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Capítulo 4 – Metodologia do estudo

4.2.3. O método de estudo de caso

que são apresentados de forma descritiva e não reduzidos a símbolos numéricos e o facto das investigações qualitativas se focalizarem mais no processo do que propriamente no produto.

Como quarta característica deste tipo de investigação, os autores conferem-lhe um carácter aberto na medida em que se pretende construir conhecimento e não confirmar hipóteses. Finalmente, apontam como principal finalidade desta metodologia a tentativa de descobrir os significados que os sujeitos atribuem às suas acções.

4.2.3. O método de estudo de caso

Uma vez que se trata de um estudo baseado em atitudes e representações dos professore procuramos escolher um método que nos permitisse, no tempo que tínhamos disponível, compreender melhor o fenómeno em estudo. Moscovici (1984) defende que no estudo das representações sociais o importante é isolá-las e descrevê-las e que para as investigar é necessário comparar diferentes grupos e recorrer a diferentes métodos de observação, para as podermos descrever, perceber a sua estrutura e a sua evolução. Assim as representações sociais têm sido estudadas através de uma grande variedade metodológica (Vala, 1993), o que leva alguns investigadores a defenderem a adopção de uma metodologia própria (Herzlich, 1972), enquanto outros advogam que a diversidade de métodos enriquece a teoria (Maya, 2002).

Utilizamos o estudo de caso como método de investigação já que este tem por objectivo analisar uma situação concreta, real e complexa (como a realidade do contexto educativo), ao longo de um determinado período de tempo, na qual «se ensaia uma ginástica subtil que permite, não só “ver” o jogo das inter-relações, como de as descrever, formular e compreender» (Diogo, 1998: 95). O estudo de caso não permite estabelecer “verdades gerais” sobre determinadas formas de interacção social. Tenta estudar um determinado caso muito específico e, eventualmente, poder-se-á, com base nesse estudo, levantar algumas pistas para estudos mais vastos ou novas aplicações do estudo inicial. De acordo com Yin, o Estudo de Caso é «um método de investigação que permite um estudo holístico e significativo de um fenómeno contemporâneo no seio de um contexto real,

quando as fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são claramente evidentes e nos quais são utilizadas muitas fontes de informação», (1987: 23).

Merriam define o estudo de caso qualitativo como sendo «uma descrição e análise intensiva e holística de uma única entidade, fenómeno ou unidade social», (1991: 16). Como “Caso” podemos considerar um acontecimento, um indivíduo, uma organização ou um programa (Yin, 1989). A sua utilização faz sentido quando se pretende investigar relações entre indivíduos em contextos específicos.

Para Yin (1989) há várias condicionantes implicadas na selecção da estratégia de investigação a utilizar: o tipo de questão a investigar; o controlo que o investigador tem sobre os factos; o focus dos fenómenos (no sentido de se considerar contemporâneo ou histórico). Segundo este autor, o estudo de caso apresenta-se como estratégia adequada quando o investigador detém um reduzido controlo sobre os acontecimentos, o focus incide sobre fenómenos actuais em contexto real e procura-se responder a questões do tipo “o quê”, “para quê”, “onde”, “quem”, “quando”, “como”, “porquê” sendo, nas duas últimas questões, que o estudo de caso potencia as suas características heurísticas. No caso concreto do nosso estudo, ao incidir nas atitudes e representações dos professores face aos processos de transferência linguístico-comunicativa ao nível do 8º ano do ensino secundário, consideramos que as questões de investigação que colocamos se enquadram na estratégia escolhida, procurando descrever, analisar e interpretar o fenómeno no nosso contexto.

O estudo de caso implica a análise de uma situação real na qual existem problemas que pedem oportunas soluções. Consiste numa descrição e análise detalhada de unidades sociais ou entidades educativas únicas (Yin 1989, in Carrasco 2007:110) e situa-se dentro do enfoque ideográfico já que pretende a compreensão profunda da realidade singular (De La Orden 1985, op cit).

O estudo de caso é um tipo de investigação muito apropriado para estudar um caso ou uma situação com certa intensidade num período de tempo relativamente curto, como é o nosso caso(Walker 1983, in Carrasco 2007:110).

Como em todos os estudos, num estudo de caso planifica-se, recolhe-se informação, analisa-se, interpreta-se e elabora-se o relatório. Assim, seleccionamos um caso, uma escola secundária e dentro deste caso fizemos uma espécie de estudo multiusos se considerarmos cada professor um caso.

