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2.2. Conceituação de Capital Social

2.2.1. As Dimensões do Capital Social

Antes de se discutir a disposição que as empresas podem desenvolver para aliar-se numa estrutura em rede e que tipo de capital social pode advir desta associação, é importante adotar-se uma taxonomia para o capital social que caracterize o conceito em termos de dimensões. Assim, é mais simples trazer o conceito para o plano concreto dos comportamentos presentes nas redes e facilitar o desenvolvimento de um modelo para uso na pesquisa empírica.

Nahapiet & Goshal (1998) descrevem três dimensões para o capital social, as quais influenciam a absorção de conhecimento nos processos de troca e combinação desenrolados nas interações entre os membros das redes:

(i) A dimensão estrutural, que está associada ao desenho do sistema social e à rede de relações entre os agentes participantes, em termos de densidade, conectividade e hierarquia.

A dimensão estrutural pode ser bem entendida ao imaginá-la como a estrutura física da rede estratégica, formada pelos contratos, regras e padrões formais que hierarquizam, dividem papéis e documentam a interação entre os participantes, bem como pelos sistemas de transferência de informação ou bens físicos, o desenho logístico da rede e tudo que diz respeito ao seu funcionamento no plano operacional. Esta dimensão influencia a formação de conhecimento, por meio das ligações entre os membros e dos canais de comunicação

formados entre eles, da configuração da rede e da conseqüente oportunidade de interagir com mais parceiros à medida que a rede tenha maior número de conexões. A própria organização pactuada entre os membros, como padrões técnicos e rotinas organizacionais, contribui, de alguma forma, para a formação de conhecimento, incorporando novas práticas e processos a cada participante individualmente.

(ii) A dimensão relacional, que descreve o tipo de relação desenvolvida entre os agentes ao longo da história de interações e que provê certo status em termos de aceitação, reputação e prestígio perante os demais.

Diferentemente da dimensão estrutural, a dimensão relacional não pode ser descrita em termos de elementos concretos ou padrões operacionais, mas das percepções sobre os comportamentos que os participantes constroem entre si, no decorrer das relações formais e informais que ocorrem na rede. A dimensão relacional impulsiona a construção de conhecimento de maneira indireta, trazendo os elementos que propiciam uma relação pautada em colaboração e comprometimento, como normas de conduta, obrigações e expectativas entre os membros, confiança e identificação entre eles.

(iii) A dimensão cognitiva, que se refere aos recursos que proporcionam compartilhamento de interpretações e sistemas de significados comuns às partes, como códigos e linguagem.

A dimensão cognitiva pode ser descrita tanto por elementos concretos, quanto por elementos abstratos, os quais definem o potencial de aprendizado disponível na estrutura e nas relações da rede. Exemplos de elementos concretos seriam os sistemas de registro e transferência de conhecimentos, como manuais, procedimentos técnicos, modelos e, principalmente, a própria linguagem estabelecida como o protocolo de interação. Dentre os

elementos abstratos, pode-se citar, como exemplos, os símbolos e linguagens desenvolvidos informalmente nas interações e também os aspectos culturais próprios que se desenvolvem no ambiente particular de cada rede. Esta dimensão tem, segundo Nahapiet & Goshal (1998), particular importância no contexto da construção do conhecimento das empresas. Os mecanismos pelos quais o conhecimento é formado originam-se nos códigos e seus significados e na linguagem, à medida que ocorrem os processos de comunicação entre os membros, bem como pelas narrativas formais ou informais que registram os eventos de interação e suas conseqüências.

Coleman (1988) identifica três formas de capital social, expressos pelas estruturas de obrigações, pelos canais de informação e pelas normas e sanções. Se tomada a taxonomia de Nahapiet & Ghoshal (1998), tais formas de capital estão contidas na dimensão cognitiva.

Outros autores identificaram dimensões para o capital social, como, por exemplo, Liu & Besser (2003), que apontam quatro delas: ligações sociais informais, ligações sociais formais, confiança, e normas de ação coletiva. Os três primeiros conceitos remetem à dimensão relacional da taxonomia de Nahapiet & Ghoshal (1998) e, a quarta, às dimensões estrutural e relacional, visto que as normas de ação podem referir-se a procedimentos ou regras de conduta.

Narayan & Cassidy (2001) identificam uma gama mais ampla de dimensões, como ilustrado na Figura 1, a seguir.

Contribuição monetária Número de membros Freqüência de participação Participação na decisão Heterogeneidade entre membros Fontes de financiamento Características do Grupo

Solidariedade entre membros Integridade dos membros Confiabilidade dos membros

Normas Gerais

Quão bem os membros seguem juntos Intimidade

União

Sociabilidade

Pediria a seu vizinho para cuidar de uma criança doente? Pediria ao seu vizinho para lhe ajudar em caso de doença? Conexões entre os Agentes Vizinhos

Voluntarismo próprio Expectativa de voluntarismo Criticismo ao não-voluntarismo Contribuição justa aos membros vizinhos Ajudou alguém alguma vez?

Voluntarismo

Confiança na família

Confiança nos membros vizinhos

Confiança nas pessoas de outras tribos/castas Confiança nos proprietários da firma Confiança nos agentes do Governo Confiança na Justiça, Cortes, Polícia Confiança nos serviços públicos Confiança nos governos locais Confiança

Capital Social

A dimensões de Narayan & Cassidy (2001) expressam mais apropriadamente os conjuntos de comportamentos ou disposições dos membros de uma comunidade e não seria prudente assumir que todas elas representem comportamentos reprodutíveis ao ambiente das redes de empresas, em que os agentes são entidades corporativas, ou seja, a rede é uma comunidade de coletividades, as empresas, cada uma, um agrupamento com sua própria dinâmica interna.

De qualquer forma, hipoteticamente, podem-se investigar alguns desses comportamentos como indicadores de um capital social mais ou menos desenvolvido numa rede, agrupando-os em dimensões como, por exemplo, as definidas em Nahapiet & Ghoshal (1998).

O que se procura neste estudo é investigar, a partir das pesquisas pregressas no campo do capital social, elementos para que um construto “capital social” seja elaborado e operacionalizado no modelo de análise, com o objetivo de avaliar os efeitos dos seus elementos sobre um segundo construto “capital intelectual”, a ser, também, definido no modelo. As manifestações de capital social identificadas por Narayan & Cassidy (2001) podem prestar-se à tarefa de modelar o construto capital social e, na fase de análise dos resultados da pesquisa, mostrar-se-ão úteis ou não à consecução do objetivo proposto.

Para tanto, parece interessante buscar uma agregação das dimensões de Nahapiet & Ghoshal (1998) e Narayan & Cassidy (2001), porquanto elas convergem no que tange a questões associadas a relacionamento e a estruturas de padrões e normas. Em particular, no caso da segunda taxonomia, o tratamento de uma dimensão cognitiva traz coerência com a

abordagem cognitiva que foi utilizada no tratamento do processo de formação de conhecimento, no corpo deste relato de pesquisa.

Os comportamentos previstos por Narahyan & Cassidy (2001) podem ser a base dos elementos comportamentais que modelarão o conceito de capital social para a pesquisa. Portanto, faz sentido uma elaboração mais detalhada de alguns desses comportamentos, como a confiança e a conseqüente disposição para colaborar, a qual envolve voluntarismo, união e sociabilidade.