• Nenhum resultado encontrado

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.3 A formação dos profissionais da Administração

3.3.4 A Graduação e a Pós-graduação em Administração no Brasil: histórico, modalidades e análises.

3.3.4.4 As diferentes modalidades de pós-graduação no Brasil, incluindo o MBA

De acordo com Afonso (2005), os programas de pós-graduação no Brasil tiveram sua gênese na década de 50 com a fase desenvolvimentista que era instituída no governo JK, por intermédio do Plano de Metas, e tiveram seqüência na década seguinte, com os ideais desenvolvimentistas nacionalistas do período militar.

Segundo Mello (2002, p.86), a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ficou responsável pela formulação de propostas para políticas de pós-graduação no País. Para a autora:

Alguns anos mais tarde, na década de 60, o Conselho Federal de Educação, com apoio e fiscalização da Capes, instituiu as normas gerais para a organização da pós- graduação no país, por meio do Parecer nº 977/65. O Parecer Sucupira, como ficou conhecido, definiu a pós-graduação como sendo um sistema de ensino que abrange mestrado, doutorado (stricto sensu) e as modalidades de aperfeiçoamento e especializações (lato sensu).

Assim, de acordo com o Parecer nº 977/65, a modalidade stricto sensu é definida como sendo: ―pós–graduação stricto sensu é de natureza acadêmica e de pesquisa e possui objetivo essencialmente científico, mesmo atuando em setores profissionais. No término do curso, o aluno receberá o grau de mestre ou doutor, defendendo sua dissertação ou tese. Os programas devem ser aprovados pelo Conselho Federal de Educação‖.

A pós-graduação lato sensu não foi definida neste momento. Na ocasião são citados os cursos de especializações voltadas para o desenvolvimento de trabalhos de sentido prático profissional, que se tornariam conhecidos como cursos de MBA.

Na década de 70, os cursos de pós-graduação começaram a crescer aceleradamente. Wood Jr. & Paula (2002) ressaltam que nos anos 1973 e 1976, foram fundados respectivamente o Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do

Rio de Janeiro (COPPEAD) e a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ANPAD).

Já Afonso (2005) observa que o principal objetivo dos cursos de pós-graduação desenvolvidos nas universidades brasileiras era o de formar profissionais capazes de pesquisar e lecionar nas diversas faculdades do país, papel que cabia aos cursos de especialização situados em outros países. A inexistência de programas de mestrado e especialmente doutorado no Brasil, restringia sob o ponto de vista econômico o acesso a um maior número de interessados, além de submeter os alunos a uma realidade muitas vezes não aplicável ao nosso país. Os cursos tinham como objetivo a promoção do desenvolvimento científico e tecnológico do país, de forma a nacionalizar a experiência das especializações realizadas em outros países. Inicialmente, foram desenvolvidos cursos strictu sensu, de mestrado e doutorado. A criação dos cursos de pós-graduação privilegiou claramente os acadêmicos, pois prezou por uma formação sólida para atender aos núcleos de pesquisa e desenvolvimento das universidades (Capes, 2004).

Segundo Wood Jr. & Paula (2002) a década de 80 é marcada pela consolidação da pós- graduação. Para Afonso (2005, p.39),

[...] o crescimento dos cursos de graduação e pós-graduação em Administração talvez seja o responsável por uma certa aproximação da educação acadêmica com o mercado de trabalho. Apesar disso, existe também uma preocupação da Capes e do Conselho de Educação com o crescimento acelerado destes cursos, o que pode ser comprovado pela crescente instituição de normas e regras para o funcionamento do diversos programas de pós-graduação.

De acordo com Afonso (2005), citando Neves (2002), a expansão da pós-graduação é demonstrada pelo aumento no contingente de alunos no sistema de ensino superior. No ano de 1976, o número de matriculados era de 28.642 alunos, com 2.387 titulados. No ano de 2000, o número de matriculados elevou-se para 120.336 e 23.718 titulados (incluindo doutores). O ensino superior cresceu cerca de 30% entre os anos de 1976 e 1994. A pós-graduação neste período cresceu 130%. Nós últimos anos (até 2001), o ensino superior cresceu 43%, já a pós-graduação teve um crescimento ainda maior (87%).

