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2 O PROJETO ESCOLA CIDADÃ EM MOVIMENTO

2.2 MUDANÇAS NO PROJETO ESCOLA CIDADÃ

2.2.2 As mudanças prosseguem: gestões 2009 – 2012 e 2013 – 2016

As duas gestões seguintes a frente da Prefeitura de Porto Alegre (2009 – 2012 e 2013 – 2016) continuaram nas mãos da mesma coligação de centro-direita formada pelo PMDB e pelo PDT, e que seguiram conduzindo os rumos da educação municipal ainda mais no sentido do gerencialismo e da modernização conservadora e intensificando as mudanças no Escola Cidadã no sentido de modificar esse projeto. Seguem, portanto, o mesmo caminho da primeira gestão no sentido de externarem a imagem de flexibilização, inserida numa ideia mais ampla de “programa aberto ou programa vazio” para a área da educação.

Contudo, essas duas últimas gestões tiveram à frente da SMED uma nova pessoa com um perfil menos acadêmico e mais alinhado às bandeiras tradicionais do PDT, quais sejam, as da educação integral e as das atividades de contraturno. Foram 8 anos com a secretária Cleci Jurach no comando da SMED.

[...] o que sustenta a política dessa gestão é uma agenda educacional híbrida e contraditória, que envolve desde princípios mercadológicos (ênfase nos resultados, aumento do controle sobre as escolas, cortes de gastos), a interesses partidários – como é o caso da educação integral, bandeira amplamente defendida pelo partido responsável pela pasta (PDT) –, que se associam às problemáticas da sociedade contemporânea, ganhando legitimidade. (SANTOS, 2012, p. 105)

De acordo com Santos (2012, p. 54), na gestão iniciada em 2009, na SMED, a preocupação com o desempenho dos estudantes nas avaliações externas ganhou lugar de destaque, muito por conta da influência sofrida, naquele contexto, pelas políticas de avaliação nacional. A ênfase nos resultados era percebida em um dos eixos denominado: gestão educacional de resultados. Essa preocupação serviu de argumento inclusive para a proposta de criação de um currículo padrão (referenciais curriculares) para a RME/POA. Tal iniciativa chegou a ganhar corpo e forma, mas não foi efetivada por problemas internos na SMED. Essa gestão de resultados estava associada à ideia de se conferir maior eficiência e produtividade à educação pública de Porto Alegre. Além da grande preocupação com o desempenho nas avaliações realizadas, outras iniciativas buscadas no modelo do gerencialismo, como corte de gastos e aumento dos mecanismos de controle, também foram implantadas no período 2009- 2016.

Por conseguinte, percebemos que, já desde 2005, não havia interesse na renovação e no fortalecimento do Escola Cidadã, em que pese, este projeto ainda figurasse no Conselho Municipal de Educação como proposta oficial e norteadora da RME/POA. Os valores

democráticos já não são exercidos da mesma forma, por causa do aumento do trabalho docente e da verticalização da gestão, esta última marcada pela colocação do diretor como figura central da escola. Aguiar e Santos chamam a atenção de que a política de formações continuadas coletivas sucumbiu ao longo dos anos das administrações da secretária Cleci Jurach, e que as mesmas passaram gradativamente para responsabilidade exclusiva das instituições escolares individualmente. Sem formações e sem discussões coletivas, o currículo sofreu transformações, sendo que o trabalho docente passou a ser cada vez mais individualizado e solitário. Os autores destacam ainda a falta de renovação nas estruturas físicas das escolas e nas condições de trabalho, a estagnação dos salários dos professores, e a ênfase na gestão educacional de resultados em detrimento de áreas como Artes e Educação Física, com grande atenção às avaliações em larga escala e ao monitoramento e treinamento das escolas para avaliações externas (AGUIAR; SANTOS, 2018, p. 79-80). E chegam a uma importante conclusão para o final daquele período:

[...] os últimos anos da gestão PMDB/PDT intensificaram o avanço de políticas gerenciais sobre a RME/POA. Para não alterar drasticamente a estrutura e a organização e gerar assim resistência e desgaste político, os governos utilizaram-se da estratégia da flexibilização da proposta pedagógica e do currículo, sem uma proposta de política educacional central, o que acarretou na responsabilização dos professores sobre a formulação das estratégias curriculares nas escolas e da gestão dos meios e dos fins do trabalho escolar. Estas ações provocaram a intensificação do trabalho docente a partir de um viés gerencial mercadológico [...]. (AGUIAR; SANTOS, 2018, p. 81)

Os resultados apurados por Simone Moreira (2017, p. 78), em sua tese de doutorado que pesquisou as escolas municipais pensadas sob o efeito de suas localizações territoriais periféricas, também vão ao encontro de que os governos pós-AP conduziram a educação pública municipal de Porto Alegre no sentido do gerencialismo. Moreira elencou uma série de aspectos que corroboram a ideia de mudança do Escola Cidadã. A começar pela constatação da prevalência e intensificação de uma concepção de gestão diretiva e tecnocrática na SMED, passando pelo fim das assessorias pedagógicas da SMED nas escolas. Constatação, também, de dificuldades com a questão de recursos humanos, com a falta de professores de diversas disciplinas, coordenadores de turno, monitores e estagiários para a S.I.R (tem que ser considerado o aumento da demanda de alunos com necessidades especiais nas escolas municipais de Porto Alegre), com a questão da função do professor itinerante, que foi praticamente extinta na RME/POA. Constatação do desaparecimento das turmas de progressão. Moreira ainda destaca o desinvestimento em recursos materiais que afetaram, por exemplo, a contratação de transporte para saídas pedagógicas, e que tem feito os professores

comprarem materiais com recursos do próprio bolso. Ainda, a retirada da Guarda Municipal da portaria das escolas. Ela afirma que, de 2009 a 2016, as gestões da SMED, todas tendo a frente a professora Cleci Jurach, assumem outras características diferentes do projeto da Escola Cidadã, sem, entretanto, apresentar uma proposta pedagógica mais efetiva. As ênfases dadas pela SMED passaram a ser em torno da preocupação com o desempenho nas avaliações nacionais e com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), bem como na educação integral. Sem incremento e suporte no trabalho pedagógico, os/as docentes percebiam que o Escola Cidadã minguava diariamente na RME/POA.

Portanto, a mudança do Escola Cidadã ficou bastante evidente na análise dos 12 anos de governo da aliança de centro-direita formada por PMDB e PDT, que, sem dúvida, valeram- se de ideias baseadas no gerencialismo e na modernização conservadora para conduzir as políticas na área da educação pública na cidade de Porto Alegre.