• Nenhum resultado encontrado

As doutrinas da expansão nacional e o imperialismo

CAPÍTULO III O Estado-Nação

D. As doutrinas da expansão nacional e o imperialismo

De qualquer modo, direita, centro e esquerda logo irão convergir na França em apoio ao empreendimento colonial, conduzido em nome dos direitos e dos deveres de uma Nação que deu provas de virtudes civilizadoras: e cada partido reserva-se a possibilidade de administrar essas provas à sua maneira.

É verdade que a rival britânica já havia amplamente aberto o caminho nesse domínio. A expansão comercial inglesa já se desenvolvera amplamente depois de 1815; mas permanecia, em seu conjunto, um problema que envolvia as companhias privadas. Os governos liberais tinham por princípio não intervir além-mar, a não ser em caso de absoluta necessidade. Desde a segunda metade do século, essa necessidade tornou-se paulatinamente uma lei: em torno do tema da salvaguarda das livres comunicações marítimas, instalou-se progressivamente, ao mesmo tempo que uma prática intervencionista, uma ideologia da grandeza nacional. O tema tradicional da livre expansão comercial transforma-se em dever nacional; e o Primeiro-Ministro conservador Disraeli teve o mérito de 'dar nome ao seu objetivo: a constituição de um Império colonial.

Nenhuma concepção política, no sentido estrito, é constituída com o fim de legitimar tal política. Mas o pensamento inglês sofre uma transformação significativa: contra o empirismo e o utilitarismo, surgem doutrinários, o mais típico dos quais é certamente Thomas Carlyle (1795- 1881). Carlyle exalta os heróis que fizeram a história, insiste nos benefícios da autoridade e da virtude, condena o gosto pela facilidade e busca do lucro e desenvolve um idealismo moralizante e profético. Por trás dessa pregação, manifesta-se o desejo de um Estado forte, de um exército heróico e conquistador e de uma Nação inteiramente devotada à grandeza de sua missão civilizadora.

Honra e interesse: os personagens dos romances de Rudyard Kipling (1865-1936) irão ilustrar essa máxima. Do outro lado do Atlântico, à imagem do colonizador que leva o "fardo do homem branco", corresponde a mitologia norte-americana da "fronteira": fronteira da civilização incessantemente empurrada para' o oeste por valorosos desbravadores, apóstolos a seu modo dos direitos do homem, da exploração mineral, da agricultura e da carabina Winchester. Os pioneiros do faro este aplicam espontaneamente uma teoria do espaço vital.

Ora, no continente europeu, essa teoria irá receber um desenvolvimento repleto de conseqüências. No momento em que Bismarck se vale de tudo para forjar o Segundo Reich, reconstituindo a unidade nacional da Alemanha, historiadores (como H. von Treitschke), economistas (como Friedrich List) e artistas elaboram - recordando o Sacro-Império e os cavaleiros teutônicos – uma concepção do Povo e do Estado alemães abertamente racista. A metafísica fichteana desce à terra, marcada com um sinal oposto ao que tivera no início do século. Pois, dessa feita, trata-se de conquistar para assegurar à raça superior os territórios adequados à sua superioridade. No final do século, respectivamente em 1897 e em 1899, aparecem duas obras que sistematizam esse espírito: a Geografia política, de Friedrich Ratzel (1844-1904), que se empenha em dar um fundamento objetivo à política expansionista alemã; e os Fundamentos do século XIX, de Houston Stewart Chamberlain (1855-1927), que argumenta no sentido de provar que a raça alemã, liberta de suas escórias e das influências latinas, eslavas e judaicas que a pervertem, possui uma preeminência natural que deve lhe permitir realizar, em todos os domínios, os ideais da humanidade.

O nacionalismo tornou-se um elemento constitutivo da potência do Estado. Os temas que ele implica - unidade do território, unidade do povo, unidade da vontade" etc. - induzem facilmente a uma retórica que é assumida pelos governos autoritários. Todavia, desde o bill de 1689, o Estado moderno afirmou sua vontade de defender o princípio das liberdades. Convém examinar como a concepção liberal do poder - em conflito ou em cumplicidade com os nacionalismos realiza e legitima esse princípio.

INDICAÇõES BIBLIOGRAFICAS

CharIes .Andler, Les origines du pangermanisme (1800-1888); Couard. 1915; Le pangermanisme philosophique (1800-1814), ibid., 1917; Elie HaIévy, Histoire du peuple anglais. Les impérialistes au pouvoir (1895-1905). Hachette, 1926; R. Delavignette, Ch.-A. Julien, Les constructeurs de Ia France d'outre-mer, Corréa, 1945; R. Girardet. L'idée coloniale en France,de 1871 à 1962, La TabIe Ronde, 1972.

O ESTADO-NAÇÃO - 105 3. O liberalismo político

No século XIX, o Estado-Nação se constitui mais ou menos por toda parte, na ordem interna, como Estado liberal: o liberalismo político é sua filosofia dominante. As concepções liberais dominantes pretendem resolver principalmente a "questão política", entendida essencialmente como o problema das relações entre o indivíduo e o Estado.

Qualquer que seja a diversidade dessas doutrinas "de acordo com a época, o país, as tendências numa mesma época e num mesmo país" (d. Jean Touchard, Histoire des idées politiques, 2, PUF, 1959), pode-se perceber a presença de uma dupla preocupação essencial: o indivíduo deve ser protegido, ao mesmo tempo, contra o Estado e contra as massas; por conseguinte, é preciso encontrar os mecanismos institucionais destinados a impedir esse duplo perigo.

Podem-se distinguir, grosso modo, dois tipos de solução. Uma versão mais ou menos otimista, considera que a aplicação de certas "receitas" institucionais pode subtrair o indivíduo do despotismo, enfraquecendo a autoridade do Estado e impedindo o advento da democracia de massa; para tomarmos o exemplo mais significativo, é o caso da solução buscada por Benjamin Constant (1767-1830). A outra, versão nitidamente mais pessimista, considera o advento democrático como inelutável e tenta preconizar métodos destinados, não a impedir, mas a evitar o excesso de despotismo que um tal advento corre o risco de promover; coube a Alexis de Tocqueville (1805- 1859), decerto, ilustrar do modo mais exemplar essa segunda versão.