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2. AS ESFERAS DE RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS

2.2 Responsabilidade administrativa ambiental

2.2.2 As infrações administrativas ambientais

A infração administrativa ambiental corresponde a toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio

ambiente, de acordo com o art. 70 da lei nº 9.605/199899. Amado100, pontua que

Cada entidade política terá a atribuição de instituir as suas próprias infrações administrativo-ambientais por lei, que uma vez consumadas culminarão a aplicação de penalidades administrativas com base no poder de policia ambiental, observado o devido processo legal, especialmente com a ampla possibilidade de defesa, mediante a oportunização de instrução probatória, representação por advogado e recurso a autoridade superior, entre outras garantias.

Em âmbito federal, as infrações administrativas encontram-se previstas no decreto nº 6.514/2008, especificamente na seção III, do capítulo I. E tais são: infrações contra a fauna (art. 24 a 42); infrações contra a flora (art. 43 a 60-A); infrações relativas à poluição e outras infrações ambientais (art. 61 a 71-A); infrações contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (arts. 72 a 75); infrações administrativas contra a administração ambiental (arts. 76 a 83); infrações cometidas exclusivamente em unidades de conservação (arts. 84 a 93).

No entanto, trata-se de um rol não exauriente de infrações administrativas

ambientais, em âmbito federal, conforme dispõe Milaré101. Inclusive, o próprio

decreto nº 6.514/2008, em seu art. 2º, parágrafo único102, evidencia esse caráter

numerus, apertus, eis que, preconiza que o elenco das infrações administrativas

ambientais previstas na seção III do capítulo I, não exclui a previsão de outras infrações previstas na legislação.

As infrações administrativas ambientais, em âmbito federal, poderão ser

punidas com as seguintes sanções, de acordo com o art. 72 da lei nº 9.605/1998103:

99 Art. 70 da lei nº 9605/1998: ‘’Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão

que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente’’.

100

AMADO, Frederico. op. cit, p. 263.

101

MILARÉ, Edis. op. cit, p. 362.

102 Art. 2º, parágrafo único, do Decreto nº 6.514/2008: ‘’O elenco constante da Seção III deste

Capítulo não exclui a previsão de outras infrações previstas na legislação’’.

103

Art. 72 da lei nº 9.605/1998: As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no art. 6º: I - advertência; II - multa simples; III - multa diária; IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; VI - suspensão de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade; VIII - demolição de obra; IX - suspensão parcial ou total de atividades; X – (VETADO) XI - restritiva de direitos.

advertência; multa simples; multa diária; apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; destruição ou inutilização do produto; suspensão de venda e fabricação do produto; embargo de obra ou atividade; demolição de obra; suspensão parcial ou total de atividades e restritiva de direitos.

Sanções essas que serão abordadas nos dois itens abaixo, de acordo com o nível de gravidade das mesmas, considerando que o legislador dispôs nos incisos do supracitado artigo, da mais branda até a mais severa sanção administrativa ambiental.

2.2.2.1 Sanções administrativas brandas: Advertência e multa

A advertência e a multa podem ser consideradas como sanções administrativas brandas na temática ambiental.

A sanção de advertência aplica-se para as infrações administrativas de menor lesividade ao meio ambiente, de acordo com o art. 5º, caput, do decreto nº

6.514/2008104, entendendo-se por menor lesividade aquelas infrações cuja pena

máxima cominada não ultrapasse o valor de R$ 1.000 (mil reais), nos termos do art.

5º, §1º do decreto nº 6.514/2008105.

Milaré106 assevera que a advertência possui índole pedagógica e preventiva e

trata-se de uma pena em sentido lato, não devendo ser confundida com uma simples recomendação.

Acerca das multas, destaca-se que elas podem ser de dois tipos: a multa diária e a multa simples. A multa simples é aquela que pode variar de R$ 50,00 (cinquenta reais) a R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais) nos termos do art.

75 da lei nº 9.605/1998107. Essa espécie de multa incidirá em duas situações

104 Art. 5º, caput, do decreto nº 6.514/2008: ‘’ A sanção de advertência poderá ser aplicada, mediante

a lavratura de auto de infração, para as infrações administrativas de menor lesividade ao meio ambiente, garantidos a ampla defesa e o contraditório’’.

105 Art. 5º, §1º do decreto nº 6.514/2008:’’ Consideram-se infrações administrativas de menor

lesividade ao meio ambiente aquelas em que a multa máxima cominada não ultrapasse o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), ou que, no caso de multa por unidade de medida, a multa aplicável não exceda o valor referido’’.

