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3. UMA ANÁLISE DO CASO SAMARCO

3.2 Do minério de ferro à lama

Em 05 de novembro de 2015, por volta das 15h30min, a barragem do fundão se rompeu, ocasionando o extravasamento imediato de cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e silícia, enquanto que outros 16

milhões de metros cúbicos de rejeitos continuaram escoando lentamente176,

trazendo consigo um rastro de destruição que não se restringiu às áreas ambientais periféricas da barragem e à população jusante, mas também às diversas cidades do Estado capixaba, conforme será explicitado no item abaixo.

3.2.1 Os impactos da lama

A lama da Samarco, cerca de 15 (quinze) minutos depois de permear pela barragem do fundão, atingiu o subdistrito de Bento Rodrigues, tendo grande parte de sua estrutura urbana destruída assim como ocorreu em Paracatu de baixo e

Gesteira 177. Os rejeitos vitimaram 19 pessoas, levando-as a óbito178, além de mudar

de forma abrupta o modo de vida dessas localidades e de outras adjacentes, que não tiveram a estrutura da comunidade destruída por completo, mas sentiram o

impacto direto da lama, como Pedras e Bicas, Paracatu de Cima e Borbas179. A

figura 2 exemplifica a destruição de Bento Rodrigues.

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Acerca do iminente rompimento, ver os dados técnicos apresentados pelo Ministério Público Federal na Ação Penal proposta em face, também, da Samarco, item 3.1 : MPF, Ministério Público Federal. Op. cit. p. 60-190. Disponível em: < http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de- imprensa/docs/denuncia-samarco > Acesso em: 21 de out. 2019.

176

MPF, Ministério Público Federal. O desastre. Brasília, 2015. Disponível em: < http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/caso-samarco/o-desastre > Acesso em: 21 de out. 2019.

177

FELIPPE, Miguel Fernando; COSTA, Alfredo; FRANCO, Roberto; MATOS, Ralfo. A tragédia do Rio Doce: A lama, O povo e a Água. Belo Horizonte. 2016, p.5.

178

MILANEZ, Bruno; LOSEKANN, Cristiana (org.). Desastre no Vale do Rio Doce: antecedentes, impactos e ações sobre a destruição. Capítulo 03. Rio de Janeiro: Folio digital. Letra e Imagem, 2016, p. 154. Disponível em: < http://www.global.org.br/wp-content/uploads/2017/02/Milanez-2016- Desastre-no-Vale-do-Rio-Doce-Web.pdf > Acesso em: 24 de out. 2019.

179

ROMPÍMENTO de barragem da Samarco, em Mariana, completa um mês. G1 – Minas Gerais, 15 de dez. 2015. Disponível em: < http://especiais.g1.globo.com/minas-gerais/2015/desastre-ambiental- em-mariana/1-mes-em-numeros/ > Acesso em: 24 de out. 2019.

Figura 2 - A força da lama no subdistrito de Bento Rodrigues

Fonte: SIMON (2015)180

Os rejeitos minerários também alcançaram patrimônios históricos de Minas Gerais ao atingirem as capelas de São Bento, em Bento Rodrigues, as de são Vicente e Santo Antônio, em Paracatu de Baixo, e a de nossa senhora da Conceição no distrito de Gesteira, em Barra longa, todas do século XVIII, além de cinco cavernas, uma mina de ouro tricentenária e ruínas de uma fazenda do período colonial. Foram destruídos, também, 2,2 quilômetros do eixo do Caminho dos

diamantes da Estrada Real181.

Acerca dos impactos ambientais, destaca-se a infertilidade dos locais por onde os minérios se assentaram, tendo em vista a ausência de matéria orgânica

desse material e a potencialidade de desestruturar quimicamente o PH do solo182.A

avalanche também ocasionou a devastação de matas ciliares, pelo soterramento ou

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Imagem disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em- mariana/noticia/2016/02/policia-consegue-mais-prazo-para-entrega-de-inquerito-sobre-mariana.html > Acesso em: 24 de out. 2019.

181

MP diz que estragos ao patrimônio de Mariana e região superaram estimado. G1- Minas Gerais, 21 de jan. 2016. Disponível em: < http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em- mariana/noticia/2016/01/dados-do-mp-mostram-que-mar-de-lama-causou-muito-mais-estrago.html > Acesso em: 24 de out. 2019.

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O solo de alguns locais atingidos pela lama estão contaminados com metais pesados, sendo considerados como locais de Perigo categoria A. Ou seja, locais em que há perigo para a saúde da população exposta aos contaminantes por meio da ingestão, inalação ou absorção dérmica das partículas contaminadas: SOLO e poeira atingidas pela lama da Samarco estão contaminados com metais pesados, diz estudo. G1 Minas Gerais. Belo horizonte: 07 de nov. 2019. Disponível em: < https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/11/07/estudo-feito-em-mariana-e-barra-longa- atingidas-pela-lama-da-samarco-aponta-perigo-urgente-para-a-saude-publica.ghtml > Acesso em: 15 de nov. 2019.

arrancamento de indivíduos arbóreos183, principalmente em áreas da mata atlântica184.

