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CAPÍTULO 4- Critérios de Noticiabilidade nas Redes Sociais: Decisões,

4.2 O Grande Fluxo de Conteúdo no Twitter

Diferente do Facebook, em que há um portão mais restrito, o Twitter possui um perfil mais abrangente para a GauchaZH. Bons entendedores dos sistemas algorítmicos e das dinâmicas das mídias sociais nas quais utilizam, a conta do perfil vinculado ao jornal recebe quase a totalidade do conteúdo produzido pelos repórteres e colunistas da empresa, o que corresponde a quase 90% da produção diária do jornal, o que gira em torno de 120 postagens por dia, sendo pouco mais que o dobro das postagens no Facebook.

A coordenadora (AC1) conta que a os 10% que não são selecionados para distribuição no Twitter acontecem geralmente porque há muita coisa acontecendo no dia e um único analista não consegue ter disponibilidade para realizar uma postagem totalmente contínua. Pode ser também porque ocorre alguma falha de comunicação, como por exemplo alguma matéria que não chegou no grupo de e-mails pelos repórteres não terem encaminhado ou então algum link do desdobramento de uma grande reportagem que não foi compartilhado pelo analista. Segundo a jornalista, a princípio, a ideia é de ser 100%, porém é muito difícil atingir esse número devido a esses problemas eventuais que ocorrem nas rotinas da produção jornalística da empresa.

Obviamente para que todas essas matérias produzidas ao longo do dia pelos repórteres sejam publicadas na rede social, o intervalo de postagem também precisa ser menor, por isso as variações de tempo entre uma postagem e outra são de 10 em 10 minutos. Esse é tempo ideal para postagem. Mas existem dias dentro da redação em que muitos fatos estão sendo noticiados e o intervalo entre as postagens podem ser diminuídos para 5 em 5 minutos, como ocorreu no quarto dia de observação:

É um dia atípico. Muitas informações e notícias estão chegando na redação apesar de ser manhã. Dentre elas, diversas matérias que podem render engajamento, como por exemplo, o vídeo de uma Lamborghini avaliada em milhões de dólares que se envolveu em um acidente e um vídeo de cordão humano que criminosos fizeram na região metropolitana.

Observando a atividade constante do AC2 fazendo postagens ininterruptas no Twitter pergunto como funcionam os agendamentos: “Hoje está um dia atípico. Está entrando muita coisa importante e com um factual muito forte. Geralmente agendamos as publicações a cada 10 minutos, mas nesse caso vamos publicar a cada 5 minutos. Por isso, então, os horários variam muito de acordo com o dia, de como está o fluxo” Intervalos maiores de agendamento ocorrem apenas em períodos noturnos ou então em finais de semana, pois possuem um fluxo menor de notícias.

Segundo a coordenadora, os analistas podem exercer postagens consecutivas no Twitter sem que haja a preocupação de inundar a timeline do usuário ou então que uma publicação derrube o alcance de outra. As ferramentas e dinâmicas desta mídia social permitem uma atualização constante do feed, ou seja, há um tráfego de notícias muito grande e a timeline é maior, ou seja a pessoa navega com mais agilidade. Por isso ele precisa ser rápido, preciso e imediatista. Ou seja, tem que entrar conteúdo o quanto antes, pois como há muitas postagens na timeline, a notícia pode ser “perder” muito rápido. Em entrevista com a AC4 ela me relata:

O Twitter tem uma entrega muito mais ágil, os tweets vencem muito mais rápido. Então a gente consegue publicar de 10 em 10 minutos conteúdos mais diversos em relação aos números de posts no Facebook. Também temos facilidade em oferecer coisas que estão casadas com o momento, ou seja, aproveitar o “time”. O Facebook não tem esse “time”, pois pode entregar um post que eu fiz as 10 da manhã apenas as 10 da noite ou muitas vezes nem entregar. Então o Twitter me dá uma segurança de que uma notícia vai chegar no momento certo para quem segue GauchaZH. (Relato de entrevista)

Mesmo que o jornal possua um público menor neste espaço e como consequência não renda índices satisfatórios de audiência, ele ganha destaque por ser um canal que promove o relacionamento do leitor. Entretanto encontra o desafio de manter-se constantemente atualizado. Por isso que ao contrário do Facebook que pode ser considerado algo mais elaborado e criterioso, no Twitter há uma maior abertura dos portões, porém há uma preocupação para que os conteúdos cheguem de maneira rápida e eficiente.