106

MILARÉ, Edis. op cit, p. 365.

107

Art. 75 da lei nº 9.605/1998: ‘’O valor da multa de que trata este Capítulo será fixado no regulamento desta Lei e corrigido periodicamente, com base nos índices estabelecidos na legislação pertinente, sendo o mínimo de R$ 50,00 (cinquenta reais) e o máximo de R$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de reais)’’.

previstas no art. 72, §3º da lei nº 9.605/1998108: Quando o agente, por negligência ou dolo, advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná- las no prazo assinalado ou quando opuser embaraço a fiscalização dos órgãos competentes.

A multa diária, por sua vez, é aquela que possui como valor mínimo R$ 50,00 (cinquenta reais) e máximo de até 10% do maior valor da multa simples cominada

para a infração, conforme estabelece o art. 10, §2º do decreto nº 6.514/2008109,

sendo cabível sempre que o cometimento da infração se prologar no tempo, nos

termos do art. 10, caput, do decreto nº 6.514/2008110.

Acerca da multa diária, Milaré111 esclarece que sua finalidade é compulsiva,

de modo a obrigar que o infrator cumpra a obrigação devida, devendo, por isso, seu valor ser fixado em montante suficiente para causar o efeito desejado.

2.2.2.2 Sanções administrativas severas: Apreensão, destruição, suspensão, embargo, demolição e suspensão.

São consideradas sanções administrativas severas na seara ambiental: A apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; destruição ou inutilização do produto; embargo de obra ou atividade; demolição de obra; suspensão parcial ou total de atividades; restritiva de direitos.

A apreensão, enquanto sanção administrativa ambiental, terá como objeto animais, produtos, subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração, salvo

impossibilidade justificada, de acordo com o art. 102 do decreto nº 6.514/2008112.

108

Art. 72 da lei nº 9.605/1998:‘’multa simples será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo: I - advertido por irregularidades que tenham sido praticadas, deixar de saná-las, no prazo assinalado por órgão competente do SISNAMA ou pela Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha; II - opuser embaraço à fiscalização dos órgãos do SISNAMA ou da Capitania dos Portos, do Ministério da Marinha.

109 Art. 10, §2º do decreto nº 6.514/2008: ‘’O valor da multa-dia deverá ser fixado de acordo com os

critérios estabelecidos neste Decreto, não podendo ser inferior ao mínimo estabelecido no art. 9o nem superior a dez por cento do valor da multa simples máxima cominada para a infração’’.

110 Art. 10, caput, do decreto nº 6.514/2008: ‘’A multa diária será aplicada sempre que o cometimento

da infração se prolongar no tempo’’.

111

MILARÉ, Edis. op. cit, p. 369.

112 Art. 102 do decreto nº 6.514/2008: ‘’ Os animais, produtos, subprodutos, instrumentos, petrechos,

veículos de qualquer natureza referidos no inciso IV do art. 72 da Lei no 9.605, de 1998, serão objeto da apreensão de que trata o inciso I do art. 101, salvo impossibilidade justificada’’.

Nesse contexto, Thomé113 assevera que as infrações ambientais ensejam o confisco de qualquer instrumento utilizado, usualmente, na prática da infração ambiental, seja lícito ou ilícito.

Os produtos da infração administrativa ambiental podem ser destruídos ou inutilizados quando a medida for necessária para evitar os seus usos e aproveitamento indevidos nas situações em que o transporte e a guarda forem inviáveis em face das circunstâncias ou quando possam expor o meio ambiente a riscos significativos ou comprometer a segurança da população e dos agentes públicos envolvidos na fiscalização, nos termos do art. 111, I, II do decreto nº

6.514/2008114

A suspensão de venda ou fabricação do produto, de acordo com o art. 109 do

decreto nº 6.514/2008115, visa a evitar a colocação no mercado de produtos e

subprodutos oriundos de infração administrativa ao meio ambiente ou que tenha como objetivo interromper o uso contínuo de matéria-prima e subprodutos de origem ilegal. A suspensão total ou parcial de atividades possui a finalidade impedir a continuidade de processos produtivos em desacordo com a legislação ambiental,

segundo o art. 110 do decreto nº 6.514/2008116. Milaré117 esclarece que essa

penalidade ‘’não implica necessariamente no fechamento do estabelecimento como um todo, mas pode ser aplicada apenas em relação às maquinas ou aos equipamentos poluidores, por exemplo. O restante da atividade pode prosseguir’’. Porém, a cessação das penalidades de suspensão dependerá de decisão da autoridade ambiental após a apresentação, por parte do autuado, de documentação que regularize a obra ou atividade de acordo com o art. 15-B do decreto nº

113

THOMÉ, Romeu. op. cit, p. 589.

