• Nenhum resultado encontrado

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.4 O Conhecimento e temas correlatos

3.4.1 Conhecimento e Aprendizagem

O objetivo deste tópico é desenvolver os termos conhecimento e aprendizagem. Uma das questões relevantes nos estudos que relacionam conhecimento e aprendizagem é o

próprio conceito de conhecimento. A multiplicidade de enfoques ilustra a dificuldade de conceituá-lo por tratar-se de um termo de difícil definição. A psicologia cognitiva, com foco no processamento de informações, trata a aprendizagem como mudança nos estados de conhecimento ao invés de mudança na probabilidade de respostas ou comportamentos.

De acordo com Eboli (2004, p. 29), a literatura aponta três formas básicas de produção do conhecimento para aplicação em educação: ideológica, institucional e tecnológica. Para a autora, a escola clássica atende ao objetivo de formação das classes dominantes, dando ênfase à transmissão da ideologia vigente (modo de ser e de pensar), ao passo que a escola profissionalizante voltada às classes instrumentais e dominadas, privilegia os aspectos técnicos e operacionais (modo de fazer). Ainda em sua concepção, educação é prática, experiência e realidade vivida e Pedagogia e a Andragogia (ciência ou arte de ensinar pessoas adultas) são teoria, pensamento e ideal a ser vivido.

Por este motivo, é importante saber diferenciar o que realmente faz diferença dentre todas as opções de informação disponíveis, bem como quais são aquelas informações que são as mais aplicáveis e adequadas ao momento. Peters (1987) afirma que estamos nos afogando em informações e com fome de conhecimento. Para Davenport e Prusak (1998), o conhecimento difere da informação, pois consiste na utilização das informações em um contexto específico.

Complementando a visão dos autores anteriormente citados, Spender (2001), afirma que o conhecimento é um processo social de construção e compartilhamento de significados contido no universo cultural da organização.

Quando se analisam os aspectos relacionados à geração do conhecimento, não se pode deixar de considerar o papel do ensino e da aprendizagem no contexto social e organizacional. Para Coelho (1987), ensinar é mostrar que é possível e aprender é tornar possível a si mesmo.

Fleury e Fleury (1995) definem a aprendizagem como sendo um processo de transformação que pode manifestar-se ou não, sob a forma de uma mudança comportamental perceptível. Para estes autores, dois enfoques teóricos fundamentam os

principais modelos de aprendizagem mais conhecidos: o modelo behaviorista e o modelo cognitivo ou cognitivista.

O modelo behaviorista considera como foco principal o comportamento, que é mensurável e observável. A análise do comportamento está relacionada com o estudo das relações entre estímulos e respostas, causas e conseqüências. Neste caso, o planejamento do processo de aprendizagem pode definir todas as etapas em termos passíveis de observação, mensuração e réplica científica.

Por sua vez, o modelo cognitivista é mais abrangente do que o behaviorista, pois pode explicar de forma mais consistente os fenômenos mais complexos, como a aprendizagem de conceitos e a solução de problemas, mesclando a utilização de dados objetivos, comportamentais e subjetivos. Consiste também na consideração das crenças e percepções dos indivíduos que influenciam no processo de percepção e apreensão da realidade.

Nesta mesma linha de raciocínio, Lomônaco (1984), sustenta que a aprendizagem constitui um evento interno ao indivíduo e é, portanto, não observável. Pode ser inferido através do desempenho do indivíduo. Desta forma, o modelo cognitivista de aprendizagem trabalha com representações e com o processamento de informações pelo indivíduo.

O estudo da aprendizagem organizacional no campo da teoria das organizações incorpora os dois enfoques descritos, pois considera que o processo de aprendizagem pode ou não implicar mudanças comportamentais visíveis ou mensuráveis. A aprendizagem organizacional envolve tanto a elaboração de novos mapas cognitivos que possibilitem a compreensão do ambiente interno e externo em que atua, quanto a observação de novas atitudes e comportamentos que comprovam a efetividade do aprendizado. Este assunto será desenvolvido separadamente no tópico a seguir, relacionado ao tema conhecimento.

