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Fundamentos dos Direitos Humanos

No documento Legislação e Políticas Antidrogas (páginas 146-149)

Atividades de aprendizagem

Aula 20 – Direitos Humanos e Políticas Sobre Drogas

20.2 Fundamentos dos Direitos Humanos

A fundamentação dos direitos humanos tem diversas fontes: a natureza hu- mana, a religião, a cultura e a existência de direitos historicamente cons- truídos. Contudo, em cada uma dessas possibilidades de fundamentação, aparecem sempre dois elementos: a igualdade e a dignidade.

Pela igualdade, tem-se que os direitos humanos são intitulados por todos os indivíduos pelo mero fato de serem humanos. Já a dignidade trata-se de uma igualdade muito peculiar, essa concepção de igualdade permite o reconhecimento de diferenças, entre elas as relacionadas ao gênero, à raça, à idade, etc. Isto é, considerando as diferenças, muitas vezes é preciso agir de maneiras diferentes para garantir uma real igualdade, pois todos são dignos dela.

A diferença compreendida como formadora da diversidade humana é im- portante, enriquece a vida humana e traz a singularidade de cada ser. Mas a transformação das diferenças de gênero, raça/etnia, deficiência e orientação sexual, entre outras, em desigualdades são construções históricas criadas pela humanidade ao longo de sua história de uso do poder. Neste processo, foram cridas categorias de sujeitos em situação de maior vulnerabilidade, por estarem na condição de diferentes dos padrões dominantes, por exem- plo, negras (os), mulheres, pessoas com deficiência, de orientação sexual, dentre outras.

Um aspecto que ainda perdura, apesar das informações mais amplas e dos resultados das pesquisas, são os preconceitos em torno do sujeito usuário de drogas, o que muitas vezes impede uma abordagem mais adequada e às vezes levando ao desrespeito a seus direitos enquanto pessoa humana. A luta contra estes preconceitos seriam um dos objetivos de um movimento social de enfrentamento das drogas, dentro de um processo de pressão pela construção e desenvolvimento de uma política pública sobre drogas conse- quente.

Através dos movimentos sociais ocorreram mudanças nessas relações, reivin- dicando espaços, propondo reformulação de leis e igualdade de direitos. São exemplos desse tipo de ação os movimentos feministas, movimento negro, o movimento pelos direitos das pessoas com deficiência, o movimento de gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais, o movimento pelos direitos das crianças, dos adolescentes, dos idosos. Isto contribuiu para a transfor- mação das concepções sobre o sujeito universal (Padrão), alem de trazer

“O ser humano deve ser compreendido como um fim em si mesmo e nunca como um meio ou um instrumento para a consecução de outros fins”. Kant (citado em pg. 39 “Formação de conselheiros em direitos humanos/ [Maria de Lourdes Alves Rodrigues... [et al.], colaboradores Célia Maria Escanfella... [et al.].-Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2007.”)

esses 'novos sujeitos' para a luz do reconhecimento social.

A conquista da expressão de direitos humanos nas Leis, ainda não é suficien- te para alterar a realidade de discriminação e de preconceito, construída ao longo da história humanidade, pois se encontram inseridas na cultura e na mentalidade de nossa sociedade e presente no cotidiano de violações destes direitos, necessitando de ações positivas para se romper este padrão.

A discriminação pode ser compreendida como no campo da desigualdade e, portanto, seu contraponto é a luta pela igualdade de direitos. Já o pre- conceito está no campo da intolerância, da dificuldade de conviver com o diferente e seu contraponto seria a afirmação da diversidade, isto é o direito à diferença, com igualdade de direitos.

Preconceito é uma atitude, implica em emoções, sentimentos negativos ou de desconforto diante daquilo ou daqueles que são considerados diferentes. O viciado, o drogado, o alcoólatra, o dependente químico, o usuário de dro- gas, muitas vezes são vitimas de preconceitos. Este, por exemplo, é um dos pontos que une um movimento pelo enfrentamento das consequências do uso das drogas aos movimentos por diretos humanos.

20.3 Cidadania

“Afinal, o que é ser cidadão?