4.2.3.1. Limitações e potencialidades do estudo de caso

Assim como todas as metodologias ou estratégias de intervenção, o estudo de caso apresenta razões que lhe conferem um estatuto privilegiado relativamente a outras intervenções e também possui limitações que passaremos a apresentar de forma resumida:

A. Limitações

1. Os estudos de caso não pretendem qualquer tipo de generalização;

2. Os estudos de caso têm dificuldade em garantir a objectividade das conclusões. 3. O envolvimento do investigador pode afectar a fidelidade dos dados fazendo com que informações equívocas e visões distorcidas afectem a orientação das “descobertas” e conclusões (Yin, 1987);

4. Nem sempre o caso seleccionado corresponde ao que inicialmente o investigador havia idealizado, o que aumenta as possibilidades de obter informação pouco interessante e fiel;

5. Vários autores têm criticado este método de investigação. Yin (1994, referido por Bassey, 1999), sustenta que os estudos de caso são, de modo geral, pouco rigorosos, fornecem uma fraquíssima base para negociações e são demasiado longos e praticamente impossíveis de ler. Este autor refere ainda que é muito difícil concluir um estudo de caso bem feito.

B. Potencialidades

Apesar das limitações, o estudo de caso também apresenta potencialidades que o transformam numa estratégia adequada para a compreensão dos problemas educativos. Assim, tendo por base o trabalho de Cohen e Manion (1994), destacamos:

1. O envolvimento do investigador na dinâmica de uma entidade social única pode permitir a divulgação e compreensão de processos que, de outro modo, ficariam subanalisados;

2. O processo de observação decorre durante um espaço temporal longo o que permite que a informação recolhida seja suficiente para uma compreensão mais segura e fundamentada das acções dos sujeitos;

3. Os estudos de caso vistos como produtos podem constituir um arquivo de material descritivo suficientemente rico para permitir novas interpretações dos mesmos; 4. Os estudos de caso podem constituir um “passo para a acção”, na medida em que as suas conclusões podem ser interpretadas como base de alterações no sistema educativo, nas mais diversas instâncias;

5. Como, normalmente, se apresentam com uma linguagem próxima da utilizada no dia-a-dia, podem constituir uma forma de democratizar as conclusões das investigações em educação;

6. Atendendo à sua natureza heurística, à medida que a investigação progride podem surgir novos elementos ou dimensões;

7. Enquanto metodologia de auto-formação dos actores, pode converter-se também numa metodologia apropriada para melhorar nos professores a sua capacidade reflexiva e “problematizadora”, com a consequente melhoria da prática educativa. É assim um método útil para análise de problemas práticos, acontecimentos ou situações do quotidiano.

Conscientes das limitações e das potencialidades do método por nós escolhido e com o objectivo de garantirmos objectividade, fidelidade e validade da nossa investigação, tomamos algumas precauções, pois a investigação qualitativa exige uma cuidadosa e complexa descrição de situações, factos, gentes, interacções e condutas observadas; anotações directas de experiências das pessoas, suas atitudes, crenças e valores e sentimentos; documentos diversos, gravações vídeo e áudio, etc. (Carrasco 2007: 105). Com este objectivo, fizemos entrevistas, gravamos aulas, analisamos planificações.

Utilizámos, assim, a triangulação metódica para garantir a credibilidade das conclusões. Isto é, utilizámos vários métodos de obtenção de dados para que ao contrastá- los nos pudéssemos aperceber das coincidências e das discrepâncias. Ainda fizemos uma observação participante, a fim de garantirmos a veracidade e penetrar com mais intensidade nos aspectos pertinentes. Fizemos a leitura de outras investigações sobre a mesma temática, a fim, de tomar contacto com o juízo crítico de outros investigadores sobre a problemática em estudo, tanto quanto ao método utilizado, como quanto aos resultados e conclusões obtidos. Utilizámos todo o material referencial (vídeo, gravações, documentos) para podermos confrontar os resultados obtidos com a realidade.

Assim, para assegurar o rigor científico dos nossos resultados procuraremos os quatro critérios apontados por Lincoln e Guba (1985, in Carrasco, 2007:104) a saber: a

veracidade, procurando que os dados recolhidos correspondam ou se identifiquem com a realidade, isto é que sejam credíveis; a aplicabilidade, isto é se os dados obtidos podem ou não ser aplicados a outros contextos ou situações similares, isto é se são transferíveis; a consistência ou seja em que medida se obteriam os mesmos resultados se a investigação se repetisse; a neutralidade, assegurando que os dados não influenciados ou alterados ou viciados, ou seja assegurar a confirmação dos dados.

4.3 – Apresentação do projecto de investigação