Ainda com relação ao o processo de aprendizado em adultos Bacellar e Ikeda (2005) observam que ele não se processa da mesma forma que com as crianças. O primeiro

aspecto está na motivação: crianças normalmente são obrigadas a estudar, enquanto adultos normalmente escolhem espontaneamente os cursos que lhes interessam. No caso do adulto, esta motivação cria uma predisposição para o aprendizado, o que também resulta numa maior valorização do mesmo.

Rogers (1996, p. 5-6), reforça as idéias das autoras anteriormente mencionadas, acrescentando que todas as formas de ensino para adultos (andragogia) apresentam duas características em comum: os participantes são estudantes voluntários e aprendem com uma finalidade específica. Segundo este autor, mesmo que possam ter razões distintas para esta busca de conhecimento tem um propósito definido e, caso ele não se concretize, mais cedo ou mais tarde abandonarão o curso. Uma conclusão a que o autor chega é a de que o prestador do serviço educacional (a instituição) e o professor precisam atrair os alunos, como se existisse um acordo tácito sobre isto entre as partes.

A definição apresentada pela UNESCO, em sua Declaração sobre a Educação de Adultos, elaborada em 1997 diz que:

[...] por educação de adultos entende-se o conjunto de processos de aprendizagem, formais ou não formais, graças aos quais as pessoas cujo entorno social considera como adultos desenvolvem suas capacidades, enriquecem seus conhecimentos e melhoram suas competências técnicas ou profissionais ou as reorientam a fim de atender suas próprias necessidades e as da sociedade. A educação de adultos compreende a educação formal e permanente, a educação não formal e toda a gama de oportunidades de educação informal e ocasional existentes em uma sociedade educativa e multicultural, na qual se reconhecem os enfoques teórico e baseados na prática (UNESCO, 1997, Art. 3 da Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos).

No estudo de Bacellar e Ikeda (2005) cita-se Oliveira (2003), para quem a tarefa de fazer a ligação entre teoria e prática, na concepção dos alunos, é do curso e, portanto, do professor, devendo este processo acontecer no momento da aula, em detrimento do esforço único do aluno para atingir a proficiência em outro local e por conta própria. Ao observar uma ligação direta entre o conteúdo teórico e a vivência prática do dia-a-dia profissional, o aluno sente uma identificação, legitimando seu desejo de continuar os estudos, pois observa a utilidade do que aprende com o que de fato usa.

Para Rogers (1972), a aprendizagem não conta apenas com o aspecto cognitivo do estudante, mas também os aspectos afetivos. A aprendizagem significativa é caracterizada por possuir a qualidade de um envolvimento pessoal, considerando a pessoa como um todo, tanto sob o aspecto sensível quanto sob o aspecto cognitivo. Ela é auto-iniciada. Mesmo quando o primeiro impulso ou estímulo vem de fora, o senso de descoberta, do alcançar, do captar e do compreender vem de dentro. É penetrante e suscita modificação no comportamento, nas atitudes, talvez mesmo na personalidade do educando. É avaliada pelo educando. Este sabe se está indo ao encontro de suas necessidades, em direção ao que quer saber, isto é, se a aprendizagem projeta luz sobre a sombria área da ignorância da qual ele tem experiência. O locus da avaliação, pode-se dizer, reside, afinal, no educando. Significar é a sua essência. Quando se verifica a aprendizagem, o elemento de significação desenvolve-se, para o educando, dentro da sua experiência com um todo. (ROGERS, 1972, p.5 apud BACELLAR, 2005).

Outras definições, bem como outras visões sobre a aprendizagem e conhecimento serão consideradas e expostas, de forma conjugada, nos itens seguintes deste trabalho.