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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.3 A avaliação da aprendizagem na óptica do professor de Matemática

5.3.7 Dificuldades em desenvolver as práticas de avaliação da aprendizagem

Solicitou-se aos professores que falassem sobre a forma como se sentiram diante da complexa atribuição de avaliar o processo de aprendizagem dos seus educandos. Nessa dimensão, foram consideradas positivas as unidades de sentido que direcionaram para uma

reflexão no tocante ao desenvolvimento de atividades em sala de aula e aos reflexos gerados a partir delas, como demonstra o excerto a seguir.

Unidades de sentido em Heidegger: sentido positivo

[...] Dificuldade em avaliar acho que não tive. Na verdade, uma questão que a gente tem que colocar em evidência é a naturalização do erro do aluno. [...] quando o aluno erra, também está fazendo sentido a minha profissão. [...] Logo no começo, tive dificuldade de como eu ia elaborar uma prova com as minhas palavras, sem pegar dos livros. [...] Já senti, principalmente no começo, quando eu fui para a sala de aula, porque, por falta de experiência, a gente acaba cometendo erros que ajudam a gente a melhorar. [...] Entender, saber dividir a atenção em todos os alunos, tentar associar que o mau comportamento de um aluno tem a justificativa, além da sala de aula, que a gente tem que ficar atenta, ver que esse mau comportamento não necessariamente é porque ele não quer estudar, e sim porque ele pode estar com algum problema. [...] uma coisa que eu percebi é que, dependendo do livro que você adote, isso pode ser muito ruim para os alunos. Eu tive colega que adotava determinado livro e eu via que, até para os professores, assim, era uma linguagem muito complicada. Então, a maneira como você vai avaliar, dependendo do livro que você pegue, pode prejudicar muito os alunos. [...] Eu sinto isso com muita constância, porque, muitas das vezes, a gente tenta compreender os nossos alunos, principalmente na matéria que eu ensino, eu sou professor de 1º ano, então os nossos alunos do ensino médio eles são muito inconstantes. [...] Nesse período, agora mesmo eu estou até com dificuldade de avaliar, por causa de um aluno que ele comprovadamente tem deficiência em relação à compreensão do conteúdo, aí não tem como eu conseguir avaliar ele da mesma forma que eu estou avaliando os outros. [...] a gente sempre sente porque, por exemplo, tem alunos que são inteligentes, espertos, você vê em outras atividades, alguma aula orientada, e você sabe que ele é esperto, que tem aptidão para outras coisas e, para aquele conteúdo específico que você ensinou de várias maneiras, ele não consegue fazer algo sozinho [...]. (E8; E9; E10; E11; E15; E16;

E18; E19; E21; E22).

Horizontes em Gadamer

Colocar em evidência a naturalização do erro; dificuldade em elaborar uma prova, principalmente quando iniciou a experiência em sala de aula; entender, saber dividir a atenção com os alunos; saber analisar o comportamento dos alunos; reflexão sobre o uso do livro e como este pode ser prejudicial para os alunos e influenciar negativamente no processo de avaliação; dificuldade em lidar com a inconstância dos alunos; analisar as possibilidades de abordagem com alunos que têm deficiência de aprendizagem; perceber os diferentes comportamentos diante de situações/experiências diferenciadas.

Fusão de horizontes em Gadamer

Horizonte positivo: percepção do potencial criativo a partir de cada dificuldade em relação à exigência de avaliar a aprendizagem dos alunos.

Diante das situações expostas a partir das falas em evidência, é importante destacar dois pontos em especial: o primeiro tem relação com o tratamento dado ao erro do aluno no processo de construção do conhecimento e ação do professor frente a esse erro; o segundo tem a ver com o olhar direcionado aos sentimentos e percepções diante da ação de avaliar. A prática docente que tem como ponto de partida a ação reflexiva traz em sua essência muitas possibilidades de formação a partir da própria prática. Perceber-se diante de determinadas dificuldades e pensar as estratégias utilizadas com o intuito de superá-las

constitui-se como uma excelente estratégia de formação continuada, em que se interligam saberes e se (re)constituem novas práticas.

