• Nenhum resultado encontrado

3 METODOLOGIA E PLANO GERAL DE TRATAMENTO DOS DADOS

4.1 ANÁLISE DA PRÁTICA DA PROFESSORA 1

4.1.2 As modalidades de leitura na turma 1

A discussão sobre a seleção dos textos e sua variação nos remete a uma questão muito importante no ensino de compreensão de textos – a modalidade leitora. Vários estudiosos da área apontam que a formação de um leitor proficiente passa pelo desenvolvimento de diversas habilidades, caracterizando um “bom ensino de leitura” como aquele que busca estratégias a fim de atingir determinados objetivos na leitura. A necessidade de encaminhar nas aulas variadas formas de ler é contemplada na afirmação de Tavares (2009), a qual afirma:

Sabendo que a leitura pode levar a diversos caminhos, é preciso que diferentes situações sejam articuladas, praticando-se então leituras oral, silenciosa, coletiva, individual ou compartilhada, para que se possam alcançar os objetivos esperados pelo mediador. (TAVARES, 2009, p. 43). TAMANHO DOS TEXTOS Aulas observadas TOTAL 10ª 11ª 12ª Curto (até 50 palavras) 2 3 1 1 2 3 1 1 14 Médio (de 50 a 150 palavras) 1 1 1 4 1 1 2 1 12 Longo (a partir de 150 palavras) 1 0 1 1 1 1 1 6 Total 4 4 2 4 2 2 3 2 4 1 1 3 32

Abaixo, na Tabela 3, podemos observar como a professora da turma 1 coordenava as formas de ler em suas aulas.

Tab. 3 – Distribuição e freqüência de uso de diferentes modalidades de leitura nas aulas observadas na turma 1.

De acordo com os dados da Tabela acima, podemos notar que havia uma distribuição bem evidente, no que concerne aos modos de ler na turma 1, ou seja, a professora não monopolizava a leitura oral, tendo em vista que, dos trinta e seis comandos de leitura, vinte e cinco deles foram voltados para a participação da criança na leitura e estes foram distribuídos entre a modalidade de leitura silenciosa, compartilhada (caracterizada pela leitura em voz alta de partes do texto pelos alunos apontados), leitura em voz alta pela criança (aquela que apenas uma criança lia o texto na íntegra) e a leitura coletiva (todos os alunos juntos) com uma ocorrência nas doze aulas.

Ao analisar os protocolos das observações, pareceu existir, na maioria das aulas, uma dinâmica que se iniciava pela leitura silenciosa (com o propósito, segundo a professora, de fazer os alunos “apreenderem as primeiras idéias sobre o

MODALIDADES DE LEITURA Aulas observadas TOTAL 10ª 11ª 12ª Leitura silenciosa 3 2 2 1 1 1 1 11 Leitura coletiva 1 1

Leitura em voz alta

(pela criança) 1 2 1 4

Leitura em voz alta

(pela professora) 1 1 2 1 2 1 1 2 11 Leitura compartilhada 3 1 1 1 1 1 1 9 Leitura dramatizada 0 Total 7 2 3 6 1 3 4 2 2 1 2 3 36

texto”), partindo para uma leitura compartilhada (como forma de avaliar o aluno que foi escolhido para ler quanto à fluência)9 seguida de uma leitura em voz alta pela professora (que, segundo ela, tinha o objetivo de fazer as crianças a tomarem como modelo de leitor). Esta dinâmica pode ser ilustrada por alguns fragmentos de aula que listamos abaixo:

Professora 1: Fecha os cadernos agora. Fechem os livros. Eu vou

entregar este texto e vocês vão ler silenciosamente. Não é de vocês o texto, vocês vão ler, me devolver, depois eu vou ler e vocês vão começar a responder as perguntas que eu vou fazer (FRAGMENTO DA 5ª AULA – TURMA 1).

Professora 1: Atenção! A leitura é silenciosa é aquela que a gente

só faz com os olhos (FRAGMENTO DA 7ª AULA – TURMA 1).

Professora 1: Individualmente vocês vão fazendo a leitura em

silêncio e depois eu vou pegar a leitura de alguns alunos. Lembram que eu falei que estava avaliando a leitura? A leitura é individual e a gente lê com os olhos. Daqui a pouco eu vou mandar vocês lerem (FRAGMENTO DA 11ª AULA – TURMA 1).

