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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.2 A avaliação da aprendizagem sob a óptica do professor formador: que

5.2.2 As experiências com a avaliação da aprendizagem na condição de aluno da

Antes de abordar propriamente os fatores constituintes do processo de formação docente dos professores de Matemática consultados por ocasião da presente pesquisa, houve a curiosidade em saber das experiências às quais tiveram acesso durante a educação básica. Quais os sentimentos envolvidos nas situações em que se viam sendo avaliados? Quais marcas foram deixadas pelos processos avaliativos, especialmente nos momentos em que não tinham a devida compreensão do processo avaliativo em si? Essas foram algumas das questões que direcionaram a compreensão deste bloco de falas dos participantes no que se refere às experiências avaliativas às quais tiveram acesso durante a educação básica.

Unidades de sentido em Heidegger: sentido negativo

[...] umas experiências eram meramente decorebas [...], fazia só decorar para responder à prova [...]; minha lembrança mesmo é prova, trabalhos, seminários; dessa forma, mais prova, tradicional mesmo. [...] Eu fazia prova e tirava as notas da prova. [...] Enquanto aluno, até a educação básica eu tive experiências com avaliação, tanto as tradicionais, como escrita, as orais, as apresentações de trabalho, então eu tive várias atividades de sala de aula que eu fui submetido a algum tipo de avaliação. [...] Em geral eram questões muito dirigidas, questões muito específicas, quase sempre na modalidade de avaliação escrita individual e sem consulta. [...] Não percebia muito nos meus professores essa ideia de ver cada um. [...] Como aluno, eu sou oriundo da época do regime militar, então minha formação é nessa visão, nessa óptica onde o mais importante de tudo era a parte cognitiva, o que ficava assim, e a questão disciplinar. [...] tinha o período destinado à semana de provas, algo meio traumático. [...] se você quisesse se sobressair, você tinha que estar estudando muito por conta própria, dificuldades imensas de livros, então era muito difícil, muito complicado. (D1; D2; D5; D7; D8; D10; D11; D14;

D16; D17; D18; D19).

Horizontes em Gadamer

Experiências decorebas; provas tradicionais; questões muito dirigidas, específicas; aluno oriundo do regime militar; parte cognitiva e questão disciplinar eram os fatores mais valorizados; semana de prova vista como algo traumático.

Fusão de horizontes em Gadamer Horizonte negativo: avaliação como ato mecânico.

De acordo com esses horizontes destacados, percebe-se que as experiências avaliativas vivenciadas durante a educação básica, para esses professores, tiveram um peso, um sentido negativo, os quais fizeram referência inclusive ao regime militar. Destaca-se, assim, toda a carga negativa atribuída ao processo de avaliação, às experiências mecânicas de avaliação às quais tiveram acesso quando crianças ou jovens, especialmente ao formato observado nas provas e aos tipos de questões cobradas no ato avaliativo ou mais especificamente nas provas.

Embora a análise esteja levando em conta os horizontes comuns presentes nas falas dos depoentes, o relato adiante em especial chamou a atenção para a reflexão acerca dos registros quantitativos por ocasião das avaliações:

[...] um processo muito falho, quando a gente pensa em aprendizagem de fato [...]; a escola me dizia que eu era um excelente aluno de Matemática, quando eu passei pela escola de ensino fundamental e médio, especialmente no ensino fundamental, [...] mas, depois que eu cheguei na universidade, aí eu vi que foi completamente falho, porque eu não tinha aprendido praticamente nada como aluno de Matemática. Enfim, aquele resultado, aquela nota, não dizia, na verdade, a minha aprendizagem. [...] Uma coisa só, sempre prova. (D6).

Para esse docente, as experiências relatadas se constituíram num sentido negativo, pois os resultados (notas) de suas avaliações realizadas durante a educação básica não condiziam com a aprendizagem real dos conteúdos trabalhados, não só na área de Matemática como também nas disciplinas de modo geral. Muitas vezes, os resultados apresentados em provas ou outros instrumentos avaliativos não são fiéis ao nível de aprendizado do aluno. De acordo com Zabala (1998), há uma forte tendência em se utilizar instrumentos padronizados para tipos de conhecimentos diferentes, os quais, por sua vez, exigiriam abordagens ou instrumentos avaliativos diferenciados, capazes de fornecer os subsídios adequados para o tipo de conhecimento ou de aprendizagem pretendida. Na análise desse professor (D6), as avaliações deveriam sinalizar de forma mais clara as suas reais necessidades, os pontos que necessitariam ser retomados no cotidiano da prática pedagógica, a partir do uso de instrumentos avaliativos que dessem esse suporte.

Embora tendo vivenciado situações semelhantes, para outros professores, questionados sobre essas mesmas condições, as experiências relatadas não se configuraram de forma tão negativa, ao contrário, apontaram para um horizonte positivo da ação avaliativa, como será ilustrado no excerto a seguir.

Unidades de sentido em Heidegger: sentido positivo

[...] Eu tive boas experiências. Fui cobrado na escola, desde apresentação de seminários mesmo, trabalhos em grupos, avaliações também tradicionais mesmo, escrita individual, que também é importante. O que eu vejo é que naquela época os professores eles tinham – não vou dizer um pouco mais de poder –, mas eram mais respeitados, então você tinha uma quantidade um pouco maior de avaliações. [...] Por exemplo, na minha época, eu fazia prova oral, eu ia para o quadro, e aí a professora me arguia [...]. E também através de lista de exercícios, de questionários, e aí realmente depois tinha prova escrita. [...] Dentro da perspectiva da época, considero as experiências boas e adequadas. [...] Uma experiência incrível através do sistema de telensino, com apoio de uma orientadora, contribuiu bastante para a sequência do meu aprendizado em termos de concentração. [...] como eu era um aluno razoavelmente bom, então eu nunca tive muitos problemas com a avaliação. [...] Eu sempre procurei atender aos requisitos avaliativos dos meus professores. (D3; D12; D13; D15; D20; D22).

Horizontes em Gadamer

Boas experiências; cobranças em avaliações tradicionais com escrita individual como um aspecto importante; professores mais respeitados; prova oral; ida ao quadro seguida de arguição; sequência de exercícios que antecediam à prova; experiência com o sistema de Telensino e atendimento às exigências dos professores.

Fusão de horizontes em Gadamer

Horizonte positivo: a rigidez dos métodos avaliativos como estímulo à aprendizagem. O que se percebe é que, mesmo tendo sido submetidos, em determinados contextos, às mesmas condições descritas no bloco anterior, os horizontes desses outros professores sinalizaram para uma concepção positiva de avaliação, de práticas que, ainda que enraizadas na concepção tradicional de educação, são encaradas como positivas, como estímulo à aprendizagem.

O intuito de trazer à memória as experiências vivenciadas durante o período em que cursaram a educação básica é uma tentativa de analisar a relação dessas experiências com as concepções de avaliação descritas no primeiro bloco de análise, em paralelo com as bases que sustentaram suas formações iniciais, quer seja nas licenciaturas ou bacharelados. Dessa forma, na subseção seguinte, são abordadas algumas experiências ligadas à avaliação da aprendizagem, num contexto já mais próximo da docência, o momento de formação inicial para o exercício desta.

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