Nessa direção, ainda tratando das dificuldades ligadas às vivências com a avaliação, os professores foram questionados sobre as marcas deixadas em sua formação inicial pelas práticas avaliativas. Os relatos apontaram para sentimentos negativos atinentes à avaliação, marcas que denotam um sentido negativo em decorrência das formas como foram avaliados durante o processo de formação inicial.

É importante retomar a base filosófica que orienta a presente discussão e os cuidados tomados por se tratar da expressão de sentimentos ligados às práticas docentes. Vale salientar que, ao se fazer uso da escrita, da transformação das falas dos participantes em textos escritos e analisá-los, há que se ter o devido entendimento dos fatores envolvidos nesse processo de compreensão. Para Gadamer (2014), a escrita ocupará sempre o centro do fenômeno hermenêutico, a partir da dialética da pergunta e da resposta, nesse processo entram em cena também os pensamentos próprios do intérprete. Nessa perspectiva, convém destacar que, apesar das concepções de quem interpreta não interferirem diretamente nas falas dos participantes, ao descrever e analisar os fenômenos é praticamente impossível para este se posicionar de forma alheia ao que se discute.

Nessa óptica, foram agrupadas as falas dos professores, destacando as marcas deixadas pela avaliação da aprendizagem, e todas direcionaram para um sentido negativo, uma vez que geraram interferências no processo de formação docente e consequentemente nas práticas futuras, já em sala de aula na educação básica.

Unidades de sentido em Heidegger: sentido negativo

[...] Teve algumas vezes que a avaliação se mostrou de forma injusta; a avaliação extrapola o conteúdo e exige do aluno um conhecimento geral e amplo, que não estava especificado para aquela avaliação [...], principalmente quando é na Matemática Tradicional, ela extrapola essa questão. [...] Só essa questão de o professor geralmente não verificar que o seu raciocínio, de acordo com aquela questão, ele está correto, mas que você, apenas por um pequeno escorrego, que é comum acontecer na Matemática, isso fez com que você não chegasse ao resultado esperado. [...] O que pesa bastante nesse ponto negativo é a questão das provas extensas e que, muitas vezes, não contribuem muito para o aluno refletir, pensar sobre o que de fato ele está fazendo naquele momento. [...] Provas muito secas, perguntas de nível muito alto, muito elevado em relação ao que você vem estudando durante a disciplina [...]. A gente só fazia prova em algumas disciplinas específicas e pegava aquela questão do psicológico. Às vezes, você não estava preparado psicologicamente e acabava cometendo erros que poderiam ser até ‘fatais’. [...] Outro ponto negativo é com relação aos enunciados, que, às vezes, não eram muito claros dos professores nas questões, induzindo ao erro. [...] Apresentação de um seminário numa disciplina de História da Matemática, eu acho que foi malfeito, porque foi mais ‘cara, crachá’, mas isso aí eu acho que cabe a questão de profissionalismo mesmo do professor. Acaba sendo um ponto negativo, porque você não foi avaliado como conteúdo. [...] Teve uma prova que

