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As Drogas como um fator Multifatorial

No documento Legislação e Políticas Antidrogas (páginas 35-39)

Atividades de aprendizagem

Aula 4 As Drogas como um fator Multifatorial

Nesta aula veremos que o fenômeno das drogas possui varias di- mensões a serem compreendidas para uma ação adequada de en- frentamento.

4.1 Os aspectos multifatoriais

Para trabalhar com políticas públicas sobre drogas com sucesso, é necessário ter uma visão das drogas como um fenômeno Multifatorial, pois pelo fato do fenômeno das drogas terem várias dimensões e enfoques possíveis, de múltiplos e diferentes olhares, o sucesso de uma determinada política estará ligado à observância das características multifatoriais das drogas.

O que queremos dizer com aspectos multifatoriais das Drogas? Se formos pensar, por exemplo, nas causas de uma dependência química será impossí- vel indicar apenas um fator. Minimamente

podemos dizer que existem pelo menos quatro dimensões possíveis de se analisar este exemplo, são elas: a Biológica, a Psico- lógica, a Social e a Espiritual.

Biológica - vê a interação das drogas com o biológico, principalmente com o sistema nervoso. Existem importantes avanços cien- tíficos na pesquisa e compreensão desta in- teração, dos mecanismos neurotransmisso- res na ação das drogas em um organismo e da reação deste.

Psicológica - As drogas alteram várias funções psíquicas, alterando compor- tamentos, sensações, percepções e significação dos fatos. Geram hábitos, condicionamentos, compulsões. A mente, o psicológico, também gera pen- samentos, sentimentos e significações em relação às drogas, ao seu uso e ate mesmo sobre as sensações experimentadas no uso das drogas.

Social - Fatores sociais podem se tornar fatores de risco ao uso de drogas Figura 4.1: Diversas drogas Fonte: http://www.google.com.br

etc.), como o comportamento social do usuário, afetado pelo efeito das dro- gas, podem trazer problemas (Agressividade, roubos, vandalismo, etc..). O dependente químico afeta e é afetado pelas relações familiares. Gera fatores culturais ou por eles são afetados. O uso das drogas gera questões e desafios a ordem Jurídica e Legal.

Espiritual - Entendida coma a dimensão da espiritualidade, da fé em algo superior a si. Não necessariamente tem a ver com religião. Por exemplo, uma abordagem que é respeitada pelos relevantes serviços prestados no atendimento aos alcoolistas é o AA - Alcoólicos Anônimos, que tem como um dos seus doze passos para a recuperação o da aceitação de um Poder Superior, não importando se a pessoa segue alguma religião e independente de como cada religião possa denominá-lo.Esta dimensão pode ser entendida por alguns como o Sentido da Vida para cada um, a dimensão do Existencial. Os momentos de crise existencial são, por exemplo, momentos de risco de abuso das drogas.

4.2 Visão interdisciplinar

Tendo esta compreensão, esta visão e olhar sobre o fenômeno das drogas, não caberá se ter posturas radicais. Não fará sentido impor que tudo tenha que ser visto ou compreendido por um só olhar, como por exemplo: Só o remédio cura! Só Jesus Cura! Só legalizando as drogas é que se resolverá o problema! É tudo “psicológico”! O ser humano é um ser complexo, integral e com várias dimensões, não pode ser tratado com uma visão restrita ou preconceituosa, tendo o risco de atendê-lo de forma incompleta. Não cabe mais na atenção à questão das drogas de se utilizar dos princípios do leito de Procusto!

A visão das drogas como fenômeno multifatorial não torna as coisas mais simples, pois na realidade o fenômeno das drogas é complexo.

A criação, implementação e desenvolvimento de políticas públicas para a questão do uso e abuso das drogas tem que levar em conta esta complexi- dade do problema para ter chances de sucesso. Esta complexidade aponta para a importância e a necessidade do trabalho em Rede (veremos com mais detalhes este tema num próximo capítulo); da importância da ação de dife- rentes atores, com os seus diversos saberes; da necessidade da articulação entre diferentes ONGs, Conselhos de Controle, veremos a diante um capítu- lo sobre estes conselhos, além do poder público.

“Na mitologia grega Procusto era um salteador sanguinário que obrigava suas vitimas a deitar-se sobre um sinistro leito de ferro, do qual nenhuma saia com vida: se elas fossem mais curtas que o leito, esticava- as com cordas e roldanas, se ultrapasse as medidas, cortava a parte que sobrava.” (BRANDÃO, 1998, p. 156).

Ao se desenhar uma política pública na área das drogas, teremos que levar em conta as diversas dimensões do fenômeno drogas, além do fato que a combinação e suas proporções entre estas diversas dimensões em cada in- divíduo podem ser muito variadas, o que torna praticamente impossível um programa rígido e padrão para ser aplicado igualmente a todas as pessoas.

O enfoque multifatorial nos leva a ter posturas não preconceituosas, não radi- cais e facilitadoras do diálogo, da troca de informações, experiências e saberes.

Na área do tratamento já é consenso entre os especialistas sobre a visão que comentamos acima, como aponta o texto:

O tratamento da dependência de substâncias psicoativas pode ser to- mada como o exemplo de um campo complexo e multifatorial, que exige abordagem integrada de diversas dimensões implicadas. É con- siderado consenso na literatura que esse tratamento seja organizado segundo um enfoque interdisciplinar, para alem de uma abordagem multidisciplinar.A perspectiva interdisciplinar no contexto da assistên- cia dependência química possibilita aprimorar as relações de trabalho entre os profissionais da saúde e entre os pacientes, os familiares e a comunidade (DIEHL et al, 2011, p. 454).

Você consegue agora perceber a importância de se ter uma visão multifato- rial do fenômeno das drogas para que haja o desenvolvimento adequado de políticas públicas?

Resumo

Nesta aula compreendemos que para trabalhar com políticas públicas sobre drogas é necessário à observância das características multifatoriais das drogas.

Atividades de aprendizagem

Reflita e avalie se a instituição que você trabalha, ou uma que você conheça, já desenvolve as suas atividades na área das drogas dentro do enfoque multifatorial, que estudamos nesta aula. Comente e descreva as suas observações.

Aula 5 – A Importância de se ter

No documento Legislação e Políticas Antidrogas (páginas 35-39)