriões na plenaria. Elaborar o relatorio final

 A comunicação é interativa

Perfil dos participantes  Quanto mais diversificado melhor

 Quanto maior o grupo melhor será o corpo de conhecimento coletivo gerado

Organização  Planejamento cuidadoso em detalhes, principalmente nas perguntas condutoras da discussão

 Criação de ambiente de imersão misto entre o formal e o informal

 Anfitriões com habilidade de ouvir, sintetizar e compartilhar as ideias e conhecimentos gerados

Execução do Café  Dinamismo e energia

 Contexto onde a hierarquia, o nível social e educacional não interferem nas discussões

 Explicitação de dissensos e consensos

Impactos  Grande poder de transformação de hábitos,

atitudes e valores no nível individual e coletivo  Criação de significado individual e coletivo a

partir do conhecimento e das ideias fluídas e de um contexto futuro desejado

 Descobertas de soluções criativas e viáveis para problemas atuais e futuros

Fonte: a autora, inspirada em Brown (2007).

Ademais, merecem destaque os princípios norteadores que constituem o World Café, os quais são apresentados no Quadro 13, que se segue.

Quadro 13 – Os sete princípios norteadores do World Café

1. Estabelecimento de um contexto a partir do qual as questões “atratoras” são planejadas, elaboradas; é definido o perfil e a distribuição dos participantes nas mesas de conversação de forma a se obter a multidisciplinaridade e a multinstitucionalidade;

2. Criação de espaço acolhedor e estimulante de um sistema que pensa em conjunto;

3. Exploração de questões significativas – as “atratoras”;

4. Estímulo à contribuição de todos – cada voz conta: promove uma cultura de contribuição coletiva;

5. Promoção da polinização cruzada e conexão de diferentes pontos de vista;

6. Escuta conjunta para a descoberta de padrões, de percepções e de questões mais profundas;

7. Coleta e compartilhamento de descobertas coletivas – colhendo e plantando sementes de mudanças profundas.

Conclui-se, portanto, que as características e princípios do World Café contemplam em seus princípios e em suas práticas sistematizadas as condicionantes sobre métodos e técnicas em pesquisa científica, singularmente quanto ao objeto ser o determinante destes e não o contrário.

Outras condições que convergem com as teorias abordadas neste projeto sobre o método – e que também são postas por Goldemberg (2007) conforme mencionado anteriormente – é que nas dinâmicas do World Café, tal qual em outros métodos e técnicas, é fundamental ao pesquisador ter senso de organização e de planejamento dos meios e dos resultados, e principalmente, tornar o conhecimento produzido acessível e agradável à maior parte possível de pessoas. Assim, é possível se afirmar que O World Café atende as todas estas condições ou princípios em sua prática. Ele promove a interação e a reflexividade necessárias à pesquisa científica e aplicada.

Dada a complexidade da temática, a inovação da metodologia escolhida e o foco desta pesquisa, foram realizadas quatro entrevistas com professores da Universidade de Brasília e de outras universidades, três em período anterior à primeira oficina de coleta de dados e uma em data posterior. O objetivo das entrevistas foi o de realizar o pré-teste das questões atratoras e as categorias de análise dos dados.

Feitas estas considerações o tópico a seguir trata das etapas e atividades desenvolvidas para a realização da oficina de coleta de dados, tendo o World Café como principal técnica nesta pesquisa. Acredita-se ter uma massa qualificada de professores na composição do campo amostral para esta pesquisa.