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Foto 4 Sintese dos desafios apresentados pelos professores oficina 2

5.1 O dilema da interação universidade, empresa e sociedade

No constructo teórico de sociedade de colaboração em massa os indivíduos exercem seu poder e autonomia por meio da Internet e de seus diferentes aplicativos, denominados de mídias tecnológicas. No caso da educação superior no Brasil, o principal meio de interação entre professores, alunos e gestores, as tecnologias tradicionais (papel, quadro, giz e pincel) ainda assumem um elevado grau de importância em termos numéricos de sua utilização. Contudo alguns sinais foram observados de ruptura com este padrão de prática pedagógica, que já não se mostra suficiente para responder às demandas impostas pelos jovens estudantes e pelos próprios professores, isto sem considerar outros aspectos, como por exemplo, o mercado de trabalho.

Proporcionalmente à quantidade de estudantes e de instituições de ensino superior existentes ainda é pouco significativo o número dos que utilizam novas tecnologias em sala de aula. Tal evidência encontra respaldo nas dificuldades enfrentadas nesta pesquisa nas diferentes tentativas de localização de professores e de instituições de ensino superior que fizessem uso de NTICE em sala de aula, como também de pesquisas com semelhante foco.

Por diferentes razões identificadas a partir dos dados coletados, ainda há resistência por parte de alguns estudantes e de professores para a mudança dos processos de ensino e de aprendizagem. A infraestrutura encontrada na universidade é insuficiente e inadequada para que os professores possam introduzir NTICE e inovar a forma de ensinar e aprender. Todavia também existem iniciativas que sinalizam para mudanças e rompimento com o modelo tradicional de sala de aula – ou nas palavras de um dos professores entrevistados (EPT) “sela de aula” –, transpondo para salas de aula interativas como propõem Silva (2002), Meira (2011), Meireles (2006), Papert (1986), Valente (2007) e outros pensadores desta problemática.

Este contexto de resistência se estende há décadas conforme já discutido por Morais (1999) que constatou nas universidades a existência de forte tendência de manutenção do habitus da pesquisa individualizada e disciplinar que dificulta a cooperação entre a universidade, empresas e sociedade. Segundo Gibbons et al. (1994) o atual contexto exige a adoção de novos modos de produção e de difusão do conhecimento, cuja tendência é a realização de pesquisas de caráter multidisciplinar, de forma interinstitucional, a partir da constituição de grupos de trabalho flexíveis e, por vezes, virtuais.

Sousa Santos (1997) por sua vez, afirma que no domínio da investigação, os interesses científicos dos pesquisadores podem ser insensíveis ao interesse em fortalecer a competitividade da economia, ou seja, pouca interação dos pesquisadores com as empresas e também com a sociedade. Em função disso acontece, por um lado, a crise de legitimidade da universidade (qual é o seu papel social), e, por outro, a crise institucional que está relacionada à perda da “condição social estável e autossustentada” dos pressupostos que asseguram a sua reprodução.

Além das contradições intrínsecas do campo acadêmico, outros conflitos surgem na medida em que pesquisadores iniciam a exploração comercial de suas pesquisas mantendo suas posições nas universidades. Etzkowitz (1996) observou os mecanismos e as relações entre universidades, empresas e governo e seus impactos no desenvolvimento local. Ele relata que, nos EUA, o processo de transferência de tecnologia da universidade para a empresa - tanto por meio de consultorias, quanto pela formação de empresas de base tecnológica criadas pelos próprios pesquisadores – foi intensificado nos anos de 1980. As principais críticas recebidas eram de que os pesquisadores abandonavam as atividades de ensino e pesquisa, em detrimento da empresa; usavam suas posições acadêmicas, o corpo discente e a estrutura pública em benefício próprio; e faziam concorrência “desleal” com empresas instaladas no mercado.

Segundo Etzkowitz (1996), os conflitos foram diluídos, com a integração entre as áreas de ensino e pesquisa na mesma instituição, e destas com a de desenvolvimento; e, por fim, com o estabelecimento de políticas e normas internas, definindo os procedimentos e as condições para realização das atividades. No caso americano – ao contrário do discurso de pesquisadores e alunos de algumas das universidades brasileiras, de que a autonomia universitária e o consórcio com o setor privado são estratégias para a privatização do ensino superior – os resultados foram favoráveis para a universidade, para o corpo docente e discente, que complementaram os recursos públicos para as pesquisas; desenvolveram novos campos e novos temas para a pesquisa básica; abriram oportunidades de estágios para os alunos, especialmente nas áreas em que a experimentação e o treinamento no contexto de trabalho são indispensáveis ao desenvolvimento das competências necessárias e para a observação dos fenômenos pesquisados. As áreas de Engenharia, Biologia, Agronomia, Inteligência Artificial entre outras são citadas como exemplo.

Particularmente nesta pesquisa, alguns professores, afirmaram que no Brasil, há uma grande distância entre a universidade e a sociedade, mas que as NTICE podem facilitar esta

aproximação, para difundir socialmente o conhecimento que nela se produz, conferindo livre acesso ao conhecimento. Ou seja, sair dos muros da universidade, sem precisar sair efetivamente da universidade (plenária da oficina 1).

Além disso, há que se construir um marco legal favorável a que tais mudanças – tanto em termos das práticas pedagógicas, quanto culturais – ocorram em espaços criativos, na própria estrutura da universidade como atividade de extensão ou mesmo disciplinas optativas e transversais a todos os cursos por ela oferecidos.

O professor W2PD comentou que

Atualmente eu não vejo empreendedorismo dentro da universidade. Na verdade pelas características apresentadas pela pesquisadora quanto às características de comportamento empreendedor que as empresas valorizam [...] Você sempre tenta passar para seu aluno a autonomia. [...] Ainda são muito incipientes o uso de técnicas empreendedoras na Universidade, nos cursos de engenharia e física. (informação verbal compartilhada nos grupos).

Especificamente no caso da Universidade de Brasília foi criada, como disciplina optativa para alguns cursos e módulo livre para outros, a disciplina ‘Introdução à Atividade Empresarial’ em nível da graduação e ‘Inovação e Criatividade’ para alunos vinculados à pós- graduação. A primeira faz parte da grade curricular de cerca de 20 cursos da graduação e em cerca de 10 cursos de pós-graduação, embora sejam disponibilizadas para todos os cursos da universidade. Em média, são matriculados cerca de 800 alunos por ano. Como em outras universidades brasileiras e nas universidades americanas, européias e asiáticas, esta disciplina é coordenada por uma área da UnB criada para o estímulo e o apoio às iniciativas empreendedoras dos estudantes, professores e empreendedores locais51.