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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.3 A avaliação da aprendizagem na óptica do professor de Matemática

5.3.9 Considerações parciais sobre o olhar dos professores egressos acerca da

A consulta aos professores de Matemática egressos dos cursos analisados tinha como objetivo principal estabelecer a relação entre a abordagem da avaliação da aprendizagem na formação docente inicial e a forma como estas se refletem no cotidiano de sala de aula, nas práticas de avaliação da aprendizagem na educação básica.

Inicialmente é importante destacar que em praticamente todas as categorias de análise foi possível identificar unidades de sentido tanto positivas quanto negativas, o que direciona para um entendimento de que a análise se deu em sua essência a partir de dois grupos antagônicos. O primeiro grupo trazendo uma abordagem acerca da avaliação numa perspectiva mais formativa, a avaliação pensada e desenvolvida de maneira dinâmica e processual. Já o segundo grupo concebendo a avaliação numa perspectiva fechada, de que esta deve seguir um padrão mais estático, ligado à abordagem tradicional de educação, tendo como subsídio principal o uso do instrumento prova. Dessa forma, constituíram -se claramente duas abordagens, que vão desde as concepções de avaliação até as práticas que esses professores desenvolvem em sala de aula com o intuito de avaliar a aprendizagem.

Para aqueles docentes que têm uma visão de avaliação mais voltada para a avaliação formativa, as práticas que fogem a esse padrão de processo, de construção da aprendizagem, de continuidade, são encaradas como horizontes negativos, e vice-versa.

Em determinadas falas, evidenciaram-se fatores inerentes aos reflexos gerados pelas práticas avaliativas às quais tiveram acesso na formação inicial, ou seja, na licenciatura. Esses reflexos, assim como nas outras categorias analisadas, configuraram-se, para alguns, como fator extremamente positivo, ao passo que, para outros, geraram marcas negativas, sendo insuficientes no que se refere ao preparo para o exercício da docência e para as práticas de avaliação da aprendizagem.

O panorama gerado a partir das abordagens positiva e negativa possibilitou vislumbrar as práticas de avaliação sob perspectivas diferenciadas, em que um mesmo fenômeno é analisado sob ponto de vista totalmente antagônico em determinadas situações, capaz de gerar reflexões diferentes acerca de um mesmo objeto de estudo – no caso, a avaliação da aprendizagem e o processo de formação docente.

No Quadro 8, foram organizadas as informações coletadas através das categorias analisadas com o objetivo de promover melhor visualização dos fenômenos apresentados.

Quadro 8 – Resumo dos horizontes sinalizados pelos professores egressos em relação às práticas de avaliação da aprendizagem

Horizontes dos professores egressos em relação às práticas avaliativas

Categorias de análise Horizontes positivos Horizontes negativos Concepções de avaliação Avaliação como um processo de

construção contínua.

Utilização de atividades pontuais para medir o conhecimento do

aluno.

Experiências com a avaliação na formação inicial

Significativas e diversificadas, tendo a avaliação da aprendizagem

como fator positivo para a formação docente.

Avaliações desenvolvidas sob a abordagem tradicional não contribuíram com o processo de

formação docente.

Atuação dos professores do núcleo específico da

Matemática

Olhar diferenciado dos professores sobre o processo de avaliação da

aprendizagem.

Avaliação presa à abordagem tradicional e desvalorização de aspectos importantes da prática

pedagógica.

Preparo para a prática de avaliação da aprendizagem

Acesso a boas práticas avaliativas foram favoráveis ao desenvolvimento da avaliação na

educação básica.

Inexistência de uma formação específica em avaliação da aprendizagem na formação inicial.

Formação recebida na licenciatura e o preparo para

o exercício da docência

A atuação dos professores contribuiu para uma formação docente crítica e reflexiva, gerando

reflexos positivos na prática pedagógica dos professores

egressos.

A formação inicial deixou a desejar em relação ao preparo para lidar com situações práticas do ensino da

Matemática.

Marcas deixadas pelas práticas de avaliação na

formação inicial

-

Marcas negativas em decorrência das práticas de avaliação da

aprendizagem.

Práticas avaliativas com os alunos da educação básica

Práticas avaliativas diversificadas, atentas às demandas dos alunos.

Dificuldades em realizar a avaliação de forma mais reflexiva, tendo que atender às exigências das

escolas, do sistema educacional.

Instrumentos avaliativos utilizados com mais

frequência

Diversidade de instrumentos para a coleta de dados avaliativos como

garantia do aprendizado.

Uso exclusivo da prova como instrumento de coleta de dados

avaliativos.

Experiências vivenciadas na formação inicial e que realizam com seus alunos na

educação básica

Uso de atividades avaliativas diversificadas na sala de aula como

reflexo positivo das experiências vivenciadas na formação inicial.

Metodologia de avaliação restrita à prova, reproduzindo o modelo de

avaliação usado na formação inicial.

Dificuldades em desenvolver a prática avaliativa

Percepção de potencial criativo a partir de cada dificuldade em elação

à incumbência de avaliar a aprendizagem. - Práticas avaliativas consideradas mais adequadas e aplicáveis à educação básica

Atividades avaliativas que priorizem o protagonismo do aluno, em situações mais ligadas à prática.

Uso exclusivo da prova como atribuição ao modelo ideal de avaliação da aprendizagem. Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa (2019).

Dessa forma, por se fazer a opção pela análise na perspectiva hermenêutica, na análise feita por agrupamento de participantes não se destacam as concepções de grupo constituído a partir da instituição analisada, mas sim pelos horizontes que sinalizam a partir de suas falas e pela fusão desses horizontes em positivo ou negativo.

Foram muitos os fatores apontados como entraves nas práticas de avaliação da aprendizagem, dificuldades sentidas nas primeiras situações em que se viram diante da tarefa de avaliar os alunos na educação básica; situações práticas vivenciadas na licenciatura que deixaram a desejar; a falta de abordagem sistematizada sobre os fundamentos e concepções de avaliação, porém foram muitos os saberes mobilizados e constituídos a partir das experiências vivenciadas nas situações práticas.

Conclui-se, portanto, que, diante das situações em que a abordagem sobre a avaliação foi deixada à margem, a maioria das dificuldades vivenciadas pelos egressos foi suprida a partir de aspectos como: esforço próprio para superar as dificuldades advindas da prática de avaliar, aprendizagem a partir de situações práticas vivenciadas na licenciatura, práticas de alguns professores tidas como modelos a serem seguidos, uso de instrumentos/ metodologias tendo como base as experiências da licenciatura, dentre outros fatores.

Dessa forma, a inexistência de uma cultura de formação em avaliação vai se reproduzindo, uma vez que os professores formadores, não tendo acesso aos conhecimentos científicos sobre a avaliação, desenvolvem suas práticas avaliativas desprovidas do embasamento teórico e da reflexão necessária acerca de todo o processo de ensino e de avaliação da aprendizagem como um todo. Os professores egressos, por não terem o acesso a práticas mais reflexivas de avaliação e por não terem trabalhado os devidos conhecimentos acerca da prática avaliativa na formação inicial, chegam à educação básica com alguns déficits que precisam ser superados na e a partir da própria prática, como já foi mencionado anteriormente.

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