Como vimos no tópico de discussão sobre a rotina do inesperado em que a divulgação da morte do Paixão Cortes foi priorizada primeiramente no Twitter. E mesmo que posteriormente nas outras redes, como o Instagram e o Facebook, houve uma pausa para oferecer essa cobertura, o Twitter prosseguiu com o seu fluxo contínuo e ininterrupto de notícias.

Por isso, muitas vezes ele se torna muito mais do que uma simples mídia social para a GauchaZH manter o relacionamento com os seus leitores, ele tem participação na construção

do monitoramento sobre o que está acontecendo no momento e o que poderia ser notícia no jornal. A partir disso podemos voltar na discussão sobre a compra e venda de notícias onde o analista observa a audiência e sugere uma produção de pauta para os editores e repórteres do jornal. Em entrevista a AC4 conta como funciona a relação com esta mídia social:

No Twitter a gente vai pelo momento. Se uma coisa está muito nos assuntos do dia e eu sei que aquilo está rendendo muito, eu sei que eu tenho que postar logo. Não adianta o conteúdo estar agora em todos os jornais no Twitter e eu guardar pra colocar meia noite quando todo mundo já leu. Eu preciso acompanhar esse “time”. Eu preciso acompanhar a instantaneidade da notícia, ou seja, quando a notícia acontece. (Relato de pesquisa)

Mas como ocorre em algumas vezes, as editorias não conseguem desenvolver a pauta devido ao intenso ritmo de produção e os analistas de conteúdo podem não alcançar um aumento dos pontos de audiência para auxiliar no cumprimento de sua meta. Assim como o AC3 relata que muitas vezes vale a pena fazer uma chamada só com foto e com título sem link, pois não podem perder tempo:

Quanto mais rápido uma informação for publicada nas redes sociais, melhor. Tempo é importante. Tempo é clique. Tempo é engajamento. Tempo é reação. Tempo é diferença e relevância pro próprio veículo. Minutos fazem diferença em engajamento. As reações fazem diferença se um jornal postou uma notícia antes. Qualquer número de reação a mais dá mais engajamento, dá mais impacto, da mais visualização. (Relato de pesquisa)

Precisamos também lembrar que os Trending Topics provém dessa rede social. Parecido com o Social Monitor, onde os analistas possuem uma ideia sobre o que está sendo postado por outros jornais no Facebook, os trends mostram quais são os assuntos que estão sendo mais discutidos no momento em todo o Brasil. Traduzindo literalmente para o português significa ‘Tópico em Tendência’, no nosso país ele é conhecido como ‘Assuntos do momento’. É um ranking realizado pelos cálculos algorítmicos da rede social que caracteriza uma quantidade expressiva de tweets com hashtags ou palavras específicas que estão sendo reproduzidos em determinado momento. Quando se tornam populares, eles entram para o Trending Topics.

Por isso, devido a sua instantaneidade, muitas das discussões ocorrem primeiro no Twitter e começam a ganhar espaço nesse recurso que a rede social oferece. Eles também fazem parte do processo de influência onde os analistas observam o que pode ser produzido pelos repórteres do jornal para acompanharem os acontecimentos que estão sendo relatados ou pelo público ou pelos concorrentes.

Porém isso não significa que os jornalistas não façam apostas para tentar chamar a audiência. Sempre que o tweet de uma notícia rende engajamento e audiência, a mesma notícia é colocada em circulação novamente para que ganhe os mesmos índices que anteriormente. Essa atividade pode ser realizada em um pequeno intervalo de horas, já que os algoritmos do Twitter são mais simples e rápidos em relação as demais mídias sociais.