114 Art. 111, I e II, do decreto nº 6.514/2008:’’

Os produtos, inclusive madeiras, subprodutos e instrumentos utilizados na prática da infração poderão ser destruídos ou inutilizados quando:

I - a medida for necessária para evitar o seu uso e aproveitamento indevidos nas situações em que o transporte e a guarda forem inviáveis em face das circunstâncias; ou

II - possam expor o meio ambiente a riscos significativos ou comprometer a segurança da população e dos agentes públicos envolvidos na fiscalização.

115

Art. 109 do decreto nº 6.514/2008: A suspensão de venda ou fabricação de produto constitui medida que visa a evitar a colocação no mercado de produtos e subprodutos oriundos de infração administrativa ao meio ambiente ou que tenha como objetivo interromper o uso contínuo de matéria- prima e subprodutos de origem ilegal.

116 Art. 110 do decreto nº 6.514/2008: ‘’A suspensão parcial ou total de atividades constitui medida

que visa a impedir a continuidade de processos produtivos em desacordo com a legislação ambiental’’.

117

6.514/2008118.

O embargo, segundo Milaré119, é o impedimento temporário ou definitivo,

determinado pela Administração no início ou continuação de obra ou atividade que não disponha das devidas licenças ou autorizações, extrapole os limites dos atos administrativos, ou de algum modo represente efetivo ou potencial risco de dano à

saúde ou ao meio ambiente. De acordo com o art. 15- A do decreto nº 6.514/2008120

o embargo da obra ou atividade restringe-se aos locais onde efetivamente caracterizou-se a infração ambiental, não alcançando as demais atividades realizadas em áreas não embargadas da propriedade ou posse ou não correlacionadas com a infração. Ressalta-se que a cessação desse embargo, assim como na suspensão, dependerá de decisão da autoridade ambiental após a apresentação, por parte do autuado, de documentação que regularize a obra ou atividade, também nos termos do referido art. 15- B, mencionado no item acima.

A sanção de demolição de obra poderá ser aplicada, em duas situações, pela autoridade ambiental, após o contraditório e a ampla defesa, conforme estabelece o

art. 19, I, II do decreto nº 6.514/2008121: quando verificada a construção de obra em

área ambientalmente protegida, em desacordo com a legislação ambiental ou quando a obra ou construção realizada não atende às condicionantes da legislação ambiental e não seja passível de regularização.

Há, também, a sanção de restrição de direitos. De acordo com o art. 72, §8º, I

a V, da lei nº 9.605/1998122 são consideradas sanções restritivas de direito:

suspensão de registro, licença ou autorização; cancelamento de registro licença ou autorização; cancelamento de registro, licença ou autorização; perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; perda ou suspensão da participação em linhas de

118 Art. 15-B do Decreto nº 6.514/2008: ‘’A cessação das penalidades de suspensão e embargo

dependerá de decisão da autoridade ambiental após a apresentação, por parte do autuado, de documentação que regularize a obra ou atividade’’.

119

MILARÉ, Edis. op. cit, p. 386.

120 Art. 15- A do decreto nº 6.514/2008: ‘’O embargo de obra ou atividade restringe-se aos locais onde

efetivamente caracterizou-se a infração ambiental, não alcançando as demais atividades realizadas em áreas não embargadas da propriedade ou posse ou não correlacionadas com a infração’’.

121

A sanção de demolição de obra poderá ser aplicada pela autoridade ambiental, após o contraditório e ampla defesa, quando: I - verificada a construção de obra em área ambientalmente protegida em desacordo com a legislação ambiental; ou II - quando a obra ou construção realizada não atenda às condicionantes da legislação ambiental e não seja passível de regularização.

122 Art. 72, §8º da lei nº 9.605/1998: ‘’As sanções restritivas de direito são: I - suspensão de registro,

licença ou autorização; II - cancelamento de registro, licença ou autorização; III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; V - proibição de contratar com a Administração Pública, pelo período de até três anos’’.

financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; proibição de contratar com a Administração Pública. Ressalta-se que essas restrições de direito podem ser aplicadas tanto às pessoas físicas quanto às jurídicas, conforme estabelece o art. 20

do decreto nº 6.514/2008123.

Em suma, verifica-se, então, que responsabilidade administrativa ambiental é aquela que está relacionada com a ocorrência de uma infração administrativa ambiental e que se materializa através do poder de policial ambiental que, por sua vez, opera através de diversos órgãos fiscalizatórios e sancionatórios.