Até a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves, conhecida como Candonga, que se localiza a cerca de 114 quilômetros de distância de Bento Rodrigues, a lama, por onde passou, ocasionou a remoção de vegetais. Mas a absorção do impacto da avalanche de lama pela usina, fez com que, a partir de então, os rejeitos se restringissem aos leitos dos rios. Neste trecho, foram poluídos 12 km do rio Doce, 28km do rio Carmo e 69km do Rio Gualaxo do Norte, além de 3km do Córrego de

Santarém e 2km do afluente do Córrego Santarém185. Os rejeitos minerários

asfixiaram a vida marinha desses corpos d’agua, ao contaminá-los e ocasionar a

mortandade de espécimes em toda a cadeia trófica186.

A lama seguiu o curso do rio doce, perpassando, consequentemente, por diversos municípios capixabas e ocasionando o rompimento do abastecimento de água de alguns deles que utilizavam o rio Doce para esse fim, como por exemplo, Colatina. Até que, em 21 de novembro de 2015, os rejeitos, após passarem pelo trecho do rio Doce no distrito de Regência, em Linhares/ES, desembocaram no

oceano Atlântico187, atingindo, inclusive, os corais do Parque Nacional de Abrolhos,

na Bahia188.

Ao todo 4(quatro) cidades do Espírito Santo foram atingidas: Aracruz, São Mateus, Linhares e Serra. Totalizando 19 (dezenove) áreas impactadas dessas

183

IBAMA, Instituo Brasileiro do meio ambiente e dos Recursos naturais renováveis. Laudo técnico

preliminar, 2015, p. 10-11. Disponível em: <

http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/laudos/laudo_tecnico_preliminar_Ibama. pdf > Acesso em: 24 de out. 2019.

184

VALE, João Henrique do. Lama de rejeitos da barragem de Fundão destruiu 324 hectares de Mata Atlântica. Jornal do Estado de Minas Gerais. 11 de dez. 2015. Disponível em: < https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/12/11/interna_gerais,716424/lama-de-rejeitos-da- barragem-de-fundao-destruiu-324-hectares-de-mata-atlantica.shtml > Acesso em: 24 de out. 2019.

185

VALE, João Henrique do. Lama de rejeitos da barragem de Fundão destruiu 324 hectares de Mata Atlântica. Jornal do Estado de Minas Gerais. 11 de dez. 2015. Disponível em: < https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/12/11/interna_gerais,716424/lama-de-rejeitos-da- barragem-de-fundao-destruiu-324-hectares-de-mata-atlantica.shtml > Acesso em: 24 de out. 2019.

186

Sobre as demais consequências ambientais relacionadas aos corpos d’agua, ver: IBAMA, Instituo Brasileiro do meio ambiente e dos Recursos naturais renováveis. op. cit, p. 14. Disponível em: < http://www.ibama.gov.br/phocadownload/barragemdefundao/laudos/laudo_tecnico_preliminar_Ibama. pdf > Acesso em: 24 de out. 2019.

187

BORGES, Juliana. Lama de barragem da Samarco chega ao mar no ES. G1 – Espírito Santo. 21 de nov. 2015. Disponível em: < http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2015/11/lama-de-barragem- da-samarco-chega-ao-mar-no-es.html > Acesso em: 24 de out. 2019.

188

UERJ, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisa realizada na UERJ comprova que resíduos da Samarco afetaram Abrolhos. Rio de Janeiro: 19 de fev. 2019. Disponível em: < https://www.uerj.br/noticia/pesquisa-da-uerj-comprova-contaminacao-de-abrolhos-por-residuos-da- samarco/ > Acesso em : 24 de out. 2019.

cidades: Urussuquara, Campo Grande, Barra Nova Sil, Barra Nova Norte, Nativo fazenda Ponta, São Miguel, Gameleira (áreas atingidas da cidade de São Mateus), ferrugem, pontal do Ipiranga e barra seca (áreas atingidas da cidade de Linhares), Portal de Santa Cruz, Itaparica, Santa Cruz, Mar Azul, Vila do Riacho, Barra do Sahy, Barra do Riacho (áreas atingidas da cidade de Aracruz), Nova Almeida (área atingida da cidade de Serra).

Ressaltando-se, ainda, que foram impactadas a reserva biológica de Comboios (Municípios de Linhares e Aracruz), a Reserva da Vida Silvestre de Santa Cruz (Município de Aracruz) e a Área de proteção ambiental Costa das Algas

(Municípios de Aracruz e Serra)189. A figura 3, abaixo, demonstra o caminho que a

lama da Samarco percorreu até o oceano atlântico.

Figura 3 – O caminho da lama: de Bento Rodrigues ao Oceano Atlântico

Fonte: SOARES (2015)190.

Os referidos danos ambientais deram azo ao desencadeamento das responsabilizações da Samarco, que serão abordadas no capítulo 4, a seguir.

189

ALVES, Brunela. 19 áreas do ES entram na lista de atingidas pela Samarco. G1- Espírito Santo. 01 de abr. 2017. Disponível em: < https://g1.globo.com/espirito-santo/desastre-ambiental-no-rio- doce/noticia/19-areas-do-es-entram-na-lista-das-atingidas-pela-samarco.ghtml > Acesso em: 24 de out. 2019.

190

Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/desastre-de-mariana/ > Acesso em: 24 de out. 2019.