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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.3 A avaliação da aprendizagem na óptica do professor de Matemática

5.3.6 Experiências vivenciadas na formação inicial e realizadas atualmente na

Por considerar que muitas das práticas desenvolvidas nas salas de aula da educação básica são resultados ou reflexos das experiências às quais tiveram acesso durante a formação inicial, foi sugerido aos professores que listassem atividades significativas no seu processo de formação e que serviram de base para a utilização em suas salas de aula, quer na abordagem de conteúdos, quer exclusivamente nas estratégias de coleta de dados para a avaliação. Dessa forma, o primeiro agrupamento de falas direciona para um sentido positivo, em que essas práticas serviram de suporte ou motivação para um uso e tratamento diferenciados em sala de aula.

Através destas unidades de sentido destacadas, é possível identificar a relação atribuída à formação, não só nos tipos de abordagens utilizadas pelos professores formadores, independentemente das áreas de atuação/formação, mas na identidade docente deles, no seu jeito de ser e de atuar em sala de aula. As unidades de sentido a seguir ilustram bem essa afirmação.

Unidades de sentido em Heidegger: sentido positivo

[...] um professor que gostava de fazer sorteios aleatórios, as perguntas-bomba. [...] Eu uso as rodas de conversa, debater um tema para saber se eles estão realmente a par. [...] uma forma de avaliar diferenciada. [...] a avaliação por seminários [...]. Eu tive professores muito humildes [...]; eram humildes o suficiente para terem a ajuda de todo mundo. [...] A gente não sabe tudo, nós não dominamos tudo, e toda a ajuda deles é bem-vinda. [...] A parte de chegar sempre com uma aula planejada. [...] Por exemplo, eu sempre mando confeccionar um Tangran, que eu vi numa disciplina específica de laboratório. Em Geometria, eu sempre corto um triângulo e mostro que um ângulo raso é a soma dos lados dos seus ângulos internos com valores semelhantes, então essas coisinhas que são palpáveis, que o material está fácil ali, eu utilizo. [...] Procuro muito colocar questões que estimulem o aluno a pensar um pouco e que seja um meio ligado à realidade. [...] Tive muitas experiências com o Pibid [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à

Docência] durante a minha formação e muitas dessas experiências se tornaram do

meu dia a dia, de forma positiva. Aprendi muito a trabalhar com jogos, de forma lúdica, e essas vivências eu levo tudo para a minha sala de aula. [...] Na licenciatura, eu tinha um professor que usava muito material concreto e jogos também, jogos didáticos, e eu acho essa parte de jogos didáticos muito interessante, porque você percebe que os alunos eles se envolvem mesmo. [...] tem o experimento, que pode ser um jogo didático, podem ser observações feitas no espaço do colégio,

numa quadra, uma aula totalmente de campo, fora do espaço de sala de aula. [...] A

experiência dos materiais manipuláveis e softwares [...], trabalhar situações- -problema para que os alunos possam ver que a Matemática não se restringe

apenas às quatro paredes, a gente pode contextualizar e pode levar isso para um campo fora da sala de aula. [...] Tinha disciplinas na graduação que eram disciplinas de práticas pedagógicas em que a gente tinha que construir ideias de aulas, e essas aulas tinham que ser aplicadas a turmas de alunos. E, nessa disciplina, a gente tinha conteúdos matemáticos que a gente precisava sair do tradicional. [...] Tem uma professora em especial que muitas práticas que ela levou para a sala de aula e mostrou para a gente como exemplo eu acabo utilizando em sala de aula. [...] As experiências que eu vivi em Estágio, dicas que professores me deram durante o Estágio, e eu utilizo em sala de aula hoje, e algumas coisas ligadas à disciplina de História da Matemática [...]. Relaciono os conteúdos da disciplina com a apresentação de jogos, apresentação de seminários de temáticas da Psicologia da Aprendizagem, como é que eles aprendem, e isso eu vi na graduação e acho extremamente importante trazer isso para a realidade do meu aluno do ensino médio. [...] Na verdade, eu acho que tudo o que eu faço foi justamente porque eu peguei a parte boa de cada professor e hoje eu consigo usar em sala de aula. (E1; E2; E3; E4; E5; E6; E7; E8; E9; E10; E15; E16; E17; E19; E21).