eu fiz que era cálculo algébrico, que eu tirei uma nota abaixo da média, e o professor pediu na hora para a gente tentar explicar o assunto daquela questão que eu errei, tentar fazer essa questão de outra maneira na sala de aula, e eu não gostei muito, porque foi uma coisa na hora mesmo. [...] tinha uns professores que eram engenheiros, que se garantiam muito na disciplina, até a didática seria razoável, o problema era a questão avaliativa. [...] não sei, por algum motivo, não sei se o fato de não ter a formação pedagógica, eles não tinham muito o lado humano, não queriam saber muito dos alunos. [...] Seminário com um professor muito carrasco, a turma ficou muito traumatizada. Então, talvez seja esse o motivo de os meus seminários serem feitos de uma forma bem suave, eu fiquei mais com esse trauma. [...] Professor querendo colocar você para baixo, querendo dizer que você não é capaz, às vezes até mandando você desistir do curso, que você não era capaz para estar em um curso de licenciatura em Matemática, que fosse procurar outra coisa para fazer na vida. [...] Mas isso era muito pessoal, assim, partia mais do lado pessoal, tanto meu quanto do professor, do que mesmo a forma de como essa pessoa avaliava mesmo. [...] muitas vezes, os professores utilizavam a prova como uma ferramenta para punir o aluno [...]; o que foi bem triste para mim, chocante, foi quando um professor falou que, se eu me identificava com mais cadeiras pedagógicas, eu estava no curso errado, e aí eu fiquei muito triste e chocada realmente, porque, se eu gosto das disciplinas pedagógicas, então eu não sirvo para ser professora de Matemática? [...] No contato inicial com a sala de aula, eu não me senti bem. [...] principalmente as avaliações de Matemática Pura [...]; a primeira vez que eu fui pagar estágio também eu preparei uma lista de exercício para levar para os alunos e, por falta de experiência e de conhecimento, eu cometi alguns erros, assim, grosseiros na questão da Matemática mesmo, e aquilo ficou bem marcado na minha cabeça. Aí hoje, quando eu vou preparar algum tipo de avaliação para os meus alunos, aí eu já tomo todo o cuidado para não ferir a parte pura da Matemática. [...] Eu vejo como também um ponto negativo que, às vezes, a gente cursa seis disciplinas, dessas seis a gente tem normalmente duas ou uma disciplina pedagógica e as outras quatro são disciplinas específicas, e cada uma dentro de um corpo de conhecimento: ou Geometria, que aí você vai ter que desenvolver a linguagem da Geometria, ou então você vai para a parte da Álgebra, ou então você vai para área da Aritmética, que também já é outro corpo de conhecimento, você vai ter que desenvolver aquela linguagem naquele tempo. Então, às vezes, o curso é montado, mas não é pensado nessas perspectivas, que o aluno tem que adquirir no final, que, às vezes, é muita informação para pouco espaço de tempo. (E1; E2; E4;

E5; E6; E7; E9; E10; E12; E13; E15; E16; E17; E18; E20; E22). Horizontes em Gadamer

Avaliação injusta; extrapola os conteúdos trabalhados em sala de aula; a não valorização do processo de raciocínio na resolução de questões complexas; provas extensas demais e que não permitiam ao aluno a reflexão; perguntas de nível muito alto, diferente do que havia sido estudado na disciplina; o fator psicológico interferindo nas avaliações; enunciado de questões das provas que induziam ao erro; atividades mal planejadas; a forma como eram preparados para a avaliação; atividade surpresa gerou mal-estar; divergência entre a forma de ensinar e a de avaliar por parte de alguns professores; realização de seminário proposto por um professor muito carrasco; prova utilizada como forma de punir o aluno; desvalorização das disciplinas pedagógicas; contato inicial com as práticas de sala de aula; erros cometidos durante a prática de estágio; carga de disciplinas específicas do curso de corpos teóricos de conhecimentos diferentes; muita informação para pouco tempo.

Fusão de horizontes em Gadamer

Horizonte negativo: marcas negativas em decorrência das práticas de avaliação da aprendizagem.

Esses relatos demonstram a complexidade da formação docente e suas interferências nos diversos contextos das práticas pedagógicas. As marcas geradas ou deixadas nos alunos aqui relatadas se configuraram como negativas e se refletem nas ações cotidianas, sendo lembradas desde o momento do planejamento até o desenvolvimento das atividades em sala de aula. E essas marcas não se resumem apenas às atividades avaliativas realizadas, abarcando também o jeito de ser de determinados professores, a forma como conduzem a relação com os estudantes em sala de aula e o modo como pensam e desenvolvem as práticas de avaliação.

No tópico a seguir, serão relatadas as atividades que, na visão dos docentes consultados, são as mais adequadas quando se trata de avaliar a aprendizagem dos educandos na área de Matemática na educação básica.

5.3.8 Práticas pedagógicas que melhor atendem aos propósitos da avaliação na visão dos

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