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Capítulo 3 – Atitudes e representações dos professores face aos processos de

3.2.4. As funções das representações sociais

Temos vindo a fazer referência à importância das representações sociais na compreensão do real, onde o homem é considerado no seu eu e na sua relação com o mundo e com os outros e percebemos que as RS desempenham funções específicas na sociedade e o estudo dessas funções foi sistematizado por Moscovici que constatou que as RS desempenham funções de formadores e orientadores das comunicações/comportamentos, actuam na resolução de problemas e dão forma às relações sociais (1961: 307-309). Desempenham, ainda um papel importante na organização/interpretação do real como o assinalou Abric:

(…) elles permettent aux acteurs sociaux d’acquérir des connaissances et de les intégrer dans un cadre assimilable et compréhensible pour eux, en cohérence avec leur fonctionnement cognitif et des valeurs auxquelles ils adhèrent. D’autre parte elles facilitent – voire sont la condition nécessaire – la communication sociale. Elles définissent le cadre de référence commun qui permet l’échange social, la transmission et la diffusion de ce savoir ‘naïf’. (1994: 15)

Neste âmbito, Vala afirma que “a atribuição de sentido aos objectos e acontecimentos sociais que as representações sociais propiciam está em forte conexão com o facto de elas constituírem um sistema de interpretação, no quadro do qual o meio envolvente se torna não estranho e coerente (1993: 365).”

Assim, podemos afirmar que as RS representam e constroem o objecto representado. Elas desempenham um papel determinante na interpretação do mundo real porque são elas que suportam a comunicação e a interacção entre os indivíduos. As RS permitem a transformação da avaliação em descrição e da descrição em explicação, (Moscocvici, 1972; Moscovici & Hewstone, 1984), desempenhando, deste modo, um papel central na orientação das actividades avaliativas e explicativas.

Para além do já referido, acredita-se que orientam o comportamento dos indivíduos, de forma controlada ou automática. Foi no âmbito da discussão deste problema que Nuttin (1972 in Pinto 2005) fez a distinção entre comportamentos situacionais e comportamentos

representacionais. Os primeiros, sendo aqueles em que o papel das mediações cognitivo- avaliativas é mínimo e o papel dos factores situacionais se encontra maximizado; os segundos, determinados pela situação concreta em que ocorrem e por factores pré- situacionais, que surgem do nível da atitudes e das representações. A referência à funcionalidade das representações enquanto orientadoras dos comportamentos, tem a ver com o facto de as representações incluírem modos desejáveis de acção, proporcionarem a constituição do significado do objecto e permitirem dar um sentido próprio ao comportamento (Pinto 2005), pois, já vimos que as RS orientam a acção na medida em que modelam e constituem os elementos do contexto em que o comportamento terá lugar (Moscovici, 1961).

Destacando a função orientadora das RS Abric defende que esta resulta de três factores essenciais:

La représentation intervient directement dans la définition de la finalité de la situation, déterminant ainsi a priori le type de relations pertinentes pour le sujet mais aussi éventuellement, dans des situations où une tache est à effectuer, le type de démarche cognitive qui va être adoptée (…) La représentation produit également un système d’anticipations et d’attentes, elle est donc une action sur la réalité: sélection et filtrage des informations, interprétations visant à rendre cette réalité conforme à la représentation (…) Enfin en tant que représentation sociale, c’est-à-dire en reflétant la nature des règles et des liens sociaux, la représentation est prescriptive de comportements ou de pratiques obligés. Elle définit ce qui est licite, tolérable ou inacceptable dans un contexte social donné. (cf. 1994: 16)

As RS têm também uma função justificativa, pois, permitem argumentar tomadas de posição e comportamentos. Abric dá como exemplo as representações inter-grupais que justificam comportamentos adoptados face a outro grupo. Este autor atribui ainda às RS a função identitária, visto que definem a identidade e permitem a salvaguarda da especificidade dos grupos (cf. Abric, 1994).

O percurso que fizemos até aqui, á volta das RS, permite-nos concordar com Moscovici segundo o qual nos encontramos “dans l’ère des représentations” (1981: 34), sublinhando, assim, a importância do conceito para as ciências humanas e sociais. A clarificação das suas funções reforça à sua importância na compreensão de fenómenos sociais, pois, assumindo o estatuto de conhecimento com sentido, as representações sociais

contribuem para a interpretação e adaptação do sujeito ao mundo que o rodeia e pressupõem sempre uma relação dinâmica, interactiva entre o sujeito e o objecto e, por conseguinte, revestida de objectividade e subjectividade. Também no âmbito da educação, as representações sociais constituem o campo integrador de significação que organiza e orienta o pensamento social e a relação entre os vários actores em presença, dando forma a um «investimento sociocognitivo e socioafectivo» que varia em função da qualidade das interacções e de acordo com o grau de proximidade ou de afastamento que os actores ocupam em relação ao objecto representado, neste caso, a escola (Santiago, 1996: 72). Através delas acedemos à forma como os sujeitos concebem a realidade de uma forma geral e de uma forma mais específica acedemos ao modo como os resultados científicos são divulgadas e alcançadas pelo senso comum. (Vala, 1993).

Recapitulando, podemos dizer que as RS reflectem certas características dos grupos que as assumem, diferenciam os grupos sociais e, em última instância, determinam as nossas reacções. Tendo como função a organização e a interpretação do real, as representações orientam os comportamentos e as relações sociais, reforçam a diferenciação dos grupos sociais e a coesão de cada um deles e servem para «resolver problemas, dar forma às relações sociais, oferecer um instrumento de orientação dos comportamentos» (Moscovici, 1961: 309). Na opinião de Vala, «É no quadro definido por uma partilha colectiva, mas sobretudo por um modo de produção socialmente regulado e por uma funcionalidade comunicacional e comportamental, que as representações sociais devem ser entendidas como fenómeno e como conceito», (2002: 462).

A língua não é apenas um instrumento de comunicação, mas um factor decisivo na formação da visão do mundo duma comunidade linguística. É também um instrumento de identidade e de produção. Esta era a opinião de Sapir e Whorf. O mundo real é construído de maneira inconsciente, através dos padrões linguísticos do grupo humano a que se pertence. Portanto, podemos afirmar que ela é o veículo de exteriorização de pensamento e, consequentemente, de conhecimento.

3.3 – As atitudes enquanto produto das representações sociais