Horizontes em Gadamer

Sorteios aleatórios de perguntas; rodas de conversa; seminários; humildade e disposição para aprender em sala de aula; uso do Tangran e outros materiais; questões que estimulem o aluno a pensar; experiências com o Pibid; trabalho com jogos, ludicidade; uso de material concreto, jogos didáticos, experimentos, observações, aula de campo, materiais manipuláveis, softwares, situações-problema contextualizadas; construção de aulas dinâmicas; experiências vivenciadas no Estágio; coisas ligadas à disciplina de História da Matemática.

Fusão de horizontes em Gadamer

Horizonte positivo: uso de atividades avaliativas diversificadas na sala de aula como reflexos positivos das experiências vivenciadas na formação inicial.

Nessa listagem de estratégias adotadas em sala de aula, percebe-se a diversidade de situações que serviram de estímulo a práticas mais reflexivas, nas quais o aluno deve ser colocado no centro do processo de ensino, como protagonista da própria aprendizagem. Na expressividade dessas falas, fazem-se notórias as formas como se compõem os saberes docentes e a interligação dos diversos saberes nesse processo de construção da identidade docente. Nesse sentido, Tardif (2014) destaca que essa composição se dá pela junção dos saberes disciplinares, curriculares, profissionais e experienciais. Esses saberes se articulam na constituição da identidade docente e se refletem na prática docente, nesse caso específico, nas aulas de Matemática e nas formas como os professores de Matemática avaliam os seus discentes na educação básica.

Todavia, ao serem questionados sobre as atividades com as quais haviam tido contato na formação inicial que lhes eram significativas, as quais aplicavam com os alunos da educação básica, a maioria dos professores se reportou às atividades realizadas na abordagem dos conteúdos no cotidiano de sala, sem fazer a devida correspondência com as práticas de avaliação da aprendizagem. Em algumas das situações mencionadas, percebe-se que não há

uma distinção clara entre a abordagem dos conteúdos realizada de forma cotidiana e as atividades destinadas a avaliar a aprendizagem especificamente.

Nessa categoria, apenas dois professores relataram as experiências vivenciadas, atribuindo-lhes um sentido negativo. Para eles, as práticas ligadas à avaliação da aprendizagem que vivenciaram na licenciatura e que reproduzem na sala de aula com os alunos da educação básica têm relação muito direta com o uso da prova.

Unidades de sentido em Heidegger: sentido negativo

[...] Só a questão da prova mesmo, impressa, digitada, que eu utilizo. [...] Na verdade eu só sigo o que já é repassado pelas escolas. A forma que eu era avaliada é a mesma forma que eu avalio, e eu não consigo fazer mudanças quanto a isso, porque a gente tem que seguir o perfil das escolas. Então, a forma que eu aprendi é a forma que eu passo para eles. (E13; E14).

Horizontes em Gadamer

Uso de prova; segue o que é repassado pelas escolas; usa a mesma forma de avaliar como era avaliado na formação inicial.

Fusão de horizontes em Gadamer

Horizonte negativo: metodologia de avaliação restrita à prova, reproduzindo o modelo de avaliação usado na formação inicial.

Através desses recortes das falas dos professores mencionados, tem-se muito clara a relação estabelecida entre as práticas desenvolvidas em sala de aula com aquelas experiências às quais tiveram acesso durante o processo de formação inicial. E mais, há a evidência de que, por não existir uma cultura de formação em avaliação, as práticas avaliativas, muitas vezes, são moldadas seguindo modelos muito tradicionais, sem vislumbrar as reais possibilidades que um processo de avaliação voltado para a construção das aprendizagens pode oferecer.

Durante a realização das entrevistas, foram vários os momentos nos quais os professores mencionaram a complexidade que envolve a ação de avaliar a aprendizagem dos estudantes. Nessa perspectiva, abriu-se espaço para que, diante dessa complexidade relatada, fossem evidenciadas também as dificuldades encontradas durante o processo de avaliar ou mesmo quando se depararam inicialmente com a atribuição de avaliar a aprendizagem dos seus estudantes.

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