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2.2 O ENSINO DE LEITURA

2.2.2 Ensino de leitura nos livros didáticos

As mudanças nas propostas dos livros didáticos de Língua Portuguesa, impulsionadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), não significaram um total rompimento com os relatos apresentados por Marcuschi (2003), acerca dos livros tradicionais, os quais são classificados por ele como repetitivos e com exercícios descontextualizados. É o que poderemos observar em algumas pesquisas apresentadas neste tópico.

Ao discursar sobre as atuais propostas dos livros didáticos de Língua Portuguesa, Bezerra (2001) demonstra importantes indicativos acerca da seleção dos textos adotados. Esses indicativos sugerem que, apesar das significativas mudanças em relação às concepções de língua e de texto, os textos dos livros que chegam às mãos dos alunos carecem de um tratamento didático mais criterioso por parte dos autores. A autora afirma ainda:

O estudo do texto se encerra em sim mesmo, com os alunos cumprindo as exigências de um currículo, que quase nunca tem relação com a vida não escolar, apesar de uma boa seleção textual. Assim vemos que textos bem escolhidos, mas com abordagens inadequadas podem não favorecer a aprendizagem da leitura, escrita e análise lingüística (BEZERRA, 2001, p. 45).

Através dessa afirmação, podemos perceber claramente, a preocupação da autora em relatar alguns problemas que devem ser questionados a respeito do uso do livro didático. Em relação à leitura, por exemplo, percebemos que a rica seleção textual não é suficiente para um bom trabalho de compreensão. Bezerra (2001)

exemplifica esse aspecto, afirmando que as questões apresentadas pelos autores dos LDP como propostas de estudo do poema se referem ao aspecto técnico, formal do texto (verso ou prosa) e à extração de informações objetivas do texto, numa perspectiva de decodificação.

Além do exposto, outro fato chama atenção em relação ao uso e escolhas dos livros didáticos no ensino de leitura. Os estudos de Albuquerque e Coutinho (2006, p. 89), revelam que os livros vêm sofrendo importantes mudanças em relação à qualidade dos textos e das atividades propostas para os alunos. Segundo as autoras, “muitos professores preferem não utilizar o livro de Língua Portuguesa [...] porque ele não corresponderia ao que escolheram ou por não saberem como usá- los”.

De acordo com Batista (2003), a diversidade e flexibilidade das formas de organização escolar, originadas pela necessidade de atender aos diferentes interesses e expectativas gerados por fatores de ordem cultural, social e regional, são fatores que influenciam diretamente na escolha de novos livros didáticos. O autor ainda afirma os atuais livros de língua aportuguesa oferecem aos professores atividades didáticas diversificadas, as quais têm como finalidade facilitar o trabalho do docente.

Apesar de a maioria desses livros aprovados pelo PNLD serem submetidos a um criterioso processo de avaliação, existem alguns impasses para se chegar a um ensino de leitura eficaz, através dos livros didáticos de Língua Portuguesa. Alguns desses não são apenas encontrados nos manuais, mas também fora deles, como a questão das apropriações dos professores acerca das propostas dos livros. Este é um tema que tem ampla discussão na academia e no contexto das escolas, uma vez que a escolha dos livros didáticos é muitas vezes feita pelos próprios professores.

Sabemos que o ensino de leitura pode ser beneficiado, muitas vezes, por boas propostas de atividades nos livros didáticos, ou, ao contrário, pode ser empobrecido devido a alguns problemas de natureza didática, entre outros aspectos. Apesar disso, vale ressaltar que o professor, através de sua autonomia e das necessidades dos alunos, deve procurar formas diversificadas de ensino de leitura, seja com o uso ou não dos livros didáticos de Língua Portuguesa. Salientamos que, segundo Batista

(2003), para “muitos professores, os manuais didáticos correspondem ao único – ou principal – material pedagógico de trabalho com a leitura e a escrita”.

Em uma pesquisa, Porto e Morais (2009), analisaram como se configuram as propostas de leitura nos livros didáticos de Língua Portuguesa adotados pela Prefeitura do Recife, quanto à qualidade de textos e atividades propostas pelos livros e o tratamento dado aos conteúdos atitudinais, procedimentais e curriculares presentes neste suporte.

Analisando livros do 5º ano de Língua Portuguesa quanto ao material textual e estratégias de leitura, os autores verificaram que a escolha de bons livros didáticos parece ter um papel fundamental no que se propõe para o ensino de língua, já que, muitas vezes, são os principais meios de comunicação escrita a que as crianças têm acesso.

Por outro lado, o estudo sugere que a escolha de um bom livro didático, por si só, não garante um ensino eficaz, mesmo que as propostas nele contidas sejam inovadoras e atraentes, pois as concepções e práticas dos professores seriam aspectos fundamentais nesse processo.

Em um outro estudo, Marinho; Silva e Morais (2009) analisaram as práticas de ensino de leitura desenvolvidas por duas professoras da Educação de Jovens e Adultos, bem como os livros didáticos de Língua Portuguesa utilizados pelas educadoras. Concluíram que as mudanças nos mesmos são um dado concreto: encontraram nos dois livros adotados pelas mestras um variado repertório textual, embora, em alguns casos, as atividades propostas não promovessem o pleno desenvolvimento de estratégias de leitura mais sofisticadas. Os autores ainda destacam que a apropriação desses materiais, pelas docentes, requer uma análise crítica e formação continuada, pois, em muitas das aulas observadas, a professoras observadas não conseguiam estabelecer um ensino de leitura direcionado à reflexão e à criticidade, atentando mais para aspectos normativos da língua.

Marcuschi (2003), atenta sobre os problemas das atividades de compreensão em alguns livros didáticos de Língua Portuguesa. Segundo o autor, a questão não está na quantidade das atividades de compreensão, mas na natureza desses

exercícios. Quanto à natureza do trabalho com a compreensão de textos nos livros didáticos de Língua Portuguesa, o autor destaca os seguintes problemas:

a) A compreensão é considerada, na maioria dos casos, como uma simples e natural atividade de decodificação de um conteúdo objetivamente inscrito no texto ou uma atividade de cópia. Compreender texto resume-se, no geral, a uma atividade de extração de conteúdos; b) As questões típicas de compreensão vêm misturadas com uma série de outras que nada têm a ver com o assunto. Esta simples mistura já atesta a falta de noção do tipo de atividade; c) É comum os exercícios de compreensão nada terem a ver com o texto ao qual se referem, sendo apenas indagações genéricas que podem ser respondidas com qualquer dado; d) Os exercícios de compreensão raramente levam a reflexões críticas sobre o texto e não permitem expansão ou construção de sentido, o que sugere a noção de que compreender é apenas identificar conteúdos. Esquece-se a ironia, a análise de intenções, a metáfora e outros aspectos relevantes nos processos de compreensão (MARCUSCHI, 2003, p.49).

Com isto, vimos que o livro didático de Língua Portuguesa, muitas vezes pode ser considerando um rico recurso instrumento didático para o ensino de leitura, desde que este faça parte de um planejamento maior das situações de leitura em sala de aula, sendo um meio e não um fim em si mesmo, pois como vimos, dependendo dos objetivos e hipóteses que o professor sobre as leituras em sala de aula, este recurso pode ou não cumprir um papel significativo no processo de compreensão de textos.

2.3 ENSINO DE LEITURA NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE