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CAPÍTULO 2- Percursos Metodológicos

2.4 As Entrevistas Como Recurso

As entrevistas são essenciais dentro do procedimento metodológico da observação. Ela não pode ser vista como uma mera técnica, por excelência, destaca-se como um dos principais recursos da coleta de dados e informações do trabalho científico nas Ciências Humanas e Sociais. Ela proporciona abertura para o diálogo e interação com os participantes da pesquisa. Quando se trata do jogo de palavras entre entrevistador e entrevistado, podemos acercar que meras palavras não bastam, ou seja não há nada que possa garantir questionários com informações precisas sobre o objeto pesquisado. A observação possui uma série de interferências e complexidades que podem ser apenas compreendidas dentro das conversas ou entrevistas informais. Esse momento de troca auxilia no processo de coleta e compreensão da realidade pesquisada. (AGIER; 2015)

A construção da observação consiste no saber ver, saber estar com e o saber escrever o que foi observado e coletado a partir da pesquisa em campo. Ao mesmo tempo em que não apenas de observação pode ser realizada esta pesquisa, mas também é necessário realizar trocas para ouvir o que os informantes tem a dizer. Sendo assim, as chamadas entrevistas não-diretivas aparecem como instrumento fundamental para o estudo de culturas e subculturas. Elas orientam o pesquisador a compreender a os valores, as normas, as representações e os símbolos de um conjunto, além de ser um caminho que aproxima o etnólogo do objeto de pesquisa e do objetivo que pretende ser alcançado: “Considera-se que a entrevista não-diretiva permite, melhor que

outros métodos, a emergência deste conteúdo sócio-afetivo profundo, facilitando ao entrevistado o acesso as informações que não podem ser atingidas diretamente” (THIOLLENT, 1981, p. 194)

Podemos ressaltar a entrevista como uma técnica importante que permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas, pois com o contato individual face a face fica mais simplificado desenvolver relações que podem nortear respostas para o problema de pesquisa, por isso, elas são essenciais no percurso metodológico etnográfico, pois contribuem para que a absorção do conhecimento do local estudado seja mais efetiva. Elas configuram uma coleta qualitativa de dados e estabelecem perspectivas e postos de vistas sobre os fatos que estão sendo investigados.

O emprego da entrevista qualitativa para mapear e compreender o mundo de vida dos respondentes é o ponto de entrada para o cientista social que introduz, então, esquemas interpretativos para compreender as narrativas dos atores em termos mais conceptuais e abstratos, muitas vezes em relação a outras observações. A entrevista qualitativa, pois, fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais a sua situação. (GASKELL, 2002, p. 65)

A entrevista também pode ser uma ferramenta essencial para uma descrição detalhada de um meio social específico e pode fornecer dados para testar hipóteses e expectativas. Por isso, é uma técnica que combina com outros métodos já que colabora em uma melhor interpretação dos fatos. Mas para que a entrevista seja efetivamente realizada, Gaskell (2002) entende que é necessário a construção de um tópico guia para nortear a pesquisa. Esse procedimento ajuda o pesquisador a compreender quais são os fins e objetivos da pesquisa. Ao mesmo tempo em que é preciso realizar uma seleção de quais pessoas serão entrevistadas, assim, é possível realizar uma amostragem da pesquisa e explorar diferentes opiniões e representações do assunto em questão.

Nesse sentido, podemos citar, Burgess (1980) defende que a abordagem mais conhecida para trabalhar com pessoas na pesquisa de campo é a técnica da entrevista com os informantes. Dentro da técnica é importante envolver a seleção de informantes privilegiados. Ao serem selecionados, podem representar os diferentes aspectos da situação social. Assim, o observador pode fazer uma coleta de dados a partir dos relatos e categoriza-los em sua pesquisa. Na metodologia as perguntas são direcionadas ao entrevistado e o entrevistador realiza perguntas fechadas, livres e de escolha múltipla, anotando-as imediatamente. Fica no papel do pesquisador desenvolver uma coleta de respostas com a menor distorção possível.

As entrevistas seguiram a lógica não estruturada, conforme explicada por Burgess (1980), em que as perguntas são realizadas a partir de uma conversa informal com o entrevistado. O autor defende que esta técnica fornece informações ricas e detalhadas que podem ser utilizadas com outros materiais. Thiollent (1981) entende que as entrevistas não- diretivas colaboram como meio de aprofundamento qualitativo da investigação. Para o autor, as entrevistas são instrumentos indispensáveis para as pesquisas. Com elas o pesquisador pode avaliar os mecanismos, possibilidades, limitações e implicações do cenário pesquisado. E defende que o etnógrafo não pode realizar as entrevistas com base na intuição ou do bom senso mas sim do tato e da ingenuidade das entrevistas comuns:

A utilização da entrevista não-diretiva tem o objetivo de provocar as produções verbais dos indivíduos de tal modo que elas possam constituir outras tantas informações sintomáticas. Estas são consideradas como reveladoras ao mesmo tempo da cultura e das subculturas próprias a cada indivíduo e de certos mecanismos que presidem a sua constituição. (THIOLLENT, 1981, p. 195)

O autor ainda destaca que o procedimento adotado consiste em ler e reler as entrevistas disponíveis para chegar a uma impregnação. É preciso identificar e interpretar cada um dos dados qualitativos. Mas destaca que a singularidade de cada entrevista necessita ser analisada. Isso porque o que pode faltar em uma entrevista, pode ser encontrada em outra. Como também algumas respostas podem levar a outras. O número de informante também pode ser variado. Isso depende do feeling do pesquisador. O importante é que o pesquisador escute e observe e realize a interpretação do que viu e ouvir.

O ato de “ouvir” através das entrevistas é necessário, pois coloca pesquisador e pesquisado para confrontar-se e compartilhar os laços culturais em comum. Esse “ouvir” conquistado através das entrevistas em profundidade, as abertas e os diálogos casuais colaboram para que o pesquisador perceba o sentido das ações que observa. Esse contato entre o pesquisador e pesquisado pode contar com a utilização de um gravador ou não. E algumas ocasiões a formalidade, com utilização de gravadores, podem desfavorecer o momento de conversa e espontaneidade do entrevistador, pois há uma tendência maior do informante agir naturalmente. Ao contrário na formalidade, onde pode-se pensar mais antes de falar e ponderar opiniões mais polêmicas. (VIEIRA; 2018) Por isso, as técnicas da entrevista podem variar de acordo com o contexto na qual o pesquisador está inserido. Como levar a entrevista pode depender do tipo de informação que foi transmitida e quais são necessárias reformular para resolver o problema de pesquisa. (RICHARDSON et al.; 2008) Para essa pesquisa foram realizadas entrevistas formais, com a utilização de gravador, como também as informais que

foram moldadas em tom de conversa durante a rotina de trabalho ou até mesmo em intervalos como cafés e almoços.

Como as entrevistas são realizadas com o propósito de ajudar a problematizar como os valores notícia são operados no contexto das mídias sociais do Gaúcha ZH. Neste caso, os informantes são majoritariamente jornalistas. Nesta pesquisa foram realizadas entrevistas com todos os seis analistas de conteúdo que compõe a ilha de produção nas mídias sociais, incluindo a chefia. (Na seleção) Como informantes desse processo, o trabalho utilizou o recurso com dois dos chamados Editores da Hora, além de informantes que compreendem o processo e avanço do núcleo digital, como também dos editores-chefe que constituem o trabalho total realizado na redação. Podemos então denomina-los como os “informantes privilegiados”. Nos princípios etnográficos esse termo é utilizado para designar os detentores de um saber ou uma competência maior que são compatíveis com a pesquisa do observador. Eles podem variar desde os informantes mais baixos, como no caso os jornalistas que estão cumprindo a sua tarefa, como também os informantes de maior complexidade, como os editores-chefe. Esse conjunto de informação consegue ofertar uma visão do conjunto da realidade que está sendo estudadas. (AGIER; 2015)