Com base nesses fragmentos de aula, visualizamos claramente que a orientação dos modos de ler era bastante presente na prática da professora da turma 1. Isto também fica evidente quando questionamos a mesma sobre as atividades de leitura realizadas em sua sala de aula. Observemos o que ela afirmou na entrevista:

Bom, eu realizo a leitura oral com eles, né? Eu sempre peço que eles façam a leitura oral, porque a leitura oral faz com que o aluno já, de imediato, ele tenha um contato com o texto, né? com as palavras. Você vê, quando a gente pega um texto novo pra eles, eles têm dificuldade de ler aquelas palavras que não é de uso comum deles. Normalmente eu peço, nem sempre. Às vezes uma leitura,

9 De acordo com sole (1998) as “tarefas de leitura compartilhada” são aquelas cujo professor e o

aluno assume, em um determinado momento, a responsabilidade de organização e envolvimento no ato de ler.

é...coletiva né? Cada um lê um pouco e eu sempre faço também, quando eu acho necessário, fazer uma leitura compartilhada com eles. Como essa que eu fiz hoje, porque, como eu vi que o texto tinha muitas palavras que eles não entendiam, então a gente precisa fazer uma leitura compartilhada. Então existem vários momentos de leitura, mas eu sempre utilizo todas, às vezes, faço também, dependendo do texto, uma leitura dramatizada ou - ”vamo lá...essa fila lê” – eu sempre digo – “olhe, na igreja como é que a gente lê? – porque eles tem, às vezes, necessidade de um ler na frente do outro para mostrar que tá na frente – “eu disse, olhe, vocês já foram para a igreja? – na igreja quando a gente lê um texto, a gente lê todo mundo junto, ninguém bota um pé na frente e o outro atrás, se não o padre não vai entender nada ou o pastor, num sei o quê”. Então eu sempre peço que - “olhe, preste atenção, a gente tem que seguir todo mundo junto, parar todo mundo junto” – e aí a gente vai trabalhando a questão da pontuação, da entonação, a fluência. Gosto sempre de ler, às vezes, depois, às vezes eu faço outro tipo de leitura com eles também, eu leio pra eles, para que eles percebam a fluência, a entonação, a pontuação. Também eu gosto de ler assim para eles, para eles perceberem como é que se lê um texto. Todos os tipos de modalidade, a gente lê (PROFESSORA 1).

Um exame mais detalhado deste relato, indica que, dentro de um “grande pacote” que são as atividades de leitura, cabia, na visão da docente, o ensino sistematizado das modalidades de leitura, nas suas variações silenciosa, individual, coletiva e compartilhada. Em relação às variações das modalidades de leitura, Solé (1980), ao citar os estudos de Collins e Smith (1980), afirma que, de acordo com os autores, é necessário promover um ensino em progressão, ao longo de três etapas, e as descreve da seguinte maneira:

Na primeira etapa, ou etapa modelo (grifo do autor), o professor serve de modelo para seus alunos mediante sua própria leitura: lê em voz alta, pára sistematicamente para verbalizar e comentar os processos que lhe permite compreender o texto [...]. Depois da etapa do modelo, e à medida que as coisas ocorram ou se exija, segue a etapa de participação do aluno (grifo do autor). Na mesma se pretende, em primeiro lugar, que, de uma forma mais dirigida pelo professor [...] o aluno participe do uso de estratégias que vão lhe facilitar a compreensão dos textos [...]. Por último [...] leitura

silenciosa (grifo do autor), na qual os alunos realizam sozinhos as

atividades que, nas fases anteriores, efetuaram com ajuda do professor (SOLÉ, 1998, p. 76 -77).

Segundo Solé (1980, p. 77), “o domínio das estratégias de leitura de compreensão leitora requer, progressivamente, menor controle por parte do professor e maior controle por parte do aluno”, ou seja, as etapas descritas por Collins e Smith (1980), podem ser invertidas, na medida em que o aluno progride no processo de compreensão leitora.

Como havíamos ressaltado, a sequência no uso de algumas modalidades de leitura parecia não ser aleatória nas atividades da turma 1, tendo em vista que, ao longo das observações, percebemos que a professora demonstrava uma preocupação em avaliar o domínio do vocabulário pelos alunos, propondo atividades de identificação de palavras cujo significado é desconhecido. Na entrevista, a professora enfatiza o trabalho com o vocabulário fator essencial no processo de compreensão de textos, pois, segundo ela, as crianças que não compreendem algumas palavras, dificilmente alcançariam a compreensão dos textos.

Outro aspecto importante está relacionado ao controle e avaliação da capacidade de ler em voz alta. Na maioria das aulas na turma 1, verificamos que a avaliação da fluência em leitura era feita nos momentos em que a docente escolhia os alunos para ler os textos em voz alta. E que, após este momento, a professora lia o texto para os alunos, servindo de modelo de leitor. É importante ressaltar que ela não se preocupava só com estratégias de compreensão, mas com os modos de ler em práticas diversas de leitura.