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Foto 4 Sintese dos desafios apresentados pelos professores oficina 2

2.3 Os desafios impostos à educação e aos professores no atual contexto societário

Rezende (2002, p. 1) menciona que na abordagem construtivista, o papel do professor aproxima-se de uma concepção de profissional que facilita a construção de significados por parte do aluno nas suas interpretações do mundo. Para a autora, este profissional será mais bem denominado de “facilitador pedagógico”. Para que possa ajudar o aluno, o facilitador pedagógico, primeiramente, deverá possuir uma concepção clara da construção de conhecimento enquanto processo dinâmico e relacional advindo da reflexão conjunta sobre o mundo real.

Neste sentido Rezende enfatiza que o professor deve “possuir base teórica consistente, clara concepção do objetivo da aprendizagem e da metodologia a ser utilizada, assim como do processo de avaliação de acordo com a visão construtivista de conhecimento” (REZENDE, 2002, p. 1). No que diz respeito às suas atividades, em sua prática, “o facilitador pedagógico” poderá, entre outras ações

(l) desenvolver poucos conceitos com maior produtividade; (2) encorajar o aluno a buscar outros pontos de vista e a desejar aprender e entender; (3) propiciar a análise de experiências significativas e a sua reflexão crítica; (4) promover a comunicação entre os alunos e grupos de alunos e o intercâmbio de experiências (REZENDE, 2002, p. 1).

Na realidade, o fato de o professor ter sido destituído de ser o único a ter acesso às informações coloca em pauta de discussão as relações convencionais ‘professor-aluno’, não só como consequência da visão construtivista de aprendizagem. Rezende (2002, p.1) acredita que esse dado “está levando o professor a mudar de postura, abdicando do poder que detinha enquanto único possuidor do conhecimento relevante no contexto escolar, favorecendo uma relação mais simétrica com o aluno”.

Formaram-se novas “tribos” e abriu-se, ao mesmo tempo, espaço fecundo para as relações plurais e, em todos os aspectos, multirreferenciais (PRETTO, 2006, p.24).

A escola, e voltamos aqui a falar dela, passa a ter que conviver com uma meninada que se articula nas diversas tribos, que opera com lógicas temporais diferenciadas, uma juventude que denominamos, em outros textos, de geração alt+tab, uma geração de processamentos simultâneos. Obviamente, intensifica-se dessa forma o trabalho do professor, já que a escola e todo o sistema educacional passam a funcionar com outros tempos e em múltiplos espaços, diferenciados. Não deixa de ser, no entanto, esse um rico momento para repensarmos as políticas educacionais na perspectiva de resgatar a dignidade do trabalho do professor, com a retomada de sua autonomia e, com isso, experimentar novas possibilidades com a presença de todos os novos elementos tecnológicos da informação e comunicação.

O desafio posto à educação e ao professor é o de conceber uma estrutura e diferentes estratégias que resultem em um dado corpo de conhecimento em direção a uma educação continuada ao longo da vida, de acordo com as exigências da carreira e do trabalho. Essa assertiva encontra respaldo na teoria de Lyotard, quando mencionou que:

O saber não é e nunca mais será transmitido em bloco, e de uma vez por todas, aos jovens antes da sua entrada na vida ativa; ele é e será transmitido à la carte aos adultos já ativos ou à espera de o serem tendo em vista não só o melhoramento da sua competência e a sua promoção, mas também a aquisição de informações, de linguagens e de jogos de linguagem que lhes permita alargar os horizontes da sua vida profissional e articular a sua experiência técnica e ética (LYOTARD,1989, p. 103).

Trazendo sua proposta para o contexto da sociedade de colaboração em massa, na qual a informação e o conhecimento são abundantes, pode-se afirmar que o conceito de pessoa instruída ou formada precisa ser revisto. É preciso ir além da competência e habilidade para discernir informações e conhecimentos brutos, isto é, ter condições de analisar, compreender, criticar, armazenar, utilizar e disseminar o conhecimento aprendido. Torna-se necessário, ainda, ser capaz de questionar tal conhecimento e recriá-lo. Acredita-se aqui que este talvez seja o maior desafio imposto pelas transformações sociotécnicas ao ecossistema educacional18