Sendo assim, o Twitter não passa por um processo de seleção noticiosa tão criterioso. As notícias são postadas conforme chegam no e-mail e possuem autorização dos editores. Não há um processo concentrado na escolha ou rejeição de um item. A grande maioria deles são comprados pelos gatekeepers e podem passar livremente sobre os portões para serem servidos aos consumidores. Por isso, ao ser uma rede social de abrangência menor de público e de maior portão, não há preocupações sobre o que e como publicar, pois automaticamente ele estará seguindo a linha editorial do jornal de forma integral.

Porém é preciso ter cautela ao postar um conteúdo, visto que ao contrário do Facebook, o Twitter não permite que uma postagem seja modificada logo após a mudança de uma foto ou título. A coordenadora dos analistas relata que já aconteceram casos em que um tweet foi divulgado de maneira equivocada e depois teve que ser apagado. Mas isso é algo que deve ser completamente evitado segundo as regras da empresa. Por isso sempre deve haver uma cautela nas postagens, como o tempo de espera de liberação do editor, formato de linguagem, a foto, entre outros recursos. Ou seja, a notícia precisa ser modelada, pensada e estruturada para poder oferecer da melhor maneira possível para o usuário que está adepto a consumir as notícias mesmo neste espaço.

A GauchaZH também utiliza o seu Twitter como uma forma de fortalecer a imagem e o trabalho dos seus repórteres, tanto que alguns conteúdos exibidos pelo perfil do jornal correspondem a retweets de jornalistas e demais comunicadores da empresa. Esses compartilhamentos acontecem apenas em alguns casos específicos. Geralmente são conteúdos com informações diárias sobre trânsito, coberturas ao vivo, eventos esportivos ou então em outros momentos em que há algo inesperado e o repórter estava presente. Por isso, não são todos os repórteres que necessariamente serão ‘retweetados’, são aqueles que apenas foram designados na tarefa de cobrir o trânsito ou algum evento.

Os profissionais não utilizam o próprio Twitter para realizar as postagens. A empresa utiliza um aplicativo chamado TweetDeck. É um dispositivo que auxilia o trabalho em diferentes vertentes, como por exemplo no auxílio do agendamento das postagens. Com esse recurso, os analistas também podem ter acesso ao mesmo tempo nas outras contas vinculadas ao grupo RBS, como a página de Esportes e o ClickRBS. Da mesma forma que possuem uma

visualização dos perfis dos jornalistas da empresa que utilizam a mídia, auxiliando nos processos de retweets:

Na observação de uma das analistas de conteúdo começo a perceber que as postagens no Twitter costumam ser automáticas. Percebo que eles utilizam alguma plataforma ou aplicativo para as postagens, facilitando e dinamizando tudo o que vai ser postado. Parece que absolutamente todas as matérias (ou quase) vão para a rede social. Não há muita compra e venda de notícias para essa plataforma. (Relato de Pesquisa)

Apesar de o perfil de GauchaZH no Twitter abrigar um conteúdo mais amplo e diverso, há muitas apostas no alcance da editoria de Esportes nesse espaço. Mesmo no próprio perfil de GauchaZH, a editoria de Esportes destaca-se como uma das que mais rendem engajamentos e acessos ao site. Tanto que o jornal investe em três perfis nesta mídia social voltados unicamente para os esportes que são EsportesGauchaZH, ColoradoGZH e TricolorGZH que representam os dois maiores times de rivalidade no estado do Rio Grande do Sul. Por isso, a maior editoria do jornal possui um grande espaço nesta plataforma onde concentra-se um grande número de público torcedor e fanático pelo futebol gaúcho.

Dessa maneira podemos concluir que no Twitter não há uma relação específica de critérios de noticiabilidade. O fato de haver rendimento na editoria de esportes não significa que o jornal esteja restrito apenas a notícias com esse critério, já que existem páginas específicas para essa publicação. Mas de alguma maneira podemos dizer que há uma valorização da instantaneidade de compartilhamento de notícias, visto que essa é uma característica exclusiva da própria rede social, onde observamos por exemplo nos tweets dos repórteres da redação. Ou seja, notícia em primeira-mão, rápida e exclusiva. Além de ser um influenciador no entendimento dos analistas sobre o que precisa ser produzido para que a Gaucha possa acompanhar os fatos instantâneos que acontecem no mundo.