Ser cidadão é ter direito à vida, á liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É tam- bém participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a par- ticipação do individuo na riqueza coletiva: o direito a educação, ao trabalho, ao salário justo, á saúde, a velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.” (pg. 09 - “Historia da Cidadania/ Jaime Pinski, Carla Bassanezi Pinsky. (orgs.). 2. Ed. – São Paulo : Contexto, 2003)

“Uma sociedade democrática, justa e humanitária pressupõe o respeito a todas as pessoas e a garantia de direitos, independente de sexo, cor, idade, condições físicas, mentais e orientação sexual. Esta é uma disposição de nossa Lei maior, desde 1988. Cabe aos conselhos (de controle social) promoverem a discussão na sociedade, estimulando a transformação da mentalidade antiga para estes novos conceitos e visão de homens e mulheres, combatendo as desigualdades e valorizando a diversidade humana, em que todas as diferenças são fundamentais.” (pg.127, Maria Lourdes Alves Rodrigues, in “Formação de conselheiros em direitos humanos/ [Maria de Lourdes Alves Rodrigues...[et al.], colaboradores Célia Maria Escanfella... [et al.].-Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2007.”)

O exercer a cidadania, o se tornar um cidadão pleno de direitos, representa emocionalmente e psicologicamente um amadurecimento, o crescimento da autonomia, o fortalecimento do Ego, o desenvolvimento e ampliação da consciência e dos sentimentos de solidariedade, de co-responsabilidade para com a vida dos outros e da comunidade. Um dependente químico grave, certamente não apresenta mais estas características, reabilitá-lo não é só ajudá-lo a parar de usar drogas, mas é ajudar no resgate de sua cidadania.

A Cidadania, também é um conceito em construção ao longo da história, desde antes dos gregos, que se reuniam nas Ágoras, espaços públicos onde se reunia moradores das “Polis” (cidade), para decidirem questões da comu- nidade, até os tempos atuais, como escreve Jaime Pinskey:

“A cidadania instaura-se a partir dos processos de lutas que cul- minaram na independência dos Estados Unidos da América do Norte e na Revolução Francesa. Esses dois eventos romperem o principio de legitimidade que vigia até então, baseado nos deveres dos súditos, e passaram a estruturá-lo a partir dos di- reitos do cidadão. Desse momento em diante todos os tipos de luta foram travados para que se ampliasse o conceito e a práxis da cidadania e o mundo ocidental o estendesse para mulheres, crianças, minorias nacionais, étnicas, sexuais e etárias. Nesse sentido pode se afirmar que, na sua concepção mais ampla, ci- dadania é a expressão concreta exercício da democracia.Existe um processo de evolução que marcha da ausência de direitos para sua ampliação, ao longo da história”. (pg. 10 “Historia da Cidadania”/ Jaime Pinski, Carla Bassanezi Pinsky.(orgs.). 2. Ed. – São Paulo : Contexto, 2003.)

Hoje no Brasil, desde a transição para a democracia, há um processo de fortalecimento das práticas de cidadania, além de votar em eleições, tem crescido a participação da população através de diferentes mecanismos, ins- tituições e estratégias, incluindo atividades relacionadas à divulgação de in- formações, manifestações públicas, contatos com autoridades, colaboração ou participação em ONGs, etc.A organização e a mobilização da sociedade civil têm contribuído para o fortalecimento das práticas de cidadania.

Existem ações de cidadania com foco em reivindicar as instituições públicas mais transparência, mais respeito à lei e maior garantia dos direitos civis, políticos e sociais. Outras são focadas em lutar pelo desenvolvimento de

determinadas políticas públicas. Neste ponto queremos destacar que carece na temática das políticas sobre drogas uma maior organização e articulação dos atores envolvidos nesta questão: profissionais, pesquisadores, educa- dores, religiosos, familiares, pacientes em recuperação, usuários, etc.., para pressionar o poder público a desenvolver uma política mais consequente e também para propor mudanças que levem a aumentar a legitimidade, a efi- cácia e a eficiência das instituições e políticas públicas de atenção à questão das drogas.

No documento Legislação e Políticas Antidrogas (páginas 146-149)