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1 AVANÇOS NEOCONSERVADORES E NEOLIBERAIS CONTRA A

1.3 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA

1.3.2 Encontros do grupo de discussões dos/as professores/as de História

Apurados os resultados dessa sondagem inicial, a intenção era de que fossem selecionados cerca de 10 (dez) colegas professores/as para a constituição do grupo de discussões, com base em alguns critérios definidos no projeto de pesquisa: o primeiro dizia respeito ao interesse manifestado na pergunta número 5 do questionário acima em participar do grupo de discussão; o segundo era o de garantir a participação tanto de mulheres como de homens no grupo em condição paritária; outros critérios seriam definidos no decorrer da apuração dos resultados do questionário acima.

Na prática, contudo, não houve uma seleção. Criamos, em 17 de maio de 2019, um grupo de mensagens num aplicativo multiplataforma de mensagens instantâneas e de chamadas de voz para smartphones, o WhatsApp, com a denominação “Professores/as de História”. Inicialmente, foram inseridos/as nesse grupo os/as colegas que haviam registrado o interesse em participar das discussões, mas, no decorrer dos meses seguintes, mesmo os/as docentes que haviam respondido negativamente à questão número 5 do questionário, bem como colegas que sequer responderam ao questionário acabaram sendo agregados ao grupo de mensagens eletrônicas. Então, por meio desse grupo de WhatsApp, encaminhei os convites para os encontros do grupo de discussão dos/as professores/as de História da RME/POA.

O objetivo geral do grupo de discussões foi o de debater a pertinência, o potencial e os limites da proposta pedagógica Escola Cidadã da RME/POA para a docência em História e construir formas de resistência em sala de aula aos avanços neoconservadores e neoliberais na educação pública. Mais especificamente, a partir do grupo de discussões, pretendemos refletir sobre a obra de Paulo Freire e sobre as perspectivas do Caderno Pedagógico n.º 9 para a docência em História atualmente, compartilhar experiências pedagógicas criadas diante dos desafios contemporâneos dirigidos às aulas de História, bem como reconstruir noções de resistência e de recriação a partir de perspectivas críticas e decoloniais, conforme traçado no projeto.

Neste momento, é preciso levar em consideração que a etapa anterior– a da aplicação dos questionários - constatou a relevância que os professores/as de História da RME de Porto Alegre/RS atribuem aos "jeitos de ensinar" para enfrentar o momento atual de contestação da História como discurso legítimo para orientação na vida prática, entre outros desafios derivados do avanço de políticas neoconservadoras e neoliberais na educação pública. Em muitas respostas, ficou evidente a preocupação com os aspectos metodológicos das aulas,

especialmente no sentido de os/as estudantes participarem mais, refletirem e construírem conhecimento. Em razão desse aspecto, a segunda etapa da pesquisa, ou seja, a que diz respeito aos encontros do grupo de discussão, teve a intenção de ouvir perspectivas, proposições e críticas desses/as docentes, a fim de construir de forma mais concreta os significados de resistência para o ensino de História. E teve a intenção, ainda, de que, por meio da pesquisa de dissertação, professores/as pudessem dialogar com os próprios professores/as, mostrando que a resistência pode se dar a partir de sensibilidades advindas desse diálogo.

Os educadores têm de reconhecer que qualquer esforço para transformar as instituições de maneira a refletir um ponto de vista multicultural deve levar em consideração o medo dos professores quando se lhes pede que mudem de paradigma. É preciso instituir locais de formação onde os professores tenham a oportunidade de expressar seus temores e ao mesmo tempo aprender a criar estratégias para abordar a sala de aula e o currículo multiculturais. (hooks, 2017, p. 51-52)

Em princípio, tinham sido projetados dois encontros para a realização dos trabalhos desse grupo de discussão, mas houve a necessidade de um terceiro encontro. Todos os encontros foram gravados, tiveram os seus registros feitos em diário de campo, contaram com a figura de uma observadora não participante do grupo, que foi a professora-orientadora do projeto e da dissertação e teve na minha pessoa a figura de fomentador no grupo. Nos três encontros, tivemos a preocupação de criar um “Ambiente de Roda” (MOURA; LIMA, 2014, p. 31), que propiciasse o diálogo entre os/as professores/as de História. Tal ambiente foi criado desde a recepção e o acolhimento dos/as colegas nas salas onde se realizaram os encontros, passando pelo compartilhamento de um cafezinho com biscoitos e chocolates, iniciando as primeiras conversas mais informais e os cumprimentos entre os/as professores/as, chegando nas acomodações dos colegas em cadeiras num formato de roda de modo que todos/todas pudessem se enxergar.

O primeiro encontro foi realizado no dia 8 de junho de 2019, na Faculdade de Educação (FACED) da UFRGS,com duração de 2 horas e com a presença de 13 colegas, incluindo a mim, de 13 escolas da RME/POA, sendo 6 professores e 7 professoras. Todos/as participantes tinham respondido ao questionário da primeira etapa da pesquisa. Esse primeiro encontro teve um caráter mais aberto, sendo assim dividido:

a) os 20 minutos iniciais foram reservados para uma rodada livre de apresentações dos colegas;

b) durante os 10 minutos seguintes, os participantes responderam, por escrito, à questão “O que significa ser professor/a de História na RME de Porto Alegre/RS?”;

c) na meia hora seguinte os/as participantes fizeram leituras de trechos da série de publicações da Secretaria Municipal da Educação (SMED) Cadernos Pedagógicos, números 9, 11, 12 e 21, e do Caderno de Visão de Área e Princípios das Ciências Sócio-Históricas, que apresentam a Proposta Político-Pedagógica (PPP) RME de Porto Alegre/RS, bem como da introdução dos Referenciais Curriculares da Rede Municipal de Ensino, cuja publicação ocorreu no ano de 20129. Foram lançadas 3 perguntas para nortear a leitura dos textos selecionados: a) Do ponto de vista dos/as professores/as de História, quais os elementos do projeto “Escola Cidadã” ainda são pertinentes/relevantes e quais não são mais no atual contexto para a educação pública em Porto Alegre? b) O que já mudou e o que se perdeu no projeto “Escola Cidadã”?c) O que precisa ser construído em termos de resistência aos avanços neoliberais e neoconservadores sobre a educação e como garantir a liberdade de ensinar?;

d) e, na hora final, houve um momento para discussões, quando os presentes foram desafiados a relacionar suas respostas iniciais às leituras realizadas, e tiveram a oportunidade de reescrever (opcional) as suas respostas à pergunta inicial, devolveram o seu material e fizeram sugestões para o encontro seguinte.

O segundo encontro foi realizado no dia 6 de julho de 2019, também FACED/UFRGS, com duração de 2 horas e com a presença de 7colegas, incluindo a mim, de 7 escolas da RME/POA, sendo 5 professores e 2 professoras. Todos/as participantes do segundo encontro tinham respondido ao questionário da primeira etapa da pesquisa. Especificamente para esse encontro foram traçados como objetivos: compartilhar experiências pedagógicas criadas diante dos desafios contemporâneos a partir de temas sensíveis dirigidos às aulas de História; reconstruir noções de resistência e de recriação, a partir de perspectivas críticas e decoloniais, aos avanços neoconservadores e neoliberais na educação pública. Foi assim dividido o segundo encontro:

a) os 15 minutos iniciais foram destinados à retomada das discussões do encontro anterior, com a palavra aberta aos participantes;

b) na meia hora seguinte do encontro foram distribuídos envelopes, para uma atividade em trios, com materiais relacionados a 2 diferentes “temas

sensíveis”abordados frequentemente nas aulas de História,no caso questões de gênero/ sexualidade e nazismo/holocausto, temas que emergiram das respostas nos questionários aplicados. Em cada envelope foi colocada uma reportagem polêmica e um texto reflexivo sobre o tema, além de um desafio com situação polêmica a ser resolvida pelos/as professores/as. Cada trio teve que analisar o seu material e dar um encaminhamento ao desafio proposto, a partir da resolução de 3 questões. Este momento do encontro foi fundamental para possibilitar a discussão da ideia de resistência a partir da prática cotidiana em sala de aula de História, bem como possibilitar a emergência de boas práticas de docência em História diante de desafios neoconservadores e neoliberais;

c) o restante do tempo foi utilizado para as apresentações dos trabalhos de cada trio de professores/as, momento em que os participantes socializaram os encaminhamentos com o restante do grupo, com foco na ideia de resistência em sala de aula, e fizeram suas considerações finais.

Como o número de participantes ficou abaixo do projetado, ou seja, menos de 10 colegas se fizeram presentes, não foi possível analisar os materiais dos 5 envelopes de temas sensíveis imaginados para esse segundo encontro. Em função disso, os presentes decidiram por realizar um terceiro encontro para que pudessem se debruçar sobre os outros 3 temas sensíveis. Por sugestão de uma das colegas, 3 professores/as levaram para as suas casas os materiais dos temas não analisados no dia 06/07/2019 e ficaram responsáveis por fazer as leituras e por apresentá-los no encontro seguinte.

Desse modo, um terceiro encontro do grupo de discussão dos/as professores/as de História da RME/POA foi realizado no dia 31 de agosto de 2019, novamente na FACED/UFRGS, com duração de 3 horas e com a presença mais uma vez de 7 colegas, incluindo a mim, de 7 escolas da RME/POA, sendo 5 professores e 2 professoras, e comparecendo 5 colegas que haviam participado do encontro anterior. Todos/as participantes deste terceiro encontro tinham respondido ao questionário da primeira etapa da pesquisa. Os objetivos foram os mesmos do segundo encontro. E foi assim dividido o terceiro encontro:

a) os 15 minutos iniciais foram destinados à retomada das discussões do encontro anterior, com a palavra aberta aos participantes;

b) na hora seguinte do encontro foram distribuídos envelopes, para uma atividade em trios, com materiais relacionados a 3 diferentes “temas sensíveis”abordados

frequentemente nas aulas de História, no caso escravidão, religiões e ditadura civil- militar brasileira, temas que também emergiram das respostas nos questionários aplicados. A exemplo do que acontecera no segundo encontro, em cada um dos três envelopes foi colocada uma reportagem polêmica e um texto reflexivo sobre o tema, além de um desafio com situação polêmica a ser resolvida pelos/as professores/as. Cada trio teve que analisar o seu material e dar um encaminhamento ao desafio proposto, a partir da resolução de 3 questões. O colega que havia ficado responsável pelo tema da ditadura no encontro anterior trouxe o questionário já respondido;

c) o restante do tempo foi utilizado para as apresentações dos trabalhos de cada

trio de professores/as, momento em que os participantes socializaram os encaminhamentos com o restante do grupo, com foco na ideia de resistência em sala de aula, e fizeram suas considerações finais.

Finalizado o trabalho no grupo de discussões, verificamos quais os encaminhamentos dados pelos/as professores/as reunidos/as, cotejando-os e os contrastando com os estudos teóricos realizados e analisando as ideias dos/as professores/as, que podem ser educativos para outros/as colegas que não tenham participado do grupo de discussões. Verificamos, também, que indícios de resistência emergiram das falas dos/as professores/as. Como já mencionado, a análise completa dos questionários e dos encontros será realizada nos capítulos 3 e 4 desta dissertação.

Após cumprir essas etapas da pesquisa, penso que se viabilizou uma rede de trabalho coletivo, inspirada nos apontamentos de Nóvoa (2009) com meus/minhas colegas professores/as de História, a partir de uma prática de formação de professores/as que se baseou nas próprias ações docentes e em seus trabalhos escolares. Uma rede de trabalho em que mais de dois terços dos/as professores/as ainda acreditam na relevância do projeto freireano Escola Cidadã e que tem, portanto, o potencial para resistir aos avanços neoliberais e neoconservadores na educação, valendo-se, para isso, de práxis dialógicas e decolonais.

Sobre a dimensão ética da pesquisa, é importante destacar que os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (ver Figura 1 acima). Nesse termo ficou explícito que cada professor/a tinha a liberdade de se recusar a participar e de desistir de participar do processo de pesquisa a qualquer momento, sem qualquer tipo de prejuízo, além de poder modificar o que porventura tenha registrado. Constou, também, que poderiam ser solicitadas algumas informações básicas para contextualização das respostas, mas que nenhuma delas implicaria em identificação do professor/a participante, sendo garantido,

portanto, o anonimato. Foi informado de que a pesquisa não apresenta, em princípio, riscos e consequências adversas aos seus participantes, para além de possível fadiga ao final da escrita das narrativas e que, caso se constatasse, no decorrer do processo de investigação, algum risco para os participantes e para os pesquisadores envolvidos, a pesquisa poderia ser interrompida, a partir da necessidade específica. E que, desse modo, aos participantes foi assegurada a garantia de assistência integral em qualquer etapa do estudo, sendo que o participante terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. Por fim, foi informado que todas as análises serão compartilhadas com os/as participantes assim que forem aprovadas pelo exame de defesa da dissertação. Em que pese esta informação não venha a constar no termo de consentimento, é importante deixar observado de que os participantes terão benefícios pelo fato de estarem inseridos no processo da pesquisa, quais sejam, o da possibilidade de reflexão acerca da sua prática e da sua trajetória profissional na educação, bem como a do compartilhamento de ideias com os seus colegas de rede municipal.