Considerando a proliferação dos cursos de pós-graduação stricto sensu e lato sensu, o Conselho Nacional de Educação e a Câmara de Ensino Superior instituíram novas

normas e regras para o funcionamento dos mesmos através da Resolução CES/CNE nº1, de 3 de abril de 2001 (Capes, 2001). Esta Resolução definiu as condições de existência dos cursos de mestrado, doutorado e especializações, conforme transcrição a seguir:

1. Os cursos de pós-graduação stricto sensu estão sujeitos às exigências de autorização, reconhecimento e aprovação, previstas em lei;

2. Estas autorizações são concedidas por prazo determinado, sendo necessária a reavaliação pela Capes e o Ministério de Estado da Educação;

3. A emissão de diploma de pós-graduação stricto sensu exige defesa de dissertação ou tese;

4. O corpo docente do programa de pós-graduação stricto sensu deve ser composto por 100 % do quadro de doutores reconhecidos;

5. Os cursos de pós-graduação lato sensu independem de autorização, reconhecimento e renovação da autorização para funcionamento;

6. São incluídos na categoria de cursos de pós-graduação lato sensu os cursos MBA (Master Bussiness in Administration);

7. Os cursos de pós-graduação lato sensu são oferecidos a portadores de diploma de curso superior; 8. As Instituições que oferecem estes cursos devem ser credenciadas para oferecer cursos de pós- graduação;

9. As Instituições que oferecem pós-graduação lato sensu devem oferecer informações referentes aos cursos sempre que solicitadas pelo órgão coordenador do Censo do Ensino Superior - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, subordinado diretamente ao Ministério da Educação;

10. O corpo docente dos programas de pós-graduação lato sensu deverá ser constituído por pelo menos 50% de professores portadores de título de mestre ou doutor obtido em programa de pós-graduação stricto sensu reconhecido;

11. Os cursos de pós-graduação lato sensu devem ter duração mínima de 360 horas.

Deve-se destacar, portanto, que esta Resolução teve como principal finalidade a fiscalização dos cursos de MBA (Master in Bussiness Administration) que se multiplicavam de maneira descontrolada. Com relação ao número de cursos de pós- graduação lato sensu, não existem nos registros da Capes dados oficiais sobre o número de cursos e alunos matriculados no país, fato este que pode ser explicado, em parte pela

ausência de um controle mais efetivo, tanto por parte da Capes quanto por parte do Ministério da Educação, principalmente com relação ao aspecto da sua avaliação. Por este motivo, Wood Jr. e Paula (2002) afirmam que estes cursos são verdadeiras incógnitas no sistema nacional de ensino, pois sem fiscalização não se pode aferir qualquer controle de qualidade. Tais cursos se multiplicam, mas não há qualquer preocupação com o rigor acadêmico ou a relevância profissional.

Entretanto, já os chamados cursos de Mestrado Profissional constam nos registros da Capes, uma vez que esta nova modalidade foi desenvolvida a partir da necessidade do mercado de trabalho, com o intuito de mostrar rigor acadêmico e assegurar a estudantes e empregadores relevância em sua área de atuação. Estes cursos visam atender a um perfil de profissionais que buscam uma base teórica para a aplicação dos conhecimentos gerenciais em seu dia-a-dia de trabalho, sem dedicação exclusiva ao estudo.

Por estes motivos, esta nova modalidade choca-se frontalmente com os cursos de MBA, que promovem o desenvolvimento de conhecimentos voltados para as práticas gerenciais, priorizando o aspecto técnico em detrimento da dimensão teórica. Desta forma, conclui-se que ambos os programas são dotados de similaridades e diferenças, mas, no caso do MBA o caráter é mais prático e seus resultados são esperados em curto prazo, sendo, portanto, mais afinado com os objetivos deste trabalho de pesquisa.