, especialmente aos professores, que precisam utilizar muita criatividade para promoverem as transformações requeridas. Lyotard (1989, p. 108) suscitou controvérsias ao afirmar que já se escuta

o dobre de finados da era do professor, pobre na utilização do seu conhecimento de modo versátil e aplicativo: ele não é mais competente que as redes de memórias para

18Denomina-se aqui de ‘ecossistema educacional’ o conjunto de atores (professores, alunos, dirigentes, formadores de políticas educacionais, empresários, família, usuários do conhecimento em geral), das políticas públicas educacionais, de ciência, tecnologia e inovação; e a infraestrutura física. Trata-se de um conjunto de fatores tangíveis que quando em interação harmônica produzem o resultado esperado do sistema educacional, tal qual nos sistemas orgânicos vivos, onde cada um conhece e exerce bem o seu papel, perpetuando-se as espécies e o equilíbrio do ecossistema ambiental.

transmitir o saber estabelecido, nem que as equipes interdisciplinares para imaginar novos lances ou novos jogos de linguagem.

Nóvoa (2001)19, ao ser indagado sobre as competências necessárias para a prática do professor respondeu que

não basta deter o conhecimento para o saber transmitir a alguém, é preciso compreender o conhecimento, ser capaz de reorganizá-lo, ser capaz de reelaborá-lo e de transpô-lo em situação didática em sala de aula. Esta compreensão do conhecimento é, absolutamente, essencial nas competências práticas dos professores. Eu tenderia, portanto, a acentuar esses dois planos: o plano do professor como um organizador do trabalho escolar, nas suas diversas dimensões e o professor como alguém que compreende que detém e compreende um determinado conhecimento e é capaz de reelaborá-lo no sentido da sua transposição didática, como agora se diz, no sentido da sua capacidade de ensinar a um grupo de alunos.

Uma vez assumido o postulado de que os professores são atores competentes e sujeitos ativos, é possível que se admita, também, que a prática deles não seja somente um espaço de aplicação de saberes provenientes da teoria, mas um espaço de produção de saberes específicos oriundos desta mesma prática, associada ao conhecimento tácito do estudante. Também é possível inferir que não basta conhecer, mas tem que produzir, reproduzir e saber transmitir com humildade, competência e paixão. Nesse contexto Freire (1998) apontou para a importância do papel do professor e enfatizou a necessidade do respeito devido por ele [professor] à pessoa do educando, sobretudo em relação ‘à sua timidez’, quando for o caso. Ele lembrou, ainda, que na condição de educador não se deve ‘agravar com procedimentos inibidores’ a situação de tais alunos, o que exigiria do professor o cultivo da humildade e da tolerância.

Assim se dá a relação de aprendizagem significativa entre o aluno e o professor. Em meio a tal procedimento é possível proporcionar o real desenvolvimento do talento criativo, capaz de promover a revolução organizacional necessária quando se trata do perfil do trabalhador da sociedade de colaboração em massa (TAPSCOTT, 2007 e 2011)20.

19Este texto foi extraído de entrevista concedida por Antonio Nóvoa, em 13 de setembro de 2001, ao programa intitulado “Salto para o Futuro”. A entrevista completa encontra-se disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/entrevistas/antonio_novoa.htm>.

20Conceito utilizado por Tapscott (2007) para caracterizar novos comportamentos e atitudes dos indivíduos a partir do advento da Internet e dos meios de comunicação virtual. Dom Tapscott em entrevista concedida à Revista VEJA (Edição impressa, nº 2212, de 13 de abril de 2011), afirmou que “não vivemos na era da informação. Estamos na era da colaboração. A era da inteligência conectada”. Em sua opinião isso é decorrente do fato de que a Internet não muda o que é aprendido, mas o modo como se aprende – e o impacto disso será tão intenso quanto a invenção dos tipos móveis da imprensa por Gutenberg (TAPSCOTT, 2011, p.19-23).

Não obstante aos estudos acima citados, nota-se a centralidade da educação e do professor em suas competências, habilidades e atitudes em relação ao conteúdo a ser repassado ao aluno, ou seja, o ‘como’ e ‘com quais recursos pedagógicos’ deve contar para a obtenção do desenvolvimento intelectual e cognitivo do educando que deve apresentar um conjunto de competências, habilidades e atitudes para estar apto a atuar na sociedade de colaboração em massa. No tópico que se segue estes conceitos são discutidos considerando as correntes do pensamento que têm buscado compreender as relações entre as competências individuais e organizacionais.